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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

DÃO MEIA ENCOSTA

 


As festas natalinas não enchem o saco somente dos Papais-Noéis espalhados pelas ruas, shoppings, lojas, supermercados etc.; as festas natalinas estouraram, também, o meu, já nos primeiros dias do mês de dezembro. In 😂



Venezuelanos, cheios de filhos, pedindo esmola em cada farol da cidade (alguns tem até pix...), invasão de “miseráveis-profissionais-natalinos” e seus barracos de lona preta em todos os cantos de Brasília, centenas de velhas vendendo panos de pratos nas portas dos supermercados, lixeiros pedindo cesta básica, meninos descalços com olhares doces e lacrimosos, dignos da “Actors Studio”, implorando caixinha de natal



 Um festival de horrores daqueles que, com a proximidade do natal, apostam na bondade e enternecimento dos corações para faturar alto  

É o espirito natalino derretendo corações e....esvaziando carteiras.



Eu aguardo, com ânsia, o primeiro dia de janeiro quando os quase 2,5 bilhões de cristãos voltarão à normalidade e recomeçarão a mentir, roubar, fingir, brutalizar, estuprar, prevaricar, trair, matar, guerrear etc.

Enquanto a “bondade” natalina impera e a “normalidade” não chega, resolvi passear pelas gondolas dos supermercados e me divertir observando o frenesi dos consumidores que, parecendo famintas formigas saúvas, tomam de assalto todos expositores de bacalhau, cerejas, nozes, panettoni, frutas, espumantes etc., que encontram em seus desesperados e apressados ziguezagues.



A frenética busca do desperdício....

Em um dos meus passeios levei um susto: Uma promotora quase me agrediu ao oferecer, insistentemente, uma degustação-amostra do espumante argentino “Terranostra” (melhor, seria, “Terrabosta”…)



Fígado em bom estado, paladar matutino quase ilibado, uma pitada de “bondade natalina” ..... Aceitei.

 Quase mandei a promotora à...., mas a mesma “bondade-natalina”, que me havia induzido a aceitar um gole do pavoroso espumante portenho, conteve meu primeiro e raivoso impulso



Agradeci e continuei minha caminhada à desesperada procura de uma garrafa de água com gás.

Encontrei-a, finalmente, em um refrigerador, peguei a primeira garrafa ao meu alcance, bebi um gole, para limpar a boca dos resíduos do “Terrabosta” e me perdi por entre as gondolas de vinho.

Dão Meia Encosta 2022 por R$ 44,99?

Não acreditei!

 Me aproximei e, ainda incrédulo, verifiquei que o preço era realmente R$ 44,99.



Sem pensar muito uma garrafa do vinho português foi fazer companhia à agua mineral.

Cansado de presenciar donas de casa lutando pelo peru maior e mais apetitoso, entrei no carro e ....tome jingle bells no rádio

Ao chegar em casa coloquei a garrafa no refrigerador, aguardei quase uma hora e finalmente abri e provei o vinho.

Sem frescuras, direto, na lata....Não há nenhum vinho nacional igual ou superior ao “Dão Meia Encosta” da Vinhos Borges.

Mesmo os caríssimos vinhos brancos nacionais levam uma surra quando e se honestamente comparados ao Dão Meia Encosta de R$ 44,99.

Vale da Pedra – Guaspari R$179

Viognier Terroir Exclusivo – Vaduga R$ 138

Dádivas - Lidio Carraro R$ 129

Duble Terroir – Valmarino R$ 171


 

Vinho Valmarino Double Terroir Chardonnay Branco Seco 750ml


R$ 189

em 12x 

O preço por litro é de


Cuvée Giuseppe – Miolo R$ 125

Atos – Salton R$ 100

Costero – Geisse R$ 124







Todo os vinhos elencados (há muitos mais) custam o triplo e não valem a metade dos R$ 45 que gastei para comprar o Dão Meia Encosta da Vinhos Borges.

Esta é mais uma prova de que o brasileiro bebe mal e é explorado despudorada e constantemente pelos predadores-produtores nacionais.

Um vinho português, de boa qualidade, viaja 7.000 km paga taxas e mais taxas e aparece nas gondolas brasiliense custando menos de 1/3 dos “renomados” nacionais?

Piada pronta e sacanagem de sempre.....

