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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

GROSELHA & ALCAÇUZ ?

 


Antes de começar minha segunda crítica, ao sommerdier de bicicleta, peço escusas por ter esquecido, na matéria anterior, algumas “eno-malas-sem-alças” que vagaram pelo patético e ridículo mundo vinícola brasileiro.

Entre os que não citei é preciso pedir tardias escusas   ao falecido Saul Galvão, um dos maiores pavões de todos os tempos (Beato Salu é outro da mesma estirpe...)



Menção feita, vamos ao rotundo e risonho sommerdier memorável descobridor do “...um novo estilo que nasce por lá”.

Já alertamos e aconselhamos nosso sommerdier a consultar o Google mais vezes pois seu “novo estilo” já era conhecido desde a década de 1930 e atende pelo nome de “Albarossa”.

Mas deixemos o Albarossa, por enquanto e voltemos ao “Selvaggia” do nosso ciclista.



O caro Pantani, das uvas, parece desconhecer totalmente quantas outras vinícolas produzem o “...novo estilo que nasce por lá”

Provavelmente o Google não foi bem pesquisado, mas B&B está, como de costume, pronto para ajudá-lo a poupar seu tempo e o informando das dezenas de produtores que, também e bem antes, descobriram o “novo estilo”: Marziano Abbona, Batasiolo, Lo Zoccolaio, Paolo Manzone, Conterno Fantino, Ricossa, La Spinetta, Pio Cesare, Pira, Marchesi di Barolo, Rocche dei Manzoni, Elio Altare, Gaja, etc.



Há mais dezenas de outros produtores que, em busca de novos mercados e do dinheiro dos eno-trouxas (uma garrafa de “Pin”, Nebbiolo/Barbera da Spinetta, custa nada modestos 39 Euros) adoram vinificar “blend” com todas as uvas disponíveis (francesas, como sempre, em 1º lugar)



O nosso eno-ciclista revela sua veia cômica quando começa a descrever os aromas e sabores do “Selvaggia”.

Enrola, enrola e enrola tanto, que não pude deixar de compará-lo ao “Rolando Lero” da saudosa “Escolinha do Professor Raimundo”.




O nosso Google-sommerdier inicia a degustação exclamando: “há... muito raro, hehehe.... muito raro isso aqui galera, 2020, safra jovem, vinho tá macio no paladar e frutado. Isso é raríssimo quando a gente fala de Barbera e Nebbiolo....”

Nosso risonho e rotundo eno-ciclista desconhece o assunto e precisa de ajuda.....

A moderna vinificação permitiu que o Barbera perdesse muito de sua “rusticidade”, ganhasse elegância, frescor e apesar de sua ótima vocação ao envelhecimento, pode tranquilamente ser bebido jovem.

A Nebbiolo doa, ao blend, corpo, maciez quase aveludada e estrutura.

Não pude deixar de rir quando o risonho eno-ciclista repete quase mecanicamente os manjados e risíveis aromas e sabores que são a marca registrada dos sommerdiers que desejam nos impressionar com seus soberbos e infalíveis narizes



O nosso sabujo de bicicleta   é capaz de identificar, em uma simples taça de vinho: flores brancas, vermelhas e secas, além de violetas, rosas, ervas aromáticas, especiarias, framboesas, terra, trufas, frutas secas e uma infinidade de outros odores e sabores.



Quando ouvi e vi a quantidade de aromas que nosso sabujo de bicicleta conseguiu encontrar, na taça de “Selvaggia”, pensei: “Estou com hiposmia”…telefonei imediatamente para meu otorrino e marquei consulta.

Deixando a gozação, por um instante, só tenho mais uma pergunta: Caro eno-ciclista quantas vezes teve contato, cheirou e comeu groselha ou alcaçuz, para poder formar uma memória gustativa e olfativa tão precisa?



Os leitores podem, também, responder e revelar quantas vezes encontraram comeram alcaçuz e groselha no Brasil.

Deixemos, por enquanto, o risível mundo do “influencer” de bicicleta e falemos de coisas sérias.

Por um feliz acaso, ao percorrer as gôndolas de um supermercado, encontrei, vejam só, um “Albarossa”, da vinícola Enzo Bartoli, por 6,49 Euros.



