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terça-feira, 9 de julho de 2024

TERROIR NOIR

 


Você acredita naquilo em que quer acreditar. 

Sábias palavras de um primo terra-planista após uma conversa (mais para briga) entre família onde discutimos sobre pessoas meio inteligentes que acreditam em políticos, deuses, ETs, career coaches; chegando em terroir.

 Meu primo acredita que o político de estimação dele é honesto e que não pertence a ‘’esquemas’’. 

 


Terroir é uma palavra francesa sem tradução em nenhum outro idioma.

Significa a relação mais íntima entre o solo e o microclima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva, que expressa livremente sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho, sem que ninguém consiga explicar o porquê.

Definição do guia Larousse.

 


Há séculos somos embromados com essa lorota do terraplanismo vinícola; o famigerado terroir.

Que venha o linchamento dos guerreiros de internet. 

 

Os franceses são mestres na arte do storytelling.

Se você dúvida, eu mostro como provas (além dos vinhos):

A: o mercado de luxo que atualmente tem a família mais rica do mundo que vende bolsas e relógios de gostos duvidosos por preços acima de fígado e rins humanos na dark web;  

B:  perfumes (nossa, Franca, o único país do mundo com capacidade para fazer perfumes bons); 


C: artigos de higiene pessoal com denominação de origem. Sim, somente a França tem terroir único para produzir alfazema, violeta, limão siciliano rosa, cravo, capim limão…ninguém mais tem essa capacidade.

 


D: Patisserie. Algo que existe por todo canto do planeta, mas os franceses querem que acreditemos que só eles sabem fazer croissant e pães.  

Mais de uma vez (e já são várias) eu degustei vinhos espumantes Canadenses de British Columbia que estavam simplesmente maravilhosos, empolgantes, o que propiciou uma boa conversa com meu vizinho (eu o julgo como ótimo winemaker, com experiência em vários países, regiões e estilos de vinhos).  



De maneira simples e objetiva (como fazem os que sabem da matéria), ele me falou novamente que fazer vinho bom fica muito por conta da técnica.

Muito mais que o tal terroir. 

O californiano do vinho também sofre da síndrome francesa e adora falar que o terroir do Russian River Valley é o único do mundo, abençoado, etc.



 Que sono. 

8 trilhões de combinações entre solo, clima, e tudo que gira ao redor disso (fungos, bactérias, pragas, doenças, logística, ressonância Schumann, parreiral sobre cemitério indígena com corpos enterrados há 5000 anos) mais o manejo da [e na] lavoura (poda, enxerto, adubação, controle disso, daquilo) propiciam o resultado final que sempre deve ser o mesmo, idealmente: uvas com acidez correta para o tipo de vinho desejado com o nível de açúcar ideal para uma boa fermentação.

 Ponto.  



Uma visita a bonita (mais para agradável que bonita) região de Okanagan Valley (atualmente bem chamuscada pelos incêndios) mostra que há nada especial para produção de uvas por lá, como altitude, conchas do mar no solo, lua dourada, ganso que voa de cabeça para baixo… 



Contrariando a ideia de terroir especial e impar da Borgonha, Champagne, Bordeaux, Barolo (homenagem ao dono do blog), eu já tomei vinhos muito especiais da Argentina, México, USA, Canada, África do Sul, Líbano, Geórgia, Hungria, Eslovênia, Austrália, Sicília, Sardegna, Córsega, Ilhas Canarias, Inglaterra, Uruguai, Macedônia, Grécia, e (que venha o linchamento) do Bananal (não considero o custo dos vinhos, mas a qualidade).

Guardo na memória afetiva com carinho muitos espumantes e poucos tintos/brancos da nossa ilha do Bananal.  

Lembrete aos haters: Uma coisa seria região propicia e com aptidão agronômica para a obtenção de uvas legais para vinho e outra seria o terroir, algo que por si só (de acordo com Asterix e Jean Napoleon) parece garantir sempre vinhos únicos, maravilhosos que também tem custos únicos e maravilhosos (para as megaempresas que os produzem e os vendem). 

 


Você acredita naquilo em que quer acreditar.

Eu acredito que ter esperanças é perda de tempo e que tentam nos passar para trás toda hora - com ótimos resultados. 

Bonzo

 

34 comentários:

  1. Acho que é um erro pensar de forma binária: ou o terroir existe e tudo determina ou não existe e tudo é possível. Usando a Borgonha e a pinot noir como exemplo mais fácil, afirmar que terroir existe significa, numa versão extrema, afirmar que apenas na Borgonha é possível, numa versão extrema, produzir pinots de qualidade (aquela velha frase: não existe pinot noir fora da Borgonha). Isso, obviamente, é incorreto, pois existem pinots de qualidade em vários outros lugares do mundo.