O Dão Meia Encosta, da Vinhos Borges, não é um grande vinho, é um vinho honesto.

Elegante, muito mineral, com incrível acidez e um longo e belo final.

Um vinho que vale cada centavo e mais até, daquilo que paguei e que recomendo com entusiasmo.

Mais uma coisa: No nariz, além dos cítricos, aparece claramente o aroma marcante da grande casta portuguesa: Encruzado.

Comprei o Dão Meia Encosta 2022, em Brasília, no supermercado Big Box no SMDB 12 do Lago Sul.



Aproveitando o “amolecimento” do meu natalino coração, mais uma dica: No mesmo supermercado, por R$ 32,90, é possível levar para casa ½ litro do ótimo azeite chileno, “Nova Oliva”, que pulveriza os espanhóis, italianos, portugueses etc. de 5ª categoria de R$ 45/48.

Confira.

No mais, aguardemos o retorno da normalidade que doa muitas emoções aos corações brasileiros.

Dionísio

 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

AS RAPIDINHAS

 


Já ganhei um sem número de apostas de amigos que duvidaram da minha capacidade em realizar pratos, nada banais, diga-se, em poucos minutos.

Venci a última aposta quando realizei uma das minhas receitas prediletas, “Filé de Peixe ao Molho de Canela”, em exatos 5 minutos.



Cronometro na mão....Foi dada a partida!

 Após 5 exatos minutos servi o filé de truta ao molho de canela.

Meu genro, duvidou, apostou e.....perdeu.

Meu repertorio, de pratos “Speedy Gonzales” (alguém ainda lembra?), é bastante amplo, mas as minhas “rapidinhas” prediletas são as massas.



Quase sempre inicio a preparar o molho logo após jogar o macarrão na panela da água fervente.

 Os fabricantes recomendam, normalmente, 7/9 minutos para o perfeito cozimento da massa.

Os minutos recomendados são mais que suficientes para realizar alguns molhos que já estarão prontos quando o macarrão estiver “al dente”.


Não todos, claro, mas há uma meia dúzia deles que consigo realizar em menos de 10 minutos.

Exemplo?



"Fusilli Aglio Olio e Pomodori”, que certa vez comi em um restaurante da estupenda Camogli é uma das minhas rapidinhas.



Prato simples, interessante, saboroso e, o mais interessante, de baixíssimo custo.

Ingredientes para 4 pessoas

¾ de pacote de fusilli (se não tiver “preconceito” e gostar de comer o que sobrar, no jantar, pode cozinhar o pacote inteiro).

1 abundante xicaras (chá) de azeite de boa qualidade

300g de tomate-cereja bem maduros

2 dentes de alho

Manjericão (se não encontrar, vá de orégano) salsinha picada

Sal, pimenta malagueta fresca (opcional)

PREPARO

Coloque o azeite em uma travessa de porcelana que possa ir à mesa.



Pique finamente o alho , a salsinha e junte ao azeite.

Em seguida corte, ao meio, os tomates, adicione-os ao azeite e alho, junte um pouco de sal (se quiser pique uma pequena pimenta malagueta fresca) misture bem o todo e coloque a travessa sobre a panela onde está cozinhando o macarrão.



É sempre bom lembrar que o molho não deve cozinhar, mas apenas aquecer.

Quando o macarrão estiver “al dente”, coe, despeje na travessa, misture bem, amalgamado o todo e sirva.



Simples, fácil e...... Mediterrâneo

Vinho?

Bardolino, Grignolino ou um Chardonnay de boa estrutura.

Buon appetito

Bacco.

 P.S Se não tiver “pressa” pode deixar o molho na geladeira até o dia seguinte: Garanto que após 24 horas a salsa melhorará sensivelmente o sabor dos fussili

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O GRANDE E ESQUECIDO GRIGNOLINO 2

 


O garçom despejou um pouco de vinho na taça, com olhar esperançoso aguardou minha aprovação, anotou os pratos de minha escolha e rapidamente desapareceu por entre as mesas.



 Olhei para o vinho, que girava em minha taça e finalmente pude saborear, com a tranquilidade merecida o “Grignolino del Monferrato CasaleseTenuta Migliavacca 2019”.



