No início dos anos 1980 não existia a internet, ninguém
conhecia o Google, a informação era difícil, lenta e, muitas vezes, inacessível.
Havia, porém, algumas vantagens: Poucos vivaldinos alardeavam
conhecimentos vinícolas e não existia o “brancaleónico” exército de “eno-caga-sentenças”
que, hoje, infesta e emporcalha a web.
Para falar de vinhos, comentá-los, criticá-los, indicá-los etc.
havia dois caminhos: 1º) viajar, para conhecer regiões vinícolas, vinhos e produtores
2º )ler os poucos livros e revistas disponíveis.
Ao retornar, de minhas viagens pela Europa, as malas traziam,
além de bons vinhos, muitos livros e revistas que até hoje conservo.
Já naqueles anos era possível perceber que as primeiras
canetas de aluguel começavam a frequentar as páginas das revistas e as informações
mais aconselháveis e isentas (mas nem sempre), podiam ser encontradas, apenas,
nos livros.
Alguns deles ainda conservo com muito carinho: “Vins et Vignobles de France” de Alexis Lichine, “Vino al Vino”
de Mario Soldati e “I Cento Vini
d’Italia” de Adriano Ravegnani.
O mais popular, comercial e já com algum cheiro de $$$, era,
sem dúvida, o livro de Ravegnani.
Em um universo vinícola tão extenso e complexo, como o italiano,
onde em cada região há dezenas de denominações, milhares de produtores e um sem
número de etiquetas, a escolha de 100 vinhos me parecia temerária, muito
comercial e sem dúvida dirigida.
Notei, por exemplo, que algumas vinícolas “pesos pesados” (Fontanafredda,
Bolla, Antinori, Frescobaldi, Salaparuta etc.) entravam na lista
com 2-3 ou mais vinhos
“I Cento Vini d’Italia” foi a
primeira certeza de que o marketing “invadiria” o mundo do vinho.
Ravegnani, todavia, entendia muito de castas, territórios,
viticultores e até hoje algumas de suas indicações são perfeitamente válidas: “Lessona Sella”,
“Rubesco Lungarotti”, “Valpolicella Le Ragose”, “Ferrari Metodo Classico”, “Barbaresco
Gaja”, ”Gaggiarone Rosso Amaro”....... Gaggiarone?
Sem o auxílio do celular, para poder consultar o professor “Google”,
aposto que 99,78% dos nossos “profi$$ionais” da crítica vinícola confundiria o
vinho Gaggiarone com
uma marca de macarrão ou massa de tomate.
Há muitos anos não bebia um “Gaggiarone” e confesso que já nem lembrava de sua existência.
O Gaggiarone é um vinho tinto produzido com Croatina na sub-região Oltrepò Pavese
É bem provável que Bilu Didu Tetéia, Marcelinho “the most
flatulential wine journalist”, Diego Rebola e outro papa$ de nossa eno-crítica,
já estejam consultando o Google para “descobrir” o Gaggiarone e o Oltrepò
Pavese.
Oltrepò Pavese, que pode ser porcamente traduzido: “além do rio Pó
na província de Pávia”, com seus 13.500 hectares de vinhas e 1.700
propriedades vinícolas é responsável por 62% de todo o vinho produzido na
Lombardia.
Pátria das maiores plantações italianas de Pinot Noir,
Riesling e Croatina, o Oltrepò Pavese já foi a mais importante região
“espumantística” da Itália.
Com o sucesso do Prosecco, Franciacorta e de muitas outras
denominações, suas “bolhas” já não repetem o antigo sucesso e,
apesar de algumas tentativas dos produtores locais, para retornar ao topo e
reconquistar consumidores, está longe de ostentar o brilho do passado.
Eu já fui um fã de carteirinha dos espumantes do Oltrepò
Pavese.
No final dos anos 1980 já frequentava regularmente Santa
Margherita Ligure e quase todos finais de tardes “aterrissava” no sofisticado e
exclusivo “Bar Seghezzo”, sentava em uma das mesas e nem precisava pedir o
vinho: O garçom ao me ver chegando
preparava e me servia uma taça de espumante “La Versa”.
O local que abrigava o “Bar Seghezzo” é hoje um restaurante de
qualidade duvidosa, o produtor do espumante “La Versa” faliu (uma cooperativa
comprou a marca), meus gostos e preferências vinícolas migraram para outras
regiões e confesso que já não lembrava das etiquetas do “Oltrepò Pavese”.
Sim, mas o Gaggiarone? Até agora muita conversa e nada
de Gaggiarone.
Concordo que as vezes aumento o tamanho da linguiça e demoro
demais para enchê-la.......
Continua
Bacco
O duro é pagar o que pedem por um Rubesco Lungarotti aqui no Brasil. Até que o Gaggiarone pode ser encontrado a bom preço.
ResponderExcluirSalu2
O interressante que na Itália o Gaggiarone é mais caro do que o Rubesco. O Brasil será um país com vinho de preços acessíveis quando o rio Amazonas secar.
ResponderExcluirUm Rubesco da mistral a venda no pão de açúcar, antes da disparada do euroxdolar valia R$200. Já no mercado Superiore continua €10.
ExcluirSei que ainda escreverá sobre o tema, mas você acha o Gaggiarone equivalente ao Rubesco?
ExcluirSão dois vinhos totalmente diferentes e não poderia considerá-los "equivalentes". Ambos são importantes e merecem muito respeito, mas não gostaria de compará-los..... Caso estaja interessado no Torgiano leia a matéria já publicada em B&B https://baccoebocca-us.blogspot.com/2018/02/rubesco.html
ExcluirObrigado! Sim, recordo desta matéria. Inclusive, vale lembrar que agora o Lungarotti mais simples custa meros 268 Reais na importadora. Assim não dá. Achei um Gaggiarione por cerca de 110. Comparando, acho que está bom o preço.
ExcluirSalu2
Mistral + Pão de Açúcar = dupla explosiva: O primeiro mete a mão o segundo mete a faca
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