Facebook


Pesquisar no blog

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O "QI" DE UMA OSTRA

  


A primeira campanha, ridícula e vergonhosa, que me alertou e despertou a desconfiança de que os nossos produtores vinícolas consideravam os enófilos brasileiros verdadeiros eno-toupeiras, foi a do   “Segundo Melhor Espumante do Mundo”



Os anos foram passando, os nosso eno-predadores continuaram apostando na total imbecilidade dos consumidores nacionais, comprando todas as canetas disponíveis dos crítico$, sommelier$, jornalista$ etc. e veiculando um sem número de despudoradas propagandas, muitas das quais fariam enrubescer até o incrível Hulck.



Uma?

A predadora Valduga, assídua participante dos inúmeros concursos picaretas, que vagam pelo planeta, conseguiu, em um deles, ser premiada como produtora do melhor espumante do mundo. 

Quanto a Valduga pagou, pelo risível prêmio, não foi divulgado e nem sabido, mas sabemos perfeitamente que seu espumante premiado, “130 Blanc de Blancs”, somente entrega seus encantos, ao enófilo brasileiro, por R$ 200 e que o excelente Champagne “Michel Belvas 1er Cru” alivia o consumidor europeu em 30 Euros       (R$ 185).



É sempre bom recordar que R$ 200 representam 14% do salário mínimo brasileiro e 30 Euros representam 2,2% do salário mínimo francês.

O sucesso das campanhas de propaganda, incentivando, exaltando, o ufanismo e tentando vender a imagem de um “Brasil Melhor do Mundo”, virou moda e nosso país, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, presenciou, nos últimos anos, um verdadeiro tsunami das mais ridículas e vergonhosas picaretagens propagandísticas.



A maior de todas, em minha opinião: “Queijo Canastra é eleito o melhor do mundo”.

Bastaria perguntar: De qual mundo?

A predadora Valduga, não satisfeita, em já ter comprado o prêmio de melhor espumante do mundo, adquiriu, recentemente, o título de 58º melhor vinícola do planeta. Quase passei mal de tanto rir….

Não vou escrever sobre o panorama vinícola da Espanha, França, Portugal, Alemanha, USA, Chile Argentina, Austrália, África do Sul etc., pois seriam necessárias semanas e já não tenho saco para isso, assim resolvi não criticar o ridículo prêmio comprado pela “Valduga Predadora Vinícola”, mas apenas, divulgar alguns dados sobre a viticultura italiana.



Nos 674.000 hectares, das vinhas italianas, operam 310.000 empresas vinícolas que propiciam uma produção de 50 milhões de hectolitros/ano e que resultam em um faturamento de 13 bilhões de Euro/ano.

São 38.000 as vinícolas que engarrafam os vinhos e cada italiano consome, em média, 40,5 litros/ano.



Se os números elencados são estonteantes o que seria se juntássemos os dos maiores produtores mundiais?

Teríamos mais de 500.000 engarrafadoras, milhões e milhões de hectares cobertos por vinhedos e uma produção, pasmem, de quase 240 milhões de hectolitros de vinho/ano.

Os números do nosso Brasil, pátria de 58º melhor vinícola do mundo?

Hectares de vinhas = 75.000

Produção anual = 2,2 milhões de hectolitros

Consumo per capita/ano = 2,11 litros.



É bom lembrar que uvas não viníferas são responsáveis por 75% dos vihos produzidos no Brasil, então.......

Então, como alguém, com um QI normal e não de uma ostra em coma, pode acreditar que um pais, com números ridículos de produção, consumo e qualidade, abriga a 58º melhor vinícola do planeta?

Pode, sim!

Se há uma grande parcela da população que votou duas vezes na “mulher sapiens”, haverá quem acredite que a Valduga-Predadora-De-Vinhos possa ser uma excelência vinícola.

Dionísio



P.S Aguardo com ansiedade uma campanha publicitária anunciando Marajá do Sena, lá no Maranhão, o 2º mais importante centro de astrofísica do mundo

domingo, 27 de outubro de 2024

O VINHO MAIS CARO DA ITÁLIA (2)

 


Depois de boa uma temporada, em La Morra, resolvi continuar minha estada piemontesa em Castiglione Falletto.

Menor, menos badalado, mais barato, optei por Castiglione Falletto para continuar minha aventura nas colinas das “Langhe”.



Aluguei um pequeno apartamento na “Tenuta Montanello”, histórica vinícola produtora de Barolo, fiz amizades com vários viticultores locais e continuei explorando o incrível labirinto de estradas que cortam as maravilhosas vinhas nas colinas da região.