Ótimo vinho que parecia ainda melhor ao ser degustado admirando o fantástico panorama que a varanda do restaurante “Leon D’Oro” proporciona a seus afortunados clientes.



Enquanto girava a taça, admirava a linda cor rubi-claro (quase um rosé carregado) do Grignolino, me deliciava com seus aromas floreais e de especiarias, o paladar agradecia a fina harmonia de seus taninos, o retrogosto de amêndoas, o longo e refinado final, Umberto Eco invadiu minha mente.

Alguém perguntará: O que o autor de “O Nome Da Rosa” tem a ver com o Grignolino Tenuta Migliavacca? ”



Muito!

Na entrevista, de 2015, “Comunicazione e Cultura dei Media”, o grande semiólogo italiano comentou sobre a internet: “ ...as mídias sociais deram voz a uma legião de imbecis....é a invasão dos imbecis”.



Através da taça, do transparente e brilhante “Grignolino del Monferrato Casalese 2021” era possível admirar a calma e misteriosa “Isola del Silenzio”.

 Diante de tanta beleza a mente divagou, pelo passado e tentou lembrar quantos sommelliers, influenciadores, críticos, jornalistas, youtubers, ticktokers etc. etc. etc. do Brasil, haviam degustado, criticado, comentado, recomendado, qualquer coisa, enfim, sobre aquele vinho do Monferrato.



A resposta?

 Um zero total...

 Foi neste exato momento que Umberto Eco e “seus eno-imbecis” invadiram minha mente:

No Brasil, a imensa maioria dos que escrevem, comentam, recomendam e divulgam vinho, são os típicos imbecis a que Eco se referia, mas com uma atenuante: os que os seguem são, também, imbecis...é uma grande família.



Não é a primeira e não será a última vez, que escrevo uma matéria sobre o Grignolino, que, desde sempre, é um dos meus vinhos tintos piemonteses preferidos.

Quiser mais informações é só acessar o link abaixo.

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2018/10/grignolino-2.html


Para conhecer realmente o Grignolino seria necessário percorrer, algumas vezes, o Monferrato, pátria da casta piemontesa.

O Monferrato, sub-região do Piemonte, se estende pelas províncias de Asti e Alessandria.

Confina, ao norte, com o rio Po e ao sul com a Ligúria.

O território do Monferrato, em sua quase totalidade, é coberto por colinas e a viticultura é mais importante atividade econômica.



Barbera, Moscato, Timorasso, Dolcetto, Freisa, Ruchè, Cortese (Gavi), Brachetto, Gamba di Pernice e naturalmente, Grignolino, são as variedades mais cultivadas e vinificadas no Monferrato.



As novas gerações de enófilos, que já não endeusam os mastigáveis “vinhões parkerianos”, não possuem muita grana para torrar, com as caras e manjadas etiquetas, estão aposentando antigos ícones vinícola e buscando vinhos bons, mais baratos e fáceis de beber…o Grignolino é exatamente um destes vinhos.



O “Grignolino del Monferrato Casalese Tenuta Migliavacca 2021” me impressionou a tal ponto que no meu retorno, para Santa Margherita, resolvi abandonar a rota principal, percorrer estradas secundárias, conhecer San Giorgio Monferrato e comprar algumas garrafas diretamente na vinícola “Tenuta Migliavacca”

Boa ideia!  

                                                           

Visitei a pequena aldeia, de pouco mais de mil habitantes, o belíssimo Castello di San Giorgio que, apesar de seus 1.200 anos, continua em boa forma e bem conservado.

....e por falar em castelo.... Para os abonados de plantão informo que o castelo, seus, 4.000 m²de superfície coberta, 17 quartos, 12 banheiros e mais 90 cômodos (salas, salinhas, salões, biblioteca, cozinhas, adegas, subterrâneos, torres etc.), 7.000 m² de terraço, 3,5 hectares de vinhedos etc., está à venda por 2.800.000 Euros.



Mais uma ótima oportunidade para um dos nossos intrépidos viticultores migrar e ensinar, aos italianos, como vender garrafa de Grignolino por 80 Euros.....

Três quilômetros separam o centro da aldeia da “Tenuta Migliavacca”.

