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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ANTEPASTO COM PIMENTÕES

 


Coincidência, ou não, a receita do “Ossobuco al Civet” provocou um considerável aumento nas visualizações do blog.

Acredito que os que gostam, realmente, de cozinhar estão mais do que fartos de “chefes-blefes" apresentando pratos televisivos e ridículos.

Um antepasto, simples, fácil, mas trabalhoso, como quase todas as antigas receitas piemontesas (olha minha avó, aí, traveis…)

 “Povron en Bagna Càuda”.

Não tente entender ou traduzir; o piemontês é uma língua quase impossível de decifrar, mas vou ajudar: “Pimentão em Molho Quente”.

A “Bagna Càuda” é uma salsa, típica e invernal, que deve ser mantida aquecida por um pequeno fogareiro e na qual se “mergulham” diversas verduras.


É um prato servido, nos restaurantes populares, regado com litros e litros de Barbera e Dolcetto.

Barato, delicioso, totalmente inusitado e fora do limitado alcance dos banais “chefes-blefes”.

É preciso preparar a salsa (bagna) com azeite, anchovas, alho.

 Quando se quer “sofisticar”, alguns adicionam um pouco de creme de leite.

Alguém poderá questionar “Anchovas nas receitas piemontesas? No Piemonte não há mar......”

Não somente anchovas, mas atum, azeitonas e alcaparras, também, fazem parte de clássicos pratos da tradição culinária piemontesa.

O porquê?

 É uma longa e bela história ..... depois eu conto.

INGREDIENTES

4 belos pimentões (2 vermelhos e 2 amarelos), azeite, 4 dentes de alho, anchovas.

PREPARO

O pimentão é, para muitos, indigesto e para torná-lo mais digerível é preciso retirar a pele.

Coloque os pimentões em uma assadeira de alumínio e leve ao forno pré-aquecido.

Deixe assar por 15/20 minutos até aparecerem “queimaduras” preta na pele (é necessário virá-los pelo menos uma vez para assar ambos os lados).

Quando assados, para retirar a pele mais facilmente e sem queimar os dedos, embrulhe os pimentões em papel (jornal velho serve), coloque em um saco de plástico dos supermercado e dê um nó para conservar o calor.


 Após esfriada, a pele dos pimentões é retirada com muita facilidade.

Corte os pimentões em fatias e coloque em um pirex.



A SALSA

 Coloque um pouco de azeite (meia taça das de chá) em uma panelinha. Fatie 4 dentes de alho e junte ao azeite. 

Adicione, também, 6 filés de anchovas (anchova e não sardinha anchovada) lembrando que as melhores são as espanholas e portuguesas. Cozinhe a salsa em fogo baixo e desmanche as anchovas até se transformarem em uma pasta.



Quando o azeite entrar em ebulição mexa a salsa sem parar e após um minuto despeja sobre os pimentões.

Pronto!

Deixe esfriar e descansar e sirva após um ou dois dias.

Belo e ótimo antepasto.

Vinho?

Barbera ou Dolcetto

Bacco

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

FAÇA O QUE DIGO, MAS.......

 

A pandemia provocou mudanças de comportamentos, costumes, hábitos e “feriu”, seriamente, inúmeros setores.


Transportes aéreos, turismo, restaurantes, bares, são algumas atividades que penaram e estão penando muito.

Cada qual se vira, como pode, para poder ganhar algum dinheiro, mesmo recorrendo a expedientes não exatamente recomendáveis.

 Percorrendo as redes sociais me dei conta que está em marcha uma verdadeira avalanche de propagandas, ofertas, cursos, lives, etc. sobre vinhos e gastronomia.

