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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

QUASE ZERO....


Se alguém ainda dúvida que os dias gloriosos das etiquetas caríssimas, glamorosas, parkerianas etc., que dominaram a mundo do vinho nas últimas cinco décadas, estão a caminho do inclemente declínio, pode começar a esquecer os Gaja, Pera Manca, Masseto, Vega Sicilia, Dal Forno etc.



É bom ir se a costumando com a ideia que no futuro próximo vinhos leves, fáceis de beber, baratos descompromissados, como Lambrusco, Prosecco, Beaujolais, Bardolino, Grignolino etc., que foram desprezados, abandonados, quase ridicularizados, mas se e quando comparados aos vinhos sem álcool, da mais recente moda vinícola são verdadeiros Romanèe-Conti.



Semana passada, ziguezagueando pelas gondolas de um supermercado, tentava descobrir promoções para reabastecer minha quase espartana geladeira.

Um presunto, aqui, um salmão defumado, ali, algumas fatias de peito de peru, acolá e.....Espumante sem álcool?

A nova moda, dos vinhos desalcoolizados, que está avançando na Europa, de forma implacável e irrefreável como as hordas hunas, chegou às gondolas dos supermercados italianos.



A curiosidade venceu a prudência e, sem pensar muito, acomodei, no carrinho, ao lado de salmão, peru, presunto, etc., uma garrafa de “Z&RO”, espumante produzido na Alemanha e importado pela “COOP”, maior rede de supermercados da Itália.

Impaciente, curioso, ao chegar em casa abri, imediatamente a garrafa de “Z&RO” (se alguém estiver sorrindo maliciosamente e já pensando em me criticar por não ter refrigerado a garrafa, informo que a temperatura, naquele dia, não superava o 5º, então...)

A primeira impressão visual já não me convenceu positivamente.



A cor, amarelo pálido esverdeado, mais próxima a do refrigerante (Sprite/7up) do que a clássica do vinho Riesling, com a qual o “Z&RO” que fora produzido, anunciava que os 11,50 Euros, desembolsados pelo espumante alemão, haviam sido hiperbólicos.

As bolhas, grosseiras, parecendo bolinhas de gude, mais uma vez me trouxeram à mente os refrigerantes mencionados.

Na taça, o aroma surpreendeu positivamente.



Interessante, elegante, delicado, ao nariz, o “Z&RO” emanava sutis aromas cítricos.

Um pouco mais animado e esperançoso levei a taça à boca e...... Se eu acrescentasse um pouco de vinho branco, barato, comum, ao Sprite o resultado seria quase o mesmo com um custo bem menor.

O “Z&RO” é uma interessante opção para os que, por razões de saúde (diabete, por exemplo) não podem beber alcoólicos, não querem engordar, precisam dirigir, jovens, etc., mas o espumante-refrigerante está ainda tentando encontrar uma maior qualidade e personalidade.



Outro grave defeito do “Z&RO” é que “desaparece” ao acompanhar até um simples pão de queijo: Não tem estrutura para ser consumido com comida.

Um vinho para beber na praia, à beira da piscina, em um dia de intenso calor tropical, mas nada além disso.

Há uma verdadeira “invasão” de vinhos sem álcool ingressando no mercado e alemães, espanhóis, franceses, italianos etc., estão apostando alto na nova moda e a cada dia aparecem mais e mais etiquetas de tintos, rosés, brancos e espumantes.



Restrições, sempre mais rigorosas e severas, para quem dirige “bebum”, estão aconselhando os enófilos a mudar de hábitos e diminuir significantemente o consumo de bebidas alcoólicas.

Os jovens, os mais visados pela blitz da polícia, estão fugindo, sempre mais, dos super-alcoólicos e aproando nas taças de vinhos desalcoolizados.

O “Z&RO”, parcialmente desalcoolizado (0,5%) e gasificado, não vale a metade dos 11,5 Euros que paguei para satisfazer minha curiosidade, mas abriu um caminho que voltarei a percorrer sempre com maior frequência.

