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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

PEQUENO GUIA ENO-GASTRONÔMICO 2

 


Na primeira parte, do pequeno guia húngaro, falei sobre os vinhos brancos secos, do país, que merecem a atenção de quem não quer deixar um salário mínimo em um premier cru da Borgonha.

Na segunda etapa trago recomendações de outros vinhos e de outras bebidas do país.

TINTOS

Há, sem dúvida, bons tintos na Hungria, mas os que provei não podem ser comparados aos melhores italianos e franceses.

Mesmo assim, para quando se acalmam as temperaturas infernais que “fritam” Budapeste, no verão (de meados de junho a meados de setembro), há algumas etiquetas que merecem atenção.

As minhas preferidas foram essas:

“Kadarka” da vinícola Pósta Borház.



Um vinho nada excepcional, confesso, mas que me impressionou.

A uva Kadarka me foi descrita como a “Pinot Noir” húngara”, mas algumas garrafas, que provei, me pareceram mais próximas à Cabernet Franc, casta muito popular na Hungria.

 Esse Kadarka, da Pósta Borház, da região de Pannon (lembrando que Panônia era o nome da província romana que compreendia parte do atual território húngaro), não lembrava a Cabernet Franc; apresentava corpo médio, sabor levemente frutado e até um leve defumado final.

 Para arrematar, custava em torno de 3 mil florins (menos de 8 euros).

Excelente!

“Turan”, da vinícola Nyolcas És Fia.



A uva Turan é fruto do cruzamento de diversas outras castas encontradas na Hungria.

A “Turan” tem cor forte, densa e que em nada lembra a do Nebbiolo, mas apesar das aparências, nada encorajadoras, os vinhos não são pesados nem difíceis de beber.

O exemplar que provei, proveniente da região de Eger, foi uma grande e bela surpresa: complexo, equilibrado e final bastante longo.

O preço: 4,5 mil florins (cerca de 12 euros)

- Egri Bikavér Superior “Aldás”, da vinícola St. Andrea.



 Em tradução literal, “egri bikavér” significa... “sangue de touro”.

Como a iniciação, de grande parte dos enófilos brasileiros se deu através do infame “Sangue de Boi”, a semelhança do nome chega a causar arrepios, medos, mas na Hungria, “egri bikavér” é uma denominação de origem da região de Eger, cuja casta principal é a Kékfrankos (conhecida por Blaufränkisch na Áustria) mas que pode ser assemblada à outras 12 uvas – um egri bikavér nunca é varietal.

O resultado: vinhos inexpressivos, leves, às vezes até aguados, mas, no caso dos Egri Bikavér Superior, o nível é outro.

Este, da vinícola St. Andrea, me surpreendeu.

 Muito mais refinado do que seus colegas, com final interessante e longo, pronto para ser bebido apesar de seus apenas dois aninhos.

 

TOKAJI ASZÚ

 


Evidentemente, não dá para falar da viticultura húngara sem falar do Tokaji Aszú.

A região de Tokaji, cujo território fica majoritariamente na Hungria (e um pouco na Eslováquia), se notabiliza, há séculos, por seu vinho doce botritizado.

A região também produz vinhos secos que, apesar de serem menos impressionantes e conhecidos que os outros brancos do país, não são banais.

 


A atual classificação, do Tokaji Aszú, os divide em 5 ou 6 puttonyos.

O 5 puttonyos têm entre 120 e 150 gramas de açúcar por litro e os 6 puttonyos se apresentam com mais de 150 gramas de açúcar por litro.

A classificação de 3 puttonyos (60 g/l), com vinhos menos doces, está sendo descontinuada, mas ainda há produtores que insistem em rotular suas garrafas assim.

 Há, também, o Szamorodni (30 g/l), um estilo ainda menos doce que não me agradou e outros vinhos de sobremesa rotulados como “late harvest”, denominação presente em vários outros países.

Sobre as cervejas grandes: Kőbányai e Sopron me pareceram melhores do que Dreher, Arany Ászok e Borsodi.

Evitei coquetéis e também não procurei cervejas artesanais, mas para os aficionados segue válida a pesquisa nos distritos turísticos de Budapeste.

