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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ENO-PATRIOTA (MAIS UM.....)

 


Raras as semanas em que não aparecem, nos comentários, fieis defensores do “premiadíssimo” vinho nacional.

Há, nas manifestações eno-ufanistas, inúmeras e ridículas provocações que tentam nos “desestabilizar” e até nos desafiar para degustações às cegas.



As disputas sempre sugerem a presença dos soberbos vinhos nacionais se confrontando com as banais garrafas italianas.

A escolha, dos vinhos competidores, revela, além de um profundo e imbecilizante patriotismo, um mais profundo e ainda mais imbecilizante, desconhecimento do assunto.

Já disse e repeti inúmeras vezes, que a possibilidade do Brasil se tornar um respeitável produtor vinícola é tão remonta quanto a Praça dos Três Poderes ser paradigma de probidade, dignidade, retidão, seriedade etc.



Nada contribui para a evolução do vinho brasileiro e até as informações, sobre números de produção, métodos de vinificação, consumo, área cultivada, etc., são imprecisas, contraditórias e pouco confiáveis.

Gostaria, assim, de elencar, mais uma vez e espero a última, algumas informações importantes para os parvos eno-ufanistas e patéticos influencer$-instagram.



A área plantada, para a produção de vinhos, no Brasil, oscila entre 75/78 mil hectares (ninguém sabe o número exato)

 O total da produção vinícola é de 200.000 hectolitros e, aproximadamente, 1.200 vinícolas operam no setor.

Se compararmos, com a sempre “rival” Itália, os números nacionais são, no mínimo, ridículos.

ITÁLIA

Vinhedos: 590.000 hectares

Produção: 42.000.000 de hectolitros

Viticultores: 240.000.

Comparando, os números apresentados, qualquer indivíduo, com mais de três neurônios, em bom estado, perceberia que a possibilidade de o vinho brasileiro, em uma degustação às cegas, superar o concorrente italiano, seria tão provável quanto o  maranhense, “Tuntum Futebol Clube”, golear o Real Madrid.



É sempre bom lembrar que 80% da produção vinícola nacional provêm de uvas não viníferas.

 O quase-vinho mais vendido, nos últimos 9 anos, no paraíso tropical e abençoado pelo deus Baco, é aquele insulto à enologia, produzido pela Vinícola Campestre, que atende pelo nome: “Pérgola”.



É fácil perceber, então, que dos 2,7 litros, de vinho per capita/ano, consumidos pelos quase-enófilos brasileiros, 2,15 litros são de Pérgola, Dom Bosco, Chalise, Cantina da Serra, Sangue de Boi, Mioranza e outras tremendas-bostas da vida (fácil?).

É sempre bom lembrar, também, que uma garrafa, do insulto à enologia, “Pérgola”, custa R$ 23 e uma garrafa de Barbera, na Itália, é levada para casa por R$18.



O que posso responder, então, para nosso revoltado e indignado eno-patriota gaúcho que escreveu o seguinte comentário?

Anônimo30 de janeiro de 2025 às 14:25

Dizer que so ha vinho caro, ou ruim e feito por predadores no bananal do sul ultrapassa ignorancia.

 

Caro defensor dos bravos e abnegados produtores de quase-vinho, que você defende com paixão, encha um contêiner com as renomadas e soberbas garrafas gaúchas, catarinenses, paulistas, mineiras, paranaenses etc., viaje pelos países europeus e tente vende-las pelos preços praticados no Brasil.

Exemplos: Maria Valduga Brut R$ 549 (91 Euros)

                          Storia Merlot R$ 490 (81 Euros)

Lidio Carraro – Singular Nebbiolo R$ 726 (120 Euros)

                        Singular Teroldego R$337 (56 Euros)

Miolo -             Sesmarias R$1.238 (206 Euros)

                        Lote 43 R$673 (112 Euros.

Por respeito à inteligência e bom senso dos leitores de B&B, deixo de publicar o preço do espumante Miolo: Under The Shit”.



Garanto que, em menos de um mês, você retornará ao “bananal” com o contêiner ainda e totalmente cheio de brasileiras garrafas (o saco, então, nem se fala.....).



