Produzir vinho foi, gradativamente, se transformando em um
ótimo negócio haja vista quantas multinacionais investiram e continuam
investido no setor.
O mais importante de tudo, para os modernos produtores de
vinho, é o lucro; custe o que custar o lucro é o a meta a ser alcançada.
Tradição, cultura, amor à terra, a figura do viticultor suado,
mãos sujas, calejadas, assando ao sol é coisa do passado, faz parte do
folclore.
Hoje qualquer vinícola, mesmo a de médio porte, possui
departamento comercial, de marketing, de propaganda, enólogo, etc. etc.
Nada é deixado ao
acaso, tudo é planejado e sempre com as antenas ligadas às tendências e
mudanças no mundo do “Vinho-Moda”.
A moda é parkeriana? Vamos produzir vinho “marmelada.
A tendência pende para os vinhos biodinâmicos? Comprem todos
os chifres e bostas de vacas disponíveis e vamos fingir que os produzimos
O eno-tontos querem vinhos “ânfora”? Contatem todas as olarias
da região.
A mais nova e terrificante moda: “Uma Praga Chamada Prosecco”.
O Prosecco, com seus números estonteantes e que não param de
crescer, fez borbulhar o coração de incontáveis novos “Dom
Pèrignon” que, sem o mínimo
escrúpulo, pudor ou vergonha, resolveram inundar o mercado com intragáveis e horríveis
espumantes.
Em todos os cantos do mundo as bolhazinhas seduzem e alegram
(será?) taças, mentes e corações ...
Na Itália, pátria da “Uma Praga
Chamada Prosecco”, de norte a sul, de leste a oeste, a “mania
espumante” tomou conta do mercado vinícola.
Milhares de etiquetas
anunciam bolhas vinificadas com as mais inimagináveis e menos recomendadas uvas
com a esfarrapada desculpa de que “Espumantizar” é preciso.......
Quando a vinícola encontra alguma dificuldade, ou não possui
capacidade técnica para produzir espumantes, recorre às indústrias
especializadas (há muitas).
Troca de ideias, quantidades desejadas, faixa de preço, qual uva
e....Voilá: Branco, Rosè, método clássico (será?), Charmat ou Martinotti, não
tem problema.... basta assinar o contrato e em poucos dias o novo “espumantista” receberá seu borbulhante vinho embalado,
etiquetado e pronto para inundar o mercado com mais uma tremenda bosta.
A farsa das bolhas falsas.
Na Itália há incontáveis vinícolas que, nos últimos anos,
inseriram em seus catálogos pelo menos, um espumante.
Uma verdadeira “Torre de Babel” borbulhante Espumantes
produzidos com uva nem sempre as mais indicadas: Cortese,
Barbera, Bianchetta Genovese, Ribolla Gialla, Vermentino, Verdicchio, Pinot
Bianco, Pinot Grigio, Grechetto, Priè Blanc de Morgex, Torbato, Pecorino,
Sorbara, Manzoni, Malbec, Aglianico, Albarola, Greco, Malvasia, Garganega,
Trebbiano, Falanghina, Susumaniello.......E se mais casta houvera, lá
chegara.
Não é preciso dizer que a esmagadora maioria desses espumantes
é deplorável, mas há algumas denominações, como Franciacorta, Trento, Oltrepò
Pavese, Alto Adige, que revelam garrafas de boa e até ótima qualidade.
O resto é o resto......
Dois dos piores espumantes, que provei nos últimos tempos, são
típico exemplo de como, de norte a sul, é possível produzir tremendas-bostas.
“Alta Langa", pomposa denominação que os piemonteses inventaram
para doar um ar de seriedade e qualidade aos espumantes que são produzidos em
vinhedos acima dos 500 metros, onde antes somente havia avelãs, pastagens e
bosques, oferece algumas garrafas interessantes, mas uma infinidade de
porcarias.
Uma delas: “Passe Partout Brut”, espumante vinificado, com uvas
Chardonnay e Pinot Noir, pela vinícola Barberis, é um belo exemplo de como não
se deveria abandonar o cultivo de avelãs para se dedicar às bolhas em terrenos
que nunca revelaram, antes, vinhos importantes.
Fui convidado, pelo proprietário do bar “Sun-Flower”, de Santa Margherita, para degustar e em seguida
opinar sobre o espumante “Passe-Partout” da vinícola Barberis
sediada em Cortemilla.
Consegui repetir o primeiro gole apenas para me certificar que
estava, pela enésima vez, bebendo mais um espumante ,“Alta Langa”, de qualidade mais que discutível e que nunca voltaria a beber.
Mais uma coisa: O “Passe-Partout” custa tanto quanto o “Ferrari Brut” e não vale nem a
metade....Fuja.
Do Piemonte, estremo norte da Italia, voei, nas asas do “L’Archetipo
Sussumante”, espumante, rosé, realizado com uvas Susumaniello, para
o sul da Bota e constatei que sempre é possível piorar o que já é ruim: O “L’Archetipo Sussumante” consegue ser pior
do que o “Passe-Partout”.
O proprietário da “Vineria
Macchiavello”, que adora “descobrir” novas garrafas , com o lamentável L’Archetipo Sussumante”, conseguiu o impossível: Encontrar uma vinícola
“Sadim” (Midas ao contrário) que consegui transformar uma ótima uva,
Susumaniello, em um espumante tremenda-bosta.
Graças à “Uma Praga Chamada Prosecco” os
enófilos de todos os cantos do planeta assistem, impotentes e estupefatos, a um
verdadeiro tsunami de espumantes deploráveis.
Minha nova “missão”: encontrar tremendas-bostas e revelar suas
identidades aos leitores de B&B.
Meu paladar que aguente....
Bacco