Facebook


Pesquisar no blog

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A INDEPENDÊNCIA

 

Quando resolvi conhecer e “desvendar” o mundo do vinho segui a trilha que todos conhecem, mas nem todos percorrem: Beber, ler, viajar.


É preciso lembrar que a “escola do vinho” não é barata, fácil, banal.


Para frequentá-la é preciso ter boa disponibilidade financeira, tempo e...... fígado.

Frequentar cursos, degustações, palestras, ler blogs, ouvir palestras de sommelier ou formadores de opinião, ler revistas etc., quase nunca é o suficiente, ideal, definitivo.

É um começo, um input, mas raramente se alcança real e sólido conhecimento sendo guiado como ovelha e confiando cegamente na opinião dos outros: em um determinado momento o cordão umbilical deve ser cortado para, assim, encontrar o próprio caminho.


Parker, Wine Spectator, Jancis Robinson, Gambero Rosso, James Suckling etc. são importantes, sim e devem ser respeitados, seguidos, mas até certo ponto.

As ridículas “copias” nacionais, dos acimas mencionados, devem ser evitadas sempre que possível: Em sua esmagadora maioria carecem de seriedade, preparo, além de servirem, como lacaios, às importadoras e produtores de vinho.


Vários anos de aprendizagem, centenas de taças alçadas, outras tantas garrafas esvaziadas e igual número de rolhas depois, continuar idolatrando revistas, críticos, formadores de opinião, sommeliers etc. é confissão de total insegurança e proverbial preguiça.

A minha “independência” ocorreu há mais de 30 anos.

 Três episódios foram determinantes para me libertar das “correntes” da comodidade, do “prato pronto” das revistas, dos críticos, dos formadores de opinião etc.

O primeiro ocorreu durante uma degustação na ABS de Brasília (sim tenho vergonha em admitir, mas já a frequentei).

O sommelier palestrante, ao comandar uma degustação de Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, nacionais (sim tenho vergonha, mas devo confessar que já os degustei) resolveu atender minha solicitação e identifica-los às cegas.

Resultado: Errou os três......


Não voltei nunca mais à ABS Brasília.

O segundo episódio frustrante ocorreu na Itália e tem como atriz principal uma premiadíssima Barbera “Gallina” La Spinetta.

Quase todas as revistas italianas glorificavam, aclamavam e elegiam a Barbera do rinoceronte como a melhor da Bota.

Curiosidade aguçada, desejo de provar a “rainha” das Barbera e a esperança de poder exibi-la como troféu, parti como um foguete à procura da icônica garrafa.

“Infelizmente acabou”, “Já esgotou”, “Estou esperando uma nova remessa, mas todas as garrafas já estão reservadas....”

Desisti!



Um belo dia, em uma “wine-bar-enoteca”, na belíssima Orta San Giulio, às margens do homônimo lago, ordenei uma taça de Erbaluce “La Rustia”.

A primeira taça aplacou a sede, “ma non troppo…” e, como de costume, pedi um reforço.

A Erbaluce fez efeito e me dirigi ao banheiro.

Para alcançar a casa de banho (viva Portugal!) foi necessário atravessar uma pequena, mas bem fornida enoteca.

Uma olhada obrigatória, para verificar os preços das garrafas expostas, quase todas da região (Gattinara, Boca, Ghemme, Erbaluce, Lessona etc.).

No meio do mar das etiquetas locais o que encontro?

 Uma garrafa da premiadíssima Barbera “Gallina” La Spinetta.

Feliz, como criança que acabou de ganhar a primeira bicicleta, não dei a mínima para o preço vitaminado (era mais cara do que um bom Barolo) sequei a taça de Erbaluce, paguei e corri para o carro: não via a hora de chegar em casa e provar aquela estrondosa, insuperável, fantástica, maravilhosa, soberba etc. etc. etc. Barbera, idolatrada pelas revistas especializadas, críticos e sommeliers.

Taça de cristal, três “grissini”, um copo com água..... no dia seguinte e após o necessário ritual, estava apto a degustar fabulosa, sensacional, formidável, assombrosa etc. etc. etc. Barbera da La Spinetta.



Já a cor me surpreendeu.

Aquela Barbera não possuía a característica e belíssima cor rubi da casta.

A “Gallina” se apresentava quase negra, impenetrável e que me fez lembrar a tinta da minha caneta Spalding.

A decepção da cor não arrefeceu meu entusiasmo e levei a taça ao nariz.

Juro que tive a impressão de ter entrado em um bosque de eucaliptos após um dia chuvoso: Notas balsâmicas por todos lados atingiram mias vias nasais e quase me transformaram em um koala.



Na boca mais e mais desastres.

