Aproveitando dez dias de “Dolce Far Niente” na casa de Bacco,
em Chiavari, estou tentando, com afinco, esquecer a pobreza gastronômica de
nossa capital que, apesar do efeito sanfona (abre e fecha restaurantes), não
consegue sair da mediocridade.
Não foi fácil olvidar o horrendo restaurante “Barolo” (o pior insulto
que alguém poderia ter feito ao grande vinho) ou o patético Rubaiyat
(o novo point dos
“quero ver e ser visto”), mas com paciência e um pouco de sorte
consegui.
Manhã chuvosa, sem grandes opções (Bacco precisou tratar de
negócios) resolvi revisitar, pela enésima vez, a capital lígure.
Deixei a estação “Brignole” e percorri a “XX Settembre”, uma
das mais importantes avenidas de Genova, até alcançar a “Piazza De Ferrari”.
A praça, com sua imponente fonte, que em homenagem à luta
contra o câncer tingiu suas águas de uma bela cor rosada, sempre foi meu ponto
de partida para a exploração da Genova que mais me agrada: Seu centro histórico,
que começa justamente na praça, se estende até “Sottoripa” e termina na região portuária.
Um emaranhado de vielas estreitas, escuras que se entrelaçam, sem
nenhuma lógica urbanística, formando um verdadeiro Dédalo medieval.
Lojas de grifes
famosas confinam com açougues, igrejas maravilhosas são “esmagadas” por prédios
de apartamentos com fama mais que duvidosa.
Bancos e joalherias
convivem pacificamente com bares, lojas de roupas, livrarias, padarias, peixarias,
restaurantes, botecos, ambulantes etc.
Turistas, homens de negócio, prostitutas, travestis, brancos,
negros, amarelos, vindos de todos os cantos do planeta, convivem pacificamente (ma non
troppo) e esbarram um nos outros nas estreitas ruelas genovesas.
Uma verdadeira
democracia urbana.
Conhecer bem o labirinto da velha Genova não é fácil, mas há
uma técnica infalível para não se perder: Descer, descer e descer.
O porto se localiza na parte inferior da cidade e ao descer é
fácil alcançar o bairro mais agitado, característico e bonito de Genova.
Normalmente almoço num dos inúmeros restaurantes de
“Sottoripa”, mas a chuva fina e insistente (cadê meu guarda chuva?) me obrigou a procurar um restaurante nas proximidades da “Piazza de Ferrari”.
“Sottoripa”, mas a chuva fina e insistente (cadê meu guarda chuva?) me obrigou a procurar um restaurante nas proximidades da “Piazza de Ferrari”.
Entrei no primeiro beco que encontrei e comecei a busca.
Bem na metade da ruela, Vico
Del Fieno, um pequeno local, “BAKARI” chamou minha atenção.
Aproximei-me para ler o cardápio e verificar os preços.
Os pratos, interessantes,
agradaram, mas o que mais me impressionou foi a deliciosa saleta (não mais do
que 20 lugares), toda decorada no estilo “Art Deco”, acolhedora e intimista do “BAKARI”.
Não resisti!
Poucos pratos, ausência total de antepastos, boa carta de vinhos,
atendimento cordial e alegre.
O BAKARI, apesar do nome exótico,
oferece uma cozinha totalmente voltada às tradições italiana onde massas,
risotti e carnes imperam.
Os pratos são elaborados
por Flavio, cozinheiro e coproprietário, que, sozinho, comanda fogão e panelas.
A sala é de responsabilidade da sempre sorridente Francesca,
mulher de Flavio, que sugere, também, os vinhos da adega.
O ambiente maravilhoso (é preciso ver para crer) é valorizado
pela ótima seleção de musica (jazz) que acompanhou todo meu almoço.
Um prato de “Ravióli al
Burro e Salvia”, simplesmente
um dos melhores que já provei e um ótimo (bota ótimo, nisso....) “Tartare com Parmigiano e Tartufi
Neri” uma taça de Bianchetta e duas de Dolcetto di Ovada me
aliviaram em exato 30 Euro.
Ao terminar o almoço me senti curado e esqueci os assaltos
praticados, ao bolso e estômago, pelos medíocres restaurantes brasilienses.
Em sua próxima viagem, caso resolva visitar Genova, não deixe
de conhecer o “BAKARI”,
sua cozinha, seus vinhos e especialmente sua decoração.
Bocca
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