Você já ouviu e leu essa história diversas vezes, mas ela continua
acontecendo por aí.
A receita é simples: um produtor de uma região vinícola consagrada, em
um país com séria produção vinícola, um dia acorda e ....“Meus vinhos são muito
baratos. O que posso fazer para ter margens mais gordas, lucrativas? ”
Foi assim com a Barbera “Bricco dell’Uccellone”,
da vinícola Braida, no Piemonte.
Foi assim com os Beaujolais, foi assim com incontáveis etiquetas de “Chianti Classico Riserva” que eram e ainda são,
vendidos por preço de Brunello di Montalcino, enganaram vários eno-trouxas até
encalharem nas prateleiras e depois vendidos a preço de banana em promoções.
Alguns Cavas, também, enfrentaram
crise de identidade quando resolveram aproximar seus preços aos ostentados
pelas renomadas etiquetas dos bons Champagne.
Pois a praga se alastrou e chegou a um dos melhores vinhos simples que
existem: o “Vinho
Verde”.
Em janeiro, voltando do Brasil para a Hungria, fiz uma escala em Lisboa
e resolvi comprar uma garrafa de vinho verde, que sempre considerei o melhor “refrigerante”
para combater o calor; infelizmente, são poucas as lojas húngaras que vendem o
belíssimo vinho português daí minha decisão de levar na mala pelo menos um
exemplar dos verdes, então fazia sentido escolher algo da região.
Minha escolha recaiu sobre o “Reserva Azal e Pedernã” 2022, da “Quinta do Outeiro de
Baixo”; não lembro o valor exato que desembolsei pela garrafa, mas creio
ter sido algo próximo dos 12 euros.
Pensei: “se
os vinhos verdes são vendidos, nos supermercados
lusitanos entre 5 e 8 euros, pagar menos
de 15 euros, nos careiros duty free, não é um absurdo tão grande”.
Num sábado, com os termômetros
de Budapeste registrando 35 graus, resolvi abrir, durante o almoço, o “Reserva Azal e
Pedernã-Quinta do Outeiro de Baixo”.
A garrafa, alta e esguia, como as
dos melhores vinhos verdes, sugeria aquilo que há de melhor na região: frescor,
leveza, uma “drinkability” altíssima e aquele efeito frisante que tanto
apreciamos, mas ......não tinha nada e nenhuma lembrança disso.
A primeira e desagradável surpresa já aconteceu ao verter o vinho na
taça: o vinho ostentava pronunciada cor amarela, mais associada a vinhos
envelhecidos.
Pior: zero bolhas, zero frisante.
Pensei em acusar armazenamento
ruim, mas o duty free não é a Mistral e armazena os vinhos de forma adequada –
sem contar que, sendo safra 2022, nem teria envelhecido tão rapidamente assim.
Na boca, parecia um Prosecco, já à beira da sepultura, que há muitos
anos tive o desprazer de beber.
Mesmo se e quando comparado aos vinhos “comuns” portugueses, resultava
uma tremenda bosta muito aquém até das garrafas boas e baratos pelas quais
tenho o maior respeito: Alandra e Terras de Xisto
A “Quinta do Outeiro de Baixo” existe desde 1985, se orgulha de ter sido
agraciada em várias premiações regionais e tem, em sua relação de etiquetas,
alguns vinhos que parecem ser aqueles típicos verdes que tanto apreciamos.
É pena, no entanto, terem desperdiçado uma parte de suas melhores terras
para produzir um anti-vinho verde, uma aberração que, apesar de ter recebido um
prêmio (como a página da vinícola menciona) e de ter uma nota alta no Vivino,
não passa de uma frustrada tentativa de produzir, agregando-lhe a manjada e
ridícula “Reserva”,
um vinho mais caro, mais importante.
“Reserva Azal e Pedernã ”, “reserva” que nada acrescenta e muito engana, foi uma das piores
garrafas portuguesas que já consumi.
Uma pena.
Até tu, vinho verde?
Zé
Taga aqui. Acho que já comentei em algum post que me tornei, por fruto do acaso, um especialista em "sunset industries". Trabalho com isso. O nome é claro, mas pra quem nunca ouviu a expressão trata-se de setores que estão em queda permanente, como o cigarro por exemplo. Note algo interessante, ainda que o cigarro tenha sido excomungado da vida social, as souza cruz e philip morris da vida seguem por aí e ganhando muito dinheiro. Uma boa gestão de sunset garante vida financeira longa mesmo no declínio.
