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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

VERDICCHIO CORONCINO


 


Quando percebi quão inútil e ridículo seria continuar meu eno-aprendizado no Brasil seguido indicações de revistas, jornalistas especializados, formadores de opinião, cursos (a ABS de Brasília era cômica) etc., resolvi dar um basta e procurar meus próprios caminhos.
 
 
 

Eram os anos 1980, a internet gatinhava, as informações eram limitadas, manipuladas por interesses comerciais (importadoras e produtores), poucas opções e quase sempre banais....uma pobreza total.

Bastaria lembrar o famoso “vinho alemão”, aquele da horrenda garrafa azul, para perceber a limitação de nossas opções.

Sangue de Boi, Sinuelo, Mosteiro, Château Duvalier, Clos de Nobles e outras banalidades, foram as etiquetas que marcaram época e torturaram paladares
 

O inesperado (herança) me permitiu, nos anos 1990, uma razoável renda extra.

Decidi, então, procurar minhas vinhas e vinhos em solitárias, mas bem planejadas viagens pelos países produtores da Europa.

França e Itália as metas preferidas.

Na França viajei pelas vinha da Borgonha (todas), Alsácia, Rhône, Languedoc-Roussillon, Provence.

Na Itália..... Bem, na Itália não há região vinícola que não conheça.
 

Da Val D’Aosta à Sicília, do Friuli ao Piemonte, do Veneto à Sardegna, da Liguria às Marche e “.... e se mais vinha houvera, lá chegara”

 A propósito de Marche.....

Consultando a carta, de um restaurante, da belíssima Sesto Calende, às margens do rio Ticino, uma etiqueta chamou minha atenção: “Verdicchio Il Coroncino”.

Imediatamente minha mente voou até Staffolo, pequena aldeia marchigiana, onde o intrigante e grande viticultor Lucio Canestrari produz o “Il Coroncino”
 

 Desde sempre considerei a Verdicchio uma das grandes castas italianas.

Ao lado de outras uvas campeãs como Garganega, Carricante, Fiano d’Avellino, Malvasia Friulana, Trebbiano d’Abruzzo, Timorasso, a Verdicchio, quando vinificada seriamente, doa vinhos soberbos.

Há duas versões: Verdicchio dei Castelli di Jesi e Verdicchio di Matelica.
A mesma casta doa diferentes vinhos.

A denominação “Castelli di Jesi” se aproveita da proximidade do mar, do clima mais ameno e dos ventos marinos para nos doar vinhos com pronunciados aromas florais e frutados

Ao paladar se apresentam harmônicos, secos e com um final que lembra a amêndoa amarga.

A denominação “Matelica”, apesar de ser vinificada com a mesmíssima uva, é totalmente diferente.
 

Matelica, pequena aldeia incrustrada nos Apeninos, não é atingida pelos ventos marinos e seu clima frio, seco e com importantes excursões térmicas doa um Verdicchio com maior elegância, estrutura e menor gradação alcoólica.

Duas versões, dois grandes vinhos.

O Verdicchio dei Castelli di Jesi (pronuncia-se: Iesi) teve um passado nada edificante e aquelas garrafas, lembrando ânforas etruscas, continham um vinho de baixíssima qualidade que poderia ser facilmente confundido com as zurrapas gaúchas.

Com a conscientização, de alguns produtores de maior visão, a Verdicchio iniciou a ser vinificada com o justo respeito e maiores cuidados.

Excelentes resultados podem ser encontrados em muitas etiquetas: Bucci, Sartarelli, Pievalta, Felici e.…. Coroncino.
 

Quem se dispuser a gastar entre 10 e 20 Euros poderá beber três produtos da “Fattoria Coroncino” e mandar às favas muitas etiquetas premiadas e endeusada.
 

“Bacco” o mais simples, “Coroncino”, para mim o mais interessante e “Gaiospino”, com passagem em madeira, são três exemplos de como o Verdicchio dei Castelli di Jesi pode agradar os mais exigentes enófilos.

 Lucio Canestrari, um valido e respeitabilíssimo produtor

Bacco 

Um comentário:

  1. Estimado peste, acabei de tomar mais um vinho italiano feito com uva sauvignon rosso. Uma delicia. A querida italia, apesar dos altos e baixos ainda fascina no vinho. Milhares de descobertas possiveis...

    Auguri.

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