Deixando o Friuli-Venezia Giulia da guerra, voltemos ao Friuli
dos vinhos.
Poucos enófilos brasileiros conhecem o
Friuli-Venezia Giulia vinícola.
Distante dos mais
badalados endereços turísticos, o pouco conhecido Friuli-Venezia
Giulia das taças, não é exatamente a Meca dos enófilos
brasileiros.
A região não produz aquelas caríssimas e badaladas etiquetas que
provocam frisson e fazem brilhar os olhos dos "eno-tontos".
O Friuli-Venezia Giulia, apesar de inundar o mercado com
milhões de litros de Merlot, Cabernet Franc e
Cabernet Sauvignon, não comercializa nenhuma etiqueta renomada que possa
despertar o interesse dos adoradores dos "Supertuscans" (Solaia,
Sassicaia, Ornellaia e outros AIAS).
No Friuli-Venezia Giulia não há os badalados Brunello, Barolo,
Barbaresco, Amarone e outros ícones da viticultura italiana, razão pela qual é
solenemente ignorado pelos críticos, importadores e consumidores tupiniquins.
Alguém já leu ou ouviu um de nossos gurus das vinhas e vinhos,
comentar, noticiar, elogiar etc. o Schioppettino,
Malvasia Istriana, Verduzzo, Ribolla Gialla, Friulano, Ramandolo, Tezzelenghe,
Refosco dal penduncolo rosso e o incrível Picolit?
Duvido e duvido muito.
Picolit?
Perguntem ao Bilu Didu Tetéia, sobre o raríssimo vinho
friulano e ele, certamente, responderá que o único Picolit
que ele conhece é aquele que está dormindo atrás da "folha natureba"....
O Friuli-Venezia Giulia, em
seus 19.000 hectares de vinhedos, acredite quem quiser, reserva apenas em 5.000
deles para o cultivo de uvas autóctones.
Nos 14.000 hectares, restantes, imperam vinhas de Cabernet Franc,
Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Sauvignon, Pinot Grigio, etc.
etc. etc.
Um verdadeiro paraíso das uvas internacionais.
Os Merlot, Chardonnay, Cabernet
Sauvignon, produzidos no Friuli-Venezia Giulia,
me fizeram acreditar, não em um paraíso, mas num purgatório vinícola.....
A grande maioria deles "fa cagare".
Não tenho dados confiáveis, mas acredito que o Friuli-Venezia
Giulia seja, se não o maior, um dos maiores produtores de vinhos
"internacionais" da Itália.
Um pouco de história para iluminar as mentes dos professores
da AB$......
No final do século XIX a filoxera não ignorou as vinhas do
Friuli-Venezia Giulia, muito pelo contrario; as dizimou.
Os viticultores locais, depois da desgraça, experimentaram
todas as castas para tentar encontrar as que poderiam resistir à praga.
O desespero foi tanto que até as rainhas do Rio Grande do Sul,
Santa Isabel e Niágara, foram cogitadas.
No início do século XX veio a sentença final: Um diretor, do
instituto químico-agrário de Gorizia, declarava: "..... várias videiras estrangeiras
demonstraram que podem produzir, em nossa província, vinhos muito superiores aos
obtidos com nossas castas autóctones".
As videiras autóctones, que a filoxera havia "esquecido"
de destruir, o diretor do instituto mandou para o espaço.
De 1904 a 1907 foram produzidas e distribuídas, entre os
viticultores, 2 milhões de mudas de Merlot e
Riesling.
Apenas a Ribolla Gialla, Verduzzo e Refosco
escaparam da "invasão francesa".
O Friuli-Venezia Giulia produz
um mar de vinho tinto barato que, desde então, nunca conseguiu conquistar ou
seduzir taças sofisticadas.
Alguém perguntaria: "...... mas os Supertuscans (Merlot, Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc) da Maremma alcançam taças refinadas e preços astronômicos"
Concordo, mas no Friuli-Venezia Giulia não há riquíssimos nobres
industriais que podem seduzir corações e comprar canetas... Bastaria lembrar
que, nos 19.000 hectares de vinhedos, convivem 9.000 viticultores.
É muito difícil que em propriedades, cuja média é de pouco
mais de 2 hectares, surja um Antinori Solaia.....
Uma prova?
Josko Gravner, o maior ícone da região, produz
dois vinhos tintos com uvas Merlot e Cabernet Sauvignon.
Todos conhecem os brancos do Gravner ,mas alguém já bebeu "Rosso
Breg" ou "Rosso Gravner"?
Ninguém?
Ok, mas todos beberam ou conhecem o "Sassicaia"......
O Friuli-Venezia Giulia jamais será lembrado pelos vinhos
tintos, em compensação, seus brancos.....
Na próxima: Os grandes brancos do Friuli-Venezia Giulia.
Bacco