Facebook


Pesquisar no blog

terça-feira, 28 de novembro de 2023

PENNE COM CERVEJA


 



Terça feira, fria, chuvosa…desânimo total.

Prevendo um longo dia chovediço resolvi consultar minha esquálida adega para tentar encontrar uma garrafa consoladora.

Um choque!

Meu estoque de Gavi “Minaia”, da vinícola Nicola Bergaglio, meu branco predileto do dia a dia (melhor custo qualidade da Itália) sumira, evaporara.



Ótima desculpa para tirar o carro da garagem e enfrentar os 90 km que separam Santa Margherita de Rovereto, pequeno distrito de Gavi, sede da Nicola Bergaglio.

Pouco depois das 11 horas, Diego, filho de Pierluigi Bergaglio, me abriu as portas da vinícola.



Um papo cordial, algumas informações acerca da safra 2023(boa) e Diego, como de costume, me ofereceu uma degustação de seus “Minaia”.

As garrafas escolhidas foram da safra 2021, 2020 e, pasmem, 2015.

Se não soubesse qual vinho havia na taça poderia jurar que a de 2020 era de um ótimo Chablis

Resultado: seis garrafas de 2021, mais seis de 2020 e três de 2015 foram parar no porta-malas do meu carro.

Total? 15 X 5,5 = 82,5 Euros (R$ 437)



Você, que comprou 13 garrafas de “Sauvignon Blanc Vista do Café” da Guaspari e pagou R$ 3.744 (706 Euros), vá até o espelho mais próximo e conheça um belíssimo trouxa.  



Se alguém, pago pela predadora de Serra da Mantiqueira, defender a “alta qualidade” do vinho da Guaspari, para justificar seu preço absurdo, este alguém, por nunca ter bebido uma gota sequer do “Minaia”, é um falsário.

By the way...eu já tive o azar de tomar uma taça do arghhhh, Vista do Café.



Terminada a degustação e compra, me despedi de Diego e rumei até a vizinha Gavi onde resolvi almoçar.

Terça feira de um chuvoso e cinzento novembro e você procurando restaurantes abertos em Gavi?

 Está sonhando?

Quando o sonho já estava se transformando em um famélico pesadelo.... “Ristorante La Canonica”

 Sem olhar, cardápio e preços, entrei.

Ambiente simples, poucos clientes e uma enorme, quase ameaçadora garçonete, de loiros cabelos e ares teutônicos..... “Pode sentar onde preferir”.



Obedeci sem delongas, me acomodei na primeira mesa que encontrei e consultei a carta de vinhos.

Quando a colossal loira me dirigiu novamente o olhar, pedi uma garrafa do ótimo Gavi, de Michele Chiarlo (15 Euros) e bebericando, consultei o menu.

Surpresa, surpresa....”Penne alla Birra” (Penne ao Molho de Cerveja”.



A curiosidade venceu a desconfiança e …. Ótimo prato que me impressionou e que agora "revelo" a receita

A RECEITA (4 pessoas)

Os ingredientes são poucos, o gasto menor ainda e a execução bastante simples (errei duas vezes, mas na terceira até superei o prato do “La Canonica”)

Ingredientes



1 pacote de penne ou similar

1 latinha de cerveja clara



3 colheres de manteiga

2 copos de creme de leite



Queijo Parmigiano, Grana, ou similar, mas de boa qualidade.

Sal, pimenta do reino.

Preparo

Coloque a água para ferver em uma panela e junte um punhado de sal.

Quando alcançar a ebulição jogue o macarrão na água e tampe a panela.

Enquanto as "penne" cozinham (tempo normal 8/10 minutos) derrame a cerveja em uma frigideira de bordas altas e, em fogo baixo, leve quase à fervura.



Quando a cerveja começar a borbulhar junte a manteiga e deixe derreter.

Em seguida junte o creme de leite e mexa até incorporar o todo.



Quando o molho estiver bem quente, adicione, aos poucos, o queijo ralado e sempre mexendo deixe engrossar.

Quase ao mesmo tempo, do preparo do molho, a massa deverá estar “al dente”.



 Coe as “penne”, jogue na frigideira, misture bem e sirva.

Buon appetito.

Bacco

   

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

CHAMPAGNE X ESPUMANTE 3

 


 A “mania das bolhas”, que tomou conta do planeta, é responsável pelo considerável aumento dos preços dos espumantes.

