Nosso clima tropical, em parte, influenciou minha “paixão”
pelos brancos: Acho uma heresia beber tintos de 14º/15º, ou até mais, em
temperaturas que alcançam facilmente os 30/35/40º.
Alguém poderá argumentar que beber tintos encorpados, até um Amarone,
em um ambiente com ar condicionado, é viável.
Não é!
Vinhos tintos e muito alcoólicos são indicados para os outonos
e invernos dos países do hemisfério norte e não para climas tropicais, como é o
do Brasil.
Quem quiser continuar bebendo tintos, encorpados, pesados,
impenetráveis, que mais parecem geleias, pode continuar sua aventura parkeriana,
mas eu, no verão europeu, ou no Brasil tropical, bebo brancos ou, quando muito,
tintos leves.
Nossos patrícios, com o quase desaparecimento da “paranoia-covid”,
estão retornando à Europa.
Alegres, coloridos, falantes
e sedentos, continuam os mesmos e previsíveis na hora de escolher os vinhos que,
quase sempre, são tintos, famosos, caros e muito alcoólicos.
E 2022, um verão tórrido e implacável atingiu toda a Itália e obrigou
os suados e sedentos turistas a entornarem copos e mais copos de cerveja, agua mineral,
vinhos brancos, espumantes......
Todos os turistas?
Nem todos….
Nos bares que frequento, em Santa Margherita,
Portofino, Rapallo, Chiavari, Camogli etc., esbarro, todos os dias, com
brasileiros que, contrariando qualquer lógica e bom senso, esvaziam taças e mais
taças de vinho tinto.
Discreto, silente e sem revelar minha origem candanga, observo
e escuto o ritual que antecede a escolha dos vinhos.
A carta é quase sempre consultada superficialmente, sem grande
interesse em conhecer novos caminhos, novas experiências e, após rápida votação,
a escolha recai, 90% das vezes.....
Adivinharam?
Não?
Sassicaia, Ornellaia, Brunello, Barolo, Barbaresco, Amarone,
Tignanello etc.
Um bom e barato Grignolino, Bardolino, Schiava, Rossese di Dolceacqua, Lambrusco,
Piedirosso?
Nem sob tortura!
Apesar dos insuportáveis 35/38º, quase sempre nossos patrícios
escolhem um Supertuscan,
ou outro tinto famoso e.... $$$$
Insanidade total!
É visível o desprezo que enófilos brasileiros revelam por um tinto bom e barato: o Freisa.
Ah, a Freisa…. Que grande uva é a Freisa.
Um dos meus bares favoritos, em Santa Margherita é, desde sempre, o “SunFlower”.
O “SunFlower”, como todo bom wine bar, renova, com frequência sua
carta de vinhos.
Ilaria e Roberto, sommeliers e proprietários do local, quando
recebem novas etiquetas, gentilmente, me convidam para uma degustação informal
na qual trocamos opiniões e comentamos os vinhos recém-chegados.
Chablis, Lambrusco, Malvasia Friulana,
Coda di Volpe, Verdicchio, Lugana, Champagne, Vermentino, Ribolla Gialla,
Torgiano, Piedirosso ...... já
não lembro quantos vinhos degustei no “SunFlower”.
Semana passada, o calor deu uma pequena trégua....
“Prove esta Freisa”
Sem a “tortura” do
clima infernal resolvi aceitar uma taça de Freisa que Roberto comprou e pretende
adicionar à sua carta para o próximo outono.
No exato momento em que levei a taça ao nariz, como sempre
faço antes de beber, dois casais entraram no “SunFlower” e
imediatamente percebi a origem: Brasileira
Jovens, bem vestidos, alegres e educados, se acomodaram e depois de rápida consulta, pediram quatro taças de? …. NERO D’AVOLA
SOCORRO!
Bacco
Continua
Hahaha. Mas pense bem, podia ser pior. Podiam ter pedido um Primitivo, naquelas garrafonas de 5 kilos.
ResponderExcluirO frenesi pelos rótulos de grife até dá para entender, é fruto da frivolidade e do conhecimento superficial da nossa elite selvagem. Mas aqui no Brasil escolhem um Cabernet Sauvignon em vez de um Branco ou Rosé de qualquer vinícola, para acompanhar a peixada sob 40 graus. Depois vem aquele suadouro e a conclusão de que era melhor cerveja ou caipirinha. Vai entender!
ResponderExcluirBacco, desculpe a ignorância, mas ainda não conheço a Freisa. Seria ela algo próximo da Pelaverga? Eu sou fã do Pelaverga do Alessandria
ResponderExcluirSua "ignorância" é compartilhada pela imensa maioria dos enófilos brasileiros. A Freisa é uma casta nobre "parente" da Nebbiolo e revela características extremas: ou se ama ou se odeia.... Para conhecer mais , leia : https://baccoebocca-us.blogspot.com/2014/07/a-freisa.html ++++++ https://baccoebocca-us.blogspot.com/2014/08/freisa-ii.html e aguarde a próxima matéria
ExcluirMatérias lidas e várias possibilidades de compra. Encontrei Freisa Kye Vajra 2009 por US$32.
ExcluirSe com um ar-condicionado ainda não pode, que tal uma degustação dentro de uma câmara frigorífica.
ResponderExcluirOra, faca-me um favor!
Pode degustar em qualquer lugar: praia , piscina , Sahara .... também pode vestir camiseta durante uma nevasca, casaco de lã no Amazona. Pode tudo e seja feliz
ExcluirOnde posso achar um Freisa no Brasil?
ResponderExcluirTente no Google e importadoras, mas cuidado com o preço
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