Chefes (quebrados?), sommeliers (na pior?), importadoras, produtores nacionais, divulgadores, influenciadores etc. recorrem sempre mais e mais à web e a poluem sem piedade: É quase impossível contar quantas propagandas de cursos “grátis” sobre “aprender a conhecer e degustar vinhos” ou “aprenda a cozinhar com....... “ (escolha o nome do chefe que quiser)

Na gastronomia não há apenas centenas de “Remy-Ratatouille”” que buscam notoriedade, “revelando” receitas exclusivas de arroz e feijão, há até um peso pesado e tatuado que parece ter perdido o “DOM” de cozinhar com caldo Knorr e busca, na rede, reviver o fulgor do passado atacando os paladares tupiniquins com “descobertas” gastronômicas no cerrado.

Quem com Knorr fere é ferrado com baunilha do cerrado?

Se para os gourmets a web virou um pesadelo repletos de “chefs” de fundo de quintal, os enófilos sofrem tanto quanto, ou mais, com o aparecimento de centenas de “professores” e ridículos cursos de vinho.

Desastres e mais desastres.

Centenas de cursos picaretas, que surgiram em todos os cantos e recantos do país, devem ter fechado as portas e para meu desespero e de muitos outros enófilos, se mandaram, de rolhas, garrafas e saca-rolhas, para a web.

Verdadeiro circo dos horrores, onde sommerdiers-charlatões tentam faturar algum iludindo os ingênuos (qualquer semelhança com pastores picaretas e milagreiros não é pura coincidência).

Até grandes nomes das taças nacionais parecem estar matando cachorro a grito

Nas redes sociais há um verdadeiro tsunami de cursos “gratuitos” onde os “professores” faturam, descaradamente, degustando, comentando e, como de praxe, exaltando e indicando vinhos dos patrocinadore$.

Há o exemplo de um figurão, o mais querido dos abonados e outrora frequentadores das caras taças do Fasano, que há muito já abandonou quaisquer resquícios de pudor e está se dedicando, descaradamente, ao faturamento “venha de onde vier”


O nome? Beato Tropeço Adams

Profissão? Escalador de cruzeiros medievais e sommerdier especializado em descobrir, nas garrafas de vinho, aromas de peixe de rio, sabor de mel de estrebaria, geleias e licores de frutas em meio fumaça de charuto num fim de tarde ao lado de um estábulo, ouriço do mar e outras pérolas (de estrebaria?)


Durante a pandemia, que provocou a escassez de mordomias, o nosso sommerdiers-mor, percebendo claros sinais de que os áureos tempos, das gordas propinas, já não existem, está tentando, desesperadamente, fechar as contas.

Acostumado, pelos clientes abonados, a degustar caríssimas garrafas, deixou os luxuosos salões paulistanos e foi buscar um “incentivo” nos cupinzeiros dos “pireneus goianos” degustando um vinho “tremenda bosta” e classificá-lo: “aberração-de-tão-bom”

Dos Pinot Noir da Borgonha para os vinhos do cerrado goiano......decadência total.


Aliás, parece que o cerrado é o novo eldorado dos ex ídolos dos abonados paulistanos: Atala-Atolado e Beato-Tropeço.

Cutucar onça semimorta não é nenhuma ação da qual me orgulhe, mas um dos mais sádicos leitores de B&B me enviou um vídeo, do Beato-Salu-Tropeço.

O vídeo é tão patético que não pode passar “incólume” e deve ser comentado no B&B.

É preciso voltar no tempo, mais exatamente em 2012, para poder entender a rigidez profissional que sempre norteou nosso escalador de cruzeiros da Borgonha.

Em uma das centenas de “vídeos- entrevistas-puxa-saco”, o entrevistador pergunta, ao escalador de cruzeiros medievais: “Existe um assédio das importadoras entorno do sommelier? ”  Beato Tropeço, com ar angelical   e transpirando a pureza de uma vestal, afirma que há, sim, por parte dos empresários um a$$edio, mas que é preciso bravamente resistir e conclui:

 ” ... costumo dizer pros sommeliers, pros jovens, que a credibilidade e o patrimônio maior que ele tem (sic) e que vai ganhar muito mais lá na frente....”

