A pandemia alterou rotinas, comportamentos, hábitos,
relacionamentos e ..... já encheu o saco.
Na TV, uma verdadeira avalanche de cursos de culinária, um
tsunami de “chefs” oferecendo delivery de receitas “exclusivas” baixada do
Google, milhares de fotos, nas redes sociais, de pratos “eu que fiz”, uma
miríade de anúncios sobre promoções e entrega de vinhos e, finalmente, as novas
stars da telinha: Médicos, infectologistas, virologistas e como, de costume,
políticos, demagogos e vigaristas.
Não há saco que
aguente.
Uma coisa boa, pelo menos uma, a pandemia me proporcionou:
Muita economia ao deixar de frequentar os ridículos e badalados restaurantes de
Brasília.
Há anos venho gradativamente diminuindo minhas incursões pelos
falsos “templos” da risível gastronomia brasiliense e após os funerais do “Gero”,
“Piantella” e “Piantas” não sinto estímulos para sair de casa, comer mal e
gastar bem.
Reformei e ampliei a cozinha, troquei o velho fogão por um de
inox, comprei novas panelas e frigideiras e ..... “Sexta
tem almoço lá em casa”.
Retomei uma antiga prática que iniciei no final dos anos 1990.
Poucos pratos, mas nunca banais, bons vinhos, boa música e
bons papos.
Uma única regra rígida: Nada do famoso “...laprás” (lá pras 11, lá prá meio dia, lá pras 13,
lá pras.....)
O almoço é servido
entre 13 e 13,30 e os convivas devem chegar, pelo menos, uma hora antes para
bebericar, botar a conversa em dia e...... falar mal dos ausentes.
Se as condições de horário são rígidas, draconianas e não
podem ser aceitas nem seguidas, sempre recomendo aos amigos que troquem meus “Gnocchi al Burro Salvia e
Parmigiano” pelos
“risotos” de merda que abundam em todos os restaurantes da capital.
Democracia é isso e começa na cozinha......
Com o passar dos anos alguns amigos morreram (não por causa de
minha comida), outros me abandonaram, vários eu “cortei”
Resultado: a mesa raramente precisa de mais cadeiras além das
6 disponíveis.
Uma pequena informação: Os “amigos’ que cortei eram, na realidade, amigos da minha
adega.
Quando o Euro valia R$ 1,8 até R$ 2,5 minha adega guardava 250/300
garrafas de alta estirpe.
Barolo, Barbaresco, Brunello, Vinã Tondonia, Château Musar, Corton
Charlemagne, Puligny-Montrachet, Meursault, Vouvray, Châteauneuf-du-Pape,
Carema, Gattinara, Bonnes-Mares, Clos Vougeot, Pommard, Champagne de Emmanuel
Brochet, Fréderic Savart, Bérêche & Fils etc. etc. etc.
A adega era a alegria de muitos e de muitos que nem mereciam
beber “Miolo
Secreção” (ops), ”Seleção”.
Para não sobrecarregar meu cartão e arcar com todo o “prejuízo”,
estabeleci que cada participante deveria trazer uma garrafa de vinho.
A garrafa era o “passaporte” para o almoço....
Quase todos traziam vinhos, interessantes, de boa qualidade e
do mesmo nível daqueles que eu desarrolhava, mas havia, como sempre, os
“espertinhos”.
“Eu não entendo muito de vinho então pedi
ajuda ao vendedor que me indicou este e garantiu que é muito bom”.
E tome “Casillero del Diablo”, “Mateus Rosé” “Santa Carolina”,
“Valpolicella Bolla”, “Santa Helena”, “Lambrusco Cella”, “Latitud 33º” etc.
Minha proverbial educação nunca permitiu que mandasse enfiar
os “Casillero
del Diablo da Vida”, no rabo, assim os espetinhos da turma da Concha
& Toro continuavam trazendo vinhos “tremendas-bostas” e bebendo taças e
mais taças de Barolo, Champagne, Brunello, Vouvray, Gattinara,
Puligny-Montrachet, Carema etc.
Em um dos almoços, em que três contumazes e vorazes
espertinhos estavam presentes, notei que um deles, que havia trazido um vinho
chileno de R$ 30, levantou da mesa para ir ao banheiro.
Até aí tudo bem, mas na volta, o “Eno-Gerson”, passando pelo
balcão dos vinhos, sorrateiramente, despejou, acredite se puder, meia garrafa
de “Barbaresco Montestefano” em sua taça.
Os malandrinhos
deveriam esquecer o Chile, Argentina, Austrália etc. e focar as atenções em Epernay: A partir daquela data o
“passaporte”, para o almoço, deveria ser, no mínimo, uma garrafa de Champagne.
Qualquer Champagne, mas
Champagne.
Para o último almoço, de 2020, o cardápio propunha: “Creme de Ervilhas com Espuma de Gorgonzola”, “Risotto de Abobora e Amêndoas”, “Ossobuco Al Civet”.
Os convidados não tiveram pena do cartão de crédito e as taças
sorriram quando viram garrafas de “Champagne Taittinger”, “Château Musar”, “Gattinara
Paride Iaretti”, “ Gavi Minaia”.
Servi o “Gavi Minaia 2017” como aperitivo de boas vindas
O vinho de Nicola Bergaglio,
que compro diretamente do produtor por 5 Euros, como sempre surpreendeu por sua
qualidade, estrutura, elegância, longo final
Vinho com melhor custo-qualidade que conheço e que lembra um
bom Chablis.
Espetacular vinho de 5 Euros que se alguma importadora
resolver trazer para o Brasil custará, para os enófilos tupiniquim, no mínimo
R$ 250,89.
Para acompanhar o antepasto abri.......
Continua
Bacco
Se dependesse do meu passaporte, eu passaria fácil pelo crivo. kkk.
ResponderExcluirNão que eu gaste muito com vinhos caros, mas ainda tenho vários das viagens à Itália, quando era permitido viajar, indicados por vc.
Você não precisaria de passaporte , seria meu convidado
ResponderExcluirmuito obrigado!
ExcluirO que falar então da nova onda..não de covid e sim, da sabrage. Basta o 2° melhor espumante do mundo numa mão e na outra além do sabre (de luz) temos também taco de golpe, salto alto, cartão Platinum, copo de requeijão..
ExcluirQuerido amigo que me prestigiava a com sua nobre presença e consultoria, saudade
ResponderExcluirda turma dos espertinhos, mortos ou abandonados?
ExcluirNao sei o que Dio acha de D Perignon, mas eu comprei e tomei um 2010 no fim do ano passado e achei nada de especial ali. Ate o encarte tinha erros de grafia e deram um copy and paste errado na data. Reciclaram um encarte de 1996.
ResponderExcluirComprei em lugar legitimo, nada de Paraguay.
Auguri, vecchio amico pazzo.
Não vale quanto custa. Há melhores pela mertade do preço , mas é um ícone. Realmente ótimo é o "Oenotheque"
ResponderExcluir