 Em conversa, Mauro Pietronave, proprietário do incrível “Gran Caffè Defilla”, de Chiavari (mais de 1.000 etiquetas na enoteca), deixou escapar que, além dos preços terem aumentado (10% em média), encontrava dificuldade em reabastecer sua adega para as festividades de fim de ano.



 Mauro, comentou que as marcas de Champagne e de espumantes, mais conhecidas e badaladas, estavam sumindo do mercado com impressionante rapidez: “Encomendei 24 garrafas de Krug e me entregaram apenas 6, Cristal e Salon recebi 3 de cada e  Giulio Ferrari, 6”.

O aumento dos preços não inibiu o consumo e as bolhas continuam quebrando recordes de produção e venda.



Há espumantes para todos os gastos, gostos e desgostos.

Para desgosto: Quase todos os Prosecco, pavorosos espumantes “Charmat” abaixo de 5/6 Euros e inúmeros “Método-Quase-Clássico” abaixo de 10 Euros.

Para gostos: Não pense que abaixo de 15 Euros encontrará algo sensacional, mas entre 18/28 há inúmeras e interessantes opções.

Algumas que recomendo abaixo de 30 Euros:



Enrico Gatti – Franciacorta Brut

Mattia Vezzola Brut Costaripa

Mattia Vezzola Rosè Costaripa

Ferrari Brut – Trento



Ferrari Maximum Blanc de Blancs – Trento

Ferrari Perlè – Trento Doc – Trento

Monte Rossa Blanc de Blancs – Franciacorta

Monte Rossa Brut Nature – Franciacorta



Monte Rossa Flamingo Brut Rosè – Franciacorta

Uberti Francesco I Brut – Franciacorta

Letrari Brut – Trento DOC



Barone Pizzini Animante Dosaggio Zero – Franciacorta

Cusumano 700 Brut – Sicilia

Murgo Brut Rosè – Etna Sicilia

Há muitos outros espumantes que merecem ser levados para casa, mas creio que a minha relação seja já bastante expressiva e representativa dos vinhos da Franciacorta, Trento DOC e Sicília.

Uma particular atenção: Todas as vinícolas mencionadas produzem, também, garrafas com preços “brasileiros” e que devem ser rigorosamente esquecidas.

Exemplo: “Ferrari Riserva del Fondatore”- 160 Euros



               “Monte Rossa Cabochon Fuoriserie” – 70 Euros

           “Letrari Riserva del Fondatore” – 120 Euros

Também esqueçam as marcas famosas que produzem espumantes nada excepcionais, questionáveis e por preços de fazer inveja aos predadores Valduga e Geisse: Berlucchi, Bellavista, Ca’ del Bosco, Antinori, Coppo etc.

Acima de 35 e no máximo 100 Euros não há conversa.....Champagne é a única e inteligente opção.

Algumas sugestões:

Billecart-Salmon - Brut Réserve



Berêche & Fils - Brut Réserve

Bruno Paillard – Extra Brut Première Cuvèe

Paul Bara – Brut Réserve Grand Cru

Ayala – Brut Nature

Michel Furdyna – Prestige Brut



Sadi Malot – Brut Nature

Jean Vesselle – Oeil de Perdix



Vazart Coquart - Grand Cru Blanc de Blancs Brut Rèserve.

Resumindo: Abaixo de 30 Euros vá de bons espumantes espanhóis, italianos, portugueses

Acima de 35 é Champagne e..... estamos conversados.

Bacco

P.S É sempre bom lembrar que espumante nacional custando mais de R$ 65/70 é roubo



domingo, 19 de novembro de 2023

CHAMPAGNE X ESPUMANTE 2

 



No mundo dos vinhos e vinhas há algumas denominações que, apesar de serem imitadas em todas as partes do planeta, conseguem permanecer sempre um degrau acima das incontáveis imitações.



Alguém já bebeu algo melhor do que um grande Porto ou Madeira?

Você já provou um Nebbiolo superior ao Barolo ou Barbaresco?

Há algum Chardonnay comparável aos fantásticos Chassagne-Montrachet e Puligny-Montrachet?



Notícia de Pinot Noir melhores do que os da Côte de Nuits?

São apenas alguns exemplos da famosa expressão francesa “TERROIR”.

