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quarta-feira, 29 de março de 2023

FUSILLI CON PISELLI E GAMBERI

 


A gastronomia lígure é de ótima qualidade e boa variedade.

A cozinha da Ligúria navega no mar com desenvoltura e escala as montanhas apenínicas com muita rapidez e facilidade.

Em menos de 20 minutos é possível deixar para trás, peixes, camarões, polvos, frutos do mar & cia e entrar no território de javalis, coelhos, cogumelos, queijos etc.



A mesma variedade, todavia, não é encontrada nos restaurantes à beira mar onde as mesmices, representadas por “spaghetti alle vongole”, “trenette al pesto, “fritto misto”, “pesce alla lígure” etc. imperam nos cardápios de toda a Ligúria.

Raramente há exceções, novidades, mas em um restaurante, no centro histórico de Genova, “Fusilli com Piselli e Gamberi” (Fusilli com Ervilhas e Camarões) despertou minha curiosidade e resolvi arriscar.

Belo e surpreendente prato de massa cuja receita ora repasso aos leitores.

INGREDIENTES (4 pessoas)



300gr de “fusilli”, 300gr de camarão (congelado serve), 300gr de ervilhas congeladas, azeite, alho, cebola, sálvia, tomate cereja, vinho branco, curry, sal.

PREPARO

Leve uma panela, com água, ao fogo.

 Quando atingir a ebulição adicione um pouco de sal e em seguida, a massa.



Enquanto os “fusilli” cozinham (8/12 minutos dependendo da marca), em uma frigideira de bordas altas, junte uma generosa porção de azeite, pique ½ cebola, 2 dentes de alho, algumas folhas de sálvia e deixe fritar, mas sem deixar dourar.



Em seguida adicione os camarões, metade das ervilhas, tomate e ½ taça de vinho branco seco.

Deixe cozinhar.

Quando o vinho começar a evaporar junte uma colher de curry, amalgame bem o todo e apague o fogo.





Coloque o restante das ervilhas em copo apropriado, junte um pouco de água de fervura da massa e bata com mixer até obter um creme não muito denso.



Junte o creme aos camarões e ervilhas, controle o sal e leve novamente ao fogão com chama baixa.



Quando os “fusilli” atingirem o cozimento “al dente”, coe e adicione ao molho.

Misturem bem, sirva e......Buon appetito.

Para beber?

Nada melhor do que um bom Chardonnay ou Pinot Bianco

O “bom” exclui todos os vinhos “senzala” gaúchos

Bacco

sexta-feira, 24 de março de 2023

SECOS E MOLHADOS 2

 


Ao entrar na faraônica sede da “Ceretto” não pude deixar de lembrar Adriano Ravegnani e seu livro “I cento Vini D’Italia”.

Ravegnani, em 1979, inseria o Barolo da “Ceretto” em sua lista dos melhores cem vinhos italianos.



Comentava que a tradicional e séria vinícola piemontesa mirava a qualidade e não a quantidade em suas garrafas de Barolo.

Adriano Ravegnani errou e errou feio..... A Ceretto conseguiu dar o pulo do gato e se transformar em uma potência vinícola produzindo o branco “Blangè”.

“Blangè”, para quem não sabe, é vinificado com uva autóctone piemontesa “Arneis” que até então apenas a Vietti, Bruno Giacosa e alguns pouco conhecidos, produziam.



Vinho de discreta qualidade, o Arneis, nunca entrou na “mira’ das vinícolas como produto de grande futuro.

Erraram todos!

A Ceretto apostou na casta branca, plantou 80 hectares de Arneis e em poucos anos invadiu o mercado com nada menos do que 600 mil garrafas de “Blangè”.

Boa publicidade, lubrificação das canetas certas, marketing agressivo, não deu outra.... o “Blangè”, em pouco tempo, se transformou em um sucesso em toda a Itália e também no exterior.

A vinícola familiar, que produzia grandes tintos, fez fortuna com um branco de escassa qualidade e preço vitaminado (o Blangè custa o dobro dos Arneis “normais”)



Com a montanha de dinheiro, ganha com seu “Blangé”, a Ceretto deixava de se dedicar somente às vinhas e iniciava sua corrida pelo mundo dos negócios, gastronomia, do eno-turismo, importação, distribuição etc.

Para se ter uma ideia do sucesso da empresa, até no ramo gastronômico, bastaria lembrar que uma refeição, no estrelado restaurante “Piazza Duomo” de Alba, de propriedade da família Ceretto e tocado pelo chef Enrico Crippa, pode custar nada econômicos 500 Euros ou até astronômicos 1.000 Euros por pessoa.



