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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O DIRETOR COMERCIAL

 


Foi nos já distantes anos 1970 que comecei a me interessar pelo fascinante mundo dos vinhos.

Uma meteórica passagem pela ABS-Brasília me convenceu que, mesmo sendo um semianalfabeto vinícola, nada poderia aprender de útil naquela associação.

A internet e o Google ainda nem gatinhavam e a únicas fontes de informação eram livros e revistas importadas.



Facilidade com os idiomas, francês e italiano, me ajudou a “devorar” grande quantidade de publicações que até hoje guardo em prateleiras e gavetas de minha casa.

 Naqueles mesmo anos surgiam os primeiros “veneráveis” das garrafas.



Os endeusados “papas” das taças premiavam com pontos, taças, estrelas, etc. o melhor vinho, a melhor vinícola, o melhor enólogo, o melhor alguma coisa e eu ficava babando só de imaginar quando poderia molhar os lábios em uma taça de Tignanello, Barbaresco Bruno Giacosa, Brunello di Montalcino Biondi Santi, Barolo Monfortino, Sassicaia, Amarone ... etc.

Parecia ser um mundo imaginário, distante, inalcançável.



 O melhor que conseguia beber, naqueles anos, eram alguns Valpolicella, Frascati, Chianti, Lambrusco e os horrendos vinhos alemães, aqueles da garrafa azul, presentes em quase todos os casamentos da então.



Enquanto isso a ABS continuava comandando a dança e oferecendo esporádicas degustações de “Barca Velha” para os sócios e enófilos abonados.

Lembro que o renomado vinho português era servido em conta-gotas e cobrado em tubos de 10 polegadas....



O pior dos eno-mundos.

Uma inesperada herança me propiciou boa folga financeira e finalmente consegui realizar meu sonho de conhecer, na fonte, o verdadeiro mundo do vinho.

As viagens para a Itália se tornaram mais constantes, regulares e demoradas.

Do norte ao sul, do leste ao oeste, do continente às ilhas, não há região vinícola, da Bota, que não tenha percorrido inúmeras vezes, sem contar que morei no Piemonte, mais precisamente em La Morra, durante vários meses.



Da França “vinícola” perdi a conta de quantas viagens realizei pela Borgonha, Alsácia, Champagne, Rhone, Provence, Languedoc-Roussilon.

Alguns anos e centenas de garrafas depois, cheguei à conclusão que todas as revistas e maioria dos livros que eu lera, apenas informavam o que interessava às grandes e poderosas casas vinícolas e que Tignanello, Sassicaia, Masseto, Ornellaia, Brunello Biondi Santi, Barolo Monfortino, Barbaresco Gaja, Barbera Bricco del Uccellone e inúmeras outras etiquetas, renomadas e badaladas, não valiam um quarto do que custavam.

Resultado: Nunca mais dei bolas nem acreditei em pontos, estrelas, taças, ou outro símbolo qualquer.

Estava convencido era apenas uma questão $$$ e de “Quem dá mais”



 Pagou? Tome 100 pontos, 3 bicchieri, 5 estrelas, melhor Cabernet Sauvignon do mundo etc. etc. etc.

Outra grande lição: constatei que havia, em todas as grandes e renomadas vinícolas, a figura do diretor comercial, do gerente de marketing e quase sempre a do enólogo famoso e endeusado.

 Apesar da exemplar organização e de dispendiosas   equipes, as renomadas e importantes vinícolas dificilmente produziam algo realmente excepcional.

Após rever meus conceitos e não mais acreditar nas revistas, sommelier famosos, críticos badalados (não havia, ainda os famigerados “influencers”) pontos, estrelas, taças, percebi que todas as vinícolas, com diretor comercial, gerente de marketing e enólogo famoso, ofereciam apenas vinhos de qualidade mediana, excessivamente caros, sempre tentando seduzir a vaidade e os bolsos dos “Bebedores de Etiquetas”.



Continua

Bacco

 

 

5 comentários:

  1. Lembro bem da época dos vinhos da garrafa azul. Coisa horrível, mas vendia muito. O valpolicella bolla era considerado coisa fina. Indo ao ponto do texto: o que escreveu é tão verdade que estão tentando acabar com o aplicativo vivino (onde leigos avaliam vinhos) e substitui-lo por outro igual, porém avaliado apenas por "especialistas". Nem de longe me baseio na opinião dos leigos, também prefiro viajar, provar e formar minha opinião, mas se tivesse que escolher entre a média de 5mil leigos e 5 "especialistas" eu ficaria com a primeira, simplesmente por não ter (ou ter consideravelmente menos) incentivos financeiros.

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    1. Exatamente! Apenas uma sugestão ....a maneira correta de escrever: E$PECIALI$TA$

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    2. Esqueça Vivino. É uma merd4. Se quer prefere opiniões de não-e$peciali$tas, use o Cellartracker. Pelo menos, lá tem um pessoal mais coerente.

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  2. Faz pouco mais de ano que sigo esse blog maneiro. Apesar do nome, somente Dionisio e Bacco escrevem. Por que do nome Bocca? Qual o melhor vinho italiano que você já tomou, Bacco?

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  3. Bocca nos deixou há anos Não ´ha o "melhor vinho". mas os melhores . Os tintos piemonteses que mais apreciei (até então) estão relacionados no link abaixo. O melhor não existe pois há sempre algo novo para conhecer e degustar; https://baccoebocca-us.blogspot.com/2018/05/a-lista-de-walter.html

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