A cara de pau de nosso personagem é tão descarada e tão insultuosa que precisei recorrer ao Plasil.

Todos sabem, até os monges tibetanos, que os encarregados de elaborar cartas de restaurantes famosos ganham incentivo$ polpudos, as vezes mais polpudos do que o próprio salário, de importadoras e produtores.

Tentar parecer uma virgem da zona e difícil, ridículo, falso.

O melhor, para derrubar a “pureza” de nossa eno-vestal, que recomendava “credibilidade” aos jovens, está no vídeo que recebi.

 O nosso paladino, da eno-anticorrupção, faz exatamente o contrário de sua prédica moralista e divulga, descaradamente, um espumante da importadora “Clarets”

Veja: 

https://www.youtube.com/watch?v=0gIwVwgZBlE

Beato, nas vestes da “virgem na zona”, vagueia com desenvoltura pelo eno-puteiro das importadoras nacionais e cheio de “credibilidade” indica aos consumidores, mas sem interesse algum, um Cava importado pela Clarets.

Um exemplo típico de: Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Mais uma coisa: Um dos mais badalado sommerdier do Brasil afirma, entre outras muitas besteiras, que o espumante espanhol é ”....um vinho feito na região de Cava, o conceito Cava significa que....”.

Beato “faça o que eu digo, mas não faça o que faço”, nunca vi tamanho despreparo e idiotice em um só sommelier; CAVA não é região nem conceito, CAVA é DENOMINAÇÃO DE ORIGEM”.



Dionísio

sábado, 23 de janeiro de 2021

OSSOBUCO AL CIVET

 


É preciso esclarecer que o “Ossobuco” (osso-buraco ou osso-furado) é um prato da cozinha lombarda (Milão), mas há séculos faz parte, também, da gastronomia piemontesa.

Em suas origens, por ser um prato preparado com carne barata, ingredientes comuns, provenientes de hortas e vinhas familiares,  era classificado como “cozinha pobre”.

Pobre, ou não , é muitíssimo saboroso.

A origem da receita se perde no tempo e a que publico me foi repassada por minha mãe, que a herdou da sua, que a obteve da......

Na minha versão acrescentei algumas poucas e pequenas modernizações (o uso do mixer é uma delas), mas a essência continua a mesma.

O “Ossobuco al Civet” não é exatamente uma receita para veganos ou seguidores de dietas pouco calóricas.

Eu recomendo, para cada pessoa, apenas uma peça do ossobuco.

É bom lembrar que 100gr de “ossobuco” doam, ao seu corpinho, 180 calorias e que cada peça pesa, em média, 350gr....faça a conta e não esqueça de acrescentar as calorias do vinho.

Receita para 4 pessoas:

4 pedaços de ossobuco.



 É bom prestar atenção no corte pois muitos “sabidinhos” tentam vender peças com mais osso do que carne.

A marinada:

Não esqueça: antes de marinar faça alguns pequenos cortes nas laterais do ossobuco para evitar o “enrugamento” da carne durante a fritura e cozimento.



2 garrafas de vinho tinto de boa qualidade (hoje usei sobras de Gaggiarone, Esporão, Gattinara e uma garrafa de Alandra), 2 cebolas médias, 1 alho poró, 3 talos de salsão, 3 cenouras.



Aromas e especiarias:

 Alecrim, tomilho, sálvia, endro, 5 ou 6 cravos, grãos de pimenta preta, 10 ou 12 bagos de zimbro.



Execução

 Coloque a carne em uma panela bem grande, adicione metade do vinho, as verduras grosseiramente cortadas, ervas aromáticas, especiarias, tampe e deixe marinando durante, no mínimo, 12 horas.



No dia seguinte retire a carne da marinada e frite, em um pouco de azeite, por dois minutos cada lado.

 Caso não tenha uma frigideira de grandes dimensões, frite o ossobuco em duas etapas.



