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domingo, 3 de janeiro de 2021

GAGGIARONE

 

No início dos anos 1980 não existia a internet, ninguém conhecia o Google, a informação era difícil, lenta e, muitas vezes, inacessível.

Havia, porém, algumas vantagens: Poucos vivaldinos alardeavam conhecimentos vinícolas e não existia o “brancaleónico” exército de “eno-caga-sentenças” que, hoje, infesta e emporcalha a web.


Para falar de vinhos, comentá-los, criticá-los, indicá-los etc. havia dois caminhos: 1º) viajar, para conhecer regiões vinícolas, vinhos e produtores

2º )ler os poucos livros e revistas disponíveis.

Ao retornar, de minhas viagens pela Europa, as malas traziam, além de bons vinhos, muitos livros e revistas que até hoje conservo.

Já naqueles anos era possível perceber que as primeiras canetas de aluguel começavam a frequentar as páginas das revistas e as informações mais aconselháveis e isentas (mas nem sempre), podiam ser encontradas, apenas, nos livros.



Alguns deles ainda conservo com muito carinho: “Vins et Vignobles de France” de Alexis Lichine, “Vino al Vino” de Mario Soldati e “I Cento Vini d’Italia” de Adriano Ravegnani.

O mais popular, comercial e já com algum cheiro de $$$, era, sem dúvida, o livro de Ravegnani.

Em um universo vinícola tão extenso e complexo, como o italiano, onde em cada região há dezenas de denominações, milhares de produtores e um sem número de etiquetas, a escolha de 100 vinhos me parecia temerária, muito comercial e sem dúvida dirigida.



Notei, por exemplo, que algumas vinícolas “pesos pesados” (Fontanafredda, Bolla, Antinori, Frescobaldi, Salaparuta etc.) entravam na lista com 2-3 ou mais vinhos

“I Cento Vini d’Italia” foi a primeira certeza de que o marketing “invadiria” o mundo do vinho.



Ravegnani, todavia, entendia muito de castas, territórios, viticultores e até hoje algumas de suas indicações são perfeitamente válidas: “Lessona Sella”, “Rubesco Lungarotti”, “Valpolicella Le Ragose”, “Ferrari Metodo Classico”, “Barbaresco Gaja”, ”Gaggiarone Rosso Amaro”....... Gaggiarone?

Sem o auxílio do celular, para poder consultar o professor “Google”, aposto que 99,78% dos nossos “profi$$ionais” da crítica vinícola confundiria o vinho Gaggiarone com uma marca de macarrão ou massa de tomate.

Há muitos anos não bebia um “Gaggiarone” e confesso que já nem lembrava de sua existência.

O Gaggiarone é um vinho tinto produzido com Croatina na sub-região Oltrepò Pavese

É bem provável que Bilu Didu Tetéia, Marcelinho “the most flatulential wine journalist”, Diego Rebola e outro papa$ de nossa eno-crítica, já estejam consultando o Google para “descobrir” o Gaggiarone e o Oltrepò Pavese.



Oltrepò Pavese, que pode ser porcamente traduzido: “além do rio Pó na província de Pávia”, com seus 13.500 hectares de vinhas e 1.700 propriedades vinícolas é responsável por 62% de todo o vinho produzido na Lombardia.

Pátria das maiores plantações italianas de Pinot Noir, Riesling e Croatina, o Oltrepò Pavese já foi a mais importante região “espumantística” da Itália.

Com o sucesso do Prosecco, Franciacorta e de muitas outras denominações, suas “bolhas” já não repetem o antigo sucesso   e, apesar de algumas tentativas dos produtores locais, para retornar ao topo e reconquistar consumidores, está longe de ostentar o brilho do passado.

Eu já fui um fã de carteirinha dos espumantes do Oltrepò Pavese.

No final dos anos 1980 já frequentava regularmente Santa Margherita Ligure e quase todos finais de tardes “aterrissava” no sofisticado e exclusivo “Bar Seghezzo”, sentava em uma das mesas e nem precisava pedir o vinho:  O garçom ao me ver chegando preparava e me servia uma taça de espumante           “La Versa”.



O local que abrigava o “Bar Seghezzo” é hoje um restaurante de qualidade duvidosa, o produtor do espumante “La Versa” faliu (uma cooperativa comprou a marca), meus gostos e preferências vinícolas migraram para outras regiões e confesso que já não lembrava das etiquetas do “Oltrepò Pavese”.

Sim, mas o Gaggiarone?  Até agora muita conversa e nada de Gaggiarone.



Concordo que as vezes aumento o tamanho da linguiça e demoro demais para enchê-la.......

Continua

Bacco

7 comentários:

  1. O duro é pagar o que pedem por um Rubesco Lungarotti aqui no Brasil. Até que o Gaggiarone pode ser encontrado a bom preço.
    Salu2

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  2. O interressante que na Itália o Gaggiarone é mais caro do que o Rubesco. O Brasil será um país com vinho de preços acessíveis quando o rio Amazonas secar.

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    Respostas
    1. Um Rubesco da mistral a venda no pão de açúcar, antes da disparada do euroxdolar valia R$200. Já no mercado Superiore continua €10.

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    2. Sei que ainda escreverá sobre o tema, mas você acha o Gaggiarone equivalente ao Rubesco?

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    3. São dois vinhos totalmente diferentes e não poderia considerá-los "equivalentes". Ambos são importantes e merecem muito respeito, mas não gostaria de compará-los..... Caso estaja interessado no Torgiano leia a matéria já publicada em B&B https://baccoebocca-us.blogspot.com/2018/02/rubesco.html

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    4. Obrigado! Sim, recordo desta matéria. Inclusive, vale lembrar que agora o Lungarotti mais simples custa meros 268 Reais na importadora. Assim não dá. Achei um Gaggiarione por cerca de 110. Comparando, acho que está bom o preço.
      Salu2

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  3. Mistral + Pão de Açúcar = dupla explosiva: O primeiro mete a mão o segundo mete a faca

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