    Uma versão mais moderada, que me parece correta, é afirmar que determinadas características do pinot noir apenas podem ser encontradas em vinhos produzidos na Borgonha. Isso é verdade, mas, ao mesmo tempo, nem todos os vinhos produzidos na Borgonha possuem essas mesmas características, pois é possível confundir pinots de outras partes do mundo com borgonhas. Ou seja, afirmar que terroir existe é correto, mas a afirmaçao deve ser usada com moderação.

    Afirmar que terroir não existe, por sua vez, signifca que características presentes em vinhos produzidos em determinadas regiões podem ser reproduzidas em outras, bastando ter uma produção de qualidade no plantio e na vinificação. Isso me parece incorreto, pois é possível correlacionar cacarterísticas de um vinho a uma determinada região, o que não siginifica que todos os vinhos originados desse local necessariamente tenham essas mesmas características.

    Vinho é um produto da terra e como tal pode - ressalto o pode - exprimir características da região. A Borgonha está aí para provar. Basta comparar um bom Volnay com um bom Pommard, que são apelações vizinhas, mas de perfis diferentes.

    O resto dos produtos mencionados - bolsas, relógios, perfumes etc não são um bom padrão de comparação, pois são fabricados a partir de insumos sem necessariamente uma delimitação de origem e que podem ser reproduzidos em qualquer parte do mundo.

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    1. Perfeito comentário. Existe sim um exagero marketeiro do velho mundo que visa barrar, usando a narrativa do terroir, o crescimento dos vinhos do novo mundo. Principalmente vinhos que disputam com bons padrões de qualidade. Entretanto não se pode ignorar as características de uvas iguais em territórios diferentes. Veja a Malbec na Argentina, na França e no Chile, dão vinhos muito distintos. Então há sim um componente de terroir, mas o golpe está em dizer que somente o terroir Europeu presta.

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    2. Concordo com os 2 acima. So reiterar que aptidao agricola somada a tecnica de viticultura e enologica são o famigerado (para mim) (e cobrado caro por isso) terroir.

      Bonzo Jones.

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    3. Sem dúvidas. Terroir pode ser uma eficiente estratégia de posicionamento de preços. Basta ver o exemplo de um vinícola recentemente inaugurada no interior de SP chamada Casa Tés, que já começou vendendo vinhos - de forma antecipada e mediante alocação, tal qual os bons bordeaux - falando num tal terroir do Vale da Grama, onde está localizada. E esse tal terroir custa mais de R$ 500 por garrafa no caso de um tinto, vendido apenas com no mínimo 3 unidades.

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    4. Mas aí não é terroir, é te-roubar

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  2. Terroir é uma palavra/expressão no mundo do vinho sem problema algum para mim. Estigmatiza vinhos de cada região do planeta com habilidade impressionante. Prove merlot 100% Bordeaux Pomerol e prove de outras regiões do planeta. Distinção inquestionável. Prove da merlot chilena 100% e de uma canadense, idem. A partir daí, fica a critério da preferência do consumidor, qual característica, que Terroir agrada mais seu paladar. Tem gente que prefere merlot nacional, Brasil tem seu Terroir? Claro que tem. Alguém pode não gostar de suas características, mas o Terroir brasileiro está dentro da definição. Agora, ficar explicando os pormenores do Terroir, aí já entra o marketing com suas artimanhas… é ganso, é varejeira, é de um tudo que se pode imaginar

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  3. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay. Vale para as bruxas borgonhesas e piemontesas e até para algumas vassouras aéreas de Bordeaux.

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  4. Essa materia é um primor, começa com os "comediantes" que viram o preço errado do Pera Manca no restaurante e entraram pelo cano e termina com a solução tabajara para seus problemas: vinho baiano.

    Isso no globo! A que ponto chegou nosso jornalismo...

    https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2024/07/09/lista-vinhos-baianos-premiados.ghtml

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    1. Pagou? Sem problema .....Grand Cru "Na Baixa do Sapateiro"

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    2. Pera Manca cai fácil na categoria um dos maiores vinhos blefe da história. Coisa de eno-corno mesmo. Jogador de futebol, bicheiro (dos que não tomam cerveja), cantor de funk, celebridades de BBB...

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    3. Que revoltado! Como você queria ter a bala na agulha de um desses para beber um Pera-Manca, né? É duro ser duro.

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    4. Sentiu, Galvão.

      Bebedor de Pera Manca de 4 dígitos kkkkk

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    5. Tá rindo do quê? rsrs. Já bebi vários Pera-Manca sim. Mas a maioria em Portugal. No entanto, prefiro o Barca. Aliás, prefiro muitos outros a ele (em questão de Alentejano, um Mouchão Tonel 3-4, por exemplo). Você pode até falar que o Pera é muito caro, o que concordo plenamente. Mas falar que é ruim, ou é por que não bebeu ou por que não entende nada de vinho.