Terroir, que a maior parte dos influencers, sommelier, críticos, jornalistas e eno-picaretas brasileiros, juram que signifique “terreno”, na língua francesa, mas na realidade é algo muito mais complexo.



 “Terroir”, termo mais complexo e completo que os franceses “inventaram”, é perfeito para determinar o que separa as imitações das grandes denominações que mencionei.

O “terroir”, também e especialmente no Champagne, é fator determinante.

Antes de continuar devo confessar (pela centésima vez) que considero o Champagne o melhor e mais completo vinho do mundo.


 Uma frase, do meu amigo Massimo Martinelli, resume tudo o que eu poderia dizer: “Quando você chega em casa cansado, depois de uma noitada de muita comida e muita bebida, mas ainda “precisa” de um copo para relaxar antes de dormir, qual a melhor opção? As mágicas e insuperáveis bolhas de uma taça de Champagne …”

Muitos, em todos os cantos do planeta, produzem espumantes, mas mesmo após séculos e séculos o Champagne continua dominando taças, mentes e....bolsos.

Minhas limitações geográficas não permitem que discorra sobre todos os espumantes que existem, mas, como pretendi, desde o começo, desejo escrever e tecer algumas comparações entre o Champagne e os espumantes italianos.



As mais importantes denominações italianas, de espumantes, são:

       Prosecco = 700 milhões de unidades

       Asti= 103 milhões

       Franciacorta = 20 milhões

       Trento Doc    = 15 milhões.

O meu comentário, de hoje, se limitará ao Franciacorta e Trento DOC que, em minha opinião, são os territórios mais importantes e representativos das bolhas peninsulares

As vinhas da Franciacorta se estendem por 2.902 hectares localizados em 19 municípios da Lombardia e a denominação abriga 121 vinícolas consorciadas.



A “Trento DOC” espalha seus vinhedos em 800 hectares e seus espumantes são produzidos em 66 vinícolas.

Números que empalidecem quando e se comparados aos da Champagne:   Em seus 24.000 hectares de vinhas “trabalham” mais de 16.000 viticultores que produzem nada insignificantes 325 milhões de garrafas.

As principais diferenças, entre os espumantes italianos, Franciacorta, Trento DOC e o francês Champagne, podem ser resumidas em uma única palavra: Terroir.

“Terroir”, como já alertei, não pode ser considerado apenas “terreno”.

 O terroir representa um conjunto de fatores: Clima, solo, variedades de uvas, tradições e cultura.



O “terroir” determina, também, o perfil dos “Vins Clairs” da Champagne.

Na Champagne, o “Vins Clairs” (vinhos base) possuem uma elevadíssima acidez e, não por acaso, muitos produtores recorrem à malolática para diminui-la.

A alta acidez, depois de muitos anos de afinamento “sur lies”, doa ao Champagne grande complexidade e um frescor quase cortante, duas de suas inimitáveis características.

A história, também, é importante no “terroir” das três denominações.



Franciacorta e Trento Doc emergem no século XX enquanto a cultura espumantística do Champagne nasce no século XVII.

 Alguns séculos acumulando preciosos patrimônios de experiências, conhecimentos, técnicas e que foram transmitidos de geração em geração, são mais algumas importantes diferenças entre as denominações.



Finalmente há o clima, a composição do terreno, mas não quero alongar, ainda mais, a matéria…

Continua.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

CHAMPAGNE X ESPUMANTE

 


Obrigado, Dionísio….

 Herdei um belo pepino, mas a assunto é bastante interessante e merece ser aprofundado.

O anônimo tem razão quando comenta: “21 Euros num espumante não é brincadeira não…”, mas exagera quando determina “....Deve estar à altura de Champagne” e quando continua:

Anônimo27 de outubro de 2023 às 12:03

Sim, mas dificilmente trocaria a qualidade de um Champagne mais básico (talvez em torno de 23 euros, não tenho certeza) por um espumante. Vamos aguardar o comentário sobre o Cosumano 700, seria ótimo surpreender, mente aberta sempre

Excluir


Sorte, dos espumantes brasileiros, não existirem muitos críticos “mente aberta sempre” como nosso querido “anônimo” que “dificilmente trocaria a qualidade de um Champagne mais básico (talvez em torno de 23 euros, não tenho certeza) por um espumante”....