Tenho certeza que, após a amarga experiência comercial, passará a direcionar seu entusiasmo patriótico à defensa da soja, carnes, café, alpargatas, minérios, açúcar, cachaça, cerveja etc.

Nenhum Italiano, mesmo com o QI de uma ostra, compraria um Teroldego brasileiro por 56 Euros, pois em qualquer supermercado é fácil encontrar o original italiano por 5/10 Euros.


O mesmo discurso vale para os outros insultos aos bolsos dos enófilos brasileiros produzidos pelos predadores gaúchos.

 


Mais uma observação: Em qualquer boteco, de qualquer aldeia, perdida no meio do nada, em Portugal, Espanha, França e Itália, há vinhos em taça.



Em 99% dos bares, espalhados pelo Brasil (capitais inclusas), nunca e ninguém conseguirá beber um copo de vinho.

 Em compensação, em qualquer biboca, até do Maranhão, há cerveja e pinga à vontade (Brasil é o 3º maior consumidor de cerveja do planeta).

Viva a pinga, viva a cerveja!


Caro defensor do “vinho-bananal”, acho que o consumo excessivo de Pérgola está destruído o restante de seus raros neurônios......Vá de cerveja   

Dionísio

  

 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

GASTURA

 


Bem que a redação de Bacco & Bocca tenta não bater na mesma tecla, mas a vida do enófilo brasileiro insiste em ser uma merda. 

Faz uns dez anos que parei de ler notícias sobre política, economia e cultura brasileiras, pelo simples fato de que, como dizem no Nordeste, o país me dá gastura.

 


 No caso dos vinhos, a alienação é a mesma, exceto pelas matérias e temas que pipocam por aqui – e, vá lá, nem sempre acesso as últimas novidades dos predadores que dominam o mercado brasileiro.

 


Nos comentários à receita de “Ravioli al Vino Bianco”, postada por Bacco, um comentarista, anônimo, deixou o link para a “Premium Tasting – Wine Education”, degustação de nome pomposo e com a ambição de educar seus participantes.

 Não resisti e fui ver do que se tratava.

 


Pu#*C7#!§

 

Era melhor que não tivesse visto: o evento anuncia que seus participantes, durante quatro horas, no dia do encontro, “...terão a oportunidade de degustar 39 vinhos selecionados, apresentados em degustações às cegas divididas em 6 flights”. A experiência será acompanhada por minipratos harmonizados”.

 


Pela brincadeira, a ocorrer em 24 de abril, os organizadores (aparentemente, três famosos sommeliers de São Paulo), da Premium Tasting – Wine Educationpedem nada módicos R$ 1.350 – ou, ao câmbio de quando este texto foi escrito, 223 Euros....

Nada menos do que 90% do recém-reajustado salário-mínimo brasileiro.

 


Melhor sorte (e menor gasto) têm os portugueses: entre os dias 21 e 23 de fevereiro, a Alfândega do Porto abriga a edição 2025 da “Simplesmente... Vinho”, que congregará 101 viticultores da Península Ibérica apresentando o melhor de suas produções e que, agora, terá um mini especial dedicado ao Jerez.

 


Para participar da Simplesmente... Vinho, o enófilo lusitano terá de desembolsar entre 21 e 27 euros, a depender do dia escolhido, ou pode, por 54 euros, adquirir um passe para os três dias.

 A comida não está inclusa, mas é o de menos: os 27 euros do ingresso, do sábado, dia em que evento custa mais, representa menos de 4% do salário mínimo líquido português (774 Euros).

 


O risível mundo dos vinhos no Brasil é mesmo de dar gastura...

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

RAVIOLI AL VINO BIANCO - BURRO E SALVIA

 


Uma rápida olhada confirmou que minha adega estava mais que pronta para disputar, com as “colegas” de Marajá do Sena, o troféu de a pior do Maranhão. 

Dia frio, nublado..... Que tal uma visita à vinícola Nicola Bergaglio, em Gavi, para comprar algumas garrafas de seu ótimo “Minaia”? (5,5 Euro/garrafa)



Casaco pesado, blusa de lã, capuz, cachecol e.....Gavi, estou chegando.