Bacco

PS. Não tenho dúvidas que, muito em breve, nossos produtores de “vinhos-tremendas-bostas”, insuperáveis no oportunismo, na química, manipulação nas adegas e na propaganda enganosa,  lançarão os melhores vinhos sem álcool do mundo”.



É só aguardar.....

domingo, 12 de janeiro de 2025

O VELHO E BOM LAMBRUSCO 3

 


No auge do culto a Bacco, romano deus do vinho e dos mistérios, ocorreu, dos anos 1970 até os anos 2000, uma verdadeira corrida de milhões de enófilos, que não satisfeitas em apenas beber e apreciar, sentiu a necessidade de “entender” de vinho.



 Resultado? O surgimento, em todos os cantos do planeta, de incontáveis cursos especializado$ em “encinar” a desvendar os segredos do vinho.

O Brasil, das AB$ e $BAV da vida, talvez tenha sido o recordista mundial na criação do maior número de sommeliers de araque.



Os Parkers da vida conseguiram convencer, grande parte dos enófilos de todos os cantos do mundo, que, além do intrínseco prazer de beber uma taça, era imperativo encontrar, naquela taça, mineralidade, acidez, retrogosto, longos finais, groselha, mirtilos, cereja, framboesa, peixe de rio, charuto, estrebaria, suor de cavalo, terra molhada e uma infinidade de gostos e aroma que somente o olfato de um urso polar poderia perceber.



Em todos os cantos surgiram, como cogumelos em dias chuvosos, associações e cursos que prometiam nos “encinar” e melhorar nossos parcos conhecimentos vinícolas para, assim, poder apreciar, realmente, o vinho.

Eram os dias de gloria dos enólogos, sommeliers, críticos e um sem número de picaretas que gravitavam ao redor do charmoso mundo das garrafas de tinto, branco, rosé, espumante.......

Depois de duas ou três aulas, até mesmo na AB$ de Maceió, os que haviam apenas bebido, até então, pinga e Sangue de Boi, com cara de enfado, de quem guarda enorme sapiência e não percebendo o imenso ridículo, discorriam, sobre mineralidade, untuosidade, aroma, sabor, retrogosto, estrutura, equilíbrio etc. como se o assunto fizesse, desde sempre, parte da cultura alagoana.



Demorou décadas, mas finalmente a pantomina chegou ao fim, ninguém que eu conheço ainda frequenta cursos sobre vinho e a imensa maioria mandou à merda mineralidade, untuosidade, estrutura, framboesa, mirtilos, frutos de boque etc. e finalmente bebe..... Apenas bebe.

Os jovens enterraram todos os falsos e vetustos profetas das barriques e toneis, mas, pasmem, caíram em um mar de estrume ainda maior: Os influencers do Instagram.



Assim caminha a humanidade ......

O consumo, das grandes e famosas etiquetas, despenca sem parar, o álcool é sempre mais demonizado, mas finamente, uma boa notícia: aumentou sensivelmente a procura dos vinhos leves e de baixo teor alcoólico sendo que o velho Lambrusco aparece nas primeiras posições.



Algumas informações e curiosidades sobre o Lambrusco, curiosidade e informações, estas, que 99,73% de nossos “sommerdiers”, crítico$, influencer$ etc. desconhecem solenemente.

O Lambrusco é um vinho antiquíssimo.

 Há indícios que na idade do ferro já havia presença de vinhas na atual província de Modena, mas foi poeta Virgilio (Mantova 70-AC), em sua “ Quinta Bucolica”, o primeiro a mencionar a “Lambrusca Vitis”.



A “Lambrusca Vitis” eram vinhas selváticas que nasciam, espontâneas, na zona rural e produziam frutas de sabor azedo.

As videiras foram “domesticadas’ e hoje, as descendentes da vetusta “Lambrusca Vitis”, dão vida ao Lambrusco um dos vinhos italianos mais conhecido no mundo (Chianti em 1º, sempre).