Se surgirem mais “mente aberta sempre” a maior parte dos “espumantistas-predadores” nacionais deverá perder dentes, garras, desfaçatez e criar vergonha para, finalmente, fornecer, ao mercado brasileiro, garrafas potáveis por preços abaixo de R$100.



Feita a premissa vamos ao que interessa.

Para definir o que é um “Champagne básico” é preciso informar que na região “Champagne” há mais de 4.700 engarrafadores, mas pouco mais de 300 deles produzem vinho de boa qualidade.

Não é necessário grande esforço para concluir, então, que a palavra “Champagne”, nem sempre ou automaticamente é sinônimo de qualidade, assim, abaixo de 30 Euros, salvo em promoções especiais, é muito difícil encontrar garrafas de alto ou até bom nível.



Vamos aos custos.

Para produzir uma garrafa de Champagne são necessários 1,2/1,5 kg de uva.

1 quilo de uva custa, na região, entre 4 e 6,5 Euros

É fácil calcular, então, que somente de matéria prima, para produzir uma garrafa de Champagne, são necessários, grosso modo, 7 Euros.

Até vinho se transformar em “Champagne” são necessários, no mínimo, 15 meses (ou muitos anos) o que representa um tempo nada desprezível de capital imobilizado.



 Não podemos esquecer, por fim, a garrafa, rolha, gaiola, etiqueta e caixa de papelão da embalagem final.

Analisando os custos elencados é fácil concluir que: mesmo uma garrafa de Champagne “mais básica” custa, ao viticultor, 12/15 Euros.

Se juntarmos transporte, taxas, impostos, lucro do revendedor etc., parece ser quase impossível encontrar, nas prateleiras das enotecas e supermercados, algo interessante custando 23 Euros.



 Alguns Champagne “médios” que podem ser levados para casa por 28/30 Euros: “Nicolas Feuillatte Rèserve Exclusive Brut”, “Jacquart Brut Mosaique”, “Heidsieck Monopole”, “Tsarine Cuvèe Premium” etc.



Gastando um pouco mais (33/36 Euros) podemos encontrar o “Drappier Carte D’Or”, “Gosset Extra Brut”, “Lanson Black Label Brut”, “Ayala Brut Majeur”, “Paul Bara Brut Reserve” etc.

 Acima destes valores..... O “Gout de Diamants” é o limite.



Voltemos ao “Cusumano 700” e ao espumantes italianos.

As mais conhecidas e reconhecidas regiões italianas, produtoras de espumantes são a “Franciacorta” e a “Trento Doc”.

Com a nova moda-mania do “espumante-sempre”, foi fácil para o mercado italiano se dedicar de corpo, alma, pouco ou nenhum escrúpulo, à produção de “bolhas” em todo os cantos e com todas as uvas possíveis e inimagináveis (há espumante até de Susumaniello....)





Resultado: Um mar de deploráveis espumantes (Prosecco em 1º lugar) e algumas boas e ótimas revelações.

Os espumantes da Alta Langa, Sicília e Alto Adige estão entre as boas revelações.

Em 2022, na Itália, foram produzidas e vendidas, pasmem, 978 milhões de garrafas de espumante.

 Não é necessário ser um gênio para perceber que aconteceu e está acontecendo uma verdadeira “corrida às bolhas de ouro” e todos querem “garimpar” no novo borbulhante Klondike italiano.



Se o leitor for um atento enófilo perceberá que todos os maiores e mais badalados produtores italianos já apresentam, em seu “cardápio-vinícola”, pelo menos um espumante.

Antinori, Fontanafredda, Banfi, Frescobaldi, Coppo, La Scolca, Travaglini, Bolla, Ceretto, etc., quase todos os grandes produtores vendem espumantes, mas nem sempre os produzem.



Há dezenas de empresas especializadas na produção de espumantes que abastecem pequenas, médias e até grandes vinícolas, com garrafas de todos os níveis de qualidade.

 É possível escolher qualquer etiqueta, qualquer uva, o método de vinificação e a quantidade.



Este é o mundo dos espumantes terceirizado que produz garrafas de 4/15 (ou mais, até) Euros.

Pagou? Pode estourar a rolha.



No próximo capítulo: Preços e qualidade dos espumante italianos e dos incomparáveis Champagne

Bacco