Facebook


Pesquisar no blog

terça-feira, 25 de maio de 2021

HISTÓRIAS E RECEITAS (VELLUTATA DI CECI E GAMBERI)

 


Tentei, várias vezes, reservar uma mesa no “Gambero Rosso”, mas sempre sem sucesso.

Já havia desistido quando em um dia de novembro, frio, nevoso e triste, ao retornar de um passeio pela fantástica “Val D’Orcia”, para não enfrentar o mau tempo, resolvi dormir em San Vincenzo.

Como de costume, quando estou em San Vincenzo, “aterrisso” no Zanzibar para uma rodada de Champagne.


Enquanto a neve caia sem parar e o frio continuava cortante, olhei para vizinho “Gambero Rosso” e resolvi, mais uma vez, telefonar.

Bingo!

O mau tempo havia assustado todos os clientes e minha reserva foi finalmente aceita e confirmada para às 20 horas.

O que aconteceu naquele jantar pode ser lido na matéria abaixo

 https://baccoebocca-us.blogspot.com/2017/12/historias-ornellaia.html


A Receita

Passata di Ceci e Gamberi” (Purê de Grãos de Bico e Camarões)

 O grande prato de Pierangelini, que alavancou o sucesso de seu restaurante, é muito fácil e simples de fazer.

Ingredientes

 1 pacote de grãos de bico

200 gramas de camarões médios

Alecrim, tomilho, hortelã, alho, sálvia, gengibre, limão siciliano, azeite.

Preparo

Coloque os grãos de bico em uma panela com água e deixe de molho por 12 horas.



Coe os grãos de bico e os recoloque na panela com com água limpa.

Em um saquinho de pano (gaze) junte tomilho, alecrim, um pequeno pedaço de gengibre.

 Adicione o saquinho aos grãos de bico regule o sal e leve à fervura.


Enquanto os grãos de bico cozinham coloque os camarões em uma panelinha e os faça marinar em azeite, sálvia, alecrim, raspa de limão siciliano.

Quando os grãos de bico estiverem cozidos (+ou- uma hora) coe, mas reserve a água do cozimento



Coloque os grãos de bico em um recipiente, bata com o mixer juntando aos poucos a água do cozimento até obter um creme não muito líquido.

Quando o purê estiver no ponto, frite rapidamente os camarões com o azeite da marinada (1 minuto ou pouco mais).

Com a ajuda de uma concha coloque o creme de grão de bico em um prato, decore com três ou quatro camarões, um fio de bom azeite e.......nada melhor do que um bom espumante para acompanhar.

Bacco

Bacco&Bocca Fofocas.

 “Passata di Ceci e Gamberi” do Fulvio Pierangelini... quem comeu, comeu e quem não comeu não come mais....

Pierangelini sucumbiu à “crise da meia idade” e se apaixonou por uma garota 25 anos mais jovem.

Esconder um romance em San Vincenzo, cidade com 6.500 habitantes, não é exatamente tarefa muito fácil.

 Pierangelini acabou se separando da esposa, fechou as portas do “Gambero Rosso” e hoje é consultor de uma rede de hotéis.

  

segunda-feira, 24 de maio de 2021

A QUARENTENA

 


.....finalmente e depois de sete cancelamentos, a Latam conseguiu me levar a Lisboa.

Algumas concessões, todavia, tive que fazer.

Meu bilhete original previa Brasília/Milão, mas a Latam continua sem voar para a cidade italiana.

Resultado: para poder retornar à Itália, após 7 meses e encerrar a longa lista cancelamentos, concordei em viajar para a capital portuguesa e comprar, na Tap, o trecho Lisboa /Milano.

Antes de retornar às matérias eno-gastronômicas gostaria de relatar a “Odisseia” (quase 40 horas somando voos e tempo de espera em aeroportos) Brasília/Milano.

Comecemos pela Latam.

A decadência da empresa salta aos olhos até de que tem catarata.....