O balsâmico, apesar da luta, foi subjugado pela madeira.

Madeira para ninguém botar defeito: o “Gallina” dava a impressão de ter sido vinificado em uma serraria.

O álcool?

É bom nem lembrar: Não recordo exatamente a gradação, mas tenho a certeza que superava folgadamente os 14º.

A “Gallina”, endeusado pelos critico$ e revi$ta$, nada tinha da Barbera D’Alba, a Barbera dos perfumes floreais, taninos presentes, mas não agressivos, incrível acidez e sua “piemontesidade”, aquela era uma “marmelada” produzida especialmente para agradar aos parkerianos, ao mercado internacional e aos que de Barbera nada entendem: uma tremenda-bosta e uma tremenda-bosta cara.



A Barbera “Gallina” foi a segunda pá de cal que joguei na cova dos formadores de opinião.

Segue

Bacco.

  

sábado, 24 de outubro de 2020

DEGUSTAÇÃO SENSORIAL

A degustação sensorial, executada por um “profissional” preparado, competente ou até por um “enganador”, é encarada pelos enófilos, iniciantes e sedentos de saber, como uma experiência que beira o irreal, o fantástico.


O sommelier profissional, muitas vezes, durante a análise do conteúdo da taça, encontra e elenca uma impressionante e quase irreal quantidade de sensações, aromas, sabores.

Ao presenciar uma dessas exibições não raramente os iniciantes no mundo do vinho dão sinais de perplexidade, espanto e queixo caído.

A desenvoltura, precisão e segurança, com que mirtilos, frutas maduras, flores brancas, framboesa, tabaco, goudron, fumaça, abacaxi, pêssego, cítricos, charuto, compota, trufas brancas,  sem falar de peixe de rio, barro metálico, estabulo e outras risíveis imbecilidades, que falsos profissionais encontram em uma simples taça de vinho, impressiona.

Os exageros e a imagem que se quer vender de um ser ungido e dotado de poderes sobrenaturais, todavia e apenas impressiona os neófitos que veem no degustador um semideus impossível de ser alcançado.

O mesmo não acontece quando a plateia é constituída de enófilos mais tarimbados.

Os mais rodados, quando se deparam com um degustador que exagera na dose de encontrar mais e mais aromas, mais e mais sabores e todos os “segredos “do vinho, sabem que estão diante de um farsante.

A utilidade e a veracidade de encontrar aromas estranho e em quantidade exagerada , em uma simples taça de vinho sempre me deixou perplexo ,cético, incrédulo.

Acredito que quase sempre estes exageros são  apenas estratagemas  para impressionar amigos, convivas e iniciantes.

Há mais outro “problema”: os “degustadores” quase sempre analisam, descrevem e pontuam, vinhos de alto custo e comprovada qualidade.

Aguem tem notícia de um “sommelier” que tenha bebido e descrito um Sangue de Boi, Mioranza, Chalise ou outro quase-vinho nacional?

 Acredito que para ser um bom e sério degustador seja  necessário não somente provar vinhos caríssimos , mas também os de preços médios e finalmente as porcarias.

 Tão importante, como encontrar qualidades é importante conhecer e reconhecer defeitos, imperfeições, manipulações  e é justamente nos vinhos “porcaria” que os defeitos , imperfeiçoes e manipulações, aparecem com mais frequência.

Resumindo: para se reconhecer os bons vinhos é preciso conhecer, também, os ruins.

Na profissão de degustador, ou sommelier profissional, não há truques ou atalhos e a única maneira de alcançar bons resultados é exercitar a memória, os sentidos (vista, olfato, paladar) e.... ter talento. 

Há um problema: Quando há “patrocínio” a degustação perde totalmente o sentido, valor e veracidade.

Quando “degustador” afirma que o “Intrepido” de Cocalzinho é ”....uma aberração de tao bom”, que os Barbera da Perini e Angheben são  superiores aos do Piemonte, que o Pinot Noir “Fulvia” do fotografo dos mil nomes bate os da Borgonha, que o “Singular Nebbiolo” da Valduga pode ser comparado aos Barolo e Barbaresco, que o espumante da Valduga é superior aos Champagne, é fácil perceber que estamos diante de um degustador picareta, falsário que embolsou algum dinheiro dos produtores  para mentir descaradamente.

Como descobrir os picaretas e falsários?

Fácil!

Picaretas e falsários nunca criticam negativamente e todos os vinhos são ótimos, baratos, imperdíveis

Continua

Bacco. 


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

OFICIAIS DE JUSTIÇA

Escrever sobre vinhos, para os enófilos brasileiros, está se transformando, para mim, em tarefa difícil, quase penosa e nada prazerosa. Há algum tampo percebi que pouco tenho a acrescentar ao que já escrevi no passado e quase mais nada me resta dizer para o futuro. 