Caso a cerveja húngara não agradar, não é difícil conseguir as ótimas Peroni e Pilsner Urquell na Hungria.



Na terceira parte, do guia, apresentarei alguns restaurantes de Budapeste e sugestões de lembranças gastronômicas da Hungria.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

O ALTO PIEMONTE

 


Demorou, mas até Carlo Petrini, fundador e presidente da “Slow Food”, percebeu que as colinas das “Langhe”, pátria, entre outros grandes vinhos, do Barolo e Barbaresco, um dos territórios vinícolas mais prestigiosos e importantes do planeta, foram de tal forma endeusadas e badaladas que o preço do hectare, de vinhas, Nebbiolo, ultrapassou a soleira do bom senso e se aproxima da loucura.



As terras dos Barbaresco e Barolo sofreram, nas últimas décadas, um agressivo assalto da especulação.

Investidores, que nunca tiveram algum contato com a viticultura, foram atraídos pelo glamour do vinho e das colinas das “Langhe”.

Dispostos a gastar “montanhas” de $$$$$, os novos “Gaja”, seduziram corações e carteiras, conseguindo, assim, comprar tradicionais vinícolas como a Vietti, Serafino, Coppo, Borgogno, Saffirio, Gagliardo etc.)



Resultado? O valor dos vinhedos alcançou a estratosfera

 A exagerada valorização, das terras, aumentou o prurido nas mãos e bolsos dos jovens viticultores que já não hesitam em vender suas ricas vinhas e dar um adeus (banana, seria mais apropriado....) à secular herança vinícola.



 Os novos empresários, do vinho, sem nenhum compromisso com a enologia local, tradições, cultura e costumes do território, querem apenas brilhar e faturar alto no charmoso mundo vinícola.

 As Langhe estão caminhando, a largos passos, para se transformarem em uma nova Bordeaux.



Para dar uma ideia, da incrível especulação, bastaria lembrar que, atualmente, um hectare de vinhas, “Nebbiolo da Barolo”, pode tranquilamente custar hiperbólicos e insanos quatro milhões de Euros.

 É bom lembrar que, nos anos 1970, o mesmíssimo hectare, poderia ser adquirido por 4/5 milhões das velhas Liras, valor que corresponde a atuais 2.000/2.500 Euros.



O mais incrível e que nas confinantes vinhas do “Monferrato” e “Roero” o preço do hectare vale dezenas de vezes menos.

Carlo Petrini, todavia, escondeu e camuflou, o quanto ele contribuiu, com seus eventos, feiras, propaganda, investimentos, lojas, etc. para a glamourizar Alba e arredores até transformá-la em uma das regiões vinícolas mais badaladas e caras do planeta.

Resultado?



Até eu, que visitava as Alba quatro, cinco, ou até mais vezes por ano, transferi minhas atenções para os vizinhos Monferrato e Alto Piemonte onde ainda é possível comer, beber e dormir, muito bem, por muito, mas muito menos.

Gosta de vinho produzido com uvas Nebbiolo?



No Alto Piemonte, ótimos vinhos como o Carema, Fara, Ghemme, Lessona, Gattinara, Boca, Bramaterra, sem a mesma complexidade e estrutura do Barolo, mas que possuem grande elegância, refinados, harmônicos, de acidez bem integrada e mais fáceis de beber, podem ser encontrados, ainda, por 12/30 Euros.



Em minha última passagem, pela região comprei algumas garrafas de Gattinara por 15 Euros e mais outras, de Ghemme, por 16 Euros.

Mas é bom se apressar...... Os predadores já descobriram o campo fértil (e barato) do Alto Piemonte e iniciaram a “inva$ão”.

Aldo Conterno comprou, em Gattinara, a tradicional vinícola Nervi.

 Paolo De Marchi (Isole Olena Cepparello) abriu as portas da “Proprietà Sperino” em Lessona.

Resultado?



Gattinara Docg 2019 - Nervi (Conterno)

59,00 €
Tasse incluse

O “Gattinara Nervi”, que custava 15/20 Euros, hoje ostentando, na etiqueta, o nome “Gattinara Nervi Conterno” só entrega sua rolha por salgados 50/160 Euros.