Antes da fusão, Lan/Tam e até alguns anos depois, a companhia recebia o passageiro, na classe executiva, com uma taça de Champanhe Drappier e o Drappier continuava sendo servido, para quem o desejasse, até o destino.

Alguns anos depois já era possível notar a decadência da Latam quando substituiu o Champanhe por dois espumante: um chileno ridículo e o patético Valduga

Imbebíveis!

A decadência parece não ter fim e a Latam, nesta viagem, não ofereceu, ainda bem, nem o espumante Valduga.

Avião velho, poltronas sujas e duras, serviço de bordo inexistente ...... A Latam virou Latão.

Portugal recebe o viajante com controle rigoroso, que o momento exige, mas com rapidez e profissionalismo: em menos de meia hora passei pela imigração e entrega das malas.

O governo italiano tem verdadeiro pavor de viajantes provenientes do Brasil e não esconde sua preocupação; a tripulação da Tap, no voo Lisboa/Milano, distribuiu dois formulários, do serviço de imigração da Bota, que só não indagam se o passageiro tem unha encravada.

Uma via da “autodichiarazione” é entregue à tripulação e outra o passageiro deve apresentar ao controle da pandemia no aeroporto.

Mesmo vacinado, teste negativo, sem febre e passaporte italiano, ao desembarcar deveria realizar um novo teste PCR no saguão do aeroporto, me deslocar, com carro próprio ou alugado (transportes públicos, trem, ônibus etc. nem pensar), imediatamente para a minha residência e permanecer em quarentena por 10 dias.

Cansado e apavorado com o rigor dos italianos e a sombra da quarentena obrigatória, percorri quase um quilometro de corredores até à entrega de bagagem onde deveria ser efetuado o controle sanitário.

No longo percurso até o resgate da bagagem …. Ninguém.

Durante a longa espera, para a entrega das malas, ninguém apareceu para controlar os passageiros.

 No saguão do aeroporto, o grande gazebo, construído para a realização do teste PCR obrigatório, estava mais deserto do que repartição pública em dia de ponto facultativo.


A quarentena?

Foi concluída, ontem, quando bebi a quadragésima taça de vinho....  


Bacco

 

 

sábado, 1 de maio de 2021

O PRIMEIRO ORNELLAIA NINGUÉM ESQUECE 2

 

O título poderia ser: “O Primeiro Ornellaia Ninguém Esquece”, mas já escrevi uma matéria com o mesmo cabeçalho. Vamos, então, respeitar o original da série….

Depois de percorrer, incontáveis vezes, o “Piemonte-Vinícola”, resolvi que era chegada a hora de “descobrir” as vinhas, vinhos e cozinhas da Toscana.


Fiel ao princípio de somente comentar vinhos após aprofundar meus conhecimentos sobre a região onde são produzidos, decidi que minhas próximas viagens deveriam “desvendar” a belíssima região italiana.

Os caminhos vinícolas da Toscana são muitos e importantes.

Eis alguns:  Chianti (várias denominações), Brunello di Montalcino, Nobile di Montepulciano, Vernaccia di San Gimignano, Morellino di Scansano, Bianco di Pitigliano e.......Bolgheri.


 Sem muita pressa ou dirigir como um louco, posso tomar meu café da manhã em Santa Margherita e às 11,30 beber uma taça de Sassicaia na “La Bottega di Elena” em Bolgheri

 Pela proximidade e importância vinícola, decidi que minha primeira visita à Toscana (foram muitas) deveria ser, então, na pátria dos famosos e caros “Supertuscans”.


Jamais escondi que nunca nutri muito entusiasmo pelos vinhos “afrancesados” da “Maremma”, mas, naqueles anos, a moda, promovida e bombada por Parker e seus sequazes havia eleito Bolgheri e arredores o novo “Eldorado” vinícola italiano. 