Depois da fritura retorne a carne à panela, acenda o fogo médio e vá até a sala de televisão assistir ao programa favorito..... O cozimento demora 2 horas, ou mais.

Enquanto a carne cozinha prepare um ½ litro de caldo de carne (pode utilizar tabletes Knorr ou de outras marcas .... Se o Atala-Atola usa, você, também, pode usar).



Controle, a cada 20 minutos, o líquido da marinada e quando começar a diminuir, muito, acrescente um pouco de vinho e caldo de carne.

No final do cozimento a marinada deverá a ser metade da inicial.



Confira, com um garfo, a maciez da carne (corte um pedacinho e prove....) e, quando estiver no ponto desejado, retire-a da panela e com um mixer bata as verduras até obter um creme denso e uniforme.



Retorne a carne para a panela e deixe “descansar”, no creme, por algumas horas (eu deixo o ossobuco na geladeira por uma noite).

Antes de servir leve, novamente, o ossobuco à ebulição e em seguida sirva.

Para beber?


Uma bela Barbera, Gaggiarone, Freisa, Gattinara ou outro bom tinto.

PS. Sempre “exagero” na quantidade de molho, mas há uma razão: Congelo o que sobra do creme das verduras batidas para, em outra ocasião, fazer uma ótima macarronada com tagliatelle o fettuccine ...... Confira

Bacco

 

                


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O PIOR E O MELHOR

 


Gattinara é a única cidade, da província de Vercelli, que produz um vinho DOCG.


O território de Vercelli em quase sua totalidade é coberto por um imenso arrozal (Arborio é uma cidade da província que empresta o nome ao famoso arroz da região) onde é possível encontrar, apenas, algumas poucas denominações vinícolas interessantes


 Erbaluce de Caluso, Bramaterra e o ótimo Gattinara são três vinhos que merecem ser mencionados.



Gattinara, aldeia com pouco mais de 8.000 habitantes, 100 hectares de vinhas e 10 produtores que vinificam um dos melhores vinhos tintos que conheço.

O maior é Travaglini, o melhor (para mim), Mauro Franchino, o   pior Paride Iaretti.

Já bebi, nos bares de Gattinara (há inúmeros), muita taça de Gattinara do Iaretti e devo confessar que se nunca me entusiasmaram, também jamais decepcionaram, mas...........

 Paride Iaretti tem, como “joia da coroa”, a etiqueta “Pietro”.

Pode até ser sua “joia”, mas a garrafa que abri, para acompanhar o “Ossobuco al Civet”, me deu calafrios, os mesmos tremores que me assaltam quando alguém abre e me oferece um tinto nacional....

Excessivamente tânico, álcool que feriu as narinas, sem equilíbrio, zero harmonia, anguloso......  um vinho totalmente dispensável.

Para dar uma ideia da decepção, que tomou conta dos comensais, não conseguimos beber nem meia garrafa.


Um horror!

Para “salvar” o ossobuco, fui até a adega e voltei com uma garrafa de “Gamba di Pernice 2007 Tenuta dei Fiori” de Valter Bosticardo.

Valter foi um dos “salvadores” da extraordinária casta “Gamba di Pernice”.

A pequena denominação, que desde 2011 conseguiu a DOC e hoje se chama “Calosso” (eu prefiro chamá-la, ainda, Gamba di Pernice), conta hoje com 8 produtores que vinificam, no total, pouco mais de 30.000 garrafas.

Bosticardo, em sua propriedade de 5 hectares, produz, também, Moscato, Barbera, Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon, mas é no Gamba di Pernice e “Pensiero”, um Moscato “Metodo Classico”, que Valter atinge a perfeição.

Bosticardo, que é quase obsessivo na busca da qualidade, não vende, nem sob tortura, seu Gamba di Pernice antes dos 4 anos: As garrafas devem permanecer maturando e afinando em sua adega antes de serem comercializadas.