São 6 as DOC: Lambrusco Grasparossa di Castelvetro, Lambrusco di Sorbara, Lambrusco Salamino di Santa Croce, Modena, Reggiano e Colli di Scandiano e di Canossa.



Nos 10.000 hectares, de vinhedos, 5.000 viticultores produziram, em 2023, 135 milhões de garrafas de Lambrusco, sendo que 60% delas foram exportados para 90 países.

O Lambrusco é um vinho fresco, de baixo teor alcoólico, média estrutura, fácil de beber, bem equilibrado e.....barato!

Desembolsando entre 4 e 10 Euros é fácil beber ótimos Lambrusco e aqui vão algumas dicas: “Otello Nero di Lambrusco” (Ceci) - “Nivola” (Chiarli) – “Terre Verdiane” (Ceci) – “Rimosso” (Cantina della Volta) – “Quaranta” (Venturini Baldini) – “Vigna del Cristo” (Cavicchioli).





Creio seja difícil encontrar as garrafas mencionadas no mercado Brasileiro, pois nossos importadores privilegiam comercializar grandes etiquetas ou tremendas-bostas, mas em sua próxima viagem, quando e se o Euro parar de subir, esqueça por alguns instantes as “etiquetas-griffe” e beba um belo, bom e velho Lambrusco.

Bacco.

 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

O VELHO E BOM LAMBRUSCO 2

 


Apesar do mal causado, ao mundo do vinho, pelos empresários, investidores, artistas, multinacionais, esportistas e todos os espertinhos que “desembarcaram” nas adegas, nas últimas décadas, é preciso reconhecer, admitir e tirar o chapéu para os que conseguiram agregar incrível glamour (e preço) às suas garrafas.



Para ridiculizar o discurso, dos que tentam argumentar e defender o preço absurdo de alguns vinhos, é preciso lembrar que o custo de produção de uma garrafa de Romanèe-Conti é quase o mesmo de uma de Clos-Vougeot Gran Cru, no entanto a primeira custa 60 vezes mais do que a segunda.

 Poderia continuar apresentado astronômicas diferenças de preço entre vinhos bastante parecidos, até na qualidade, mas seria uma matéria muito longa e cansativa

Lembro, ainda, que a possibilidade de pagar uma fábula por um Romanèe-Conti falsificado é imensamente maior do que ser sodomizado na compra de um Clos-Vougeot “batizado”.



O “vinho-moda” enriqueceu inúmeros vivaldinos em todos os cantos do mundo (até no Brasil onde uma predadora picareta anuncia um espumante submarino por indecentes R$ 3.500), mas os dias de glória, do vinho glamour, parecem, até que enfim, caminhar rapidamente para o crepúsculo dos deuses (.....saudade de Billy Wilder).



A moda, dos que praticavam o “beber-e-aparecer”, parece declinar e perder espaço para rivais até mais ousados: os antigos abonados-abobados bebedores de etiquetas estão perdendo seguidores, no Instagram, para o novos abestados-sobre-duas-rodas que conseguem orgasmos múltiplos ao ostentar suas bicicletas de 100 mil, ou até mais, Euros.


Trek Madone – Kaws: USD 160,000

Deixemos o mundo irreal dos abonados-abobados, seus Romanèe-Conti e bicicletas que custam mais do que uma BMW M3 COMPETITION e voltemos ao mundo real, dos que não são políticos corruptos, presidentes de estatais, jogadores de futebol, influencers; o mundo daqueles que não conseguem ganhar durante toda vida o que eles faturam em um mês.



O pior legado, que os Parker e Cia. nos deixaram, foi ter endeusado uma centena, ou pouco mais, de etiquetas e nos “obrigar” a venerar e beber garrafas dos produtores que lhes enchiam os bolsos com $$$$$.

E tome Masseto, Sassicaia, Barolo Monfortino, Pera Manca, Amarone Dal Forno, Pingus, Alma Viva, Don Melchor.....Don Melchor?