Um bom papo como proprietário, Francesco Brezza, degustação de Grignolino 2021, 2022, de Barbera 2020, uma rápida negociação e ......54 Euros depois, 6 garrafas de “Grignolino del Monferrato Casalese Tenuta Migliavacca” 2021 foram para o porta-malas do meu carro.



Para quem gosta de vinho e não de etiquetas, recomendo, com entusiasmo, uma visita ao Monferrato, suas colinas, aldeias, castelos, sem esquecer a ótima gastronomia e lembrar, enfim, que algumas garrafas de Grignolino nunca fizeram mal a ninguém...

Confira

Bacco

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O GRANDE E ESQUECIDO GRIGNOLINO

 


Afirmei,  inúmeras vezes, que já não tenho desejo, vontade e saco, para rever aos centros badalados do turismo europeu.

Visitei muitas vezes Roma, Paris, Londres, Barcelona, Lisboa, Viena, Madrid, Veneza, Florença, etc. etc. etc., mas devo confessar que essas cidades já não despertam, em mim, interesse algum.



Quando, nas metas “obrigatórias” que mencionei, o turismo ainda era humano, não era necessário permanecer horas no sol ou na chuva para poder visitar, mal e porcamente, o Louvre, Prado, Galleria degli Uffizi, Cappella Sistina, Fontana di Trevi e outros monumentos importantes, fazia sentido e era prazeroso percorre-las, mas hoje é quase uma “via crucis”.



Decidi descartar das minhas andanças e em definitivo, cidades com mais de 100 mil habitantes e eminentemente turísticas.

Não mais suportando a irracional “promiscuidade turística”, sou atualmente um “especialista” em pequenas, charmosas e calmas aldeias, imunes (até quando?) aos maciços e predatórios fluxos turísticos

 Exemplo: apesar de viver em Santa Margherita, somente me aventuro a percorrer os 4 km que me separam de   Portofino, no inverno ou quando chove.

Em meados de novembro resolvi passar alguns dias no Lago Maggiore para rever as imperdíveis Sesto Calende, Arona, Stresa, Cascate de Toce, Macugnaga e a estupenda Orta San Giulio.



O pequeno, mas maravilhoso Lago D’Orta, apesar ser próximo de Milano, continua imune ao turismo predatório.

De todas as aldeias, que enfeitam as margens do lago, a estrela que mais brilha é sem dúvida, Orta San Giulio.

Pequena, quase misteriosa, com seus quase 1.500 anos e pouco mais de 1.000 habitantes, esbanja charme impar e sofisticada beleza.



Orta San Giulio, passou a ser uma das minhas metas prediletas e a visito regularmente há mais de 20 anos.

Centro histórico perfeitamente preservado, turismo racional, pouquíssimas lojas de souvenires e bugigangas, tranquila, calma, ótimos restaurantes, bons bares e uma estupenda ilhota que parece ter saído de um conto de fada.



Quem quiser mais informações sobre Orta San Giulio poderá consultar os links abaixo.

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2013/08/orta-sn-giulio.html

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/11/outono-em-orta-san-giulio.html

Em minha última visita e após admirá-la pela enésima vez, decidi beber meu aperitivo, antes do almoço, no ótimo “Pan & Vino”.



Duas dicas: para beber bem, mas muito bem, mesmo, em Orta San Giulio, é indispensável frequentar ”Pan & Vino” e a “Enoteca Re di Coppe”.



Duas taças de Champagne e 18 Euros mais tarde, percorri os poucos metros que separam o “Pan & Vino” do hotel e restaurante “Leon D’Oro”.

Sentei à mesa, que anteriormente reservara e enquanto o falante garçom recitava sua obrigatória cantilena tentando “vender” seus melhores pratos, eu consultava avidamente a carta de vinhos,

É sempre bom lembrar que pouco mais de 20 km separam Orta San Giulio das colinas onde nascem os grandes tintos do “Alto Piemonte”: Boca, Bramaterra, Fara, Gattinara, Ghemme, Lessona, Sizzano e nada mais justo, então, procurar uma bela garrafa para prestigiar região.



Minha taça balançava entre um Lessona, da Tenuta Sella (28 Euros) e um Ghemme, da vinícola Ioppa de (28,50 Euros).

A taça parou de balançar quando meus olhos descobriram, na carta, um Grignolino de 24 Euros.