€ 140,00 € 126,00-10 %Prezzo minimo ultimi 30 giorni

O Lessona “Proprietà Sperino” é vendido por nada razoáveis 60/80 Euros, mas você pode alegrar suas papilas, com o ótimo e até melhor, Lessona da “Tenute Sella” por 22/26 Euros.

Para não corre o risco de ser sodomizado, brutalmente, o melhor KY ainda é o de encontrar novos caminhos e descobrir, por exemplo, o Carema da “Cantina Produttori di Nebbiolo di Carema” (15,90 Euros), ou o “Carema Riserva” (21,90 Euros).




15.90 

Beber bem é preciso, ser assaltado pelos predadores é idiotice.

Bacco

     

sábado, 30 de novembro de 2024

PEQUENO GUIA ENO-GASTRONÔMICO

 


Durante um ano e meio Budapeste foi minha casa “europeia”.

Cheguei à cidade por acaso, sem muitas referências, mesmo assim decidi me estabelecer, por lá, temporariamente.

 Como o vinho húngaro, no exterior, é quase sempre sinônimo de Tokaji Aszú, uma estada longa, na Hungria, era a ocasião perfeita para conhecer o que a enologia do país podia oferecer – idem para a gastronomia.

 


E, olha, há bastante coisa.... 

Longe de ser um guia exaustivo, as recomendações anexas são úteis para quem deseja passar uma rápida estada em Budapeste.

Para uma normal viagem de turismo recomendaria quatro dias, não pretendo, todavia, indicar museus, igrejas, ou pontos turísticos “obrigatórios”, desejo apenas escrever e descrever um pouco sobre vinhos e gastronomia da Hungria. 

Comecemos pelos vinhos e mais especificamente pelos brancos secos.

Nos supermercados a oferta de vinhos é farta e há boas garrafas a partir de 1500 florins (cerca de 4 euros) ou até menos. 

À exceção de Portugal e talvez Espanha e Itália, não lembro de tantos vinhos, de boa qualidade, sendo oferecidos por menos de 5 euros e vale lembrar que a produção húngara tem fama e projeção bem menores do que as dos países mencionados.

 

BRANCOS BARRICADOS

 


Com a crescente demanda, que provocou a escalada nos preços dos elegantes brancos da Borgonha, não é surpresa que outros países e regiões vinícolas, aproveitando o momento favorável, também produzam brancos barricados à moda francesa.

Essa onda chegou à Hungria e os resultados são animadores: se há alguns vinhos bastante cansativos, em que mal se consegue chegar ao final da taça, há também outros que talvez lembrem claramente um bom Meursault ou um Chassagne-Montrachet. 

Os meus preferidos:



- Battonage Chardonnay, da vinícola Kovács Nimrod (preço médio nas lojas: 6 mil florins, cerca de 16 euros). Fácil de achar, presente em inúmeras cartas de vinhos de restaurantes e wine-bar.

Redondo, com aromas de baunilha e aquele gostinho amanteigado.

Produzido na região de Eger, com uvas dos vinhedos Nyilasmár e Nagyfai. 



- Premium Zöld Veltelíni, produzido na região de Sopron, pela vinícola Steigler (preço médio nas lojas: 6 mil florins, cerca de 16 euros) é vinificado com uva Valtelina Verde, conhecida, na Áustria, como Grüner Veltliner e na Hungria como Zöld Veltelíni.

Um branco sofisticado e envolvente, que em nada lembra os vinhos herbais produzidos com essa mesma uva no território austríaco.

 


- Sárhegy Olaszrizling Barrique, da vinícola Dubicz.

A uva Riesling Itálico (em húngaro, Olaszrizling) é uma das cepas brancas mais cultivadas na Hungria, tanto no

Norte do país quanto nas proximidades do Lago Balaton. 

O Lago Balaton é uma instituição nacional e o mais perto que os húngaros têm de uma praia, desde o Tratado de Trianon, em 1920.