Quando leio e constato que a maioria dos consumidores brasileiros acredita na piada do “melhor espumante do mundo”, que o Guaspari “Vista do Chá” é um grande vinho, que no cerrado de Cocalzinho é produzido um Barbera que é “uma aberração de tão bom”, que Dani-Elle produz Pinot Noir melhor do que o da Borgonha, que o Marcelan do Perini é ótimo, que o Mioranza ganhou medalha de ouro , que o Cantina da Serra, Pérgola, Dom Bosco e outras tremendas-bostas, alegram as taças da maioria dos enófilos tupiniquins, me percebo discursando sobre ética, probidade, patriotismo e honestidade em um congresso do PT, PMDB, PP ou outra arapuca partidária qualquer.
O que estou fazendo, então, aqui e ainda, uma vez mais? Resposta: Exercitando meu masoquismo e respondendo ao Umpierre. Somente um masoquista contumaz continuaria na quixotesca jornada de comentar vinho no e do Brasil.

 Os enófilos brasileiros são alguns poucos gatos pingados navegando em um mar de cerveja e pinga, mas muito mais barulhentos e fanáticos do que os milhões de consumidores da “loira” e da “marvada”.
Alguém já viu, leu ou tomou conhecimento de prêmios, medalhas, “melhor do mundo” de nossas gloriosas, Skol, Brahma, Antarctica, “51”, Nêga Fulô, Velho Barreiro etc.? 

Alguém já viu, leu, ou tomou conhecimento que a “Kaiser” é “…. uma aberração de tão boa” ou que a Ypióca ganhou medalha de ouro em concurso de destilados em Glasgow? Certamente não, todavia, sem propaganda, ufanista e enganosa, pinga e cerveja vendem como “água” (o Brasil é o 3º maior consumidor de cerveja do mundo). 

Nossos valorosos produtores vinícolas produzem, com rara competência, muitas notícias fantasiosas e falsas sobre a excelsa qualidade de nossos vinhos sempre e apenas visando aumentar preços e lucros. Na modalidade, “Fake News”, são campeões.

 A qualidade?

 A qualidade é sempre relegada a um segundo ou terceiro plano bem atrás da propaganda enganosa e do faturamento.

 Repito pela enésima vez: Quem produz quase-vinhos com uva Bordô, Santa Isabel, Niágara etc. jamais poderá pretender ser respeitado e sério produtor vinícola. O vinho nacional está mais próximo da indecência do que a excelência. Minha convicção é amparada nos 80% de quase-vinhos produzidos com uvas não viníferas que agridem paladar, estômago, fígado e olfato de nossos consumidores.
Deixarei de criticar, negativamente, os vinhos nacionais quando a Salton parar de engarrafar aquelas merdas, que costuma etiquetar, como se vinho fosse, “Chalise” e “Canônico” e a Aurora não mais produzir aquelas bostas conhecidas como “Country Wine” e “Sangue de Boi”.

 Deixarei de criticar os quase-vinhos nacionais quando Beato Salu, Didu Bilu Tetéia, Rebola que Rebola, Marcelinho Copellinho muito pão e pouco vinho e outros menos votados, deixarem de pedir esmola aos produtores nacionais e importadores.
O Paulo Umpierre está livre e apto para me processar e enviar um exército de oficiais de justiça ao Corso Guglielmo Marconi nº 25 Arona (No). Dedico a presente matéria ao amigo Paulo Umpierre (ainda bem que é um só....) e à nossa cordial troca de gentileza no blog abaixo reproduzida.

 1. Paulo Umpierre12 de outubro de 2020 10:59 Já pagou as condenações, por calúnia e difamação, ou continua escondido na Itália, para não ser intimado pelos oficiais de justiça ? ResponderExcluir 

2. Bacco e Bocca14 de outubro de 2020 12:27 Continuo escondido na casa de sua mãe ...Ela não me larga ResponderExcluir Respostas 1.

 Paulo Umpierre14 de outubro de 2020 21:49 Não poderia esperar uma resposta diferente de um caluniador contumaz. Mas seria ótimo que você estivesse escondido no túmulo onde a minha mãe se encontra, pelo menos não estaria caluniando as pessoas e as empresas sérias . Aliás seriedade é uma palavra que não existe no seu dicionário. É como diz o velho ditado, pau que nasce torto, morte torto. Excluir 2.

