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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

OS ESPERTINHOS E DOM PERIGNON

 


A pandemia alterou rotinas, comportamentos, hábitos, relacionamentos e ..... já encheu o saco.


Na TV, uma verdadeira avalanche de cursos de culinária, um tsunami de “chefs” oferecendo delivery de receitas “exclusivas” baixada do Google, milhares de fotos, nas redes sociais, de pratos “eu que fiz”, uma miríade de anúncios sobre promoções e entrega de vinhos e, finalmente, as novas stars da telinha: Médicos, infectologistas, virologistas e como, de costume, políticos, demagogos e vigaristas.



 Não há saco que aguente.

Uma coisa boa, pelo menos uma, a pandemia me proporcionou: Muita economia ao deixar de frequentar os ridículos e badalados restaurantes de Brasília.

Há anos venho gradativamente diminuindo minhas incursões pelos falsos “templos” da risível gastronomia brasiliense e após os funerais do “Gero”, “Piantella” e “Piantas” não sinto estímulos para sair de casa, comer mal e gastar bem.



Reformei e ampliei a cozinha, troquei o velho fogão por um de inox, comprei novas panelas e frigideiras e ..... “Sexta tem almoço lá em casa”.

Retomei uma antiga prática que iniciei no final dos anos 1990.

Poucos pratos, mas nunca banais, bons vinhos, boa música e bons papos.

Uma única regra rígida: Nada do famoso “...laprás(lá pras 11, lá prá meio dia, lá pras 13, lá pras.....)

 O almoço é servido entre 13 e 13,30 e os convivas devem chegar, pelo menos, uma hora antes para bebericar, botar a conversa em dia e...... falar mal dos ausentes.


Se as condições de horário são rígidas, draconianas e não podem ser aceitas nem seguidas, sempre recomendo aos amigos que troquem meus “Gnocchi al Burro Salvia e Parmigiano” pelos “risotos” de merda que abundam em todos os restaurantes da capital.

Democracia é isso e começa na cozinha......

Com o passar dos anos alguns amigos morreram (não por causa de minha comida), outros me abandonaram, vários eu “cortei”

Resultado: a mesa raramente precisa de mais cadeiras além das 6 disponíveis.

Uma pequena informação: Os “amigos’ que cortei eram, na realidade, amigos da minha adega.


Quando o Euro valia R$ 1,8 até R$ 2,5 minha adega guardava 250/300 garrafas de alta estirpe.

Barolo, Barbaresco, Brunello, Vinã Tondonia, Château Musar, Corton Charlemagne, Puligny-Montrachet, Meursault, Vouvray, Châteauneuf-du-Pape, Carema, Gattinara, Bonnes-Mares, Clos Vougeot, Pommard, Champagne de Emmanuel Brochet, Fréderic Savart, Bérêche & Fils etc. etc. etc.



A adega era a alegria de muitos e de muitos que nem mereciam beber “Miolo Secreção” (ops), ”Seleção”.

Para não sobrecarregar meu cartão e arcar com todo o “prejuízo”, estabeleci que cada participante deveria trazer uma garrafa de vinho.

A garrafa era o “passaporte” para o almoço....

Quase todos traziam vinhos, interessantes, de boa qualidade e do mesmo nível daqueles que eu desarrolhava, mas havia, como sempre, os “espertinhos”.

 “Eu não entendo muito de vinho então pedi ajuda ao vendedor que me indicou este e garantiu que é muito bom”.



E tome “Casillero del Diablo”, “Mateus Rosé” “Santa Carolina”, “Valpolicella Bolla”, “Santa Helena”, “Lambrusco Cella”, “Latitud 33º” etc.

Minha proverbial educação nunca permitiu que mandasse enfiar os “Casillero del Diablo da Vida”, no rabo, assim os espetinhos da turma da Concha & Toro continuavam trazendo vinhos “tremendas-bostas” e bebendo taças e mais taças de Barolo, Champagne, Brunello, Vouvray, Gattinara, Puligny-Montrachet, Carema etc.

Em um dos almoços, em que três contumazes e vorazes espertinhos estavam presentes, notei que um deles, que havia trazido um vinho chileno de R$ 30, levantou da mesa para ir ao banheiro.

Até aí tudo bem, mas na volta, o “Eno-Gerson”, passando pelo balcão dos vinhos, sorrateiramente, despejou, acredite se puder, meia garrafa de “Barbaresco Montestefano” em sua taça.

Aquela atitude foi a gota d’água e a partir daquele almoço tomei uma decisão:  Para acabar com a esperteza resolvi “ajudar” a turma dos “eu não entendo de vinhos....”.

 Os malandrinhos deveriam esquecer o Chile, Argentina, Austrália etc. e focar as atenções em Epernay: A partir daquela data o “passaporte”, para o almoço, deveria ser, no mínimo, uma garrafa de Champagne.

 Qualquer Champagne, mas Champagne.

Dom Perignon espantou um bocado de “amigos” e os que não se assustaram, com o frade francês (poucos mais de meia dúzia), continuam frequentando meu fogão.

Para o último almoço, de 2020, o cardápio propunha: “Creme de Ervilhas com Espuma de Gorgonzola”, “Risotto de Abobora e Amêndoas”, “Ossobuco Al Civet”.



Os convidados não tiveram pena do cartão de crédito e as taças sorriram quando viram garrafas de “Champagne Taittinger”, “Château Musar”, “Gattinara Paride Iaretti”, “ Gavi Minaia”.

Servi o “Gavi Minaia 2017” como aperitivo de boas vindas

 O vinho de Nicola Bergaglio, que compro diretamente do produtor por 5 Euros, como sempre surpreendeu por sua qualidade, estrutura, elegância, longo final


Vinho com melhor custo-qualidade que conheço e que lembra um bom Chablis.

Espetacular vinho de 5 Euros que se alguma importadora resolver trazer para o Brasil custará, para os enófilos tupiniquim, no mínimo R$ 250,89.

Para acompanhar o antepasto abri.......

Continua

Bacco

8 comentários:

  1. Se dependesse do meu passaporte, eu passaria fácil pelo crivo. kkk.
    Não que eu gaste muito com vinhos caros, mas ainda tenho vários das viagens à Itália, quando era permitido viajar, indicados por vc.

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  2. Você não precisaria de passaporte , seria meu convidado

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    Respostas
    1. O que falar então da nova onda..não de covid e sim, da sabrage. Basta o 2° melhor espumante do mundo numa mão e na outra além do sabre (de luz) temos também taco de golpe, salto alto, cartão Platinum, copo de requeijão..

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  3. Querido amigo que me prestigiava a com sua nobre presença e consultoria, saudade

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  4. Nao sei o que Dio acha de D Perignon, mas eu comprei e tomei um 2010 no fim do ano passado e achei nada de especial ali. Ate o encarte tinha erros de grafia e deram um copy and paste errado na data. Reciclaram um encarte de 1996.

    Comprei em lugar legitimo, nada de Paraguay.

    Auguri, vecchio amico pazzo.

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  5. Não vale quanto custa. Há melhores pela mertade do preço , mas é um ícone. Realmente ótimo é o "Oenotheque"

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