 


Apesar disso, nenhum exemplar de Olaszrizling me havia animado: há uma “oleosidade”, nessa uva, que não me agrada.

 Esse Sárhegy barricado, contudo, virou o jogo: não há nenhum sinal da característica “oleosa”, mas uma profusão de sabores e uma fluidez impressionante.

Delicioso!

Foi, sem dúvida, um dos melhores brancos secos que provei na Hungria e pode ser adquirido por uns 5,5 mil florins (14 euros). 

OUTROS BRANCOS SECOS 

A Hungria, também, produz brancos, não barricados, bem interessantes.

A uva Irsai Olivér tem despontado como base para vinhos leves e descompromissados apesar de esbarrar na forte rejeição dos enófilos húngaros, mais tradicionalistas, que a consideram uma cepa limitada. 

O Tokaji seco vinícola Zsirai, com paladar bem arredondado, notas de abacaxi, maracujá e compota, também merece particular atenção – e não custa caro, algo em torno de 3,5 mil florins (9 euros). 

Outra garrafa interessante é o Bio Kéknyelű da vinícola Dobosi Birtok;



Vinificado com a casta autóctone “Kéknyelű” o vinho acalma sua sede por 4 mil florins (cerca de 10 euros). 

Na segunda parte da matéria, falarei sobre outros vinhos húngaros. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

COMER BEM EM BUDAPESTE

 


Comer bem em Budapeste é fácil: há muitos e bons restaurantes na cidade, seja de cozinha tradicional, da Europa Central, ou de outros cantos do planeta.

 Apesar disso a gastronomia húngara, com a exceção da confeitaria, é pouco inventiva: mesmo com pesados investimentos e a ascensão de chefs húngaros, que retornaram ao país depois de períodos no exterior, a alta gastronomia e as boas surpresas seguem confinadas à meia dúzia de endereços caros e badalados.



Em Budapeste dificilmente se consegue uma interessante e válida exceção fora do circuito dos restaurantes estrelados “Michelin”, mas e ainda bem, há exceções.



Há algumas semanas, na manhã de uma segunda feira, passeando pela cidade deparei com o “Fricska 2.0”

O local aguçou minha curiosidade e a promessa de um cardápio diferente, da mesmice reinante na gastronomia húngara, o restaurante parecia ir além comuns goulashes ou frangos com páprica “chama-turistas”.



O restaurante estava fechado, assim, ao chegar em casa, após buscar maiores informações, reservei uma mesa para o almoço de quarta-feira..... Não me arrependi.

A sopa de ragu de frango com estragão, que escolhi como entrada, estava deliciosa.



Um caldo rico, saboroso, um golpe bem dado nas sopas sem sabor que imperam na maioria dos restaurantes da cidade.

Arrisco dizer que nunca provei uma sopa de frango tão boa em toda a minha vida e palmas também para o pão que me foi servido.



Para o prato principal escolhi coxa e sobrecoxa de pato com purê de batata-doce, gnocchi e couve.

Mais uma vez o tempero da casa não decepcionou e a refeição seguiu em alto nível.

Escolhi, para sobremesa, choux com avelãs e constatei que o “Fricska 2.0” não foge à tradição da confeitaria austro-húngara – desnecessário dizer que, se você gosta de bolos e tortas doces, Viena e Budapeste são destinos obrigatórios.



 O choux estava menos doce do que esperava, mas isso é até bom: desintoxicado do mar de leite condensado, presentes quase sempre nos doces brasileiros, encontrei meu refúgio nas equilibradas sobremesas da Europa Central.

Pelo menu de três pratos, um chope de uma pequena cervejaria local e a taxa de serviço de 12,5%, desembolsei pouco menos de 9 mil florins (22 euros).

Preço bem atraente para uma comida definitivamente acima da média.

“Fricska 2.0”: mais endereço bom e barato recomendado por B&B.

Ze

Fricska 2.0

Dob utca 56-58, Budapeste

Aberto de quartas a sábados, aceita cartões, recomendável fazer reserva

Metrô mais próximo: Oktogon (ou parada Király utca / Dob utca 56-58, Budapeste

https://www.instagram.com/fricska_2.0/