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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

OS SURICATOS

 


Há seguidores de B&B, eficientes sentinelas, que nos alertam, com frequência, sobre todas as barbaridades e eno-picaretagens que aparecem nas redes, jornais e revistas etc.

São os “suricatos” do blog.

Nada passa despercebido, assim, todas as imbecilidades, sacanagens, mentiras etc. são publicadas no espaço reservados aos comentários.



Poucas vezes dedico uma matéria respondendo ou comentando os links das reportagens.

De críticas, elogios, indicações picaretas, ufanismos sem sentido etc., os seguidores do blog já estão com o saco cheio e ridículas idiotices como: ”2º melhor espumante do mundo”, ”Merdalha de ouro melhor Merlot no concurso lá na casa da mãe Joana ”, “Primeiro lugar concurso Cabernet Sauvigon em São Luís do Maranhão (vergonha da nação?) “Melhor queijo do mundo”, ‘Melhor azeite do mundo”…. e se mais mundo houvera, lá ganhara, apenas fazem sorrir amargamente.



Pois bem, esta semana um “suricato” de plantão enviou um link da revista Exame que me provocou náuseas incontroláveis

O título da Exame exigiu uma rápida corrida até a estante dos remédios à procura de um salvador Plasil.

VEJA

https://exame.com/casual/o-espumante-brasileiro-que-esta-na-executiva-de-companhia-aerea-e-em-32-salas-vip-de-aeroportos/

Nosso piegas, inflamado e borbulhante repórter deve ter embolsado uma graninha, tomado um tremendo porre do “espumante de um dos melhores terriors do mundo”, em uma das 32 salas VIP, ou em um avião da Azul para, assim, encontrar a coragem necessária e escrever seu Aconcágua de tremendas-bostas.



Nosso intrépido e expert repórter vinícola, não poupa imaginação e esforços para, já no início da matéria, criar um clima suave, ameno, quase carinhoso, piegas.

Candidamente o reporte nos informa que a produtora do “ espumante das32 salas VIP”, nossa mais nova e borbulhante revelação, perdeu os pais, mas mesmo sem o aparo familiar foi à luta e.....que luta.



Parabéns a nossa “Veuve Clicquot Gaúcha” que depois de quatro anos e um funeral, já produz 250.000 garrafas de mais um fenômeno da viticultura tupiniquim.

Plasil fez efeito, recuperei os sentidos, raciocínio voltou ao normal; peço permissão, então, para dar algumas dicas ao nosso melífluo repórter e à valorosa e intrépida “Veuve Clicquot” dos Pampas.

1º Caro repórter, você deveria nos informar quais espumantes participaram da degustação às cegas capitaneada pelo mumificado “Beato Salu”, assim, poderíamos saber se também, a Cidra Cereser foi incluída na encenação.



2º Não há nenhuma informação sobre qual foi o método empregado na vinificação da mais nova e portentosa “Maison” gaúcha.

4º Qual foi a pesquisa, quais as fontes consultadas, parâmetros utilizados etc., para “batizar” o “Terroir Pinto Bandeira” um dos melhores do mundo?

4º Aproveitado a nossa já quase intimidade, lá vai uma pergunta: você sabe realmente o que é o “Terroir de Pinto Bandeira”? (Uma dica: não é terror, mas quase….)



Cara “Veuve Clicquot Charmat” (Charmat é o método usado na espumantização de nosso mais novo 2º melhor do mundo), admiro sua tenacidade e capacidade empresarial, mas peço permissão para dar algumas dicas: Nenhum enófilo, com mais de três neurônios em bom estado e funcionando, acredita que foram necessários 8 meses (quase uma gestação) para convencer o mumificado sommerdier, dos fundos de garrafas do Fasano, em realizar uma degustação às cegas.





Para convencer o poeirento e bolorento ídolo, dos ricaços paulistanos, de que seu espumante é “Uma aberração de tão bom”, (o escalador de cruzeiros medievais aprendeu a classificar os vinhos, desta forma, no Cerrado goiano) não seriam necessários 8 meses de “eno-sedução”... bastaria um Pix de R$ 800.



A matéria foi útil, muito útil.

Eu, que já evitava as salas VIP dos aeroportos, quando resolveram oferecer o espumante “Chandon”, vou manter maior distância, ainda, dos 32 endereços onde servem as bolhas da “Viva la Vida”.



