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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

GASTURA

 


Bem que a redação de Bacco & Bocca tenta não bater na mesma tecla, mas a vida do enófilo brasileiro insiste em ser uma merda. 

Faz uns dez anos que parei de ler notícias sobre política, economia e cultura brasileiras, pelo simples fato de que, como dizem no Nordeste, o país me dá gastura.

 


 No caso dos vinhos, a alienação é a mesma, exceto pelas matérias e temas que pipocam por aqui – e, vá lá, nem sempre acesso as últimas novidades dos predadores que dominam o mercado brasileiro.

 


Nos comentários à receita de “Ravioli al Vino Bianco”, postada por Bacco, um comentarista, anônimo, deixou o link para a “Premium Tasting – Wine Education”, degustação de nome pomposo e com a ambição de educar seus participantes.

 Não resisti e fui ver do que se tratava.

 


Pu#*C7#!§

 

Era melhor que não tivesse visto: o evento anuncia que seus participantes, durante quatro horas, no dia do encontro, “...terão a oportunidade de degustar 39 vinhos selecionados, apresentados em degustações às cegas divididas em 6 flights”. A experiência será acompanhada por minipratos harmonizados”.

 


Pela brincadeira, a ocorrer em 24 de abril, os organizadores (aparentemente, três famosos sommeliers de São Paulo), da Premium Tasting – Wine Educationpedem nada módicos R$ 1.350 – ou, ao câmbio de quando este texto foi escrito, 223 Euros....

Nada menos do que 90% do recém-reajustado salário-mínimo brasileiro.

 


Melhor sorte (e menor gasto) têm os portugueses: entre os dias 21 e 23 de fevereiro, a Alfândega do Porto abriga a edição 2025 da “Simplesmente... Vinho”, que congregará 101 viticultores da Península Ibérica apresentando o melhor de suas produções e que, agora, terá um mini especial dedicado ao Jerez.

 


Para participar da Simplesmente... Vinho, o enófilo lusitano terá de desembolsar entre 21 e 27 euros, a depender do dia escolhido, ou pode, por 54 euros, adquirir um passe para os três dias.

 A comida não está inclusa, mas é o de menos: os 27 euros do ingresso, do sábado, dia em que evento custa mais, representa menos de 4% do salário mínimo líquido português (774 Euros).

 


O risível mundo dos vinhos no Brasil é mesmo de dar gastura...

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

RAVIOLI AL VINO BIANCO - BURRO E SALVIA

 


Uma rápida olhada confirmou que minha adega estava mais que pronta para disputar, com as “colegas” de Marajá do Sena, o troféu de a pior do Maranhão. 

Dia frio, nublado..... Que tal uma visita à vinícola Nicola Bergaglio, em Gavi, para comprar algumas garrafas de seu ótimo “Minaia”? (5,5 Euro/garrafa)



Casaco pesado, blusa de lã, capuz, cachecol e.....Gavi, estou chegando.

O trânsito descomplicado permitiu uma viagem rápida e tranquila, assim, em menos de uma hora, toquei a campainha da adega dos Bergaglio.

Pai e filho, apesar da temperatura polar de -3º, estavam trabalhando nas vinhas.

Fui recebido pela matriarca que, sem muito papo e tremendo de frio me atendeu ...... Quinze minutos e duas caixas de “Minaia’, depois, já estava estacionando o carro e caminhando para alcançar um dos três bares da praça principal da cidade (e única), para relaxar e beber uma taça de “Gavi”.

Dos três bares apenas um estava com as portas abertas.



Aviso para os eno-navegantes: Janeiro é o melhor mês para visitar a “Gavi-Transilvânia” e conhecer locações onde poderiam ter sido rodados vario filmes de terror.

 Gavi, em janeiro, se assemelha a um cemitério gelado e silencioso.



Quase todas as lojas, bares, restaurantes e até o famoso, imponente e milenar forte, que domina a cidade, fecham as portas.

Há sempre os mais inteligentes e argutos que, aproveitando, a falta de concorrentes, continuam trabalhando e faturando muito mais que normalmente, haja vista, que o bar, onde calmamente bebericava o meu Gavi Broglia, estava lotado.