ResponderExcluirE o vinho? Começo a ver sinais claros que vejo nas empresas que conheci. Começa sempre por aumentos absurdos de preço, já que o volume não cresce. Depois tenta-se aumentar o portfólio (mix) colocando produtos mais caros pra puxar o preço médio pra cima. Clássico. O consumidor começa a não aguentar os preços abusivos. Os próximos passos são: redução da qualidade (principalmente nos produtos mais abaixos no portfólio), consolidação (empresas se comprando) e diversificação de renda (enoturismo, etc). As que sobreviver comprarão algumas das que falharem. Para o consumidor não é fácil já que uma vez que o volume não cresce, os preço não se tornarão convidativos de novo.
Perfeito! Concordo plenamente
ExcluirPeraí, Zé… Então você tem que deixar claro que está falando daqueles vinhos verdes simples, fáceis de beber, baratinhos, quando fala das bolhas e frizante. Vinho Verde, não necessariamente tem que ser assim, e os melhores, não são. Não sei se é o caso deste que você cita, que nem conheço. Mas é bom fazer a distinção.
ResponderExcluirsim, sim. vinho verde não necessariamente precisa ser assim, de fato, mas os melhores que já provei não fugiam desse estilo, que é o que me vem à cabeça quando penso na região e é o que acho que os torna, de certa forma, únicos.
Excluirrecomenda algum verde específico, entre seus preferidos?
Zé
Eu adoro os de Anselmo Mendes, Quinta do Ameal e Soalheiro. Bem, são mais caros e estilo diferente dos vinhos verdes que você citou. Mas são excelentes. No entanto, eu gosto também dos que você citou, com as famosas “agulhinhas”. São festivos, fáceis de beber e de bom preço (ou eram, como você citou…).
ExcluirVinho Verde sofre demais nas importadoras que o trazem sem o menor cuidado. A diferenca (mais uma) entre a qualidade na origem e no destino (banânia) da desespero. Creio que o José deu uma exagerada na bronca....vai ver foi uma garrafa meio desavisada. Teria que fazer o teste final; garrafa aleatoria da mesma safra.
ResponderExcluir"Deu la Deu" conseguia com bom preço num supermercado da região, porém faz tempo que nao aparece mais.
ResponderExcluirhttps://matogrosso.canalrural.com.br/mt-sustentavel/casal-investe-na-producao-de-uvas-e-vinhos-finos-em-mato-grosso/
ResponderExcluirNão vai demorar a chegar o vinho Maranhense.
..produzido pelo Sarney
ExcluirB&B, você acha que essa tremenda merda vai emplacar na Itália?
ResponderExcluirVinho em lata é lançado na Itália:
https://www.terra.com.br/diversao/arte-e-cultura/vinho-em-lata-e-lancado-na-italia,bead62f1f719145e209d4a5cee66037bqysm3reu.html?utm_source=clipboard
Taga aqui. Morei uns anos nos EUA, eles começaram com isso pq no verão é época de piscina e em toda piscina é proibido vidro (proibido mesmo!), então criaram vários vinhos leves (espumantes, brancos, roses) em lata pq a entrada é permitida nas piscinas. Também seguiram outras bebidas como hard seltzer etc... sobre esses vinhos, a qualidade é uma tremenda bosta, nenhum produtor sério embarcou nisso. É vinho pra adolescentes que querem ficar bêbados.
ExcluirDuvido que um país tradicional e com a cultura Italiana vá abraçar isso.
Taguinha voltou!!! 🙏🙏🙏
ExcluirVai emplacar, pois público alvo é o jovem. Jovem com pouca grana , pouco gosto, refinamento zero , que se liga em influencers, rap, tik tok, e outras merdas, vai adorar
ResponderExcluirOs números das indústrias já mostram um bom crescimento do vinho em lata ontem, hoje e no futuro. So buscar informacao. Mas as pessoas erram em pensar que o intuito do vinho em lata é a total substituição pelo vinho de garrafa. Um não mata o outro. Vinho em lata é super conveniente para levar para camping, praia, festas e o mercado dele está garantido durante um bom tempo. Garrafa em casa e no restaurante, lata na praia ou no camping. Meus amigos levaram um vinho em caixa recentemente ao camping (isolado de tudo). Nada mais prático e seguro...se bem que a qualidade sofre. Nao se pode ter tudo.
ExcluirMelhor que seja consumido vinho em lata que vodka, cerveja batata, rum, gin barato, ou qualquer outra porcaria. Ao menos do vinho em lata há chance de um pulo para coisas melhores. Ninguém nasce bebendo vinho de Cote D'or.
Tenho dito, Janjao Botelho Pinto.
Concordo com você, Janjão. Aqui no Japão tem vinho em lata, e não é é ruim.Melhor que destilado ruim.