Quase esqueci: Parabéns à Azul pela completa (irreversível?) decadência.

Falando sério: Vão todos: Revista, repórter, sommerdier, companhia aérea, vinícola à......( escolha livre)

Dionísio

 

 

domingo, 25 de agosto de 2024

LUGANA PIETRO JUNIOR

 



Há anos, ao chegar na Itália e ao partir, de volta para o Brasil, minha primeira e última parada é a cidade lombarda de Sesto Calende.

Antes, de Sesto Calende, Arona era minha meta predileta, mas o cada vez maior número de turistas, atraídos pela beleza do Lago Maggiore, contribuiu para que os preços dos hotéis bares e restaurantes da cidade alcançassem as estrelas, assim, os $$$$ recomendaram uma mudança de endereço.



Sem a bela moldura do Lago Maggiore, mas banhada pelo belíssimo rio Ticino, que nasce (algumas centenas de metros) no lago mencionado, Sesto Calende oferece um pequeno, mas fascinante centro histórico onde praças aconchegantes e minúsculas vielas abrigam ótimos restaurantes, bares, enotecas, sempre próximos das   calmas e límpidas aguas do Ticino



Em outras matérias já dediquei muitos elogios a Sesto Calende, mas nunca serão suficientes e desinteressantes.

Em minha última passagem pela cidade, em meado de agosto, não sendo, Sesto Calende, meta turística “obrigatória”, boa parte dos meus endereços prediletos, Enoteca Holly, La Biscia, Naturalmente Jhonny, aproveitando o pouco movimento (em agosto os italianos, em massa, saem de férias.....) fecharam as portas.



Ainda bem que na Itália não se morre de sede ou fome e sempre há onde beber uma boa taça de vinho e comer um bom prato, mesmo em agosto e em Sesto Calende.



O eficiente Marco, proprietário do bar “Emiazico”, percebendo minha necessidade de espumante, acalmou minha sede com uma bela taça de “Altemasi” Trento DOC.

Relaxado e “giocondamente” sorridente, terminei de degustar, com calma, meu bom e borbulhante ”Altemasi”, percorri pouco mais de cem metros e alcancei a homônima pracinha que abriga o restaurante “Piazza Abba La Reclame”.



No “Piazza Abba La Reclame”, ambiente aconchegante, tranquilo, refinado e onde se come realmente bem, quem quase sempre me atende é Andrea o elétrico e eficiente garçom.

Andrea, após os cumprimentos e apertos de mãos de praxe, me provocou jocosamente e comunicou que não serviam pizza (ele sabe que detesto pizza...).

Algumas risadas e finalmente, quando a normalidade voltou, sugeriu um atum em casca de gergelim acompanhado por uma taça de.....



Antes de continuar é preciso informar que o marido de Paola, proprietária do “Piazza Abba”, grande pesquisador e conhecedor de vinhos, sempre descobre novas e boas opções para a adega da restaurante.

Resultado?

 Uma tremenda seleção de boas (e baratas) garrafas.

“Gostaria de sugerir uma taça de “Lugana Pietro Junior”

Olhei Andrea e intrigado perguntei: “Lugana Pietro Junior? Nunca ouvi falar....Presta?

“Conhecendo seus gostos tenho certeza que aprovará”.



Bingo!

Belíssimo Lugana que nada deve aos primos mais caros e mais badalados da denominação (denominação que a maioria dos “sommerdiers” desconhece) que nasce nas províncias de Brescia e Verona à margem sul do Lago di Garda.

Grandes vinhos são produzidos nas duas províncias....

Alguns?

VERONA: Valpolicella, Amarone, Soave, Bardolino



BRESCIA: Franciacorta, Curtefranca, Capriano del Colle



O Lugana “Pietro Junior”, da vinícola Pietro Zardini, agrada já no primeiro gole e certamente encantará os paladares dos até os mais exigentes enófilos.

Bela cor amarelo-esverdeado, aromas de flores e cítricos, paladar refinado, fresco, bom corpo, mas que sugere sempre mais um gole..... Obrigado, Andrea.

Inútil dizer que uma segunda taça se fez necessária...

Uma bela descoberta, um vinho genuíno, barato (10/12 Euros a garrafa) que sugiro, com entusiasmo, aos enófilos que não mais suportam as indicações picaretas dos novos influencers e das velhas raposas das garrafas douradas.