A antiga “paixão”, pelo Grignolino, falou mais alto e, sem ao menos me preocupar com o que iria comer, ordenei, ao garçom tagarela, uma garrafa de “Grignolino del Monferrato Casalese Tenuta Migliavacca 2019”.

Continua

Bacco

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

O CHAMPAGNE.....ATRASADO

 


(A maior parte deste longo texto foi escrita antes da publicação de “Champagne x Espumante 3”, pelo que, boa parte das opiniões, pode parecer redundante, depois do que Bacco escreveu – Zé)

 


No ano passado, quando morei no Porto, aproveitei uma das melhores coisas que a Europa pode oferecer em termos de qualidade de vida: a oferta de comida e bebida.

Com frequência alternava minhas compras entre três supermercados (Pingo Doce, Lidl e Mercadona), duas quitandas próximas à Praça do Marquês, a excepcional padaria Brites, a Mercearia Local (com boa oferta de vinhos) e a ótima Queijaria da Praça.

E isso não para não falar das pequenas grandes enotecas do Porto, como a Cave Bombarda, a novata TheLAB e a multifacetada Sabores Monásticos.



Cheio de alternativas, para conseguir boa comida e boas garrafas a preços decentes, era difícil perder peso, como eu precisava, e muito fácil conseguir uma garrafa de espumante para beber como aperitivo ou acompanhar uma refeição leve naqueles meses de calor.

Em uma de minhas idas ao supermercado Lidl, em julho de 2022, encontrei uma garrafa do Champagne “Comte de Senneval” por 14 euros e a comprei.



Convenhamos: 14 euros por um Champagne, considerando os preços médios da denominação, é um valor irrisório.

Depois de algum tempo abri o “Comte de Senneval”: bom perlage, corpo médio, fluída, não muito complexa e os aromas não eram muito expressivos.

Lembrando da velha patacoada dos gaúchos, ao promover o produto local como o segundo melhor espumante do mundo, concluí que, na verdade, o segundo melhor espumante do mundo, depois do Champagne, era... o Champagne.

No caso, um Champagne barato, que podia não fazer frente aos melhores da região, ainda era uma boa alternativa, desde que pelo preço certo e recalibrando as expectativas.



Uma semana depois, fui a Braga visitar o amigo Leonardo, que me recepcionou com uma garrafa do ótimo espumante “Murganheira Reserva Bruto” (preço atual: 12,50 euros no supermercado Continente).

Naquela animada noite, de comes e bebes, no auge do verão bracarense, o Murganheira pulverizou a memória do “Comte de Senneval”, que ainda estava bem viva na minha cabeça.

Complexo, equilibrado, fresco, envolvente, impressionante.`



Mas como pôde o lusitano ter passado como um trator sobre o francês?

Não é fácil apontar uma causa única.

 Na etiqueta, do “Comte de Senneval”, lê-se que foi produzida pela Maison Burtin, cuja linha oficial de Champagne, intitulada “Hommage à Gaston Burtin”, omite qualquer referência à garrafa que bebi.

 “Comte de Senneval”, então, é o nome comercial que o supermercado Lidl dá ao Champagne produzido pela Burtin e que, pelo preço e pela falta de divulgação na página dos produtores, sugere que não é vinificado com as melhores uvas e melhores cuidados.

Por 14 euros eu não esperava, evidentemente, as melhores uvas e uma linhagem semelhante à da Gosset ou da Roederer, entre outros nomes do Champagne que já contam mais de duzentos anos – ainda que, para aqueles que creem em pontos, a “Decanter” tenha dado 91 pontos a uma garrafa da linha do Lidl: “Comte de Senneval” Brut Premium, Champagne, France (decanter.com)



Por outro lado, os 12,50 euros do Murganheira (e a inclusão da cuvée que bebi na página do produtor) mostram que o espumante português tem impressionante custo x benefício e não é renegado pela vinícola – ao contrário, é ativamente promovido por ela.

Vira e mexe, mestre Bonzo me recorda de como alimentos e bebidas podem “viajar mal”: longas distâncias, choques térmicos, falta de cuidado no manuseio... tudo isso pode impactar negativamente a qualidade dos produtos.

Considerando que a distância do Porto a Reims é de cerca de 1.800 quilômetros e a distância entre Braga e a região vinícola de Távora-Varosa é de menos de um décimo disso (uns 150 km), pode ser.