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    6. Obviamente um vinho ao preço do Pera Manca tem OBRIGAÇÃO de ser muito bom. O-B-R-I-G-A-C-A-O. A questão central é: para se tomar um vinho tão bom quanto é preciso desembolsar isso tudo? A resposta é um sonoro não. É dinheiro mal gasto pra alimentar marketing. Existem vinhos no mesmo padrão de qualidade custando 40% ou ate mesmo 30% do valor dele.

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    7. Concordo plenamente. Isso, se considerarmos só Portugal. Citei o Mouchão Tonel, mas tem um monte na lista. E isso vale para o Barca Velha também, que apesar de ser um super vinho, que envelhece maravilhosamente, tem alcançado valores absurdos.

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    8. Nossa. Pera Manca, Barca Velha, Mouchão. Praticamente uma carta formada exclusivamente por vinhos superfaturados. Nada contra gastar um valor mais alto por garrafa - as vezes também o faço - mas custa ao menos usar o dinheiro em vinhos melhores do que esses aí?

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    9. Grande texto de Adriano Miôlo Mole...

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    10. Ué? Parece que você não leu (ou não entendeu) meu comentário. Eu disse que são superfaturados. Mas você dizer que são ruins, por favor.

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  5. Lá vem a velha e manjada discussão sobre vinhos que custam mais do que valem, etc. O problema de tudo isso se chama conta bancária. Se a sua é gorda, faça o que quiser com ela. Se não é, faça o que puder. Simples assim.

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  6. Simples assim? Conta bancária gorda? Sua "simplicidade obesa" é comovente, seu raciocínio, de magros neurônios, contundente

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    1. Seu raciocínio de pobre é que é comovente. Enquanto não pode, fique falando mal de quem não está nem aí em pagar o preço de um Barca, etc. Vai mudar a sua vida o fato de pessoas poderem, e você, não. Este é um dos defeitos do enochato - Não ficar contente com o que bebe e querer se meter na mesa ao lado.

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    2. Melhor ter raciocínio de pobre do que ser pobre de raciocínio. Você deve ser um coitado que come buchada de bode e arrota filé aos quatro queijos.

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    3. Olha, não sou fã de buchada de bode. Não por preconceito ou xenofobia, mas porque acho forte. Mas gosto do bode “jovem” (cabrito), se bem feito. Filet ao molho de 4 queijos, também não sou muito fã. Mas como, se me obrigarem.

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  7. Socorro, Bacco! Veja o novo "empreendimento" caríssimo dos enoloucos nacionais: um barco em MG que fica flutuando enquanto você bebe vinho mineiro. Eu pularia no mar sem salva vidas mesmo, prefiro me arriscar contra a correnteza e as criaturas da água do que com os vinhos mineiros.

    https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/gastronomia/minas-gerais-tera-o-primeiro-bar-de-vinhos-flutuante-o-almas-gerais/

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    1. Correção : pularia na água. MG não tem mar, nem vinho bom.

      Foi a força do hábito da expressão pular no mar.

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    2. "Almas Gerais"? Bebem o vinho e batem as botas?

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  8. Preparei um fantástico Dry Martini, com um bom London Dry Gin, e uma dose controlada do Noilly Prat. Em seguida, ávido por algum sabor mais doce, gerei um Manhattan, com um sublime Rye Whiskey da época da proibição norte-americana, mixado com um legítimo Carpano Rosso clássico milanês. E tudo isso por um preço muito abaixo de uma mera taça do Pera Manca e com muito mais prazer, compondo um réquiem aos amantes do suco de uva etílico. Vinho, só topo quando é realmente bom, quando me traz algo além de suquita, e daí vamos para Borgonha, Piemonte, Bordeaux, etc

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    1. Pronto! Agora B&B tem receitinha de drink para apreciar depois da partida de Beach Tenis, ao som do mais novo sucesso de Pabblo Vittar.

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    2. Hahahaha. É o cara das receitinhas românticas, para a noiva. Primo do Taguinha.

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    3. Vincular um Dry Martini a Beach Tênis e Pablo Vittar mostra enorme desconhecimento e algum desejo indizível que vaza pelo inconsciente. Bom gosto exige ecletismo, e permanecer apenas no mundinho do vinho barato é medíocre. Este blog permite comentários, e aqui se discute vinhos com viés qualitativo. E não sou o cara das receitinhas.

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    4. Hummm… Dry Martini! Não conheço. Novidade, né? E você se contradiz quando cita “mundinho dos vinhos baratos”. Quem estava falando deles? E não é o cara da noiva e receitinhas? Mas ele te inspirou, né?

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  9. Grandes vinhos do México, do Bananal... Discussão sobre Pera Manca, e situação financeira... Por favor, voltem Srs Bacco e Boca!!! Ahhhhhh....

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