Bacco 

 

 

  

 

terça-feira, 13 de agosto de 2024

OS "NATURAIS"

 


Sempre fui bastante refratário às modas que nas últimas décadas dominaram o mundo do vinho.

Depois de algumas infelizes experiências abandonei definitivamente críticos, premiações, conselhos, indicações, pontuações, todos os profi$$ionais, divulgadores e promotores do submundo vinícola.

 Pensei e cheguei à conclusão, que o melhor seria errar sozinho ou acertar sozinho



Não acredito em paladares e narizes perfeitos, universais e muito menos iguais aos meus, portando, indicações, julgamentos, pontuações (argh..) preferências etc. não devem ser necessariamente iguais as minhas e vice-versa.

Acertar ou errar sozinho custa muito menos, é mais prazeroso, mais confiável e não há $$$ envolvidos.



Dos inúmeros vinhos-modas dois se destacam por terem sido os que mais e sempre detestei: Biodinâmico, natural.

A moda mais ridícula foi, sem dúvida, a “biodinâmica” que se aproximou muito mais aos rituais de macumba do que à verdadeira enologia.

Como era de se esperar ninguém mais dá bola aos vinhos circenses do também circense biodinâmico Rudolf Steiner….

A mais pretensiosa, exaltada e seguida pelos enófilos do "enologicamente correto", foi e ainda é, a moda dos vinhos naturais, produzidos com pouca intervenção humana e tentando imitar os "imaculados e puros" (credo...) vinhos do avô 

Woody Allen acerta na mosca quando o personagem de seu filme, “Meia Noite em Paris”, recorda, com nostalgia, um passado que não viveu, mas acredita ter sido melhor e mais interessante do que o presente.



Seguindo este princípio há quem acredite que o vinho de antigamente, produzido sem muita ou nenhuma tecnologia, higiene e cuidado, era melhor do que as hodiernas e modernas garrafas

 Bobagens e mais bobagens..... Os vinhos do vovô eram quase sempre tremendas-bostas, frequentemente cheiravam mal, azedavam, refermentavam na garrafa etc.



A salvação veio através da moderna enologia que resolveu grande parte dos problemas que “torturavam” os vinhos do vovô.

Os defensores do “enologicamente-correto” acreditam que viver na natureza, como viviam nossos avós, é muito mais saudável, alegre, green, mas não dispensam carro, avião, estatinas, celular, Botox, Instagram, etc.

Green, sim, “ma non troppo......”



Para os apreciadores dos “naturais” os maiores vilões dos vinhos modernos, tem nome: Química, mecanização, sulfitos.

A quimiofobia dos defensores dos vinhos naturais não permite a utilização de nenhum fertilizante, pesticida, herbicida.

Além da quimiofobia os “naturais” abrem mão da mecanização em todo o processo de aração, eliminação das pragas, adubação, colheita etc.

Vade retro demoníaco trator....



Finalmente o grande “demônio” dos “naturais”: Sulfitos.

Os sulfitos, no imaginário do enófilo pouco experiente, é o demônio do vinho (brancos, então......) e que pode provocar grandes problemas à saúde.

Será?

 Os sulfitos estão presentes nos embutidos (salame, presunto, mortadela, etc.) queijos, frutas desidratadas, vinagres, frutos do mar, biscoitos, leites e derivados, gelatinas, cervejas, bacalhau, passas, etc. etc. etc., mas somente o vinho deve ser “natural”, sem sulfurosa.



Aviso aos cultores da quimiofobia, do vinho natural que muitas vezes lembra os odores de esgoto: Os sulfitos, no vinho, são utilizados há mais ou menos 200 anos para limitar a ação dos microrganismos que podem contaminar e alterar sua qualidade e protegê-los da oxidação.

Sem a presença dos sulfitos aumenta o risco de perda de qualidade e também compromete a conservação do vinho: sem sulfitos aumenta exageradamente a população de microrganismos indesejados como os bactérias láticas, acéticas e a levedura “brettanomyces bruxellensis”.



 Sem sulfitos os fenômenos da oxidação aumentam consideravelmente sua velocidade comprometendo, cor, aroma e a “vida”, especialmente, dos vinhos brancos

Para desespero dos “greens” os sulfitos são permitidos, nos vinhos naturais, em até 30 mg/l para os tintos e rosés, 50mg/l para os brancos.

Sem sulfitos? Nem pensar....