Sim, a Wine $peculeitor concedeu 96 pontos ao vinho chileno e o elegeu como o melhor do mundo 2024.

Quanto será que a Concha Y Toro desembolsou pela eno-piada do ano? (Aceitamos sugestões....).

Durante décadas fomos escravizados por uma corja de picaretas que nos “obrigaram” a beber pontos e esquecer como era bom meu Grignolino....



Mas o consumidor está vagarosa e decididamente buscando novos rumos e velhas taças.

Chega de vinhos muito alcoólicos, pesados, impenetráveis e parecendo marmelada.

Viva os pequenos-grandes vinhos esquecidos e que agora retornam às taças especialmente àquelas dos jovens, jovens que dão uma banana aos Parker-Boys, seus pontos, bicchieri, estrelas e outras sandices do gênero.  

Vinhos desprezados pelo crítico$, jornali$ta$, revista$, $ommelier$, etc. estão de volta e, nos wine bar, já encontramos Bardolino, Grignolino, Schioppettino, Albarossa, Schiava, Rubesco, Freisa, Calosso, Avanà, Valpolicella, Bonarda, Lambrusco...



Lambrusco?

Sim, caros eno-tontos, o velho, bom, barato e alegre Lambrusco está de volta e agora para ficar.

Bacco

Continua

PS Peço perdão aos nossos críticos, sommeliers, jornalistas, por ter mencionado vinhos que eles desconhecem totalmente:



 Schioppettino, Albarossa, Schiava, Rubesco, Calosso, Avanà

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

PEQUENO GUIA ENO-GASTRONÓMICO 3

 


Como disse, na matéria em que falei do restaurante Fricska 2.0, comer bem em Budapeste não é difícil: ter uma refeição excepcional, contudo, é mais complicado. 

 Mas há vários lugares em que a comida, embora simples, é saborosa e mostra que a Europa Central tem seus grandes momentos. 

 Duas áreas em que os húngaros se sobressaem são a charcutaria, com excelente produção de embutidos, e a confeitaria, que, nos tempos de Áustria-Hungria, era o contraponto aos doces franceses. 



Começo por recomendar o Belvárosi Disznótoros, visitado pelo falecido chef Anthony Bourdain em seu programa de TV.

Trata-se de um lugar simples, em que a carne tem papel principal – seja nos grelhados, como o delicioso lombo de porco da raça Mangalica, seja nos assados, como pato ou joelho de porco. 

Para acompanhar, saladas de maionese, purê de batatas ou repolho, entre outras opções.

 O pedido é feito no balcão (grelhados, de um lado; assados, de outro) e não há qualquer serviço de mesa, mas a comida é boa, barata e farta.

 Para beber, pegue uma cerveja ou uma taça de fröccs, o spritz que mistura água com gás a um dos vinhos da casa.

 


Belvárosi Disznótoros

Király utca 1/d

Funciona todos os dias, no mínimo entre 12h e 20h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Deák Ferenc

https://belvarosidisznotoros.hu/en/

 Outro endereço interessante é o Ferdinand, restaurante monarquista que serve especialidades de todas as regiões da antiga Áustria-Hungria, como a sztrapacska (espécie de gnocchi com queijo de cabra, de origem eslovaca) e o excelente schnitzel à moda de Viena. 



 Gosto bastante da sopa goulash deles, a melhor que provei em Budapeste, e atenção: a carne ensopada que costumamos chamar de goulash se chama, na verdade, pörkölt – na Hungria, goulash (pronuncia-se güiásh) se refere à sopa feita com os mesmos ingredientes. 

Assim como o Belvárosi Disznótoros, o Ferdinand não prima pela variedade ou qualidade dos vinhos, mas, por outro lado, faz a própria cerveja – que é deliciosa. 

