Algumas pequenas importadoras brasileiras descobriram o
caminho das pedras.
As tradicionais, continuam trazendo as conhecidas e inomináveis
porcarias de sempre ou etiquetas “estupra cartão”.
Bons vinhos, pouco conhecidos, de pequenos produtores e com
preços razoáveis, são solenemente esquecidos, descartados.
Importados “Estupra Cartão”: Barolo, Brunello, Amarone, Sassicaia, Ornellaia etc.
Importados “Che Fanno
Cagare” (que dão caganeira): Primitivo (a mais
nova vedete...), Lambrusco, Valpolicella, Tavernello, Prosecco etc.
Há anos é assim e, assim, sempre será.
Ledo engano.... Surgem, como cogumelos, após longos dias chuvosos,
empresas que descobriram como importar vinhos que “Fanno Cagare”,
usando o disfarce das etiquetas prestigiosas das denominações “Estupra Cartão”.
Um amigo, Jeriel da Costa, está se especializando em descobrir,
nas prateleiras das lojas especializadas e dos supermercados, renomados vinhos,
DOC ou DOCG, de produtores desconhecidos por preços similares aos encontrados
na Itália.
Milagre?
Finalmente os importadores predadores abandonaram os velhos
hábitos de assaltar nossas carteiras e diminuíram os lucros?
Nenhuma das duas hipóteses.
Algumas importadoras encontraram
o “caminho das pedras” que suíços,
noruegueses, suecos, chineses, russos etc.
já percorrem há anos: vinícolas que engarrafam o vinho que o cliente
quer e com a etiqueta que quiser.
O cliente precisa de
Nero D’Avola, Barolo, Valpolicella, Amarone, Chardonnay, Barbera, Montepulciano
d’Abruzzo, Prosecco, Primitivo di Manduria, Chianti, Frascati etc. etc. etc.?
Basta o cliente indicar as quantidades, “inventar” uma
etiqueta “Magnifica”,
pagar e...Voilà les jeux sont faits
Há, na Itália e em outros países do velho mundo, indústrias
especializadas em engarrafar milhões de garrafas, de qualquer denominação,
região, proveniência, cor, preço etc. fora dos territórios das DOC e DOCG.
As últimas fotos do Jeriel são exemplos perfeitos de como a
“picaretagem” é elaborada e executada.
Coloquei a palavra “picaretagem” entre aspas atendendo e
concordando com uma observação de outro amigo, Mario Mondovino.
Mario, muito
apropriadamente, alertou que o expediente usado é permitido e rigorosamente
dentro das leis europeias.
Mario Mondovinho Dionísio Ramos eu não falaria em picaretagem, isso é
permitido pelo disciplinar que prevê que as uvas devem proceder da área da DOCG
mas o engarrafamento pode ser feito não apenas em qualquer local da Itália e
sim até fora da Itália. Não estou defendendo, pelo contrário sou o primeiro a
criticar esses vinhos vergonhosos, mas não condeno os produtores e sim as leis
que permitem essas deturpações.
Concordo, em parte, com Mario e sei que, infelizmente, por
determinação da UE, desde 2016, entrou em vigor a lei 238 que permite o engarrafamento,
mas apenas o engarrafamento, fora do território delimitado.
“....vengono
rese definitive le autorizzazioni ad effettuare le operazioni di
imbottigliamento al di fuori della zona di produzione delimitata dai
disciplinari dei vini a Denominazione di Origine“.
“.... Tornam-se
definitivas as autorizações de efetuar as operações de
engarrafamento fora da zona de produção delimitada pelos disciplinares
dos vinhos de Denominação de Origem”
engarrafamento fora da zona de produção delimitada pelos disciplinares
dos vinhos de Denominação de Origem”
Mario, tem razão,
é tudo perfeitamente legal, mas a lei abre, ou melhor, escancara as portas para
tremendas picaretagens.
Se olharmos a retro
etiqueta do “Magnifico” (será?), escrita em português,
é facílimo
perceber que o pobre Barolo faz a volta ao mundo em 80 dias.
As uvas nascem e
são esmagadas, em uma ou em várias aldeias da DOCG
(são 11 e ninguém jamais
saberá em qual), na província de Cuneo.
O vinho viaja até
Costigliole d’Asti, na província de Asti, onde é engarrafado.
O “ Barolo Magnifico” galopa até Ovada, na província
de Alessandria, onde é faturado.
