Michele Chiarlo não é exatamente um dos meus produtores favoritos,
mas dois vinhos, produzidos pela vinícola de Calamandrana e que provei nas
últimas semanas, me obrigaram a reconsiderar minhas opiniões sobre a famosa engarrafadora.
O primeiro vinho, um Barolo Cerequio 1999, que bebi na casa de
um amigo, provou ser um extraordinário Nebbiolo e não temer comparações com
outros primos mais caros e premiados.
O segundo, um Gavi “FORNACI DI
TASSAROLO 1995”, que provei no “Piccolo Ristorante”, simplesmente,
me deixou de queixo caído.
Em matéria anterior comentei que, enquanto aguardava a retorno
do proprietário Enrico Boitano, que havia saído para comprar cigarros, a garçonete
do restaurante me servira uma taça de vinho.
A garrafa, que havia sido aberta no dia anterior, não despertou
meu interesse, mas, assim mesmo, aceitei.
O vinho me impressionou
de tal forma que pedi para ver a etiqueta e quase não acreditei quando constatei
que estava bebendo um Gavi 1995.
Quando Enrico Boitano
retornou fui logo perguntado: “Onde você arrumou essa garrafa de Gavi 1995 ?”.
Com um sorriso matreiro, Boitano, respondeu: “Ontem encontrei, esquecida num canto da
adega, uma caixa de madeira toda empoeirada do Michele Chiarlo. Pensei que era
de Barolo, mas quando a abri vi que continha 6 garrafas de Gavi “Fornaci di
Tassarolo” 1995. Abri uma e provei para verificar como estava o
vinho”.
O sujeito esquece uma caixa na adega e depois de dez ou quinze
anos, em 2013, “redescobre” o vinho abre uma garrafa e o Gavi, com 18 anos nas costas,
se apresenta perfeito, maduro, extraordinário.
“Enrico,
se você vender uma dessas garrafas, apenas uma, eu te mato. Vamos bebê-las
somente nos três: Você, eu e Bertolone. Esse é um vinho que nunca mais
encontraremos”.
Boitano sorriu, concordou e ontem abrimos a quinta garrafa,
por sinal, a melhor delas.
Antes de continuar comentando o “FORNACI DI TASSAROLO” quero falar,
mais uma vez, sobre o Cortese.
O Cortese possui uma acidez e uma estrutura extraordinárias e
são justamente a estrutura e a acidez que garantem ao Gavi um envelhecimento invejável.
Beber um Gavi de um ou dois anos é quase um crime, mas, apesar
disso, os 8 milhões de garrafas produzidas anualmente (há muita porcaria no
meio desses milhões) são comercializados e vendidos apressadamente.
Somente alguns felizardos conseguem garrafas mais velhas para
poder, assim, apreciar toda a riqueza dos aromas terciários que se apresentam
somente após alguns anos de envelhecimento.
Encontrar, então, 6 garrafas de Gavi “FORNACI DI TESSAROLO” 1995 é como
acertar na sena....
O “FORNACI DI TESSAROLO” apresentou aromas intensos,
que mudavam constantemente tornando muito difícil qualquer descrição honesta e
válida. .
Do floral ao balsâmico,
do tostado ao frutado, novos aromas se acumulando e atropelando os últimos.....
Uma festa.
Na boca surpreendentemente jovem, grande estrutura, um final
persistente e quase sem fim.
“FORNACI DI TASSAROLO” 1995: uma
grande e verdadeira emoção.
Alguns dados: As 5.000 garrafas de Gavi “FORNACI DI TASSAROLO” 1995 foram produzidas com
uvas provenientes de um vinhedo, plantado em 1910 (provavelmente o mais antigo
do Piemonte), em época pré- filoxera, no município de Tassarolo,
As 5.622 unidades desta safra apresentam 12º de álcool.
Pesquisando, na internet, encontrei uma enoteca que anuncia 6
garrafas do “FORNACI DI TASSAROLO 1995”
pelo preço.....
Você, que pagou R$ 76
por uma garrafa de Chardonnay Villa Francioni, está sentado? Tranquilo?
Relaxado?
Pois bem, uma enoteca, na Ligúria, anuncia 6 garrafas do
Fornaci 1995 por 16,99 Euro.
Adivinhe quem as comprará?
Bacco
Que inveja. Bela descrição de uma experiência única. E tem gente que paga caro e acha bom Sauvignon Blanc do Gavião, Chardonnay Francioni etc. É de doer.
ResponderExcluirSds, Jean
E nós, aqui no brasiu, pagando os tubos por vinhos importados, e os tubos por vinhos nacionais que por pouco deveriam ter outros nomes em vez de vinho.........
ResponderExcluirnem fale, Emerson. com esse Barolo Cerequio do Michele Chiarlo a 620 reais e um Gavi dele, que não é o Fornaci, a 130... sai de baixo...
ExcluirO Gavi base do Chiarlo , o vendido no Brasil , custa, nas enotecas da bota, 7 ou 8 euro.
ExcluirA vinicola esta certa. Ha trouxas e outros que nao sabem nada de vinho aos montes que compram o vinho. Fazem uma garrafa mais elaborada e fisgam a turma. Se colocarem aquele vinho fraquinho numa garrafa convencional, nao vendem o vinho nem para sagu. Incrivel a reacao dos enoblogueiros a esses vinhos. Sempre com !!!!!! ao final das frases. Quanto ganham para passar essa vergonha?
ExcluirEu posso falar dos vinhos dessa vinicola brasileira porque degustei os vinhos. O rose me impressionou pela falta de presenca. Uma agua de arroz lavado. Por R$ 80.00... ai, ui, ai, ui.
Passar bem.
Bacco,
ResponderExcluirótima matéria, fiquei doido para provar um Gavi desses. só faltou falar (e nos deixar com inveja) quanto custa o Minaia do Bergaglio.
por aqui, vi um Gavi da Broglia à venda por um preço razoável. o que você acha dele?