Ferdinand Monarchia

Király utca 76

Funciona todos os dias, entre 12h e 22h, aceita cartões. Recomendável reservar em caso de mais de cinco comensais

Metrô mais próximo: Oktogon

 https://ferdi.hu/

O fast-food húngaro por excelência é o lángos, um pão ázimo frito e servido com as mais diversas coberturas – a mais famosa leva um pouco de molho de alho, sour cream e queijo em tiras.

Há diversos lugares em que se pode provar lángos, e os melhores são os dos mercados de bairro (o que exclui o Mercado Central, uma macumba para turista na qual você não deve gastar um centavo), como o da praça Lehel (metrô Lehel tér). 

Se você não tiver tempo, ou paciência, para visitar um verdadeiro mercado hortifruti húngaro, o jeito é rumar para o bom e badalado Retro Lángos, nas imediações da Basílica de Santo Estêvão, e deliciar-se com as ofertas deles – há até opções sem glúten e veganas, se você se preocupa com essas coisas. 

Retro Lángos

Bajcsy-Zsilinszky út 25

Funciona todos os dias, entre 11h e 22h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Arany János utca

https://retrolangos.hu/en/

 

O grande influxo de empresários e estudantes chineses em Budapeste fez com que, junto com os restaurantes de comida tradicional e da Europa Central, a cidade ganhasse uma série de lugares com comida tailandesa, vietnamita, coreana e de vários outros pontos da Ásia.

Como você pode ter acesso a quase tudo isso no Brasil (ou em várias outras cidades da Europa) e não sou especialista em comida asiática, não farei nenhuma recomendação. 



Mas, já tendo passado uns meses em Tbilisi, capital da Geórgia, confesso que gostei bastante do Hachapuri, restaurante de comida georgiana para onde levei vários dos meus amigos em Budapeste – e todos, sem exceção, adoraram. 

A comida georgiana é para a Rússia o que a comida “mexicana” é para os EUA: a opção mais popular e mais enraizada na cultura do país. 

 Se quiser provar um bom hachapuri (escrito com ou sem a letra K no início), bons hinkali (idem) ou outras delícias do Cáucaso, esse restaurante em Budapeste é uma opção bem interessante. 

Hachapuri

Budapest, Bajcsy-Zsilinszky út 17

Funciona todos os dias, entre 12h e 23h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Arany János utca

https://hachapuri.com/

 

Quanto à alta gastronomia, tive também uma boa experiência no Caviar & Bull (Erszébet korut, 43-49), que tem uma unidade em Budapeste e outra em Malta, mas a conta, ao redor dos 150 euros, recomenda prudência.



 Da mesma forma, comi bem no Borkonyha (Sas utca 3, próximo ao metrô Deák Ferenc), mas, por ter-me restrito às entradas, seria leviano fazer uma recomendação efusiva.

 E, infelizmente, saí de Budapeste sem ter visitado o Essência (Sas utca 17), restaurante luso-húngaro que me havia despertado curiosidade. 

Sobre as confeitarias: se você ou sua cara-metade são celebridades do Instagram, já devem ter visto mil postagens sobre o New York Café (Budapest, Erzsébet korut. 9-11, perto do metrô Blaha Lujza tér), café do início do século passado que é, de fato, belíssimo. 



 Se quiser fazer a postagem número 1001, pode entrar, mas saiba que vão pagar caro (cerca de 30 euros por pessoa) por uma comida mediana e que, lá dentro, só a decoração e a arquitetura impressionam. 

Fui apenas uma vez, com minha mãe, e concordamos que a confeitaria, o café da manhã e as bebidas deixam muito a desejar – mesma impressão que tive do também famoso Café Gerbeaud, na praça Vörösmarty. 

Ah, sim... há uma outra coisa que me surpreendeu no New York Café: os turistas que lá se empilham (e formam fila na entrada) são muito, mas muito malvestidos. 

Dê uma banana aos dois e tome seu café da manhã nas padarias Läget (Bajcsy-Zsilinszky út 49, perto da estação Nyugati Pályaudvar) ou Lui (fechada aos domingos; Aulich u. 7, perto do metrô Kossuth Lájos tér) e, na hora de escolher uma boa sobremesa, vá a uma unidade da confeitaria Szamos, como a da praça Vörösmarty. 

