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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

SABE QUANDO ...........

 

Enquanto Bacco escrevia, mais uma série de lamúrias, a respeito dos grandes ex-vinhos de Borgonha e da taxa de câmbio, eu pensei na relação, muito próxima, que há no mundo do cinema e dos vinhos.

Numa década de 50 qualquer, se gastava um tempo enorme para pensar, escrever, projetar, fazer e lançar um filme, mas a espera geralmente era recompensada.


Grandes nomes faziam grandes filmes.

Passou o tempo e os estúdios foram se modernizando, incorporando tecnologia às filmagens, massificando roteiros e lançando filmes à velocidade da vida moderna.

 Se não desse certo no cinema, mandariam tudo para VCR e/ou (mais tarde) DVD.  


E hoje temos Netflix (entre muitas outras) parindo séries medianas a cada semana e com atores de baixo orçamento.

Giro, giro, giro........

 Capitalismo do fluxo de caixa, antes, preocupação com qualidade, depois.....

 Com um pouco de sorte e muita boa vontade, no meio do furacão de lançamentos, podemos achar algo que permaneça na memória por alguns parcos meses ao invés de três únicos dias.

As novas gerações será que se preocupam se haverá, ou não, um “E o Vento Levou” ou “2001: Uma Odisseia no Espaço” a cada semestre?

Não!

Afinal, não conheceram o que não perderam, tampouco tem paciência para mais de 80 minutos de filme.

 As novas gerações querem filmecos sem nenhuma profundidade, sem interrogações, de consumo rápido, mas com muita militância da moda (que será esquecida em tempo também recorde).

Kubrick deve estar girando no túmulo no ritmo de cada lançamento de “Velozes e Furiosos’’ ou do milésimo filme de super-herói militando por uma sociedade mais justa, menos assédio sexual na sala de justiça e salario igual para a Mulher Maravilha e Super Homem

Onde entra, então, a Borgonha de Bacco?

Ninguém que seja proprietário em vinícola pro-lucro está hoje focado em fazer vinhos que são grandes e o serão pelos próximos 30 anos, tendo em conta que o mercado atual não quer isso.

 O consumidor “eno-mala-militante” não sabe nem que saber da riqueza histórica, filosófica, agronômica e cultural em consumir um vinho seco e intacto depois de 30 anos na garrafa, mas, sim, adora falar em vinho green, sustentável, vegano (Enoloide que enche a paciência, faz barulho na internet e nem compra tanto assim para ter essa fama toda).

Conheci Borgonha em 2002 e fiz glut-glut com os vinhos da Côte D’Or sem ter a mínima noção do que estava fazendo.

 Quando amadureci, um pouco mais, já não tinha condições de pagar pelos grandes vinhos da terra santa.

 Não sei o que não estou perdendo.

Lamento pelos que o sabem.

A boa notícia, depois de tudo isso?

Para cada ex-vinho épico de Borgonha podemos comprar com o mesmo custo umas 6 garrafas (no mínimo) de vinhos muito agradáveis da Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Espanha, Grécia, Portugal, Itália, Sul do Chile, das altitudes da Argentina, e inúmeras regiões produtoras dentro da própria França.

Quando os consumidores aprenderão a buscar alternativas excelentes a vinhos com qualidade e preços fora da realidade?

Quando saci-pererê cruzar as pernas.  

Percamos as esperanças. 

Bonzo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

BARDOLINO ZENATO II

 


 

É raro encontrar uma denominação vinícola que se assemelhe tanto à cidade que lhe empresta o nome quanto o vinho Bardolino.

Bardolino, linda aldeia, que se espelha nas límpidas aguas do Lago di Garda, apesar de geograficamente próxima dos Alpes, mais parece uma cidadezinha do Mediterrâneo.


 Cores brilhantes, clima ameno, tranquilidade total, a enseada de Bardolino transpira alegria, bem-estar (a aldeia já foi considerada e eleita a mais feliz da Itália).

Em um contexto como este, o vinho que leva seu nome não poderia ser encorpado, austero, impenetrável, demasiadamente alcoólico.

O Bardolino é um vinho com uma bela cor rubi, elegante, fresco, harmônico, muito agradável e alegre, até no nome.

O Bardolino Zenato não é o melhor que já provei, mas por R$ 59 duvido que se possa comprar, no Brasil, dos importadores predarore$$$$, um vinho mais honesto e mais adequado ao nosso clima.


