Já tive, na vida, o grato prazer de
tomar ótimos Bordeaux tintos, brancos e passando por Sauternes.
Alguns deles, nem nos sonhos mais
eróticos, eu imaginaria serem tão bons.
Acho bonitinha toda aquela classificação
dos "Grands
Cru Classés" de 1855 (não sou apto a dizer se a seleção foi tão
isenta e correta como uma licitação da Petrobras).
Empolgante, também, toda a tradição e história,
o porto que salvou a França, a proximidade com Inglaterra (ingleses sedentos
salvaram Porto e Bordeaux seguramente), as lojas que orgulhosamente anunciam um
“depuis 1700 e bolinha” etc. etc.
Os vinhos de Bordeaux constam em
mercados de derivativos, movem a economia, dão pilares às pragas-pagas críticas
bem remuneradas, publicações mil, filmes e documentários que emocionam até quem
tem Alzheimer.
Tudo seria lindo se os preços cobrados
pelos Bordeaux refletissem a realidade do que há na garrafa.
Francês há tempos finge (bem, até) ser
bobo, mas eles cobram sempre exageradamente pelo que apresenta na garrafa, na taça,
no prato, na roupa, cinema (quanto diretor blefe há por lá)... Francês adora
contar historinhas sobre terroir de manteiga, sobre terroir de queijo, sobre o
imperador tal e tal que abençoou o produto e....... nós pagamos.
Falando em terroir, outra coisa
curiosa, em relação à Bordeaux, é o fato que o mundo do vinho tende, hoje, a
valorizar o terroir.
O "terroir" dificilmente
pode ser defendido em Bordeaux.
Bordeaux é o paraíso dos blends e dos
laboratórios onde muitas mágicas tecnológicas acontecem.
Diferentemente do que pensam os enófilos,
doutrinados à base de blogs especialistas em vinho chileno ou da "Serra Santa",
no mundo civilizado há escolhas.
Pelo mesmo preço, ou bem menos do que os
bordoleses “pedem” pelos "Grands Crus Classés" básicos, temos
portugueses, italianos, espanhóis e até franceses, de sonho (dos melhores
sonhos).
Só na França há um caminhão (época difícil
para falar em caminhões.....) de apelações que produzem super vinhos com preços
melhores.
Se entrarmos em Itália, a conversa não
tem fim.
O que há para justificar os preços de
Bordeaux?
Longevidade na garrafa, classe, reputação,
certeza de boa qualidade, exclusividade?
Ok, mas nem mesmo sendo torturado com um
discurso do Suplício-Suplicy, pagaria $ 200, ou bem mais, por uma garrafa de "Grand Cru
Classé" somente pelo prazer de parecer “especial” fazendo cara
de expert e alardear que comprei um vinho realmente espetacular.
Vou viver muitíssimo bem sem Bordeaux.
B&B há anos implora
os felizardos a buscarem alta qualidade (quase todo mês há alguma dica de uva
ou vinhos desconhecidos) fora das regiões adoradas pela massa brega e
preguiçosa.
Creio ter aprendido bastante coisa com
eles, além de vinhos que podem conter aroma de ouriço, peixe de rio, esparadrapo
(saudades) e outras sandices.
Que tremam os mercados, que soprem as
cornetas das falências, quero que o Luisque e todos os políticos corruptos
brasileiros morram na cadeia se eu comprar mais um Bordeaux famoso ou um grand-cru-classé-da-vida,
novamente.
Goodbye, Bordeaux!
Hora de gastar meus bolivares com
Portugal, Espanha, França, Itália e, se entrar na pauta dos caminhoneiros, até vinhos
da "Serra Santa".
Bonzo
Caro Bonzo,
ResponderExcluirConcordo com todas as sua afirmações, entretanto ainda gosto bastante dos vinhos de Bordeaux. Até a faixa de 50 dólares é possível beber grandes vinhos sem me sentir roubado. Os que costumo comprar são:
Les Carmes Haut Brion
Prieure Lichine
Sociando Mallet
Beausejour Becot
D’Issan
Pavie Macquin
Abraços,
Marcio
excelente texto, Bonzo. e a classificação de Bordeaux é tão incompreensível quanto cabeça de mulher, então nem perco tempo tentando me orientar por ali. melhor seguir as dicas esparsas, como essa lista do Márcio (valeu!).
ResponderExcluirEu tenho estoque pequeno de bordeaux ainda, mas os grand crus ja nao me pegam mais, e tambem ficarei de olho em dicas eventuais, por que nao? Em relacao a cabeca de mulher... sera que quando homem vira trans tambem complica as coisas?
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