Ademais, os clientes do Lidl podem ter deixado o “Comte de Senneval” às moscas na prateleira por um tempo, enquanto o giro rápido do Murganheira (muito mais disponível em Portugal) ajudou no frescor da garrafa consumida.

Anos antes, visitando Bacco na Ligúria, paramos no Bar Sabot para um aperitivo.



Naquela tarde nublada, o garçom do Sabot serviu-nos o espumante Haderburg Brut, produzido no Alto Adige.

Um bom espumante, admito, mas, pelos 24 euros que a vinícola tirolesa pede por uma garrafa nos dias de hoje, eu pensaria três vezes antes de engordar os cofres da Haderburg.

Preço semelhante ao que a siciliana Cusumano pede por seu 700 Brut, recentemente elogiado por Dionísio.

Somemos a isso a explosão dos pét-nats – uma tendência que tem minha torcida para que se torne perene – e voltemos à pergunta do título desta série: Champagne ou espumante?

Minha resposta pessoal é: depende.

Se dá para gastar 30 euros ou mais, eu dificilmente trocaria um Champagne por um espumante de qualquer outra região (assim como Bacco já apontou no primeiro artigo da série).

Isso, claro, na Europa: no Brasil, 30 euros não compram nem o bom Champagne Moutard, provavelmente o melhor custo x benefício à venda no país (comercializado a R$ 311 à época da redação deste artigo).

A zona cinzenta parece mesmo ser a faixa de 20 a 30 euros.

No início do ano, aproveitei uma promoção do supermercado Conad, na Itália, e consegui uma garrafa do Champagne Heidsieck & Co. por 20 euros – quando o preço sugerido por uma garrafa ronda os 28/30 euros.

 Ainda seria a minha primeira opção e, admito, isso tem uma boa dose de conveniência: havendo uma opção oriunda de uma região consagrada, quanto você estaria disposto a arriscar pegando uma alternativa de outros cantos?

Em tempos de “dinizismo”, é bom ter uma bola de segurança.



Só com uma recomendação muito boa, como a do Cusumano 700 Brut, eu gastaria acima de 20 euros em um espumante que não seja Champagne.

Se você chegou até aqui no texto, parabéns: como prêmio, fique com uma singela contribuição a este debate.

Morando em Budapeste, em meio ao mar de espumantes sofríveis e disponíveis aos montes, tive uma surpresa muito agradável com o Brut da vinícola Hernyák: uma mistura refinada de Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc em partes iguais.



 Acidez na medida perfeita, frescor, presença no paladar: está tudo aqui.

O preço? 7.500 florins, ou 20 euros.

Assim como o Ferrari, o Cusumano 700 Brut e alguns pét-nats, uma alternativa interessante aos Champagne.

 Aí vai depender da disponibilidade, de promoções, de suas experiências anteriores – um conjunto de fatores que se costumava chamar, há não muito tempo, de bom senso, mas que anda meio esquecido por aí.

Abaixo dos 20 euros, é difícil esperar milagre de Champagne – e aí o Murganheira, os crémants e os pét-nats deitam e rolam.

 Ou até alguns dos espumantes da lista acima, numa promoção.



Com tudo isso em mente e mais as informações trazidas por Bacco sobre terroirs (e recomendo que leiam/releiam a série “Terroir”, publicada aqui no início de 2014), os preços das terras, os custos de produção de uma garrafa e o ufanismo delirante dos predadores brasileiros, concluo que a medalha de prata da disputa dos espumantes tem mais de um dono – e um deles, dependendo do caso, pode ser o próprio Champagne.

 

P.S: se você reler este artigo, vai encontrar...

- Um bom espumante para experimentar na Hungria;

- Uma reiteração para que prove pét-nats (e pode até ser que um dia apareça um brasileiro bom, olha só);

- Dicas de onde comer no Porto se o orçamento para os restaurantes estiver curto, além de algumas enotecas da cidade;

- Um lembrete de que Champagne também entra em promoção nos supermercados;

- Um lembrete de que ainda há acento diferencial em “pôde”;

- A conclusão pessoal de que, melhor que se prender a uma região é ter opções, em qualquer faixa de preço, independentemente de patriotismo ou de jogadas publicitárias.



De nada!