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domingo, 26 de julho de 2020

GUIAS QUE CEGAM


 


Há muitos anos, quando ainda acreditava (já bem pouco, confesso) em guias, pontos, estrelas, taças etc., li, em uma revista, já não lembro qual, onde o “Marcenasco”, da Renato Ratti, fora premiado com sei-quantos-pontos e eleito o melhor Barolo do ano.

Por uma feliz coincidência, naquele mesmo dia, Massimo Martinelli e eu havíamos programado almoçar em um restaurante (Osteria Veglio) bem próximo da vinícola Renato Ratti.
 

Para os que não conhecem Massimo Martinelli, aqui vai um pequeno currículo:  Massimo, sobrinho de Renato Ratti, em 1963 obteve o diploma de enólogo na “Scuola Enologica di Alba”.
 

De 1964 até 1969 trabalhou como enólogo em Lugano (Suíça) na “Casa Vinicola Fabbronidi”.

 
Em 1965, Renato Ratti, depois de alguns anos capitaneando a Cinzano em São Paulo, retorna à Itália, compra algumas vinhas, próximas da “Abazzia dell’Annunziata”, em La Morra, e começa a produzir vinhos.

 Em 1969, convida o sobrinho, Massimo Martinelli, para entrar na sociedade “Renato Ratti” e atuar na vinícola como enólogo.

 
Com a morte do tio, Martinelli toca a vinícola até sua aposentadoria, quando Pietro Ratti, filho de Renato, assume a empresa adquirindo suas ações.

É sempre bom lembrar que Martinelli, por dois mandatos, foi presidente do “Conzorzio di Tutela del Barolo e Barbaresco”.

Além das atividades na vinícola e no Consorzio, Martinelli se dedicou, tambem, à pintura e. literatura

 Um de seus livros, “Il Barolo Come lo Sento Io”, é imprescindível para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre o grande vinho piemontês.
 

Esta pequena introdução se faz necessária para que o leitor possa entender o porquê de meu desprezo por pontos, estrelas, taças, os melhores do ano, os 100 vinhos Top etc. etc. etc. que as revistas e$pecializada$ continuam nos empurrando goela baixo (por uma questão de elegância não revelo onde realmente empurram......).

Já acomodados no restaurante e bebericando uma taça de espumante, que Martinelli não dispensa antes das refeições, resolvi mostrar ao amigo o artigo da revista.

Esperava que Martinelli, ao ler a notícia do prémio, exibisse um sorriso de satisfação e orgulho..

Tremendo engano......

Massimo, leu o artigo com nonchalance, fechou a revista e exclamou “ Quanto será que nos custou? ”
Conhecendo Martinelli, há décadas, mudei rapidamente de assunto.....

Moral da história: Nem os produtores, que pagam, acreditam na seriedade das pantominas em que se transformaram as apresentações dos incontáveis   “Vinhos do Ano” e que periodicamente aparecem nas revistas, ou blogs, dos formadores de opinião, sommeliers, puxas-sacos, arrivistas, experts etc.

Faturar é preciso e...... quem paga o pato é sempre o enoloide de plantão.

Depois deste acontecimento minha confiança, nas indicações dos eno-gurus, despencou e nunca mais segui nenhum deles.

Alguém deve estar pensando: ”Tá bem, tudo bem, mas você já falou sobre o assunto trocentas vezes.....”

Surgiu um fato novo que me tirou do sério.

Um assíduo e atento leitor, de B&B, me enviou a lista dos melhores Barolo na opinião da WineEnthusiast.

Cada revista publica a sua e logicamente, privilegia quem paga mais, mas a da WineEnthusiast é de uma desfaçatez antológica.

Continua

Bacco.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

MAIS UM MITO QUE CAI



Quantas “verdades absolutas”, do vinho, lhe foram repassadas pelos “professores” de um dos milhares de eno-cursinhos que infestam o mundo vinícola do Brasil?
 
 

Não lembra?

Aqui vão algumas:

Quanto mais velho melhor

Branco não combina com carne

Tinto deve ser servido na temperatura ambiente

Branco deve ser gelado

 
Colherzinha na garrafa preserva as bolhas do espumante

Há outras, mas estas são clássicas, dogmáticas.

O vinho é um produto que tem evolução natural: Nasce, passa pela juventude, envelhece e infelizmente “morre”.

Há brancos que são ótimos com carnes brancas ou mesmo vermelhas pouco condimentadas.

Tintos na temperatura de qual ambiente? Na cozinha ou na sala refrigerada? Há tintos que são ótimos quando resfriados (Lambrusco é um deles).

Brancos devem ser gelados?

Não creio.

Quando o branco é de baixa qualidade, sim, pois a baixa temperatura camufla defeitos, mas os grandes brancos revelam suas melhores características quando bebidos entre 13º e 15º.

 
A lenda da colherzinha é uma piada.

