Entre as maiores “criações”, no glorioso mundo gastronômico e
vínico, as que eu mais adoro são as que já existiam antes, que eram obvias,
simples e agora retornam com o raio “gourmetizador”, bem mais caras, parecendo
novas e originais.
Minha avó moía grãos de milho para fazer polenta no quintal da
casa.
O molho de tomate cozinhava durante muitas horas e quanto mais
tempo no fogo, melhor e mais saudável (descobriram um tempo depois que esse
processo mais lento liberava várias substancias que o tomate tem).
Massa para macarrão, então, era algo que se fazia de pancada
todo domingo.
Alguns chefs sabichões descobriram que um monte de incautos não
sabe como se faz polenta, molho de tomate e massas (seria alguma tecnologia da NASA?).
Os chefs vivaldinos cobram
uma fortuna para “torturar” os infelizes nas cozinhas do restaurante que, no
final das tais “aulas”, aprendem apenas bater fotos para postar na “face”.
Palavras como “Polenta de Terroir”, “Tomate DOC” fazem
parte das ‘’aulas’’.
Qualquer R$ 500.00 paga pela aula e jantar.
Mas existe alguém ainda mais alerta para levar dinheiro de
tonto: Dono de
vinícola e enólogo-consultor.
Durante séculos viticultores usaram tecnologia simples,
disponível e de bom senso, para obtenção de vinho.
Colheita, prensa, fermentação do mosto, algumas operações de
transferência de liquido direto para a barrica ou garrafa e finalmente, taça
(resultados nem sempre dos melhores, mas assim era a vida).
Com o passar do tempo iniciou uma nova era; aquela do
capitalismo de volume, de escala, de maquinário e tecnologia indispensáveis (ao
menos de acordo com os fabricantes das máquinas e aparatos).
Feiras e convenções, em
todos os cantos do mundo, para divulgar os novos brinquedos que qualquer vinícola
“tem que ter”.
Palavras como: compliance, shareholder, board of directors,
stock options, hoje são corriqueiras e indispensáveis nas vinícolas que
produzem os vinhos que você, caro eno-corno, venera.
Eis que não contavam com a suposta astúcia de uma pequena, mas
barulhenta classe de consumidores que se preocupa com coisas como autenticidade,
sabor, qualidade, preço...
Um dos tópicos que está na boca, de vários críticos de vinho e
semelhantes, chama-se: ‘’vinho por gravidade’’.
Nada mais que obtenção de vinho onde todo processo de
transferência de mostos e líquidos para barricas, containers ou garrafas
acontece sem bombas, sem fórceps, sem pressão, tudo de maneira mais delicada e
natural para preservar o que há de bom na bebida.
É claro que funciona!
Vinho tem pavor de choque, de transporte, de alta pressão, de tabela periódica de elementos.
Os espertinhos, de sempre, largaram na frente no marketing:
EUA e os “picaretas-emeritus-eternum”
do Chile (Chileno do vinho parece viticultor gaúcho anabolizado, mais esperto e
mais picareta em tudo) já anunciam os ‘’novos vinhos’’ para alegria de crítico$
entusiasmado$.
Polenta e molho de tomate com raio “gourmetizador”, vinhos de gravidade;
mais alguns itens que vão para a lista de invenções simples e obvias que já
existiam, mas você, sempre sedento por “novidades”, vai, agora, pagar mais por
isso.
Anote e cobre os donos do blog sobre o assunto mais tarde.
Demoram, mas pagam.
Alguns poucos consumidores, que já perceberam a reciclagem de
técnicas antigas, agora voltando com roupagem nova e preços de século XXII (22
para os analfabetos em romano), já começaram a reclamar, mas haverá muita gente
que vai morder a isca e garantir a prosperidade da reciclagem da malandragem.
Bonzo
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