ExcluirAss. Tikomo Nomato
Sobre nacionais... estive recentemente na serra catarinense e provei alguns dos vinhos locais direto das vinicolas. Muita coisa mal feita, vinhedos novos, gente inexperiente e vinificacoes em outros estados, mas um ou outro rótulo achei interessante. Achei um sauvignon blanc bem legal e um tinto de montepulciano que valia tomar a garrafa. 2 vinhos que precisamos evoluir, mas já dá pra tomar numa boa. O problema? O preço!
ResponderExcluirComprando direto da vinicola, poupando-os de todos os custos logísticos e de margens de varejo, o branco saia a R$130 e o tinto R$170. Seriam vinhos que fariam sentido a R$70 se vendidos ali, mas parece que a norma é sempre dobrar ou, se possível, triplicar o valor. Mais uma vez é reforçada a opinião de que o problema do vinho nacional vai deixando de ser a qualidade (pra quem garimpa) e sim a insana mania de cobrar margens indecentes e injustificáveis. Não contem comigo.
Bem observado. Eu andava comprando ocasionalmente vinhos brasileiros de um fornecedor especializado, em São Paulo. Ainda há algum deslumbramento, parado no tempo, e que poderia ser sintetizado na frase “olha, não é tão ruim” e que toma como parâmetro os péssimos produtos de um passado recente. Mas o prazer de notar que o produto nacional evoluiu e pode chegar a padrão de qualidade de razoável a bom, é logo superado pelos injustificados preços elevados. Ontem mesmo comprei algumas garrafas do bom Penfolds Shiraz Bin 128 da safra 2019, muito bem sucedida, por valores inferiores ao Syrah da Guaspari. A disparidade não se justifica pela tributação, pelo custo da produção e, pelas despesas geradas pela viagem transoceânica e, muito menos, pela qualidade. E por aí vai, são inúmeros os exemplos, em que os preços dos nacionais superam até mesmo bons exemplares franceses ou italianos da mesma cepa. É uma situação estranha, e que, mesmo contraproducente, se mantém. Concluo que deve dar lucro, e que, heroicamente, encontra seu nicho de mercado.
ExcluirExcelente complemento. Agradeço. Parece que as vinicolas nacionais adotaram a estratégia de "vender pouco, mas vender caro." Jogaram a toalha de disputar onde deveriam e obteriam vitórias (contra chilenos, argentinos e uruguaios em linhas de entrada e mediana) e resolveram criar uma narrativa (pra lá de questionável) que os bons vinhos nacionais tem que brigar com bons vinhos Europeus. Bem, o preço certamente está brigando com muito Europeu, mas a qualidade...
ExcluirVinho nacional é um bom Vinho da série B querendo vender ingresso a preço de champions league. Para com isso!
Receita faz operação contra comércio ilegal e apreende vinhos no restaurante Tuju, em SP.
ResponderExcluirhttps://www.google.com/amp/s/www1.folha.uol.com.br/amp/colunas/monicabergamo/2024/08/receita-faz-operacao-contra-comercio-ilegal-e-apreende-vinhos-no-restaurante-tuju-em-sp.shtml
Essa é uma guerra impossível de escolher um lado
ExcluirNaturalmente, o lado deveria ser o dos que recolhem impostos, o problema é que esses usam acordos de exclusividades e formam monopólios ou carteis de importação que cobram preços completamente abusivos. Usam seus poderes financeiros para manter um status de abuso predatório.
Por outro lado, escolher o lado do sonegador vai contra meus valores.
Guerra impossível.
E por aqui ainda conseguiram criar monopólios, cartéis e exclusividade na sonegação, oferecendo vinhos contrabandeados por preços similares ao dos importados, como parece ser o caso da matéria. Parece o ambiente da lei seca sem lei seca. Pródiga elite brasileira.
ExcluirHahhaha Bem colocado.
ExcluirTemos o pior dos 2 mundos.
Putaria com vinho importado na mala ou via Paraguai já faz mais de 40 anos que acontece em SP. Lojas famosas ou não compram e vendem vinhos sem origem legal, tem até homem de vinho na internet promovendo vinhos caríssimos que se forem legítimos ou legais, eu tenho 50 cm de penis. Flacido.
ExcluirMas não acho que trazer na mala seja putaria. Tem limite para isso. Se passa, é o risco do cidadão. Mas isso, é muito pouco frente ao descaminho que ocorre.
ExcluirConcordo com o colega que fala sobre os dois lados. Estamos entre a cruz e a espada. E quem toma na tarraqueta, no final das contas? Nem preciso dizer, né?
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