Lá, um mundo de tortas, bolos e sorvetes te aguarda, com preços bem mais em conta. 

LEMBRANÇAS GASTRONÔMICAS 

Além disso, duas lembranças gastronômicas costumam, merecidamente, ser levadas como souvenirs: páprica (em pó ou em pasta) e foie gras, mais dois orgulhos da culinária húngara.

 Boa parte do foie gras que abastece os restaurantes europeus vem da Hungria, cuja produção antecede o período comunista, e onde os preços são, vá lá, realistas.  

Se você não tiver mala despachada, deixe para comprar no duty free: a diferença de preço não é tão grande e, por mais que foie gras não seja líquido, a segurança do aeroporto de Budapeste, caso detecte um bloco na sua bagagem de mão, confiscar-te-á a iguaria sem a menor cerimônia. 



Sobre a páprica, pode comprar nos supermercados, sem risco. Prefira a da região de Kalocsa (a palavra “kalocsai”, nos pacotes de páprica, indica a DOC onde essa saborosa páprica é produzida). 

Se quiser páprica doce, procure a palavra édes na embalagem; se quiser a picante, procure as com a palavra csípős – no início do ano, levei uma de cada para Dionísio, que ainda tem muitas recordações da picante.  

WINE BARS E LOJAS (CULINARIS, DROPSHOP) 

Com a boa produção de vinhos no país, é natural que Budapeste tenha uma profusão de boas enotecas.

 A primeira que merece destaque é a Divino (Szent István ter, 3, em frente à Basílica de Santo Estêvão, e em outros dois endereços na cidade), cujo repertório conta com umas cinquenta opções de vinhos húngaros em taça, para todos os gostos e bolsos.

 Pode ser turístico, mas a localização central e o sortimento tornam o lugar recomendável. 



Também merece destaque o elegante wine bar Marlou (Lázar utca 16, atrás do prédio da Ópera), com alguns pratos ligeiros bem interessantes; não esqueço do creme de cogumelos que lá provei uma vez. 

E que, em oposição ao New York Café, seus frequentadores se vestem muito bem... será a proximidade com a Ópera e a glamourosa avenida Andrássy, a mais bela via de Budapeste? 



Outra enoteca bastante interessante é a Dropshop (Balassi Bálint utca, 27, próxima à parada do bonde 4/6 na Jászai Mari tér e não muito longe do Parlamento), que tem cerca de trinta opções em sua carta e nela inclui vinhos estrangeiros – até mesmo champagne de pequenos produtores, ainda que a preços não muito convidativos. 

De premier cru da Borgonha a tintos austríacos, passando por pérolas locais, também vale a visita. 

Prepare a carteira e não se assuste com o pouco movimento... nas minhas incursões, nunca vi o lugar com mais de três mesas ocupadas ao mesmo tempo. 

E, importante: o Dropshop não abre aos domingos. 

Mas o meu bar de vinhos preferido em Budapeste, e o que mais recebeu minhas visitas, é o Bortodoor (Zichy Jenő, 32, próximo ao metrô Oktogon), direcionado para os expatriados que vivem na cidade. 

Comandado pela dupla Smike (americano) e Suze (britânica), o lugar tem uma vibe bacana e vive lotado – sendo assim, chegue cedo ou, melhor, reserve uma mesa. 

As opções de vinho em taça são em torno de vinte, mesclando o melhor da produção húngara a umas garrafas estrangeiras, e, à parte um ou outro Primitivo ou Malbec, uma seleção bastante inteligente.

 Um bom dia para ir ao Bortodoor é o domingo, quando a casa tem a promoção “Drink the Losses”, em que os vinhos abertos nos dias anteriores são colocados com desconto até que suas garrafas sejam finalmente secas. 

Com isso, encerro (por ora) as transmissões húngaras, ao menos por ora.