Quase uma hora e duas taças mais tarde a fome apertou.

 Paguei a conta e iniciei minha “via crucis” à procura de um restaurante.



La Cantina del Gavi”, Peccati di Gola”, “Trattoria dei “Fuenti”, “Antichi Sapori” todos silentes, fechados e apenas “Osteria Piemontemare” oferecia suas mesas e pratos para mitigar minha fome.

Lembrei de duas trágicas experiência gastronômicas, das quais felizmente sobrevivi, na deplorável “Osteria Piemontemare” e continuei minha busca.

Bingo!

O ótimo “Ristorante la Canonica”, calorosamente, me oferecia abrigo e comida.



Em “La Canonica” certa vez provei “Ravioli al Vino Rosso” que me deixaram babando e de queijo caído, assim, esperançoso, perguntei pelo prato.

“Hoje temos ravióli cozidos no vinho branco ao molho “burro e sálvia” (manteiga e sálvia).

Olhei para a garçonete e com olhar incrédulo perguntei: “Cozinham no vinho branco? ”

A moça caiu como uma pata e....”Cozinhamos o ravióli na panela, com metade de água e metade de vinho branco, em seguida passamos na frigideira com burro e sálvia”

Pronto... A garçonete deu a única dica que me faltava para “descobrir” a receita: Como cozinhavam os ravioli

É bom lembrar que “Burro e Salvia” eu preparo até no escuro e de olhos fechados.....



O prato surpreendeu positivamente e com satisfação repasso a receita aos leitores de B&B.

INGREDIENTES (2 pessoas)

1 pacote de ravióli, cappelletti ou tortellini (há boas marcas no mercado; uma delas é a Paganini) 



Uma garrafa de vinho branco (aconselho o Sauvignon Blanc da Tarapacá que é bom e barato e combina muito bem com o prato), manteiga, sálvia, queijo Parmigiano ou Grana,



PREPARO

Despeje, em uma panela, 1 litro de água, o vinho branco e leve à fervura.



Enquanto a água ferve, coloque em uma frigideira ½ tablete de manteiga, folhas de sálvia (6/8) e frite em fogo médio sem deixar queimar as folhas.



Quando a água alcançar a fervura jogue os raviólis e na panela e aguarde o cozimento (o tempo necessário é sempre indicado na embalagem)



Rale o Parmigiano, adicione uma pouco no molho de manteiga e sálvia e misture.

Quando a massa estiver no ponto, coe, junte ao “burro e salvia”, amalgue bem, adicione o restante do Parmigiano, sirva e....Buon appetito!



Neste ponto, uma pequena, mas importante dica: Experimentei a receita três vezes e a que mais me convenceu foi quando adicionei, ao molho de manteiga, uma pequena xícara de vinho branco um minuto antes de juntar o ravióli.  

Vinho? Um bom branco chileno.

Bacco

 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

QUASE ZERO....


Se alguém ainda dúvida que os dias gloriosos das etiquetas caríssimas, glamorosas, parkerianas etc., que dominaram a mundo do vinho nas últimas cinco décadas, estão a caminho do inclemente declínio, pode começar a esquecer os Gaja, Pera Manca, Masseto, Vega Sicilia, Dal Forno etc.



É bom ir se a costumando com a ideia que no futuro próximo vinhos leves, fáceis de beber, baratos descompromissados, como Lambrusco, Prosecco, Beaujolais, Bardolino, Grignolino etc., que foram desprezados, abandonados, quase ridicularizados, mas se e quando comparados aos vinhos sem álcool, da mais recente moda vinícola são verdadeiros Romanèe-Conti.



Semana passada, ziguezagueando pelas gondolas de um supermercado, tentava descobrir promoções para reabastecer minha quase espartana geladeira.

Um presunto, aqui, um salmão defumado, ali, algumas fatias de peito de peru, acolá e.....Espumante sem álcool?

A nova moda, dos vinhos desalcoolizados, que está avançando na Europa, de forma implacável e irrefreável como as hordas hunas, chegou às gondolas dos supermercados italianos.