Foi justamente no mítico bar “La Terrazza da Renza”, em Castiglione Falletto, que finalmente conheci os vinhos da vinícola Roagna.



Fabrizio, filho da Renza, bom conhecedor dos vinhos locais, mantinha uma grande variedade de garrafas, entre elas as de Roagna, que podiam ser degustadas em taça.

Um belo dia, ao entrar no bar, encontrei Fabrizio que, espumando de raiva, imprecava contra os Roagna por terrem aumentado exageradamente os preços de seus Barolo e Barbaresco .... “Não compro mais uma garrafa daqueles “#@xw&§”….”.



Antes da drástica decisão de Fabrizio já havia bebido várias taças de Barolo e Barbaresco Roagna e devo admitir que eram (e são), sem dúvida, bons vinhos, mas nada deslumbrantes.

À época, os concorrentes, tanto em Castiglione Falletto quanto em Barbaresco, eram pesos pesados e Roagna não passava de um bom peso meio médio.



Em Castiglione Falletto, Vietti, Brovia, Scavino, Cavallotto, eram mais renomados e reverenciados.

Em Barbaresco, Roagna não era páreo para Gaja, Marchesi di Gresy, Moccagatta, Produttori del Barbaresco, Rocca.



Qual o “milagre” permitiu, então, que em menos de 20 anos uma vinícola, meio médio, atingisse a categoria dos pesos pesados?

Marketing inteligente (se é caro deve ser bom...) e caneta$ certa$.

Vamos analisar alguns pontos interessantes.

As vinhas, da DOCG Barbaresco, se estendem por uma área de 725 hectares e há aproximadamente 150 vinícolas que produzem e engarrafam o renomado vinho piemontês.

Os “CRUS”, da DOCG Barbaresco, são 69, sendo que 25 deles se encontram no município de Barbaresco, aldeia que empresta o nome a DOCG.



São eles: Asili, Ca’ Grossa, Cars, Cavanna, Cole, Faset, Martinenga, Montaribaldi, Montefico, Montestefano, Muncagöta, Ovello, Pajè, Pora, Rabajà, Rabajà Bas, Rio Sordo, Roccalini, Roncaglie, Roncagliette, Ronchi, Secondine, Tre Stelle, Trifolera, Vicenziana.

Nesta enorme e exagerada lista, de “crus à italiana”, mais uma vez o “Pajè”, que abriga as vinhas onde nasce o vinho mais caro da Bota, não faz parte do clube dos mais renomados e badalados.

Asili, Martinenga, Rabajà são, desde sempre, os de maior fama e prestígio.

Nada, mas nada mesmo, então, justifica o preço absurdo do Barbaresco Roagna ‘Crichet Pajè”?

Os enoloides-abonados, que adoram etiquetas e nada entendem de vinho, são os que fazem, como de costume, a alegria dos produtores predadores e..... predadores tem faro apuradíssimo.



Mais uma coisa: Alguém, com pelos menos 14 neurônios íntegros, acredita que no mesmo cru, de pouco mais de meia dúzia de hectares, uma fileira de vinhas possa produzir cachos tão superiores ao ponto gerar um vinho quase vinte vezes mais caro do que as uvas da fileira confinante (1 metro)?

Esta indagação, já fiz, respondi e que quiser reler a matéria, disponha.

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/01/viva-os-eno-otarios.html

Se tiver com sobra de $$$$ compre uma garrafa de. Barbaresco “Roagna Crichet Pajè (1.053 Euros), outra de “Pajè Riserva” dos Produttori del Barbaresco (50 Euros) e mais uma de “Pajé” de Carlo Boffa (40 Euros)

Deguste os vinhos às cegas e depois comente suas impressões.

A minha?


Bacco

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O VINHO MAIS CARO DA ITÁLIA

 


No mundo do vinho, falsificações, escândalos, picaretagens, pragas, crises, etc., não são raras e seria quase impossível recordar todas.

A praga mais importante, danosa e que causou a maior crise nas parreiras europeias foi, sem dúvida, a filoxera.



A filoxera, em meados do século XIX, atingiu quase a totalidade dos vinhedos do velho mundo e levou ao desespero e falência muitíssimos viticultores.

Depois da filoxera os maiores problemas foram os escândalos e falsificações.



Seria necessário escrever várias páginas para enumerar e lembrar todos os trambiques, mas para refrescar a memória bastaria recordar o do etanol, no Piemonte, em 1986, o do Brunello de Montalcino em 2014, os caríssimos franceses falsificados, em meados dos anos 2000, por Rudy Kurniawan.