O Bardolino, com seus 12,5º, pode ser bebido, ligeiramente refrescado, como aperitivo ou acompanhando carnes brancas e massas não muito condimentadas.

Com 65% de Corvina, 25% de Rondinella e 10% Molinara o Bardolino, é produzido em 16 municípios da província de Verona, província que revela, também, os renomados vinhos:  Amarone, Valpolicella, Soave, Custoza....


É sempre bom lembrar que o Veneto se coloca na 1ª posição da produção vinícola italiana com números impressionantes.

Área de plantada (vinhas) 78.000 hectares

Produção Vinhos: 9.000.000 hectolitros

Vinhos Tintos e Rosados: 30%

Vinhos Brancos: 70%.

DOCG 14 – DOC 28 – IGT 10.

Bardolino Zenato?

 Pode comprar sem medo

Bacco

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

BARDOLINO ZENATO

 


Costumo dizer e já repeti inúmeras vezes, que para escrever, comentar e opinar, com seriedade e segurança, sobre vinhos, é preciso conhecer a cultura, tradição e região onde foram produzidos.


Frequentado apenas bocas-livres de importadoras ou de produtores nacionais, as informações adquiridas sempre serão limitadas, escassas, insuficientes e facciosos.


 É bem provável que os conhecimentos, conquistados através do “Sistema Boca Livre”, sejam complementados com os memorizados no “Wikipedia-Teacher”.


  Os “mestres” dos incontáveis cursos, que torturam, sem piedade, os enófilos brasileiros, quase sempre são donos de uma formidável memória superficial e teórica que pode impressionar os “alunos”, mas na primeira pergunta mais complexa.......Vai dar merda.

Feita a pequena ressalva vamos ao que interessa.

Os intermináveis dias chuvosos, que resolveram “castigar” Brasília, me convenceram que estava na hora de abrir algumas garrafas de tintos.

Considero brancos e espumantes os vinhos mais indicados para beber no Brasil tropical.


 Beber “vinhões” tintos, encorpados, impenetráveis e muito alcoólicos, com o termômetro superando os 35º/40º, é uma das aberrações, infelizmente, enraizadas na (des)cultura do enófilo nacional.

Cultura importada que deveria ser deportada......

Tardes úmidas, de 16º/18º, me levaram até à Super Adega, que possui uma boa variedade de etiquetas.

 Resolvi perder meia hora para garimpar, se possível, algumas garrafas de tintos baratos, não excessivamente alcoólicos, fáceis de beber.


Um bom e barato Lambrusco, Pelaverga, Grignolino, Bonarda, Schiava, Rossese di Dolceacqua, Beaujolais, Côte du Ventoux, Marzemino etc.?

Nem pensar!

Lambrusco, encontrado no Brasil e barato, é uma tremenda bosta, imbebível e invariavelmente adocicado.

O Beaujolais, das prateleiras, é quase sempre “idoso” e caro.

Os outros elencados não chegam até Brasília nem por decreto.

Depois de um longo ziguezaguear, pela adega, encontrei, escondidas, em um canto, três garrafas de “Bardolino Zenato 2017” por modestos R$ 59

.

Território

No início da matéria afirmava que para escrever ou comentar vinhos seria importante conhecer o território onde foram produzidos.


Posso assegurar, sem falsa modéstia, que conheço e já não lembro quantas vezes visitei as inúmeras aldeias que embelezam o maravilhoso Lago di Garda.

 Bardolino, cidade que empresta o nome ao vinho é, na minha opinião é uma das localidades mais bonitas da região (as outras, também imperdíveis, são: Sirmione, Lazise, Malcesine, Torre del Benaco, Salò, Limone sul Garda)

Continua

Bacco

 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

BORGONHA MON EX-AMOUR II

 


Devo admitir que não foram somente “preços franceses” os causadores do meu desencanto com Borgonha.

A Borgonha assusta, mas devo admitir que a Itália, apesar de ser um pouco mais barata, espanta, também, qualquer cartão de credito.


O que realmente pesou foi a relação preço/qualidade de seus grandes brancos.


A mítica qualidade e a proverbial resistência ao tempo, já não são as mesmas e, sinceramente, gastar 150 Euros para comprar uma garrafa de Chardonnay-manteiga, já não me seduz.

Apesar da covid, que quase zerou as vendas para restaurantes e bares, as garrafas da Côte D’Or continuam vendendo, como se nada tivesse acontecido, para chineses com os bolsos cheios da grana ganha com a venda de máscaras de 5ª categoria.