Acredite, se quiser e puder: há muitos abonados e outros tantos idiotas que se gabam após ter torrado os absurdos valores, acima mencionados.



A degustação, em uma das salas da vinícola, seguiu fielmente todos os cânones, a liturgia e os clássicos padrões que encantam e enfeitiçam os enófilos facilmente deslumbráveis e menos experimentados.



Recepção cordial, moças bonitas, percurso minuciosamente programado que serpenteia pelas adegas repletas de toneis, barriques e velhas garrafas, mesa de degustação impecavelmente posta para o evento, exclusivas e carismas taças “Zalto” (50 Euro cada) e maravilhosa vista sobre as vinhas de Nebbiolo.



Um desbunde!

A maratona “degustativa”, na qual duas dúzias de etiquetas de Champagne, Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet, Mâcon-Fuissé, Chenin Blanc, Fixin, Chablis, Meursault, Barolo etc. foram oferecidas aos membros de nossa comitiva, impressionou a todos.



O sommelier, que comandava a degustação, não cometeu nenhum deslize e com impressionante segurança fez a apologia dos vinhos apresentados.

Repetiu até as vírgulas do que estava escrito no catálogo da Ceretto.....

 


As etiquetas escolhidas não me entusiasmaram…. Apenas o Fixin e o Chenin despertaram particular atenção.

Os preços, dos produtos oferecidos, me convenceram que: o Euro beirando R$ 7, inflação europeia rondando os 10%, escassez dos insumos etc., o enófilo brasileiro sofrerá sempre mais para beber bem.



O que sobrou da visita à Ceretto?

A certeza que a empresa está sendo preparada e pronta para ser adquirida por algum grupo, da alta moda, finança, investimentos etc. como já aconteceu com muitas outras vinícolas da região.

Para tomar uma ducha de realidade, em minha viagem de volta a Santa Margherita Ligure, parei em Gavi e comprei 12 garrafas do ótimo “Minaia” da Nicola Begaglio por 5,5 Euros cada.



Enquanto houver Bergaglio, Coroncino, Alessandria, Tenuta dei Fiori, Castello di Gabiano, Murgo, Produttori di Carema etc. há esperança.

Os eno-tontos podem continuar bebendo e adorando serem "roubados" por Gaja, Conterno, Dal Forno, Ornellaia, Quintarelli, Soldera, Ca’ Del Bosco, Roagna, Benanti, etc.



Barolo Monfortino Riserva - Giacomo Conterno 2015

1.250,00 €

Bacco


terça-feira, 14 de março de 2023

SECOS & MOLHADOS

 


O nome da matéria não é homenagem à banda que foi sucesso nos anos 1970/80 e sim uma lembrança das lojas de bairro e interior, que vendiam arroz, macarrão, café, panela, pinga, latarias, balas, doces, lâmpadas.... De tudo um pouco.

Os tempos modernos (Chaplin?) sepultaram uma infinidade de atividades, produtos, costumes, negócios etc. e com eles se foram as lojinhas de secos e molhados.



As grandes redes de supermercados, com seus potentes tentáculos, foram determinantes e eficientes para acelerar o desaparecimento dos pequenos comércios de “Secos e Molhados”.

Alguém já deve estar se perguntado:  “..... mas o que lojinhas do interior, dos anos 1950/1970, tem a ver com vinho? ”

Muito a ver, creiam.



Semana passada, Enrico e Riccardo, sócios da tradicional “Vineria Macchiavello”, de Santa Margherita Ligure, insistiram para que os acompanhasse até San Cassiano, nas proximidades de Alba, para uma degustação na sede da tradicional vinícola “Ceretto”.



Enrico, responsável pela carta de vinhos da “Vineria”, está selecionando as etiquetas para a próxima primavera-verão que se aproxima.

O representante da “Ceretto” que está interessado em aumentar sua participação na lista das impressionantes 52 etiquetas que Enrico oferece, em taça, aos enófilos, organizou e patrocinou a degustação nas salas da “Ceretto Terroirs”.




A “Ceretto Terroirs” é o braço importador, de vinhos e destilados, em sua maioria franceses, da “Ceretto Aziende Agricole”.

A “Ceretto Terroirs” distribui, na Itália, mais de 60 etiquetas provenientes da Champagne, Borgonha, Alsácia, Loire etc.



Conheço, desde os anos 1970, as Langhe, seus vinhos, sua gastronomia e pude acompanhar, desde o início, a vertiginosa escalada que levou aquele território ao atual e impressionante sucesso.