A curiosidade venceu a prudência e, sem pensar muito, acomodei, no carrinho, ao lado de salmão, peru, presunto, etc., uma garrafa de “Z&RO”, espumante produzido na Alemanha e importado pela “COOP”, maior rede de supermercados da Itália.

Impaciente, curioso, ao chegar em casa abri, imediatamente a garrafa de “Z&RO” (se alguém estiver sorrindo maliciosamente e já pensando em me criticar por não ter refrigerado a garrafa, informo que a temperatura, naquele dia, não superava o 5º, então...)

A primeira impressão visual já não me convenceu positivamente.



A cor, amarelo pálido esverdeado, mais próxima a do refrigerante (Sprite/7up) do que a clássica do vinho Riesling, com a qual o “Z&RO” que fora produzido, anunciava que os 11,50 Euros, desembolsados pelo espumante alemão, haviam sido hiperbólicos.

As bolhas, grosseiras, parecendo bolinhas de gude, mais uma vez me trouxeram à mente os refrigerantes mencionados.

Na taça, o aroma surpreendeu positivamente.



Interessante, elegante, delicado, ao nariz, o “Z&RO” emanava sutis aromas cítricos.

Um pouco mais animado e esperançoso levei a taça à boca e...... Se eu acrescentasse um pouco de vinho branco, barato, comum, ao Sprite o resultado seria quase o mesmo com um custo bem menor.

O “Z&RO” é uma interessante opção para os que, por razões de saúde (diabete, por exemplo) não podem beber alcoólicos, não querem engordar, precisam dirigir, jovens, etc., mas o espumante-refrigerante está ainda tentando encontrar uma maior qualidade e personalidade.



Outro grave defeito do “Z&RO” é que “desaparece” ao acompanhar até um simples pão de queijo: Não tem estrutura para ser consumido com comida.

Um vinho para beber na praia, à beira da piscina, em um dia de intenso calor tropical, mas nada além disso.

Há uma verdadeira “invasão” de vinhos sem álcool ingressando no mercado e alemães, espanhóis, franceses, italianos etc., estão apostando alto na nova moda e a cada dia aparecem mais e mais etiquetas de tintos, rosés, brancos e espumantes.



Restrições, sempre mais rigorosas e severas, para quem dirige “bebum”, estão aconselhando os enófilos a mudar de hábitos e diminuir significantemente o consumo de bebidas alcoólicas.

Os jovens, os mais visados pela blitz da polícia, estão fugindo, sempre mais, dos super-alcoólicos e aproando nas taças de vinhos desalcoolizados.

O “Z&RO”, parcialmente desalcoolizado (0,5%) e gasificado, não vale a metade dos 11,5 Euros que paguei para satisfazer minha curiosidade, mas abriu um caminho que voltarei a percorrer sempre com maior frequência.

Bacco

PS. Não tenho dúvidas que, muito em breve, nossos produtores de “vinhos-tremendas-bostas”, insuperáveis no oportunismo, na química, manipulação nas adegas e na propaganda enganosa,  lançarão os melhores vinhos sem álcool do mundo”.



É só aguardar.....

domingo, 12 de janeiro de 2025

O VELHO E BOM LAMBRUSCO 3

 


No auge do culto a Bacco, romano deus do vinho e dos mistérios, ocorreu, dos anos 1970 até os anos 2000, uma verdadeira corrida de milhões de enófilos, que não satisfeitas em apenas beber e apreciar, sentiu a necessidade de “entender” de vinho.



 Resultado? O surgimento, em todos os cantos do planeta, de incontáveis cursos especializado$ em “encinar” a desvendar os segredos do vinho.

O Brasil, das AB$ e $BAV da vida, talvez tenha sido o recordista mundial na criação do maior número de sommeliers de araque.



