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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

OS ESCARGOTS DE CORINNE

 


O que leva um sujeito (eu) pegar o carro, deixar para trás Santa Margherita Ligure, uma das cidades mais bonitas e badaladas da Ligúria, percorrer 70 quilômetros por uma estrada estreita, com centenas de curvas, subindo e descendo montanhas, até alcançar Alpe minúscula aldeia nas encostas do Monte Penna (1.735m)?



Resposta: “L’Osteria di Alpe” e os escargots de Corinne.

Antes de continuar....

Se é difícil entender o porquê, de alguém (eu) deixar Santa Margherita Ligure, onde há dezenas de bons restaurantes, para ir até a minúscula e desconhecida Alpe para comer caracóis, o que dizer de Corinne Cavalli que saiu da mundana e luminosa Paris para se isolar em uma aldeia perdida nos Apeninos?



O amor?

Talvez.

Não perguntei, mas ao se casar, com o italiano Cavalli, é bem possível que Corinne tenha escolhido o caminho da paixão, paixão que a levou até Alpe.

Acho, então, que a paixão foi o denominador comum que nos levou até à minúscula aldeia:  Corinne pelo marido e eu por sua cozinha e seus insuperáveis escargots.



 Há mais de 5 anos frequento a “L’Osteria di Alpe” e nunca tive uma decepção.

Gentileza, cozinha impecável, preços mais que honestos e os melhores escargots que já comi em toda minha vida.

Nem na França, “capital” mundial dos caracóis, encontrei iguais.

Melhores?

 Nem pensar... Corinne é a “rainha” dos escargots!



Como sempre, um dia antes de começar a “indigestão” de curvas, liguei para saber se haveria uma mesa disponível.

Se acham que sou o único louco pela cozinha de Corinne, estão redondamente enganados: se não fizer reserva aconselho levar alguns sanduiches para não passar fome....



É sempre bom lembrar que o Monte Penna e seus arredores, é o “paraíso” dos “funghi porcini” (os cogumelos comestíveis mais apreciados na Itália).



Durante os meses outonais milhares de catadores e apreciadores, dos “funghi porcini”, invadem os bosques da região à procura dos cogumelos

 Na hora do almoço, ou jantar, cansados, famintos e sedentos, lotam os restaurantes da região e a “L’Osteria di Alpe” não foge à regra, mas mesmo fora da “alta estação” é bom reservar..... A cozinha de Corinne é famosa, renomada.



O menu é variado e muda conforme a estação, mas alguns pratos são os “intocáveis”: “Ravioli de Abóbora” Taglierini com Cogumelos, Taglierini ao molho de Javali, Ravioli de Ortigas, Coelho ao Forno, Trutas Fritas, Cogumelos e.…os melhores escargots que se pode desejar



À Bourguignonne, ao molho, fritos, com presunto, pastel de escargots…uma variedade impressionante e uma qualidade que me obriga a enfrentar, alegremente, centenas de curvas, subidas, descidas e.....precipícios.



“L’Osteria di Alpe” é um restaurante ideal  para o gourmet que já cansou das metas obrigatórias (Roma, Milão, Veneza, Florença, Portofino, Pisa etc.) e que busca endereços exclusivos, reservados e fascinantes.

Em meu último almoço, em “L’Osteria di Alpe”, Corinne seduziu meu paladar com um festival de escargots: à Bourguignonne, com presunto cru, ao molho e seus maravilhosos pasteis de caracóis.



A conta?

Quatro pratos de escargots, uma garrafa de agua mineral e três taças de um bom Trento DOC = 35 Euros.



Mais uma coisa: A estrada serpenteia por bosque, rios, cachoeiras e vales de grande beleza, a paisagem é linda, mas cuidado com a empolgação.... Há centenas de curvas e centenas de despenhadeiros.

Bacco

PS. Sem nenhum problema de trânsito, estrada livre, zero chuva...

 Cheguei um pouco mais cedo.

 Enquanto esperava a hora do almoço, resolvi beber uma taça de espumante na varanda da “L’Osteria di Alpe”.

 Bebericando meu Trento DOC, em paz com a vida e admirando o majestoso Monte Penna, nem percebi que um senhor, também com uma taça na mão, sentou em uma mesa próxima.

O homem, já com mais anos às suas costas do que os que ainda lhe restavam pela frente, após beber dois ou três goles de seu vinho, me olhou e disse; “Linda e tranquila paisagem, não? ”

Concordei e ele continuou:  “Pena que Alpe esteja morrendo.... somos apenas 20 os moradores da aldeia”

Estranhei o número e indaguei: “Pensei que em Alpe houvesse pelo menos 300 ou 400 habitantes”

“Havia... não há mais”

“Foram todos embora, mudaram-se? ”

O senhor me olhou, sorriu enigmaticamente, apontou para um pequeno cemitério, pouco distante e continuou: “Estão todos ali. Os mais jovens foram para as cidades e agora somos apenas vinte velhos que não fazem mais filhos....Alpe morrerá conosco”.

A voz de Corinne me resgatou do vale de lagrimas....

Alpe é uma entre as milhares de aldeias italianas que oferecem casa por poucos Euros....Quem quiser vá, eu continuo preferindo Santa Margherita Ligure.



11 comentários:

  1. Você acha que vou largar meu churrasco de chão para comer pastel queimado de caramujo em um vilarejo fantasma?

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    1. Acompanhado de um bom Miolo seleção, aposto.

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    2. acredito, mais, em uma cervejinha, geladinha, com espumazinha, acompanhando a picanhazinha queimadinha

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    3. Assistindo aos melhores momentos do no sofa com a fatinha. Seguido de melhores momentos de bbb 21 (o melhor ate hoje).

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    4. Que monte de puxa-saco! hahaha.

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    5. Pois é, tem gosto pra tudo mesmo.

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  2. Ótimo artigo! Parabéns! Por isso esse blog é sensacional. Dicas raras

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  3. Ótimo relato. Alpe 1000x que um churrasco empanado na poeira

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    1. Tem medinho de poeira, é? Toma tento, guri!

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