Há no horizonte, todavia, uma crise silenciosa, mas muito mais séria, perigosa, que se aproxima lenta, mas inexoravelmente: Bebe-se sempre menos vinho, no mundo, especialmente os tintos.



Culpados?

 Muitos....

A caminhada foi longa, os erros foram vários, os culpados inúmeros e a crise, por incrível que possa parecer, começou quando os consumidores pararam de beber vinho e começar a beber etiquetas.



O “nascimento” dos críticos e revistas especializadas, endeusamento dos enólogos e sommeliers, a demasiada glamourização do vinho e a sede por lucros exagerados, foram os maiores responsáveis pela insana e irreal disparada dos preços (há garrafas que custam tanto quanto ou mais do que um carro)

O vinho virou moda e moda custa muito, então ....



Então, especialmente os jovens, estão migrando para os coquetéis, cerveja (já notaram quantas marcas artesanais, da “loira”, há na Europa?) vinhos com baixíssimo teor alcoólico ou, pasmem, com zero álcool.

É o funeral dos “Robert Parker Boys”, dos pontos, estrelas, taças e outros símbolos ridículos.



Haverá, então, um retorno ao bom senso, normalidade, preços mais “humanos”?

Nem pensar....

Haverá sempre, milionários, jogadores de futebol, políticos, novos ricos, bebedores de etiquetas, enoloides, prontos a comprar e exibir, como troféus, suas garrafas de “griffe”  

 


Já escrevi tantas vezes sobre o assunto que poderia facilmente entrar no caminho da repetição, mas esta semana li uma notícia que me deixou paralisado, de queixo caído e motivou a presente matéria: “O Vinho Mais Caro da Itália”.

O vinho mais caro da Itália, meus caros amigos, não é um Barolo Spers do Gaja, Brunello do Biondi Santi, Barolo Monfortino do Conterno, Masseto do Frescobaldi, Amarone do Quintarelli etc., mas o “Barbaresco Crichet Pajè” da Roagna.



O Barbaresco da Roagna custa, módicos, 1.053 Euros (imaginem o preço no Brasil.....)

Alguém conhece ou já bebeu os vinhos da nova “estrela” dos enoloides-abonados-abobados, “Roagna Azienda Agricola i Paglieri”?

Não?

Eu, já e muito, assim posso afirmar, com segurança, que 53 Euros seriam mais que suficientes para comprar um Barbaresco igual ou melhor, até, do que a o “Pajè” dos Roagna.



Continua

Bacco

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O ELECTRA DA VARIG

 


Longe de me considerar elitista, sofisticado, superior etc., tenho, todavia, profunda aversão à banalização.

É fácil perceber, então, que os dias que correm não me entusiasmam e não são exatamente meus preferidos.

Sem estar passando por uma crise de incontido saudosismo ou, pior ainda, querer sustentar uma tese, um tratado, uma crítica profunda, etc., quero, apenas, resumir o que penso da banalização generalizada que se alastrou e tomou conta de nossos costumes, cultura, educação, arte, estilo de vida, comportamento, o insuportável controle do “politicamente correto”.

 A propósito de arte, me ocorreu um exemplo convincente da tremenda banalização que hoje impera e domina: Compare, se conseguir, os atuais ídolos da música popular com o já falecido Bobby Darin interpretando, o clássico da música popular americana, “Mack The Knife”.

https://www.youtube.com/watch?v=4Qrjtr_uFac

Se não entendeu recomendo descontinuar a leitura e visitar a página da Deolane ou de algum dos milhares de “influencers” que emporcalham e banalizam a internet.

Neste ponto alguém perguntará: “Estará, Bacco, na iminência de tentar imitar o genial Woody Allen e realizar um novo “Meia Noite em Paris“?



Não, estou apenas tentando desabafar e comentar a banalização que tomou conta das companhias aérea que já foram Bobby Darin e hoje são Pabllo Vittar e descrever o purgatório pelo qual passei, em minha viagem para a Itália, nos aeroportos, salas VIP, aviões etc.

O PURGATÓRIO



Cansado de ser torturado pelos horários sádicos e desumanos, praticados pela Tap, que obrigam o passageiro, após martirizantes 9 horas de voo, entre Brasília e Lisboa, a mofar no aeroporto da capital portuguesa por mais 6 longas e insuportáveis horas, antes da conexão para Milão, optei voar pela Latam.