 Os “quimiofôbicos” são a alegria dos produtores que por não ter conseguido sucesso produzindo vinhos “normais”, inventaram os naturais e sabem muito bem como cobrar por suas “invenções”.

Mais uma coisa: o que acontecerá se e quando os “quimiofôbicos” descobrirem que além dos sulfitos os produtores picaretas, na calada da noite, adicionam dezenas e até centenas de produtos químicos nos vinhos “naturais”?  Próxima parada, terraplanismo.......



Dionísio  


 

terça-feira, 30 de julho de 2024

ATÉ TU, VINHO VERDE?


Você já ouviu e leu essa história diversas vezes, mas ela continua acontecendo por aí.

A receita é simples: um produtor de uma região vinícola consagrada, em um país com séria produção vinícola, um dia acorda e ....“Meus vinhos são muito baratos. O que posso fazer para ter margens mais gordas, lucrativas? ”

 Foi assim com a Barbera “Bricco dell’Uccellone”, da vinícola Braida, no Piemonte.



 Foi assim com os Beaujolais, foi assim com incontáveis etiquetas de “Chianti Classico Riserva” que eram e ainda são, vendidos por preço de Brunello di Montalcino, enganaram vários eno-trouxas até encalharem nas prateleiras e depois vendidos a preço de banana em promoções.

  Alguns Cavas, também, enfrentaram crise de identidade quando resolveram aproximar seus preços aos ostentados pelas renomadas etiquetas dos bons Champagne.

Pois a praga se alastrou e chegou a um dos melhores vinhos simples que existem: o “Vinho Verde”.



 Em janeiro, voltando do Brasil para a Hungria, fiz uma escala em Lisboa e resolvi comprar uma garrafa de vinho verde, que sempre considerei o melhor “refrigerante” para combater o calor; infelizmente, são poucas as lojas húngaras que vendem o belíssimo vinho português daí minha decisão de levar na mala pelo menos um exemplar dos verdes, então fazia sentido escolher algo da região.



 Minha escolha recaiu sobre o “Reserva Azal e Pedernã” 2022, da “Quinta do Outeiro de Baixo”; não lembro o valor exato que desembolsei pela garrafa, mas creio ter sido algo próximo dos 12 euros.



  Pensei: “se os vinhos verdes são vendidos, nos  supermercados lusitanos  entre 5 e 8 euros, pagar menos de 15 euros, nos careiros duty free, não é um absurdo tão grande”.

 Num sábado,   com os termômetros de Budapeste registrando 35 graus, resolvi abrir, durante o almoço, o “Reserva Azal e Pedernã-Quinta do Outeiro de Baixo”.

  A garrafa, alta e esguia, como as dos melhores vinhos verdes, sugeria aquilo que há de melhor na região: frescor, leveza, uma “drinkability” altíssima e aquele efeito frisante que tanto apreciamos, mas ......não tinha nada e nenhuma lembrança disso.

A primeira e desagradável surpresa já aconteceu ao verter o vinho na taça: o vinho ostentava pronunciada cor amarela, mais associada a vinhos envelhecidos.



Pior: zero bolhas, zero frisante.

 Pensei em acusar armazenamento ruim, mas o duty free não é a Mistral e armazena os vinhos de forma adequada – sem contar que, sendo safra 2022, nem teria envelhecido tão rapidamente assim.

 Na boca, parecia um Prosecco, já à beira da sepultura, que há muitos anos tive o desprazer de beber.



 Mesmo se e quando comparado aos vinhos “comuns” portugueses, resultava uma tremenda bosta muito aquém até das garrafas boas e baratos pelas quais tenho o maior respeito: Alandra e Terras de Xisto



A “Quinta do Outeiro de Baixo” existe desde 1985, se orgulha de ter sido agraciada em várias premiações regionais e tem, em sua relação de etiquetas, alguns vinhos que parecem ser aqueles típicos verdes que tanto apreciamos.



 É pena, no entanto, terem desperdiçado uma parte de suas melhores terras para produzir um anti-vinho verde, uma aberração que, apesar de ter recebido um prêmio (como a página da vinícola menciona) e de ter uma nota alta no Vivino, não passa de uma frustrada tentativa de produzir, agregando-lhe a manjada e ridícula “Reserva”, um vinho mais caro, mais importante.



“Reserva Azal e Pedernã ”, “reserva” que nada acrescenta e muito engana, foi uma das piores garrafas portuguesas que já consumi.

Uma pena.

 


Até tu, vinho verde?