Como se não bastassem os preços, sempre mais salgados, a qualidade sofreu sensível declínio e devo admitir que, com muita frequência, estou cozinhando com vinhos de 1er crus de Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet, Meursault etc.


Somente este ano abri três 1er Crus mais mortos do que o time do Botafogo e que foram parar nas panelas.

Abandonar a Borgonha, de vez, seria uma grande tolice.

 Decidi, todavia, rarear as idas até a Côte D’Or, reeditar minhas primeiras

 viagens e dirigir novamente minhas atenções aos vinhedos do Mâconnais,

 onde, por sinal, nunca tive decepção.


Na próxima primavera europeia e quando o gelo derreter, vou limpar a poeira do carro, tomar a estrada até Mâcon, visitar vinícolas em Solutrè, Vergisson, Fuissè, Chaintré e comprar algumas caixas de ótimos Chardonnay por (espero) 15/25 Euros.

Salientei “espero”, pois, desde novembro de 2020, o INAO (Institut national de l’origine et de la qualité) reconheceu e autorizou os primeiros 22 1er crus da denominação “Pouilly-Fuissé”.

Com o reconhecimento é bem provável que os viticultores da região tenham sido atacados pelo mesmo “víru$$$$$” que se disseminou pela Côte D’Or e mandem para o espaço sideral os preços dos novos “1er eleitos” “Sur La Roche”, “La Frèrie”, “Les Crays”, “Les Clos de Solutrè”, “Les Chevrières” etc.



Não tenho dúvidas que haverá uma elevação nos preços e que os 1er Crus custarão o dobro, ou quase, dos “plebeus” Pouilly-Fuissé.

Caso ocorra o fenômeno da “super-levitação” é sempre bom lembrar que apenas alguns minutos de carro separam as caras garrafas de Pouilly-Fuissé das bem mais acessíveis e também, ótimas de Pierreclos, Saint-Véran, Pouilly-Vinzelle, Viré-Classé, Pouilly-Loché, Mâcon-Village......

Mais uma lembrança: Os amantes de grandes garrafas de Chardonnay sabem que um pouco mais ao norte (130 km) de Beaune, há Chablis onde, por 20/40 Euros, é possível comprar grandes garrafas com pouquíssima manteiga e quase zero madeira

Continuo apaixonado pela Borgonha, mas a crise me obrigou a buscar amantes mais acessíveis.....

Caso a Borgonha se torne amante de diamantes, haverá, sempre e ainda bem, a insuperável Champagne e seus inimitáveis vinhos



Bacco.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

SEJA O QUE IEMANJÁ QUISER....

 

Pessoa querida presenteou-me com a assinatura de uma dessas revistas especializada em críticas de vinhos, reportagens, fotos idílicas, etc. já comentada (entre outras) e sempre lembrada aqui: Wine Cascateitor


Presente de grego (como será que dizem na Grécia?)

O lado positivo: Reportagens sobre vinho, muita paisagem bonita, gente bem vestida, comida boa e algumas histórias.

 Tudo superficial e fácil de ler.

 Conteúdo compreensível e digerível para não incomodar o consumidor que quer paz no final de semana e alguma alegria para fugir da realidade (políticos, parentes, pandemia, pindaíba, os famosos “4p” de que tanto se falava nas aulas de marketing).

Há bastante vinhos, também, com pontuações (ainda não acabaram com essa praga) até contidas para os padrões atuais: 86, 87, 88 pontos, mas sempre descritos de uma forma que me faz pensar que a NASA já produz vinho; muitos aromas, muita complexidade, tudo muito típico e fresco...– todos ganham um elogio ou afago.

 Parece blog de eno-ebrio brasileiro.

O que menos gostei (e a assinatura está apenas na metade do campeonato): Eles afirmam que degustaram 12 mil garrafas, às cegas (opa), durante o ano.

 Em uma edição posterior, as 12 mil garrafas “emagrecem” para apenas 11 mil e no mesmo exemplar, mas em outra página, mais adiante, engordam as garrafas degustadas para nada modestas 16 mil unidades.


Huuuummm.   

Há bastante reportagens, politicamente corretas, apresentando vários grupos étnicos e diferentes níveis sociais: Enólogos afro emergentes, sommerdier feminina (feminine?) comandando empresas e eventos, reportagem sobre o mundo dos sommerdiers- predadores- sexuais, reportagem sobre os cães de donos de vinícola...