A Latam deixa o passageiro brasiliense “mofar” apenas 3 horas em Guarulhos, mas, preocupada com a boa forma atlética do viajante o obriga a realizar longa caminhada até alcançar o “paraíso” confuso, complicado e distante, conhecido, também, como “TERMINAL 3” (Nos vários deslocamentos meu pedômetro acusou nada menos do que 4.129 passos).



Ainda bem que eu, passageiro “business”, tive o privilégio, após perder 380 calorias, de desfrutar raros momentos de puro prazer e sofisticação eno-gastronômica na sala “VIP” da Latam.

Alguém já deve ter percebido meu sarcasmo e que toda a ladainha, acima, é apenas um prefácio para o que realmente interessa: A incrível e irrefreável ganância das companhias aéreas.



Alguém viajou na saleta no fundo do Electra da Varig que operava na ponte aérea nos anos 1980-1990?

Poucos, não é?

Pois bem, no voo, de pouco mais de uma hora, até Champagne era servido para o “pessoal da saleta”.



Bancos mais estreitos e que reclinam no máximo 5cm, pagamento extra para os assentos na parte dianteiras, nas saídas de emergência, por malas despachadas e ..... Apronte o cartão e não se espante se, em um futuro bem próximo, cobrarem até para ir ao banheiro: Mijadinha=R$5/Cocozinho=R$10.



Quem precisa tomar diurético, ou orlistate, está ferrado......

As famosas salas “VIP”, que eram símbolos de bom gosto, requinte, elegância, exclusividade, hoje parecem restaurantes por quilo.

Já não são exclusivas e qualquer viajante pode acessá-las mediante pagamento.



Resultado: sujeitos afobados, de calção e chinelos, atacando sem piedade as travessas de comida, devorando pratos pantagruélicos, bebendo tudo o que puder e encontrar pela frente, mulheres, querendo parecer sofisticadas, bebendo espumante nacional “tremenda-bosta”, tirando selfie ...um espetáculo imperdível!

É a banalização total, mas muito interessante, cômica.

Já não frequento com entusiasmo as salas “Vip”, mas movido pela curiosidade mórbida de conhecer e degustar o mais recente fenômeno da viticultura tupiniquim, o espumante “Viva la Vida”, entrei no restaurante por quilo, da Latam, do aeroporto de Guarulhos.

A mesma cafonice total, o mesmo empurra-empurra para alcançar os pratos de frios, a corrida quase ofegante para pegar mais uma garrafa de cerveja e a patética pantomima para escolher o melhor vinho.

Inútil...não há melhor taça de vinho. Há, apenas, o “menos-pior”.



O nosso “naftalínico” e decadente escalador de cruzeiros medievais e maior expert mundial em vinho de fundos de garrafas, também conhecido como Beato, não conseguiu ainda convencer, os sommelier-sadomasoquistas da Latam, que o “Viva la Vida” possui todos os predicados necessários para torturar os paladares tão eficazmente quanto o deplorável “Chandon Brut”.



 Falando sério.... Um sujeito que compra 1,3 hectares de vinhas, por R$ 96 milhões, não deveria permitir que uma de suas vinícolas produzisse tamanho insulto à enologia.



Não há, em meu repertório, nada melhor do que comparar o espumante Chandon à Coca Cola: Bem gelado, um gole é possível, mas quando se aproxima dos 12º/14º se torna verdadeiramente imbebível.



O Chandon (nosso ministro maior deveria proibir a venda do espumante que lembra, “sonoramente”, seu carinhoso apelido..) estava em boa companhia: “Estelado Rosé”

Tentei beber o espumante “Estelado Rosé” mas parei no primeiro e pequeníssimo gole....tremenda-bosta.



Talvez demasiadamente curioso quis conhecer mais e me “afundar” no purgatório vinícola da sala “VIP” da Latam.

Com coragem, que desconhecia possuir, derramei, na taça, um pouco do chileno “Toro de Piedra Sauvignon Blanc”.



Nem o grande toureiro Manolete conseguiria “vencer” este Toro de Piedra Sauvignon Blanc.

Aromas, todos quimicamente adicionados, lembravam os odores enjoativos de uma perfumaria suburbana, cor mais próxima do conhaque e nenhum resquício, lembrança da uva Sauvignon .... Um horror.



Saí correndo até alcançar o portão de embarque e.....

 Já acomodado na poltrona, tranquilo, relaxado... “Senhor aceita um Champagne?

Fabiana, a aeromoça, percebeu o brilho do meu olhar e derramou mais um pouco na taça.

Já no primeiro gole o Champagne me fez recordar os bons tempos da saleta no Electra da Varig.



Champagne faz milagres acontecerem

Bacco.