Resultado: Um vinho extraordinário, de bela estrutura, envolventes perfumes de especiarias e rara aptidão ao envelhecimento

Já bebi muitas garrafas do “Gamba di Pernice “ do Bosticardo, com 10-15 anos, perfeitas e inclusive a de 2009 que servi no almoço.

Apesar de não ser o mais indicado para acompanhar o “Ossobuco al Civet”, o “Gamba di Pernice 2009” de Valter Bosticardo nos fez esquecer rapidamente o “Gattinara Pietro” de Iaretti.

O “Calosso” é mais um grande vinho piemontês totalmente esquecido, ainda bem, pelos nossos importadores-predadores.


Aproveito a oportunidade para anunciar que neste final de semana, apesar do clima não ajudar (28º/30º), atendendo aos pedidos de vários leitores, cozinharei novamente o “Ossobuco al Civet” e publicarei, na íntegra, a receita.

Com o tsunami de “chefes-blefes” que “revelam” receitas até de batatas fritas, acredito que o ossobuco, que minha avó cozinhava em seu restaurante, já nos anos 1940, possa realmente surpreender.

Um aviso: Apesar de fotografar e detalhar, minuciosamente, o “Ossobuco al Civet” a receita não é fácil, nem rápida e muito menos, banal.

Requer um bocado de paciência, uma razoável intimidade com as panela e bom conhecimento dos ingredientes e speciarias.

Continua

Bacco

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

O ALMOÇO SEM OS ESPERTINHOS

 


Todas aquelas lembranças, quase melancólicas, dos almoços com os espertinhos, deve ter sido provocada pelo claustro “covidiano” que está alimentando, confesso, a saudade “dos felizes anos de então...” e até dos espertinhos, mas sei que não há retorno ...... O tempo é impiedosos.



Melancolia, ou não, para acompanhar o “Creme de Ervilhas com Espuma de Gorgonzola”, abri o Champagne Taittinger Brut.

O Taittinger Brut, “base”, é um Champanhe que se coloca entre as marcas extremamente comerciais e as etiquetas mais requintadas: Uma clássica e ótima garrafa de “entrada”.

Algumas informações: A Taittinger é uma vinícola familiar, proprietária de 288 hectares de vinhedos o que a coloca como uma potência regional e que vinifica somente com as próprias uvas.



A Garrafa, que custou R$ 260,00, representa uma ótima relação qualidade/preço e não tenho receio em afirmar que é difícil encontrar, no Brasil e por este preço, um espumante tão agradável, equilibrado e que possa satisfazer, plenamente, os paladares mais refinados.

O Champagne acompanhou regiamente minhas ervilhas.



Taittinger Brut: elegante e aconselhável para todas as boas e belas ocasiões.

Uma pequena observação: O Maria Valduga custa, na Super Adega, R$ 269,00.

Caso um eno-masoquista tenha coragem de comprar um Maria Verruga (ops) Valduga e compará-lo ao Taittinger, perceberá imediatamente quão ridícula, voraz, predadora é a vinícola gaúcha e o quanto os enófilos brasileiros são enganados.

O “Risotto de Abóbora e Nozes” pedia um vinho mais encorpado, robusto.

Havia chegado a hora do Château Musar”.



Nunca escondi o fascínio que tenho pelo grande vinho libanês e que o considero um dos meus preferidos.

Apenas uma dúvida...... “onde você comprou esta garrafa? ”

O conviva, orgulhoso e feliz, confirmou o que eu mais temia: Mistral.

A Mistral, como já afirmei inúmeras vezes, além de voraz e predadora é uma exímia “sodomizadora” e não demonstra pudor algum em nos empurrar garrafas absurdamente caras e já em franco declínio.

No famoso “bota fora” (melhor seria, dentro), a Mistral, tenta (e consegue) limpar a adega de todo seu estoque de garrafas com problema (leia-se: vencidas).

