Facebook


Pesquisar no blog

sexta-feira, 19 de março de 2021

OS ALQUIMISTAS II

 


As tentativas e práticas “alquimistas” não são uma exclusividade dos produtores nacionais e devo admitir que, muitas vezes, realizei falcatruas parecidas como as dos nossos abnegados (hahahahaha) “viticultores”.

Já não recordo quantas garrafas “batizei” sem que ninguém percebesse.

A mais incrível “alquimia”, que recordo ter realizado, foi quando, em uma garrafa, vazia, de Barolo, coloquei um vinho da falecida (ainda bem) Piagentini.

Depois de abundantes libações, quase no final do almoço, servi o “Barolo-Piagentini”: para minha surpresa dois convidados “entendedores” o acharam extraordinário.

Para não perder os amigos nunca lhes revelei minha “alquimia”.....

Para testar, quais os reais conhecimentos de enófilos, realizei várias “alquimias”, sempre com sucesso.

 A última “picaretagem” ocorreu, semana passada, na casa de um amigo que convidara um pequeno grupo para um almoço de confraternização.

Como de costume, sempre sou o primeiro a tocar a campainha:  detesto chegar, sentar e comer.

Para entrar no clima é preciso: relaxar, um bom copo de vinho, algumas fofocas, falar mal dos ausentes, boas risadas ......

Meu anfitrião me recebeu com cara de quem leu, no jornal, a última sentença de Gilmar Mendes ...

Caminhando para alcançar a cozinha e depois de algumas imprecações

 impublicáveis, José (fictício) exclamou:  “Abri mais duas garrafas e outra vez tão mortas quanto as esperanças de um bom 2021”.

É necessário voltar um pouco no tempo e recordar alguns acontecimentos anteriores.

O José possui uma bela adega onde guarda, com justificado ciúme, renomadas e caras etiquetas.

O Zé privilegia os vinhos brancos provenientes da Côte d’Or e da Alsácia, mas ele, como muitíssimos outros enófilos, é mais colecionador-exibicionista do que bebedor e esquece que os vinhos “modernos” não são mais tão longevos e é temerário deixá-los envelhecer.

Se os vinhos fossem os Château Duvalier 1951, produzidos pela alquimista, arquiteta, sommelier, futura enóloga etc., Andrea “Bernadette” Trentin e seus comparsas, não haveria problema algum, mas os vinhos da Borgonha, convenhamos, não são comparáveis aos grandes gaúchos....

  O José (fictício) resolveu ouvir meus conselhos e, finalmente, começou a desarrolhar seus Chassagne-Montrachet, Puligny-Montrachet, Saint-Aubin, Meursault etc., mais antigos.

Resultado: já perdeu a conta de quantos Grands Cru e 1er Crus, da Borgonha e da Alsácia, jogou pelo ralo ou usou na cozinha

Voltando às garrafas do almoço.....   

 Quando provei o Meursault Perrières 2012 e o Meursaut-Blagny 2014 não me contive: “Você está com algum problema em sua adega. Meursault 1er cru, com menos de dez anos, não “morre” assim tão fácil”


A adega do amigo é ampla, bem localizada no subsolo da casa, fresca, silenciosa......

Um mistério.

Mistério, ou não, jogar no lixo garrafas de R$1.500 não é exatamente uma diversão, um prazer.

Quando meu anfitrião, José, já pensava abrir uma outra de suas valiosas e

 moribundas garrafas, lembrei a famosa “RICOLMATURA” praticada pela

 Biondi-Santi e as palavras de Venanzio Sella:   ..... De tempo em

 tempo basta, não somente completar a evaporação, mas

 retirar um pouco de vinho velho e completar a garrafa com vinho mais novo”

Quem quiser pode reler a matéria aqui:

 https://baccoebocca-us.blogspot.com/search?q=biondi+santi

As palavras, do grande viticultor de Lessona, acordaram o

 alquimista que dormia no amago do meu ser, e..... “Você tem

 algumas garrafas de Chardonnay Tarapacá? ”

Meu amigo respondeu afirmativamente, buscou uma garrafa de

 Cosecha 2020 e ficou me olhando com cara de pastel dormido, sem

 nada entender.


Vou “ressuscitar” seus Meursault, agora mesmo”

Versei três dedos do Blagny 2014, oxidado, em uma taça e

 adicionei a mesma quantidade de Chardonnay chileno no Meursault.

Alquimia-picareta completada , agitei a garrafa e...... EUREKA!

 O Blagny ressuscitou.


Repeti a mesma falcatrua com Meursault Perrières, mas o

 resultado não agradou.

Retirei mais um pouco de vinho da garrafa e adicionei mais

 Tarapacá

 Perfeito......ou quase.

As garrafas “descansaram” na geladeira por uma hora e quando

 minha alquimia foi servida, aos ignaros comensais que haviam

 finalmente chegado, ninguém desconfiou da trapaça e todos

 elogiaram os meus “magníficos Meursault”.

Um bom conhecedor de Meursault teria, facilmente, percebido o

 “truque”, mas está mais do que provado que o enófilo mediano,

 impressionado pela etiqueta e pelo preço, além de não perceber a

 diferença jamais encontraria coragem para criticar um vinho de

 R$ 1.500.


Antes de jogar no lixo uma garrafa valiosa experimente a “Alquimia

 Dionisíaca” e tente não rir quando receber os elogios....

Dionísio

PS. As matérias “O Milagre”, “A Volta dos Alquimistas” e

 “Alquimista II”, são dedicadas a todos os produtores

, influenciadore$, sommelier$, divulgadore$ e outros picaretas

 menores, que há anos faturam alto e se divertem informando

 sandices e enganando os enófilos brasileiros  

2 comentários:

  1. Estudo diz que as pessoas gostam mais de vinhos baratos se forem enganadas no preço
    Em contrapartida, as referências mais caras não mudaram de apreciação quando o valor apresentado não era o correto.

    https://www.nit.pt/comida/gourmet-e-vinhos/estudo-diz-que-pessoas-gostam-mais-de-vinhos-baratos-se-forem-enganadas-no-preco

    ResponderExcluir
  2. É típico comportamento de quem não entende de vinhos....Paciência

    ResponderExcluir