Enoloides, de todas as partes do mundo, acreditaram na conversa melíflua do Parker e em pouco tempo transformaram bons (alguns) e regulares (muitos) Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, da Maremma, em caríssimas e icônicas etiquetas.

(Um “Masseto” 2015 custa, na Itália, escandalosos 1.000 Euros e mesmo assim, há muitos idiotas que continuam comprando.....) 


Já no final dos anos 1990 não acreditava, não consultava e nem dava bola para revistas, guias, pontos, “100 Melhores”, “Vinho do Ano” ou outras balelas e picaretagens do género: meu nariz, meu paladar, minha sensibilidade e repertório, já eram suficientemente evoluídos, não precisava, então, consultar “oráculos” ou “experts” nem sempre isentos ou honestos.

No mundo das etiquetas pontuadas há muito dinheiro em jogo e nem sempre a verdade aparece e prevalece....

A “Maremma”, na província de Livorno, não é exatamente o que há de turisticamente melhor na Toscana e seus atrativos não são comparáveis, por exemplo, aos da província de Siena, Firenze, Arezzo.


 Na “Maremma”, porém, além dos vinhos badalados, há uma refinada e importante cozinha e um bom número de ótimos restaurantes (4 deles estrelados Michelin).

Há época, na proximidade de Bolgheri (20km), mais exatamente em San Vincenzo, havia um restaurante que por 10 anos consecutivos foi considerado e reconhecido como o melhor da Itália: “Gambero Rosso”


Aquela viagem, para mim, mais importante do que os vinhos “maremmani” era conseguir uma mesa no “olímpico” e prestigioso “Gambero Rosso” do multipremiado chef, Fulvio Pierangelini


San Vincenzo é uma das cidades italianas mais feias que conheço. Uma marina para barcos e iates de médio porte, praia de areia escura e dura, meia dúzia de ruas, 500 metros de largura, 2 quilômetros de comprimento, duas dezenas de lojas comuns e sem atrativos ou importância, uma igreja “shopping” (o pároco aluga todo o térreo para lojas de souvenirs e roupas baratas), plana, como uma mesa de bilhar.…insossa, triste.

San Vincenzo e sua “feiura” recompensam os turistas com uma interessante estrutura hoteleira, bons bares e ótimos restaurantes.

Come-se e bebe-se bem, em San Vincenzo......


Marinheiro de primeira viagem, percorri os vinhedos que circundam Bolgheri, almocei “Zuppa di Fagioli Com Salciccia” (“Sopa de Feijão com Linguiça) no “La Bottega di Elena” e no final da tarde, depois de me hospedar, ancorei meu carro no porto de San Vincenzo bem na frente do, então, ótimo “Zanzibar”

O “Zanzibar” foi sem dúvida o melhor winebar/restaurante que conheci na região.

Ambiente informal e falsamente simples, escondia, em sua “planejada” simplicidade, uma sutil sofisticação que podia ser percebida na grande variedade e qualidade de suas etiquetas bem como na excelência de sua cozinha.


Para dar uma ideia, de como se bebia bem no “Zanzibar”, era possível beber, em taças, além de inúmeros vinhos locais, meia dúzia de etiquetas de Champanhe de boa qualidade.


Bebericando um Champanhe “Nicolas Feuillatte” (5 Euros…. Bons tempos aqueles), na varanda do “Zanzibar”, resolvi que aquela seria uma grande noite: Confiando e acompanhado pelo meu fiel cartão, decidi que jantaria no vizinho (50 metros) “Gambero Rosso”.

“Não aceitamos reservas antes de dezembro”.

Uma voz, com um toque de estudado “nonchalance”, me comunicou que talvez Papai Noel poderia me presentear, em dezembro, com uma mesa no “Gambero Rosso”....... Corria o mês de maio.

Continua na próxima matéria

Bacco

PS “Vellutata de Ceci e Gamberi” (Creme de Grão de Bico e Camarões) foi durante anos “Pièce de Résistance” do Gambero Rosso. A receita virá na próxima matéria....