O “Barolo Magnifico”, que adora viajar, continua sua
jornada até Missaglia, na província de Lecco, onde é etiquetado, embalado e......
continua viajando.
Nosso incansável “Magnifico” é, finalmente, despachado para Maceió,
capital do florescente estado de Alagoas, onde aguardará, provavelmente, sob o
brilhante sol do Nordeste o endereço de sua prateleira final.
O que acontece, com
o “Barolo Magnifico”, nesta Odisseia? “......é
elementar meu caro Watson…”: Malandragem para todos os gostos.
A primeira
malandragem é visível já no retro etiqueta: “...produzido e
engarrafado por CAVIM s.l.r Ovada Itália na adega de Costigliole D’Asti”.
Se o “Magnifico” foi produzido em Costigliole é um
Barolo fora da lei.
O Barolo pode ser
engarrafado fora do território da DOCG, mas deve ser vinificado e produzido nos
limites territoriais da denominação.
Como é produzido o
nosso “Magnifico” será sempre um mistério,
mas não é
um mistério que há, nas grandes engarrafadoras (a CAVIM engarrafa
nada menos do que 40 milhões
de garrafas por ano), um pequeno
exército de funcionários que
percorre a Itália, do norte ao sul, do leste ao
oeste, para comprar todo o
vinho excedente estocado nas adegas dos
São conhecidos
como: “Limpadores de adegas”
Com a força do
dinheiro e a promessa de limpar todo o estoque em poucos dias, os preços
oferecidos muitas vezes nem pagam o custo de produção, mas o pouco capital de
giro e a necessidade de criar espaço nos tanques, para o vinho da nova safra,
quase sempre “convencem” o viticultor a entregar os pontos e.....o vinho.
Continua.
Dionísio
Esse Barolo citado pode ser encontrado em tudo quanto é loja. Eu não compro o vinho pela beleza do rótulo, mas o cara tem que ser muito doido para levar para casa um Barolo com um nome e rótulo desse. E se o cidadão for cuidadoso e ler o contra-rótulo, aí mesmo é que tem que fugir. Atualmente este tipo de vinho está entrando muito no Brasil. De várias procedências, mas grande parte da Espanha e Itália.
ResponderExcluirArtigo que deveria ser o mais comentado do whatsapp hoje ao inves das aventuras do menino neymar jr com maria chuteira da semana. Temos aqui um monte de alertas para todos os gostos, de fraudes fiscais e de producao passando por produtos de origem dubia e estocagem ainda pior.
ResponderExcluirInfelizmente uns poucos consumidores terao acesso a esse artigo. "Algumas poucas" importadoras e vinicolas entre a europa e brasil fazem a alegria de "alguns poucos (seguramente pouquissimos)" fiscais corruptos ha seculos.
O lado bom do artigo: Agora o povo de Maceio pode fazer fila la na importadora e comprar varios vinhos diretamente. Basta ligar que ha um plantel de gente da melhor qualificacao aguardando todos nos. Certamente o escritorio e a loja abrem nessa segunda.
Voce conhece a EVINO ? Duvido que vc encontre em todo o portifolio 10 vinhos que realmente existam no pias de origem... Se nao me engano a EVINO e maior verdedora de vinhos no Brasil, dai vc ja tem ideia do nivel de informaçao do enofilo tupiniquim!
ResponderExcluirhttps://www.evino.com.br/product/barolo-villanella-112181.html
A etiqueta do Barolo Villanella tem o mesmo formato do Maginifico e do La Cacciatora. Deve ser produzido pela mesma indústria de Ovada que fabrica Barolo como se fosse pão francês...A cada 10 minutos.Boa mesmo e a descriçao da cor. Stephani Vaz, sommerdier da empresa,classifica o Barolo " vermelho-granada" É uma bomba?
ResponderExcluirA coisa pior é que quem nunca provou um Barolo e quer se aproximar à categoria, vai justamente começar por rótulos mais baratos tipo este, e consequentemente achar que todo Barolo é ruim...
ResponderExcluirLi essa matéria muito tarde, pois já tinha comprado uma garrafa. Mas, antes tarde do que nunca.
ResponderExcluirA mesmíssima coisa acontece aos azeites. Olhe o rótulo de trás e confira: se não for engarrafado no país de origem terá grande chance de ter sido adulterado ou, na melhor das opções, ser um azeite de má qualidade que foi adquirido aos barris, provavelmente adulterado e após isso engarrafado por aqui.
Verdade
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