Ainda falta reportagem sobre vinhos para pessoas “trans”, uva de gênero neutro...

Meu maior “problema”, com a revista, foi a edição de fim de ano com a famosa lista dos sem (100) melhores vinhos.

 Eles informam que a lista é elaborada levando em conta 3 fatores.

 A saber:

1.       Qualidade do caldo (urgh)

2.       Preço

3.       O “X fator”, que segundo eles é um mix de história e de algum fato muito importante referente ao vinho e/ou vinícola.  

Show de coisas intangíveis, bem subjetivas, mas vamos lá....

O tanto que eles misturam vinhos super baratos ao lado de  “ícones” bem caros, desanima.

A era da inclusão vinícola (um sistema de quotas desse setor) chegou à lista dos semmelhores.



Teria o ”Los Vascos Sauvingon Blanc” uma história tão interessante e linda que justificasse sua presença entre os 50 melhores vinhos do mundo?


Naturalmente toda e qualquer vinícola bem ranqueada, na edição, comprou uma inteira página de propaganda......


Mais uma vez e como sempre: quem seria louco de falar que vinícola desconhecida de pirambeira da bairrada, que produz 400 garrafas/ano, seria a primeira colocada (lembra do “X fator”)?

Várias grandes regiões, sub-regiões, países e uvas “esquecidas “ e nem mencionadas.

Champagne poderia preencher uma lista, de qualquer revista, com 50 etiquetas, no mínimo

 Bordeaux?

Outros 50 e, até jogando com a seleção “B”, a Espanha emplacaria outros 50.

10% do território italiano, de qualquer localização geográfica, já forneceria uma lista dos “sem melhores e o mesmo aconteceria em 5% do território vinífero francês...

Calma, que há mais.

Qual caminho seguir para ter um vinho avaliado pela “Wine Especulator”?

Leia.....vale a pena e tire suas conclusões.

https://www.winespectator.com/articles/how-to-submit-wines

Se você leu com atenção, viu que há vários furos na narrativa da degustação às cegas.

Além da lista dos sem” melhores, temos a lista de ‘’smart buys’’. 

Aqui existe uma suruba de notas e comentários que jogam em todos os times, e para todos os lados:

A lista de ‘’smart buys’’ realmente parece decente e sem nenhuma surpresa desagradável.

Preços comedidos, os pontos limitados (90, pouco mais, pouco menos...), mas há uma chuva de elogios aos vinhos que não tem nada de diferente dos que constam na lista dos sem melhores na mesma faixa de preço.

Como pode, um vinho com ótimo preço e qualidade, ter ficado fora da lista?

 Lembra do X factor?

Tem 1001 utilidades.

Aqui a inclusão vinícola teve limites. Somente X Factor explica tudo isso.

Ler essas publicações não dá um certificado de tonto a ninguém.

 São um bom passatempo e informam, mas a suposta força que atribuem às listas, de todas as revistas similares, está mais para enoloidismo.

Não há “X Factor” que cure um enoloide convicto.


 Nem ivermectina (diziam que ivermectina curava enoloide….mais uma lenda urbana).

Percamos as esperanças.

Bonzo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

BOURGOGNE...MON EX-AMOUR

 

Disse, repetidas vezes, que para conhecer, escrever, comentar, opinar ou ministrar aulas, sobre vinhos, é preciso viajar (muito) para conhecer as tradicionais regiões produtoras.

Quem acredita ser possível aprofundar conhecimentos frequentados um dos inúmero cursos, muitos dos quais são picaretas e nascem em todos os cantos do Brasil, como cogumelos após a chuva, está redondamente enganado: A esmagadora maioria dos que ministram “cur$os” não tem preparo adequado, conhecimento prático, nunca saiu do Brasil para conhecer os países produtores da Europa e quando o fez foi através de algum patrocínio das importadoras-predadoras.


O patrocínio sempre é oferecido pelas importadoras que, como todos sabem, não são empresas  beneficientes e cobram retorno em propaganda, indicações, sugestões etc. para suas garrafas estocadas.

Os “professores”, que aí estão, quase sempre foram formados por outros “professores” que, também, nunca, ou quase nunca, viajaram e também se (de)formaram com outros “mestres” de araque e por aí vai.....

O melhor curso e melhor professor? “Método Google”, eficaz, barato e confiável.

Outra vantagem do “Método Google” e que com o dinheiro poupado você poderá viajar, pelas regiões vinícolas do velho mundo e aprender na fonte.