Os Parkers da vida conseguiram convencer, grande parte dos enófilos de todos os cantos do mundo, que, além do intrínseco prazer de beber uma taça, era imperativo encontrar, naquela taça, mineralidade, acidez, retrogosto, longos finais, groselha, mirtilos, cereja, framboesa, peixe de rio, charuto, estrebaria, suor de cavalo, terra molhada e uma infinidade de gostos e aroma que somente o olfato de um urso polar poderia perceber.



Em todos os cantos surgiram, como cogumelos em dias chuvosos, associações e cursos que prometiam nos “encinar” e melhorar nossos parcos conhecimentos vinícolas para, assim, poder apreciar, realmente, o vinho.

Eram os dias de gloria dos enólogos, sommeliers, críticos e um sem número de picaretas que gravitavam ao redor do charmoso mundo das garrafas de tinto, branco, rosé, espumante.......

Depois de duas ou três aulas, até mesmo na AB$ de Maceió, os que haviam apenas bebido, até então, pinga e Sangue de Boi, com cara de enfado, de quem guarda enorme sapiência e não percebendo o imenso ridículo, discorriam, sobre mineralidade, untuosidade, aroma, sabor, retrogosto, estrutura, equilíbrio etc. como se o assunto fizesse, desde sempre, parte da cultura alagoana.



Demorou décadas, mas finalmente a pantomina chegou ao fim, ninguém que eu conheço ainda frequenta cursos sobre vinho e a imensa maioria mandou à merda mineralidade, untuosidade, estrutura, framboesa, mirtilos, frutos de boque etc. e finalmente bebe..... Apenas bebe.

Os jovens enterraram todos os falsos e vetustos profetas das barriques e toneis, mas, pasmem, caíram em um mar de estrume ainda maior: Os influencers do Instagram.



Assim caminha a humanidade ......

O consumo, das grandes e famosas etiquetas, despenca sem parar, o álcool é sempre mais demonizado, mas finamente, uma boa notícia: aumentou sensivelmente a procura dos vinhos leves e de baixo teor alcoólico sendo que o velho Lambrusco aparece nas primeiras posições.



Algumas informações e curiosidades sobre o Lambrusco, curiosidade e informações, estas, que 99,73% de nossos “sommerdiers”, crítico$, influencer$ etc. desconhecem solenemente.

O Lambrusco é um vinho antiquíssimo.

 Há indícios que na idade do ferro já havia presença de vinhas na atual província de Modena, mas foi poeta Virgilio (Mantova 70-AC), em sua “ Quinta Bucolica”, o primeiro a mencionar a “Lambrusca Vitis”.



A “Lambrusca Vitis” eram vinhas selváticas que nasciam, espontâneas, na zona rural e produziam frutas de sabor azedo.

As videiras foram “domesticadas’ e hoje, as descendentes da vetusta “Lambrusca Vitis”, dão vida ao Lambrusco um dos vinhos italianos mais conhecido no mundo (Chianti em 1º, sempre).

São 6 as DOC: Lambrusco Grasparossa di Castelvetro, Lambrusco di Sorbara, Lambrusco Salamino di Santa Croce, Modena, Reggiano e Colli di Scandiano e di Canossa.



Nos 10.000 hectares, de vinhedos, 5.000 viticultores produziram, em 2023, 135 milhões de garrafas de Lambrusco, sendo que 60% delas foram exportados para 90 países.

O Lambrusco é um vinho fresco, de baixo teor alcoólico, média estrutura, fácil de beber, bem equilibrado e.....barato!

Desembolsando entre 4 e 10 Euros é fácil beber ótimos Lambrusco e aqui vão algumas dicas: “Otello Nero di Lambrusco” (Ceci) - “Nivola” (Chiarli) – “Terre Verdiane” (Ceci) – “Rimosso” (Cantina della Volta) – “Quaranta” (Venturini Baldini) – “Vigna del Cristo” (Cavicchioli).





Creio seja difícil encontrar as garrafas mencionadas no mercado Brasileiro, pois nossos importadores privilegiam comercializar grandes etiquetas ou tremendas-bostas, mas em sua próxima viagem, quando e se o Euro parar de subir, esqueça por alguns instantes as “etiquetas-griffe” e beba um belo, bom e velho Lambrusco.

Bacco.