A Mistral aposta na pouca “cultura” e escasso repertório enológico dos consumidores brasileiros que raramente, ou nunca, beberam, por exemplo, uma garrafa de “Château Musar”.

Quando não se conhece um determinado vinho, não há histórico de lembrança comparativa o enófilo não pode opinar se aquela garrafa está perfeita ou menos, o enófilo bebe e julga, apenas, se aquele vinho é bom ou não.

O “Château Musar” era ainda aceitável para aqueles que pouco o conhecem, mas estava léguas de distância de sua natural e proverbial qualidade.



Bebi meia taça e amaldiçoei, mais uma vez, a Mistral.

O “Ossobuco al Civet”, antiga receita de minha avó e um dos pratos fortes do seu restaurante.

Quando o outono trazia frio e as primeiras neblinas “escondiam” os arrozais da “Pianura Padana”, o cardápio, do restaurante dos meus avós, mudava radicalmente: era chegada a hora da “Bagna Cauda”, “Bollito com Bagnèt”, “Panissa”, “Pulenta Cumudà” “Ossobuco al Civet” e outros pratos bem temperados, calóricos.



O “Civet” clássico, da minha avó, requer, no mínimo, dois dias de preparo.

A carne deve marinar, com as verduras, especiarias e vinho tinto, por 24 hora.

 Depois da marinada a carne passa por uma leve fritura, volta para a panela onde reencontra as verduras, o vinho e finalmente cozinha em fogo lento por 2 ½ /3 horas.

Um prato muito perfumado, saboroso e que exige um vinho de bom corpo, grande estrutura, complexo, elegante.



O Gattinara “Pietro”, de Davide Iaretti, poderia e deveria ter todos os requisitos para acompanhar, sem medo, o “Ossobuco al Civet”...mas não foi bem assim

Continua

Bacco

  

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

OS ESPERTINHOS E DOM PERIGNON

 


A pandemia alterou rotinas, comportamentos, hábitos, relacionamentos e ..... já encheu o saco.


Na TV, uma verdadeira avalanche de cursos de culinária, um tsunami de “chefs” oferecendo delivery de receitas “exclusivas” baixada do Google, milhares de fotos, nas redes sociais, de pratos “eu que fiz”, uma miríade de anúncios sobre promoções e entrega de vinhos e, finalmente, as novas stars da telinha: Médicos, infectologistas, virologistas e como, de costume, políticos, demagogos e vigaristas.



 Não há saco que aguente.

Uma coisa boa, pelo menos uma, a pandemia me proporcionou: Muita economia ao deixar de frequentar os ridículos e badalados restaurantes de Brasília.

Há anos venho gradativamente diminuindo minhas incursões pelos falsos “templos” da risível gastronomia brasiliense e após os funerais do “Gero”, “Piantella” e “Piantas” não sinto estímulos para sair de casa, comer mal e gastar bem.



Reformei e ampliei a cozinha, troquei o velho fogão por um de inox, comprei novas panelas e frigideiras e ..... “Sexta tem almoço lá em casa”.

Retomei uma antiga prática que iniciei no final dos anos 1990.

Poucos pratos, mas nunca banais, bons vinhos, boa música e bons papos.

Uma única regra rígida: Nada do famoso “...laprás(lá pras 11, lá prá meio dia, lá pras 13, lá pras.....)

 O almoço é servido entre 13 e 13,30 e os convivas devem chegar, pelo menos, uma hora antes para bebericar, botar a conversa em dia e...... falar mal dos ausentes.


Se as condições de horário são rígidas, draconianas e não podem ser aceitas nem seguidas, sempre recomendo aos amigos que troquem meus “Gnocchi al Burro Salvia e Parmigiano” pelos “risotos” de merda que abundam em todos os restaurantes da capital.

Democracia é isso e começa na cozinha......

Com o passar dos anos alguns amigos morreram (não por causa de minha comida), outros me abandonaram, vários eu “cortei”

Resultado: a mesa raramente precisa de mais cadeiras além das 6 disponíveis.