O trânsito descomplicado permitiu uma viagem rápida e tranquila, assim, em menos de uma hora, toquei a campainha da adega dos Bergaglio.

Pai e filho, apesar da temperatura polar de -3º, estavam trabalhando nas vinhas.

Fui recebido pela matriarca que, sem muito papo e tremendo de frio me atendeu ...... Quinze minutos e duas caixas de “Minaia’, depois, já estava estacionando o carro e caminhando para alcançar um dos três bares da praça principal da cidade (e única), para relaxar e beber uma taça de “Gavi”.

Dos três bares apenas um estava com as portas abertas.



Aviso para os eno-navegantes: Janeiro é o melhor mês para visitar a “Gavi-Transilvânia” e conhecer locações onde poderiam ter sido rodados vario filmes de terror.

 Gavi, em janeiro, se assemelha a um cemitério gelado e silencioso.



Quase todas as lojas, bares, restaurantes e até o famoso, imponente e milenar forte, que domina a cidade, fecham as portas.

Há sempre os mais inteligentes e argutos que, aproveitando, a falta de concorrentes, continuam trabalhando e faturando muito mais que normalmente, haja vista, que o bar, onde calmamente bebericava o meu Gavi Broglia, estava lotado.

Quase uma hora e duas taças mais tarde a fome apertou.

 Paguei a conta e iniciei minha “via crucis” à procura de um restaurante.



La Cantina del Gavi”, Peccati di Gola”, “Trattoria dei “Fuenti”, “Antichi Sapori” todos silentes, fechados e apenas “Osteria Piemontemare” oferecia suas mesas e pratos para mitigar minha fome.

Lembrei de duas trágicas experiência gastronômicas, das quais felizmente sobrevivi, na deplorável “Osteria Piemontemare” e continuei minha busca.

Bingo!

O ótimo “Ristorante la Canonica”, calorosamente, me oferecia abrigo e comida.



Em “La Canonica” certa vez provei “Ravioli al Vino Rosso” que me deixaram babando e de queijo caído, assim, esperançoso, perguntei pelo prato.

“Hoje temos ravióli cozidos no vinho branco ao molho “burro e sálvia” (manteiga e sálvia).

Olhei para a garçonete e com olhar incrédulo perguntei: “Cozinham no vinho branco? ”

A moça caiu como uma pata e....”Cozinhamos o ravióli na panela, com metade de água e metade de vinho branco, em seguida passamos na frigideira com burro e sálvia”

Pronto... A garçonete deu a única dica que me faltava para “descobrir” a receita: Como cozinhavam os ravioli

É bom lembrar que “Burro e Salvia” eu preparo até no escuro e de olhos fechados.....



O prato surpreendeu positivamente e com satisfação repasso a receita aos leitores de B&B.

INGREDIENTES (2 pessoas)

1 pacote de ravióli, cappelletti ou tortellini (há boas marcas no mercado; uma delas é a Paganini) 



Uma garrafa de vinho branco (aconselho o Sauvignon Blanc da Tarapacá que é bom e barato e combina muito bem com o prato), manteiga, sálvia, queijo Parmigiano ou Grana,



PREPARO

Despeje, em uma panela, 1 litro de água, o vinho branco e leve à fervura.



Enquanto a água ferve, coloque em uma frigideira ½ tablete de manteiga, folhas de sálvia (6/8) e frite em fogo médio sem deixar queimar as folhas.



Quando a água alcançar a fervura jogue os raviólis e na panela e aguarde o cozimento (o tempo necessário é sempre indicado na embalagem)



Rale o Parmigiano, adicione uma pouco no molho de manteiga e sálvia e misture.

Quando a massa estiver no ponto, coe, junte ao “burro e salvia”, amalgue bem, adicione o restante do Parmigiano, sirva e....Buon appetito!



Neste ponto, uma pequena, mas importante dica: Experimentei a receita três vezes e a que mais me convenceu foi quando adicionei, ao molho de manteiga, uma pequena xícara de vinho branco um minuto antes de juntar o ravióli.  

Vinho? Um bom branco chileno.

Bacco

 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

QUASE ZERO....


