Dizem que, na copa do mundo de futebol
na Suécia, em 1958, o Brasil se preparava para enfrentar a URSS.
O técnico da seleção reuniu o elenco e falou,
durante longo tempo, sobre estratégia, como fazer, onde fazer, quem faria o
que, como o time atacaria os soviéticos e...... por aí vai.
Feola, no final da preleção, perguntou
se todos haviam entendido o que deveriam fazer.
Silêncio total.
Neste exato momento Garrincha levantou
a mão e, com sua natural simplicidade, perguntou: "Ta
legal seu Feola, mas já combinou tudo isso com os russos?
Brilhante, Garrincha.
Todo esportista, dito meio lerdo da
cabeça, é capaz de tiradas geniais.
Recentemente li alguns artigos que
comentavam a revolta dos Joaquins e Manueis (nomes fictícios) incomodados com preços
muito baixos dos vinhos portugueses.
Resumindo: Os vários artigos, que li, afirmam
que Portugal precisa parar de vender barato e iniciar um levante, uma revolução
nos preços.
Qualquer garota de programa (ou
traveco, sejamos incluidores e igualitários aqui) à beira da Belém-Brasília
gostaria de vender o corpinho por bem mais que R$ 10.00 (se aceita cartão de
débito).
Todo restaurante gostaria de subir os
preços em 200% sem aumento nos custos;
A Lada e o Vlad Putin adorariam vender
os carros russos por 80% de um Pagani;
Todo produtor de espumante gaúcho
adoraria vender o espumante pelo preço de Champagne... (este é um mau exemplo, pois
alguns tem a cara de pau de tentar e vender (!) espumante gaúcho como se fosse
Champagne).
Os portugas vão descobrir que, num
mundo de escolhas e com muita competição, os consumidores estão saturados de
marcas, regiões, estilos, nomes, críticos tentado se passar por isentos e ou
competentes, e que fazemos nossas escolhas, nem sempre, baseados em “qualidade
e preço”.
Vinho, também, é em grande parte uma
compra emocional que, como tal, vem carregada de erros e acertos aleatórios.
Portugal oferece muito pouco, em emoção, para
nos convencer em pagar mais pelos vinhos que produz.
Saber precificar e cobrar, caro, por
produto ou serviço é possível somente para quem:
1) entende da arte/ciência de
“branding” e “marketing", elasticidade de preços e demanda. Isso exige
escola, educação ou cara de pau e sorte em alguns casos,
2) tem muito dinheiro para comprar
demanda e fama,
3) tem produto e serviço que
“entregará” o que realmente promete.
4) tem paciência e tempo (e dinheiro)
para ficar contando lorotas e mentiras pelo mundo afora sobre o a nobreza da família,
mergulhar os vinhos no fundo do mar, inventar algo sobre ETs e alienígenas que
amassaram as uvas antes da fermentação durante anos.
Portugal faz relativo sucesso, entre
nós, porque é uma ótima alternativa para turismo bom e barato, para vinhos bons
e baratos, para comer um queijo bom e barato, para comprar telha e porcelana
boa e barata, para pegar uma temporada na praia (adivinha?) na Europa boa e
barata.
Tirando isso falta, à patota
portuguesa, glamour, nobreza, lugares paradisíacos que até o Chile tem.
Há ótimos vinhos portugueses (inclusive
espumantes) que se escondem e não saem do território e das aldeias em que
nasceram.
Alguns conseguem irem além-mar, mas
sejamos honestos, alguém vai comprar vinho verde pelo mesmo preço do
equivalente italiano ou francês?
Podem ter certeza que os produtores do "Franga Manca"
gastaram muito para criar a demanda que existe por aquele vinho bem mediano.
É uma baita exceção à regra (Barca Velha,
também)
Desconfio que Porto e Douro conseguem
vender mais caro porque houve muita mão estrangeira ali.
Em defesa de Pedro, Joaquim e Manuel, devo
admitir que os argumentos, pró-aumento, até que são bem fundamentados e bem
intencionados (para eles).
Exceto que.... Esqueceram de combinar com os russos.
Podem aumentar os preços à vontade, mas
cuidado: haverá sempre alternativas....... vinhos gaúchos, exclusos, que
parecem desafiar todas as leis da química, física esoterismo
e bom senso.
Bonzo
Os portugueses podem estar sofrendo de gauchismo. No sul eles conhecem somente os vinhos locais e pensam que aquilo é a única e melhor coisa do mundo.
ResponderExcluirNão acho. Os portugueses produzem grandes vinhos, assim como os espanhóis. E eu não falo de Pera-Manca, que também não me convence (principalmente depois do Michel Enrolando), ou do Barca-Velha, que são pontos fora da curva. Mas há outros muito caros também e outros tantos que estão subindo muito o preço, principalmente os durienses. Eles podem se dar mal se acreditarem na conversa de críticos americanos de que seus vinhos são underrated.
ExcluirSds,
Charles
Uma das coisas mais divertidas que há no mundo da vitivinicultura portuguesa é mostrá-los textos de brasileiros sobre vinhos. Recomendo com entusiasmo a quem tiver oportunidade Kkkkkkkkk
ResponderExcluirQuem quer exportar e vender e ficar rico tem que aturar as opinioes divergentes e/ou de quem nao 'sabe'. Ou entao fica a chupar o dedo e a aparar o bigode da mae, mas sem reclamar da vida.
ExcluirContinuam sem saber que ha um mundo la fora.
Volta Cabral, ensina para terrinha que tem ouro e indias peladas alem-mar.
#risos,
Bonzo.
muito bem apontado, Bonzo. uns anos atrás, no blog do João Ratão (por onde anda aquele cabra?), pensei em voz alta que, se os viticultores de Vinho Verde promovessem o seu produto, que deve ser consumido rápido, da mesma forma que o beaujolais nouveau (que é cem vezes pior que um vinho verde de 2 euros, e tenho dito), também poderiam lucrar, e sem precisar apelar pra preços altos.
ResponderExcluirconverti uns amigos para vinhos portugueses e são bem poucos os que sentem falta de malbecs e carmeneres. remarcar as etiquetas, como você falou, pode dar uma bela duma culatra. como consumidor, espero que não tomem essa decisão. e, mais do que Cabral, volta, D. Sebastião!
Defendo as coisas boas que existem em portugal, incluindo novelas e as fabricas automotivas, mas como alguns nao entenderam a ideia do meu artigo muito inteligente e super bem fundamentado é que precisa combinar com seu cliente antes se ele (ela ou sei la qual sexo vigente) topa pagar pela novidade (um cacetinho maior).
ExcluirSe somente qualidade fosse suficiente, estariam a vender espumantes aos montes, porque sao muito bons tambem.
Me busy. Abrazo.
Esse assunto é muito interessante, mas não diz respeito aos brasileiros. Brasileiros não são relevantes no mercado de consumo de bens de luxo, seja em Portugal seja em qualquer outra parte, pelo fato de que aqui não há ricos. Nesse aspecto, em termos de ex-colônias, Angola importa muito mais aos portugueses. Brasileiros podem deixar de comprar BV e PM, que o preço vai continuar subindo. A frequência de brasileiros ao Belcanto e ao Ritz não é relevante, assim como é insignificante o dinheiro brasileiro para os imóveis de luxo em Portugal. Assim, não precisamos nos preocupar. O Alentejo vai continuar produzindo em grande quantidade e a oferta vai regular o preço dos vinhos portugueses que brasileiros podem consumir. Grande blog, soro da verdade no assunto vinhos
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