No Brasil comprar vinhos para consumo sem ser lesado demanda
muita paciência e um pouco de sorte.
Para “ajudar” a sorte acesso as páginas dos principais vendedores,
pelo menos uma vez por semana, para ver as novidades e as eventuais ofertas.
Em uma tarde de tédio, de um dia útil às portas do inútil Carnaval
de 2020 (o da pandemia), entrei na página da Evino para verificar se haveria
alguma promoção.
Não encontrei nada barato, mas o vinho “3/VB Blanc de Negres”, da
vinícola catalã “Celler de Capçanes”, despertou minha atenção por três motivos.
1º: a vinícola declarava uma produção de, aproximadamente, duas
mil garrafas, o que indicava se tratar de um vinho raro.
2º: Encontrei o mesmo vinho, em algumas enotecas estrangeiras
por preço que rondava os 35 euros, assim, os R$ 250 da Evino pareceram
razoáveis,
3º: As idiossincrasias: vinificado em branco com uva Grenache
(Garnacha), proveniente de vinhas velhas e envelhecido em barrique por três
anos.
Graças à vez em que provei um “Viña Tondonia Reserva” 1999
na casa de Bacco, numa tarde de garrafas e pratos antológicos, fiquei fã de
brancos espanhóis fora das normas habituais.
Desde então o “Tondonia Reserva” saltou de 30 para
60/70 euros (quando você consegue achá-lo), a Vega Sicilia começou a plantar
uvas brancas, a moda de brancos barricados se alastrou pela Espanha e chegou
até a Hungria, mas isso é assunto para outro texto.
Após quase quatro anos voltei ao Brasil para rever a
familiares e amigos.
Em uma das muitas
manifestações de alegria pelo reencontro fui convidado, por um casal de amigos,
para jantar
Mãos vazias? Nunca
Procurei, na minha
abandonada e poeirenta adega brasileira ,um vinho branco... Só uma garrafa e justamente de “3/VB Blanc de
Negres”.
Sem alternativa e ciente de que se tratava de um vinho
incomum, liguei o modo “dane-se”, peguei a garrafa e fui para o jantar.
Lá chegando, abri a garrafa e os primeiros aromas já
impressionaram: frutas secas, amêndoas, coco, baunilha.
Na taça uma cor âmbar que lembrava a de um Xerez Pedro Ximenez.
A ideia inicial previa deixar o vinho descansando na taça pelo
menos dez minutos antes de prová-lo, mas não resisti: que vinho interessante!
Complexo, estruturado e no ponto para beber (a garrafa era de
2013).
Consultando a página da vinícola “Celler
de Capçanes”, constatei que o “3/VB” é chamado de Vimblanc (que imagino
que seja “vinho branco” em catalão), produzido fora das regras de qualquer
denominação de origem e que “3/VB” se refere ao fato ser o
terceiro vinho vinificado nesse projeto experimental – já há um “4/VB” envelhecido em barriques por
nada menos que OITO ANOS.
Em algumas enotecas europeias, como a Vinissimus, a Enterwine
e a Kiedo, é possível encontrar o 3/VB, 4/VB e até do 2/VB, por
preços que oscilam entre 35 e 40 euros.
No Brasil, nunca mais encontrei.
Tão saboroso, quanto inusitado, o “Vimblanc”, da Celler de
Capçanes, é um vinho para raros e grandes momentos (não poderia ser diferente
face a diminuta produção)
Coisa de doido?
Sim!
Mas são os loucos que
movem o mundo...
Zé
Segundo este sommelier, Brasil é o 2o melhor lugar para comprar vinhos no quesito custo-benefício enquanto Italia e França estão entre os piores do mundo. Será?
ResponderExcluirhttps://youtu.be/eKP7L_BEB78?si=CYZ71Do5JmH8PQde
O Rodrigo é um dos sommeliers mais lúcidos da atualidade.
ExcluirSommerdier anarfabeta de bicicreta
ResponderExcluirViagem marcada para europa em abril e um dos destinos é espanha. Fui tratar de procurar o tondonia branco para reabastecer a adega, mas está difícil. O único que encontrei foi por 125 euritos.....o rosê, nem pensar. Ainda tenho duas das 6 que comprei por 19 euros....bons tempos
ResponderExcluirDe qual safra este Tondonia que comprou?
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