Uma pequena informação: Os “amigos’ que cortei eram, na realidade, amigos da minha adega.


Quando o Euro valia R$ 1,8 até R$ 2,5 minha adega guardava 250/300 garrafas de alta estirpe.

Barolo, Barbaresco, Brunello, Vinã Tondonia, Château Musar, Corton Charlemagne, Puligny-Montrachet, Meursault, Vouvray, Châteauneuf-du-Pape, Carema, Gattinara, Bonnes-Mares, Clos Vougeot, Pommard, Champagne de Emmanuel Brochet, Fréderic Savart, Bérêche & Fils etc. etc. etc.



A adega era a alegria de muitos e de muitos que nem mereciam beber “Miolo Secreção” (ops), ”Seleção”.

Para não sobrecarregar meu cartão e arcar com todo o “prejuízo”, estabeleci que cada participante deveria trazer uma garrafa de vinho.

A garrafa era o “passaporte” para o almoço....

Quase todos traziam vinhos, interessantes, de boa qualidade e do mesmo nível daqueles que eu desarrolhava, mas havia, como sempre, os “espertinhos”.

 “Eu não entendo muito de vinho então pedi ajuda ao vendedor que me indicou este e garantiu que é muito bom”.



E tome “Casillero del Diablo”, “Mateus Rosé” “Santa Carolina”, “Valpolicella Bolla”, “Santa Helena”, “Lambrusco Cella”, “Latitud 33º” etc.

Minha proverbial educação nunca permitiu que mandasse enfiar os “Casillero del Diablo da Vida”, no rabo, assim os espetinhos da turma da Concha & Toro continuavam trazendo vinhos “tremendas-bostas” e bebendo taças e mais taças de Barolo, Champagne, Brunello, Vouvray, Gattinara, Puligny-Montrachet, Carema etc.

Em um dos almoços, em que três contumazes e vorazes espertinhos estavam presentes, notei que um deles, que havia trazido um vinho chileno de R$ 30, levantou da mesa para ir ao banheiro.

Até aí tudo bem, mas na volta, o “Eno-Gerson”, passando pelo balcão dos vinhos, sorrateiramente, despejou, acredite se puder, meia garrafa de “Barbaresco Montestefano” em sua taça.

Aquela atitude foi a gota d’água e a partir daquele almoço tomei uma decisão:  Para acabar com a esperteza resolvi “ajudar” a turma dos “eu não entendo de vinhos....”.

 Os malandrinhos deveriam esquecer o Chile, Argentina, Austrália etc. e focar as atenções em Epernay: A partir daquela data o “passaporte”, para o almoço, deveria ser, no mínimo, uma garrafa de Champagne.

 Qualquer Champagne, mas Champagne.

Dom Perignon espantou um bocado de “amigos” e os que não se assustaram, com o frade francês (poucos mais de meia dúzia), continuam frequentando meu fogão.

Para o último almoço, de 2020, o cardápio propunha: “Creme de Ervilhas com Espuma de Gorgonzola”, “Risotto de Abobora e Amêndoas”, “Ossobuco Al Civet”.



Os convidados não tiveram pena do cartão de crédito e as taças sorriram quando viram garrafas de “Champagne Taittinger”, “Château Musar”, “Gattinara Paride Iaretti”, “ Gavi Minaia”.

Servi o “Gavi Minaia 2017” como aperitivo de boas vindas

 O vinho de Nicola Bergaglio, que compro diretamente do produtor por 5 Euros, como sempre surpreendeu por sua qualidade, estrutura, elegância, longo final


Vinho com melhor custo-qualidade que conheço e que lembra um bom Chablis.

Espetacular vinho de 5 Euros que se alguma importadora resolver trazer para o Brasil custará, para os enófilos tupiniquim, no mínimo R$ 250,89.

Para acompanhar o antepasto abri.......

Continua

Bacco