Leio, com bastante atraso (quase 2 anos) que mais um mito vai para o lixo

Miguel Cabral, diretor do departamento de pesquisa e desenvolvimento da “Amorim Cork”, maior produtor de rolhas de cortiça do mundo, afirma, sem medo de errar e com conhecimento cientifico: “A umidade, que há no espaço vazio da garrafa, impede que a rolha resseque e não há necessidade, então, de conservar as garrafas deitadas”  

Cabral vai além e detona mais um mito: “ A umidade do ambiente, em que são conservadas as garrafas, não tem nenhuma influência na rolha, que é influenciada exclusivamente pela umidade do interior da garrafa”

 
Cabral o iconoclasta continua: “ …a ideia de conservar as garrafas em uma adega úmida e mais um mito, dos muitos, que através de estudos e pesquisas, a indústria da cortiça está desmontando”.

Miguel Cabral não é um “sommerdier” qualquer, um daqueles que que ministram cursos picaretas no Brasil, Cabral é um técnico português de renome mundial e “sabe das coisas”.

Uma notícia simples, mas destinada a derrubar mais um mito e que provavelmente não será “digerida” pelos enoloides que infestam o cenário vinícola do Brasil.

Já imaginaram a cara de bunda de nossos eno-gurus ao perder mais um dogma, verdade absoluta, de sua quase religião?  

Dionísio

segunda-feira, 13 de julho de 2020

A CÔTE-DE-PEQUI



Há alguns anos o orgulho nacional “explodia” em nossos peitos, viris e juvenis, quando o futebol brasileiro era o melhor do mundo, Maracanã o maior estádio do mundo, Rio a cidade mais bonita do mundo, a “Garota de Ipanema” a mais bela do mundo
 

Com o passar dos anos percebemos que algo havia mudado: Nosso futebol já não era o melhor, o Maracanã passou para o 26º lugar, o Rio é um campo de batalha dominado por traficantes, milicianos e políticos corruptos.

Bastaria passear (se tiver coragem) por nossas favelas, para perceber que a famosa “Garota de Ipanema” é, hoje, a “Bruaca do Morro do Alemão”.

Não há muito do que se orgulhar.

Ledo engano......

Há, sim, muito, ainda, para nos orgulharmos.

Já temos o melhor espumante do mundo, o melhor queijo do mundo e, provavelmente, já em 2021, exportaremos o melhor Syrah do mundo.

Pedi para o Bacco, que tem maior intimidade com a Borgonha, escrever algo sobre aquela região francesa para que todos entendam até que ponto pode chegar a eno-picaretagem e quanto são ridículos os elogios que medram no minúsculo, picareta e capenga mundo do vinho nacional

Socorro.....eu exijo salvaguardas contra os vinhos nacionais.

As canetas de aluguel, sempre sedentas e prontas a escrever incríveis sandices sobre a viticultura nacional e que já derramaram copiosos elogios aos vinhos gaúchos, catarinenses, paulistas, mineiros, goianos etc.  chegam, agora, ao Distrito Federal.

Pelo andar da carruagem, Brasília, além de ser famosa por abrigar pencas e mais pencas de corruptos, está pronta para ser reconhecida como a mais nova estrela da viticultura mundial.

Borgonha, Piemonte, Douro, Champagne, Alsácia, Toscana etc. que se cuidem: O cerradão pariu o Syrah do “Seu Claudino”.

Na terra dos cupins brasilienses já na primeira e mítica vindima, de 19 de setembro de 2019, foram colhidos 90 kg de uva Syrah.

As uvas já foram vinificadas e o “Seu Claudino” já pode ser degustado, por módicos R$ 180 no “Villa Triacca”.

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/07/02/interna_cidadesdf,868625/primeiro-vinho-produzido-em-brasilia-seu-claudino-sera-lancado-em-ago.shtml

Chama a atenção, deste redator, o profissionalismo e estrutura que cercou a produção de mais uma pérola que, sem dúvida, enriquecerá a já lendária viticultura nacional.

Interessante o relato do viticultor e proprietário da nova estrela enológica.

 Ele nos informa que depois da colheita e de um farto café colonial, oferecido aos que ajudaram na vindima, os cachos se bronzeavam ao sol enquanto aguardavam a hora de serem esmagados para poder escalar sua vitoriosa jornada rumo ao sucesso mundial.

Os cachos, já bronzeados e repousados, iniciaram, então, a viagem de 1.000 km que os levaria até Caldas, em Minas Gerais.

As uvas Syrah, sacolejaram, por nossas belas rodovias, durante longas horas (no mínimo, 14) até serem entregues à consagrada enóloga Isabela Peregrino.

Comovente (juro que enxuguei uma furtiva lágrima) o relato do proprietário da “Villa Triacca” quando, com a voz embargada, se despede dos cachos e os entrega à enóloga: “Cuide bem do nosso primeiro filho”.

(Para poder melhor viver e saborear a sublime ternura que envolveu a singela entrega, sugiro este fundo musical)
https://www.youtube.com/watch?v=U4lJUzrgSJA

Deixemos o sarcasmo à deriva......