Uma semana em Beaune, Alba, Porto etc. “ilumina” mais do que um ano frequentado cursos picaretas onde nada de importante se aprende.

O Goggle é também mais seguro: No Google não se corre o risco de ser obrigado a rebolar e degustar, entre-copos, “tremendas-bostas” como a Barbera da Perini

Quando escrevo: “conhecer regiões vinícolas”, me refiro aos países europeus e naturalmente descarto o Brasil que ainda hoje vinifica 80% de seus quase-vinhos com uvas não viníferas e que continua sendo o purgatório dos enófilos e paraíso dos produtores-predadores.

Frequentei, confesso, quase envergonhado, durante três semanas, a ABS de Brasília.

 Abandonei a associação depois de uma degustação, de vinhos nacionais, comandada por um “professor” que não sabia distinguir um Merlot de um Cabernet Sauvignon e após ouvir o presidente, de então, declarar que não sabia da existência do Champagne Blanc de Blanc.

Foi fácil perceber que a ABS Brasília era um balaio de incompetentes e uma piada de mau gosto.

Uma herança modesta, que uma tia benevolente me deixou, nos anos 1980, me permitiu viajar, várias vezes por ano, pela Europa vinícola: Itália e França em 1º lugar e 2º lugar respectivamente.

“Morei” em Alba, La Morra, San Quirico D’Orcia, Montalcino, Arona, Chiavari etc.

  Percorri quase todas as regiões italianas, visiteis a Borgonha, Alsácia, Languedoc, Provence, Champagne e Rhône um sem número de vezes, conheci muitos produtores (alguns se tornaram amigos) e.....li muito.


Deveria começar minhas “lembranças & lambanças” de viagens pela Itália, mas em minha última matéria declarei que escreveria “Bourgogne, Mon Ex-Amour” e assim, a Borgonha será alvo de meu primeiro eno-tour.

Mas por que “Bourgogne Mon-Ex Amour”?  



Explico: Não deixei de amar a famosa região vinícola francesa, mas alguns fatores e várias decepções, diminuíram a chama da antiga e irrefreável paixão.

Três fatores contribuíram para o meu arrefecimento: o câmbio quase irracional, os preços “franceses” e a qualidade que algumas vezes deixou a desejar: A qualidade já não justifica os preços.

Eu era feliz, e não sabia, quando, desde os anos 1990, até os anos 2000, um Euro valia 1,7/2,8 Reais.


A Europa era barata, acessível, os preços franceses não assustavam e até os Grands-Crus da Borgonha eram abordáveis, convidativos.

  Não recordo quantas garrafas de Criots-Bâtard-Montrachet, Bâtard-Montrachet, Montrachet, Chevalier-Bâtard-Montrachet, Chambertin, Vosne-Romanèe, os Chablis Grenouilles, Blanchot e Valmur, Clos dela Roche, Charmes Chambertin etc. bebi e comprei naqueles anos, mas posso assegurar que não foram poucas.

Passava mais tempo vadiando por Beaune, Chablis, Mâcon, Puligny-Montrachet, Meursault, Solutrè, Vergisson, Saint-Amour, Mercurey, etc. do que em minha casa, no Brasil.

Aos poucos, mas inexoravelmente, “La Vie em Rose” foi se transformando em

 “Que Reste-t-il de Nos Amours" quando o Euro chegou aos R$ 6.5

https://www.youtube.com/watch?v=oV-MyH_E9-0

Hoje, na Borgonha, uma refeição, decente, “irrigada” com duas taças de vinho, não sai por menos de 45/50 Euros.

Se somarmos o mínimo necessário para “sobreviver” todos os dias (hospedagem + 50 Euros, gasolina + 30 Euros, aperitivos + 30 Euros), uma semana de Borgonha, sem comprar nem uma pasta dental, aliviaria o cartão em quase R$ 10.000.



Ir até a Borgonha e não comprar algumas de suas famosas garrafas seria como ouvir um discurso sobre “O Politicamente Correto” sem vomitar...impossível

Meia dúzia de garrafas dos 1er cru da Côte de Beaune e meia dúzia dos da Côte-de-Nuits, aliviariam a carteira em não menos de 1.000 Euros (R$ 6.500), assim, uma semana “bourguignonne” queimaria nossas reservas em quase R$ R$ 17.000.

Se o passeio for realizado por um casal então .....

Continua

Bacco