 Bacco e Bocca15 de outubro de 2020 08:08 Vamos por etapas: 1) Se você não esperava resposta diferente não deveria comentar e me carimbar “caluniador e difamador”. 2) O fato de sua mãe estar em uma cova não enternece, amolece ou adoça meu coração. Estou pouco me lixando 3) Qual a empresa ou pessoa séria que eu caluniei? 4) Você parece gostar de ditado, então, lá vai “Quem fala o que quer ouve o que não quer”. 5) Picaretazinho de meio penico (a minha famosíssima educação me freia e não posso lhe chamar de bosta), eu me escondo na Itália e você no anonimato.... Estamos empatados.

Dionísio

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

VINHO CHINÊS

Enquanto os produtores nacionais continuam investindo em propagandas picaretas que exaltam a “qualidade” do vinho brasileiro, conquistas de mercados internacionais, premiações em concursos fajutos e outras sandices, os vinhos chineses desembarcam, em grande estilo, dia 6 de outubro, no mercado italiano.
O “Gruppo Meregalli” tradicional distribuidor de bebidas de Monza, fundado em 1856, que atua no segmento “Horeca” (acrônimo de hotel-restaurante-café) resolveu aceitar o desafio e em 6 de outubro, em sua sede de Monza, fará a apresentação dos vinhos chineses. É bom salientar que o “Gruppo Meregalli” não é um distribuidor qualquer.
A adega da empresa disponibiliza algo como 330 mil garrafas e, em 2019, entregou à horeca mais de 1,200 milhões de unidades. Entres as marcas distribuídas podemos apontar: CHATEAU D'YQUEM, CHATEAU MARGAUX, TENUTA SAN GUIDO, BARON EDMOND DE ROTHSCHILD, BOLLINGER, CHAPOUTIER, CIACCI PICCOLOMINI, PENFOLDS e muitas outras. É fácil perceber, então, que Meregalli sabe escolher parceiros....
Inicialmente serão apresentados e distribuídos, no mercado italiano, 4 vinhos (2 brancos e 2 tintos) da vinícola ”Château Changyu Moser XV” A vinícola nasceu de uma joint venture entre a Château Changyu e o enólogo austríaco Lenz Maria Moser. A escolha das etiquetas foi feita pensando e visando o público mais jovem que frequenta os winebar.
Os diretores da Meregalli sabem que o mercado oscilará entre a desconfiança e a curiosidade, mas acreditam que a segunda prevalecerá. Agora é esperar para ver. Enquanto isso o vinho brasileiro continua ganhando “merdalhas” e mais “merdalhas”.
Parabéns aos nossos produtores de grandes vinhos “merdalhados” Dionísio

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

LEILÃO

As crises, covid e pos-covid, modificarão rotinas, costumes, comportamentos, consumos, atingindo, também e sem piedade, toda a economia mundial. Algumas raras atividades comerciais e industriais alcançarão bons sucessos econômicos, mas a esmagadora maioria das atividades terá dias difíceis pela frente. O futuro de viagens, turismo, hotéis, bares, restaurantes, somente para citar algumas, não é dos mais róseos e muitas empresa do setor, se já não o fizeram, fecharão as portas. Em países como a Itália, onde o turismo representa mais de 13% do PIB (232 bilhões de Euro) e emprega 3,5 milhões de pessoas, o covid já deixa marcas profundas, visíveis.
Os gourmets abonados e os amantes das boas taças, conhecem ou já ouviram falar da “Enoteca Pinchiorri” o famoso restaurante 3 estrelas Michelin de Firenze. Giorgio Pinchiorri, para poder enfrentar a crise e liquidar dívidas trabalhistas, se viu obrigado a leiloar 2.500 garrafas de sua impressionante adega onde repousam outras mais 100.000. O leilão, realizado em Londres, foi um sucesso e Pinchiorri colocou no bolso 3,3 milhões de Euros. Nas palavras do próprio Giorgio, parte do dinheiro arrecadado será destinado ao pagamento de salários atrasados dos 51 funcionários e o restante servirá para amenizar a crise prevista para 2021.
Quais as garrafas leiloadas e quais os preços? Aqui vão algumas: 3 Garrafas de “Vosne Romanée Parantoux” 1985 de Herny Jayer 80.600 Euros 1 Garrafa Magnum “Musigny” 1990 de George Roumier = 51.000 Euros 1 Garrafa Imperial (6 litros) “Petrus” 2009 = 47.000 Euros 2 Garrafas de “Romanée Conti” 1990 de Domaine de la Romanée-Conti = 43.000 Euros.
Se alguém ficou com pena de Giorgio Pinchiorri, enxugue as lagrimas: Na adega do restaurante, ainda, há mais 170 milhões de Euros “engarrafados” Ia esquecendo….não há notícias da presença de políticos brasileiros no leilão. Bacco