O que mais impressiona, negativamente, é que um jornal e uma jornalista, percam tempo, papel e tinta para comentar e divulgar 66 garrafas do vinho da “Triacca” que certamente “fa cagare”.

Se alguém acha que nada poderá ser mais ridículo e imbecilizante do que a melosa matéria do “Correio Brasiliense”, peço que, por favor, clique no link e assista o vídeo a partir dos 7,30 minutos.
https://www.youtube.com/watch?v=2hrOkhVg0QY

Inacreditável!

Os viti-picaretas do Planalto central dão um banho de sabedoria e conhecimento vinícola aos circestenses e beneditinos que, coitados, durante séculos pesquisaram e estudaram cada palmo da Côte-d’Or.

No cerrado brasiliense, em dois ou três anos e sob o comando do fenomenal Marconi (Guglielmo?) Surgirá a incomparável “Côte-de-Pequi”.

Quando acreditava não haver mais espaço para uma nova e ridícula eno-picaretagem me aparece a “Vinícola Brasília”.

Exijo um “salva-bunda-já” contra “Seu Claudino”

Dionísio

 

 

 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

A NOVA CÔTE-D'OR


Pode ser que exista, eu não conheço, outro território vinícola tão complexo e fascinante com a Côte-D’Or.

Na Côte-D’Or apenas alguns metros podem determinar grande diferença na qualidade e no preço de um vinho.

Explico: Saindo da praça, dedicada aos “Vignerons”, bem no centro de Puligny-Montrachet, há uma rua que se prolonga até as últimas casas da aldeia.

No limite da aldeia, a rua se transforma em uma estradinha que continua, seu percurso, ladeada, não mais por casas, mas por vinhas de Chardonnay.

A estradinha, reta, se prolonga por mais ou menos 300 metros e em seu curto percurso há dois cruzamentos.

Na segunda encruzilhada, quem virar à esquerda encontrará, depois de 2 quilômetros, Chassagne-Montrachet e aquele que optar pela direita, seguirá até Meursault.


Calma, não estou dando uma de “Google Maps”, mas apenas uma pequena descrição que nos ajudará a confirmar que poucos metros, na Côte-D’Or, podem determinam uma enorme diferença na qualidade e no preço do vinho.

Saindo de Puligny, como já afirmei, a estrada atravessa um “corredor” de vinhas que fazem parte da AOC “Puligny-Montrachet Village”

Vinho de boa qualidade, como quase todos os da região, mas nada excepcional e que custa 15/25 Euros.

Percorrido 200 metros encontramos a primeira encruzilhada e é exatamente neste ponto que termina o território da AOC “Village” e começa o “paraíso” dos Grands Crus e dos 1er Crus.


Um estreito caminho, de apenas três metros, determina uma grande diferença na qualidade e uma enorme diferença no preço do vinho: Uma garrafa de “Puligny-Montrachet-Village” custa 15/20 Euros.  Uma ampola de “Bienvenues-Bâtard-Montrachet” ou de “Bâtard-Montrachet”, cujas uvas foram colhidas do outro lado da rua, custa quase proibitivos 180/300 Euros.

O que e quem determinou os limites das denominações?

 Os religiosos (frades) que, durantes séculos, realizaram observações e estudos incrivelmente meticulosos.

Não quero prolongar a dissertação, mas é necessário salientar que os frades Circestenses, no século XI, se apropriaram das terras da Côte-D’Or com as melhores vocações vinícolas, estudaram suas potencialidades e demarcaram os limites dos melhores vinhedos com muros de pedras (clos) até hoje presentes no território (ainda presente apesar do nosso Átila e escalador de cruzeiros medievais: Manoel Beato “Salu”)

Para se ter uma ideia, da quase obsessiva busca pelo conhecimento, a lenda conta que os Cistercenses até “degustavam” as terras, dos diversos terrenos, para poder determinar quais fossem os melhores.

A ciência moderna sepultou a “degustação......”

Conclusão (para não encher ainda mais o saco do leitor...): A Côte D’Or é um mosaico de solos e microclimas que justificam a diversidades das inúmeras parcelas.

No século XVIII os beneditinos instituíram uma classificação dos vinhedos tendo como base seu potencial qualitativo.

O religioso, Dom Denise, escreve “.....as vinhas que produzem os melhores vinhos da Borgonha são aquelas localizadas nas baixas e médias colinas com leve inclinação....”.

Terminei minha breve ilustração de como e quando surgiram alguns dos melhores e mais caros vinhos do planeta

 Quem leu atentamente terá, certamente, percebido que foram necessários 1.000 anos para que os franceses alcançassem a quase perfeição.

Conclusão:  os franceses são viticultores incompetentes, obtusos e atrasados.

Por quê?

Em pouco mais de cinco anos, no cerrado do Planalto Central, nasce uma nova Côte D’Or.


 Como se já não bastassem os “eno-fenômenos” gaúchos, catarinenses,
 paulistas, mineiros e sei lá quais mais, surge, agora, em Goiás e DF uma
safra de novos gênios da viticultura mundial.

Continua

Bacco