É preciso lembrar que, no começo dos anos 1970, o Barolo não tinha o atual sucesso, não vendia facilmente e muitas vezes era oferecido, pelos produtores, como brinde para quem comprasse algumas caixas de Barbera ou Dolcetto.



Para que se tenha uma ideia, dos preços de então, é bom informar que um litro de Barolo era vendido por 1.000/1.500 Liras (0,50/0,75 Euro) e que na mesma época um café custava, no bar, 200 Liras.

É fácil perceber, então, que era possível comprar um litro de Barolo pelo mesmo valor de meia dúzia de xicaras de café.

Eram os anos dos “Secos e Molhados”........

Aos poucos, mas irremediavelmente, jogadores de futebol, cantores, artistas de cinema, milionários, empresários etc. descobriram que o mundo do vinho, além de ser um ótimo negócio, agregava status, charme, exposição midiática.



Havia chegado o lento e irremediável fim dos “Secos e Molhados”.

Enquanto dirigia meu carro, pelas estadas das “Langhe”, tentava lembrar quantas vinícolas familiares e tradicionais haviam sido compradas por empresários, grupos financeiros, investidores, industriais, etc. que nunca haviam pisado em uma vinha.



Vietti, Biondi Santi, Borgogno, Fontanafredda, Caparzo, Jerman, Masi, Isole Olena, Sella & Mosca, Val di Suga, Bertani, são algumas (há muitas outras) tradicionais vinícolas que foram “engolidas” pelos grandes grupos “alienígenas” que visam apenas faturamento, lucro e não hesitam em fazer todas e quaisquer concessões para agradar o “mercado”.



O vinho sério, artesanal, tradicional, o vinho “Secos e Molhados”, já era e abre passagem para o vinho “Instagram”, “Tik Tok”, Facebook.... Mas nem tudo está perdido, pois B&B vai continuar garimpado para encontrar pequenas pepitas vinícolas



Continua

Bacco

 

  

segunda-feira, 6 de março de 2023

SENZALA 2

 


Finalmente a grande mídia deu um “chega prá-la” na corja de baba-ovos, que mama nas tetas daquela imprensa que se auto intitula “e$pecializada” e resolveu vasculhar o submundo da vinicultura nacional.



Foram muitos anos de mentiras, meias verdades, matérias pagas, “lavagens cerebrais”, incontáveis picaretagens que, descarada e impunemente, conseguiram convencer muitos consumidores brasileiros, de que os vinhos nacionais podiam concorrer e até ganhar dos europeus.






O pobre e mal informado enófilo começou, então, se orgulhar e acreditar que o vinho nacional, por sua excelsa qualidade, vencia centenas de medalhas em concursos mundiais.













Mais uma vez as canetas de vida fácil omitiam que os concursos eram totalmente fajutos e bastava pagar para obter quantas medalhas fossem convenientes, necessárias.

Quer mais balelas?

“ O vinho nacional é exportado para 30 países”



Mais uma vez a informação é parcial e omite que 65% das exportações vão para o Paraguai.

Jamais uma palavra acerca da dúbia qualidade e preços estrelares, mas somente elogios, alvissaras, até e pasmem, para o “laxativo” Pérgola Tinto Suave”



Não quero repetir o que já escrevi dezenas de vezes e vou apenas postar algumas fotos recentes (ontem).

As fotos não precisam de muita explicação.....
















 Mais uma informação: o italiano, cujo salário oscila entre 1.200/1.500 Euros (R$ 6.720/8.400) gasta muitíssimo menos, do que seu colega brasileiro, que ganha míseros R$ 1.302, para comprar uma garrafa de vinho.

Mais duas: Um hectare de vinhas “Barbera”, na região de Asti, custa, em média, 45.000 Euros (R$ 252.000) e os vindimadores, durante o período da colheita, recebem nada desprezíveis 7,93 Euro/hora (R$ 44,40)

Enquanto isso, na Serra Gaúcha, os baianos levam uma vida desgraçada para colher as uvas que produzirão o “Chalise” e o “Sangue de Boi”, duas excelências da vinicultura nacional que custam, respectivamente, R$ 22,90 e R$ 19,90.

Salton Chalise Tinto Suave

R$ 36,90
R$ 22,90 no pix
R$ 24,11 em até 4x de R$ 6,03 sem juros


O mais incrível é que estas duas “tremendas-bostas” são vendidas, aos brasileiros, por um valor mais alto do que os italianos pagam por um “Barbera D’Asti” (2,99 Euros-R$16,75)



Quem puder me explicar qual a razão, que o faça..... por favor e se puder.

Dionísio