Se alguém ainda dúvida que os dias gloriosos das etiquetas caríssimas, glamorosas, parkerianas etc., que dominaram a mundo do vinho nas últimas cinco décadas, estão a caminho do inclemente declínio, pode começar a esquecer os Gaja, Pera Manca, Masseto, Vega Sicilia, Dal Forno etc.



É bom ir se a costumando com a ideia que no futuro próximo vinhos leves, fáceis de beber, baratos descompromissados, como Lambrusco, Prosecco, Beaujolais, Bardolino, Grignolino etc., que foram desprezados, abandonados, quase ridicularizados, mas se e quando comparados aos vinhos sem álcool, da mais recente moda vinícola são verdadeiros Romanèe-Conti.



Semana passada, ziguezagueando pelas gondolas de um supermercado, tentava descobrir promoções para reabastecer minha quase espartana geladeira.

Um presunto, aqui, um salmão defumado, ali, algumas fatias de peito de peru, acolá e.....Espumante sem álcool?

A nova moda, dos vinhos desalcoolizados, que está avançando na Europa, de forma implacável e irrefreável como as hordas hunas, chegou às gondolas dos supermercados italianos.



A curiosidade venceu a prudência e, sem pensar muito, acomodei, no carrinho, ao lado de salmão, peru, presunto, etc., uma garrafa de “Z&RO”, espumante produzido na Alemanha e importado pela “COOP”, maior rede de supermercados da Itália.

Impaciente, curioso, ao chegar em casa abri, imediatamente a garrafa de “Z&RO” (se alguém estiver sorrindo maliciosamente e já pensando em me criticar por não ter refrigerado a garrafa, informo que a temperatura, naquele dia, não superava o 5º, então...)

A primeira impressão visual já não me convenceu positivamente.



A cor, amarelo pálido esverdeado, mais próxima a do refrigerante (Sprite/7up) do que a clássica do vinho Riesling, com a qual o “Z&RO” que fora produzido, anunciava que os 11,50 Euros, desembolsados pelo espumante alemão, haviam sido hiperbólicos.

As bolhas, grosseiras, parecendo bolinhas de gude, mais uma vez me trouxeram à mente os refrigerantes mencionados.

Na taça, o aroma surpreendeu positivamente.



Interessante, elegante, delicado, ao nariz, o “Z&RO” emanava sutis aromas cítricos.

Um pouco mais animado e esperançoso levei a taça à boca e...... Se eu acrescentasse um pouco de vinho branco, barato, comum, ao Sprite o resultado seria quase o mesmo com um custo bem menor.

O “Z&RO” é uma interessante opção para os que, por razões de saúde (diabete, por exemplo) não podem beber alcoólicos, não querem engordar, precisam dirigir, jovens, etc., mas o espumante-refrigerante está ainda tentando encontrar uma maior qualidade e personalidade.



Outro grave defeito do “Z&RO” é que “desaparece” ao acompanhar até um simples pão de queijo: Não tem estrutura para ser consumido com comida.

Um vinho para beber na praia, à beira da piscina, em um dia de intenso calor tropical, mas nada além disso.

Há uma verdadeira “invasão” de vinhos sem álcool ingressando no mercado e alemães, espanhóis, franceses, italianos etc., estão apostando alto na nova moda e a cada dia aparecem mais e mais etiquetas de tintos, rosés, brancos e espumantes.



Restrições, sempre mais rigorosas e severas, para quem dirige “bebum”, estão aconselhando os enófilos a mudar de hábitos e diminuir significantemente o consumo de bebidas alcoólicas.

Os jovens, os mais visados pela blitz da polícia, estão fugindo, sempre mais, dos super-alcoólicos e aproando nas taças de vinhos desalcoolizados.

O “Z&RO”, parcialmente desalcoolizado (0,5%) e gasificado, não vale a metade dos 11,5 Euros que paguei para satisfazer minha curiosidade, mas abriu um caminho que voltarei a percorrer sempre com maior frequência.

Bacco

PS. Não tenho dúvidas que, muito em breve, nossos produtores de “vinhos-tremendas-bostas”, insuperáveis no oportunismo, na química, manipulação nas adegas e na propaganda enganosa,  lançarão os melhores vinhos sem álcool do mundo”.



É só aguardar.....