Sem pestanejar comprei duas garrafas, levei para casa, as deixei “descansar” alguns dias e .... Afirmo, sem medo de errar, que não há um vinho nacional, nem as caríssimas etiquetas como Sesmarias, Singular Nebbiolo, Guaspari Terroir, Milantino Gran Reserva, Anima Gran Reserva e outros insultos ao consumidor brasileiro, que possa lhe fazer sombra.

As vinhas de “Albarossa” cobrem 80 hectares e a DOC é produzida por pouco mais de 85 vinícolas.




Pequena, mas promissora DOC piemontesa, o Albarossa de Enzo Bartoli, me conquistou.

Difícil encontrar, em um vinho, custando pouco mais de 6 Euros, tanto equilíbrio, maciez aveludada, belo corpo e um logo e prazeroso final.



 Para você, que acabou de pagar insanos R$ 726,30 por um deplorável “Singular Nebbiolo” da Lídio Carraro, recomendo que em sua próxima viagem pela Itália beba   uma garrafa de “Albarossa” Enzo Bartoli de R$ 36 (6,50 Euros) …Não precisa agradecer a dica

Bacco.

 


18 comentários:

  1. Bom texto. Bacco vc poderia screver mais sobre as diferencas entre a nebbiollo do langhe e do Piemonte?

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    1. O Nebbiolo é uma casta autóctone do Piemonte e Langhe é uma micro região do próprio Piemonte. A uva é uma só , mas dependendo do terreno, exposição solar, altitude , vinificação, etc. adquire notáveis diferenças

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    2. Que pergunta, hein?

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  2. Peraí, Baquinho! Eu comprava groselha em São Paulo, e não era dificil de achar. Já a groselha preta, ou Cassis, é facilmente identificável. Chá e bala de alcaçuz também é coisa fácil de encontrar. Mais que a groselha. Agora, concordo que tem muita gente que os cita sem ao menos ter visto. Mas isso não é regra. A propósito, você sabia que o Brasil é o quarto maior produtor mundial de groselha?

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  3. Informe-se. O Brasil, desde 2013, é o quarto maior produtor de groselha do mundo. Tem muda sendo vendida para todo lado. Alcaçuz pode ser encontrado em qualquer lojinha de produtos naturais.

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    1. Não perguntei quais são os maiores produtores de groselha , perguntei quantas vezes comeu para poder criar memória olfativa tão precisa. Responda honestamente

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    2. Mais do que você sentiu o aroma floreal.

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    3. Acho que o quarto lugar na produção de groselha é maís uma invenção. Aqui, na Europa não há notícia da groselha brasileira Os EUA aparecem em primeiro e a Polônia em segundo. O resto é piada.

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    4. Não é invenção. Se ela é boa, aí é outra conversa. Mas é fácil conseguir mudas e a fruta in natura. Certamente, não se fala nela na Europa porque tem muito aí e o Brasil não deve exportar. Ou manda para outros lugares qye não a Europa. O provável quarto lugar deve ser muito distante da produção dos primeiros.

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  4. Uma vez vi um somerdier descreve um aroma como "terra molhada". Não basta ser terra, tem que ser molhada! Em breve teremos terra após garoa, terra humida, terra a noite em dia de orvalho...

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    1. Terra humida é só em Portugal. Aqui é terra úmida. Quem falta às aulas de português, geralmente nunca sentiu o cheiro de terra molhada mesmo.

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    2. Isso não acho tão exagerado. É fácil criar aquela memória olfativa de terra após molhada uma chuva. Aliás, é um cheiro gostoso. Exagerado é cheiro de pepino do mar, gaveta da cômoda da avó, brisa do campo etc. Como muitos dizem por aí.

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    3. Meu celular foi comprado em PT e o corretor automático por vezes usa a grafia da terrinha, mas aposto que você entendeu e concordou, caso contrário traria um argumento diferente de como se escreve a mesma palavra em 2 países. Não vamos nos distanciar do tema central que é a picaretagem dos narizes atômicos pra promover vinhos, essa é difícil rebater.

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    4. Veja minha outra mensagem, postada às 8h35.

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  5. Quanto papo mais groselha.

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  6. Quem inventou o vinho nem imaginava a merda que estava aprontando

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  7. A comunidade de sommeliers anda tão desmoralizada que prefiro comprar na recomendação de um colega leigo com bom gosto do que na de um "especialista". É muita ladainha, groselha e conflito de interesses.

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  8. a groselha do dia...

    https://veja.abril.com.br/coluna/al-vino/o-renomado-chef-frances-que-so-vende-vinhos-brasileiros

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