Quando percebi quão inútil e ridículo seria continuar meu eno-aprendizado
no Brasil seguido indicações de revistas, jornalistas especializados,
formadores de opinião, cursos (a ABS de Brasília era cômica) etc., resolvi dar
um basta e procurar meus próprios caminhos.
Eram os anos 1980, a internet gatinhava, as informações eram limitadas,
manipuladas por interesses comerciais (importadoras e produtores), poucas
opções e quase sempre banais....uma pobreza total.
Bastaria lembrar o famoso “vinho alemão”, aquele
da horrenda garrafa azul, para perceber a limitação de nossas opções.
Sangue de Boi,
Sinuelo, Mosteiro, Château Duvalier, Clos de Nobles e outras banalidades,
foram as etiquetas que marcaram época e torturaram paladares
O inesperado (herança) me permitiu, nos anos 1990, uma
razoável renda extra.
Decidi, então, procurar minhas vinhas e vinhos em solitárias,
mas bem planejadas viagens pelos países produtores da Europa.
França e Itália as metas preferidas.
Na França viajei pelas vinha da Borgonha (todas), Alsácia,
Rhône, Languedoc-Roussillon, Provence.
Na Itália..... Bem, na Itália não há região vinícola que não
conheça.
Da Val D’Aosta à Sicília, do Friuli ao Piemonte, do Veneto à
Sardegna, da Liguria às Marche e “.... e se mais vinha houvera, lá chegara”
A propósito de Marche.....
Consultando a carta, de um restaurante, da belíssima Sesto
Calende, às margens do rio Ticino, uma etiqueta chamou minha atenção: “Verdicchio Il Coroncino”.
Imediatamente minha mente voou até Staffolo, pequena aldeia
marchigiana, onde o intrigante e grande viticultor Lucio Canestrari produz o “Il Coroncino”
Desde sempre considerei
a Verdicchio uma das grandes castas italianas.
Ao lado de outras uvas campeãs como Garganega, Carricante, Fiano d’Avellino, Malvasia
Friulana, Trebbiano d’Abruzzo, Timorasso, a Verdicchio, quando
vinificada seriamente, doa vinhos soberbos.
Há duas versões: Verdicchio dei Castelli di Jesi e Verdicchio
di Matelica.
A mesma casta doa diferentes vinhos.
A denominação “Castelli di Jesi” se aproveita da
proximidade do mar, do clima mais ameno e dos ventos marinos para nos doar
vinhos com pronunciados aromas florais e frutados
Ao paladar se apresentam harmônicos, secos e com um final que
lembra a amêndoa amarga.
A denominação “Matelica”,
apesar de ser vinificada com a mesmíssima uva, é totalmente diferente.
Matelica, pequena aldeia incrustrada nos Apeninos, não é
atingida pelos ventos marinos e seu clima frio, seco e com importantes
excursões térmicas doa um Verdicchio com maior elegância, estrutura e menor
gradação alcoólica.
Duas versões, dois grandes vinhos.
O Verdicchio dei Castelli di Jesi (pronuncia-se: Iesi) teve
um passado nada edificante e aquelas garrafas, lembrando ânforas etruscas,
continham um vinho de baixíssima qualidade que poderia ser facilmente
confundido com as zurrapas gaúchas.
Com a conscientização, de alguns produtores de maior visão, a Verdicchio iniciou a ser
vinificada com o justo respeito e maiores cuidados.
Excelentes resultados podem ser encontrados em muitas
etiquetas: Bucci,
Sartarelli, Pievalta, Felici e.…. Coroncino.
Quem se dispuser a gastar entre 10 e 20 Euros poderá beber
três produtos da “Fattoria Coroncino” e mandar às favas muitas etiquetas premiadas e
endeusada.
“Bacco” o mais simples, “Coroncino”, para mim o mais interessante e “Gaiospino”, com
passagem em madeira, são três exemplos de como o Verdicchio dei Castelli di Jesi pode agradar os
mais exigentes enófilos.
Lucio Canestrari, um
valido e respeitabilíssimo produtor
Bacco
Estimado peste, acabei de tomar mais um vinho italiano feito com uva sauvignon rosso. Uma delicia. A querida italia, apesar dos altos e baixos ainda fascina no vinho. Milhares de descobertas possiveis...
ResponderExcluirAuguri.