Entendo e concordo com as preferências e escolhas dos
viticultores do Novo Mundo que utilizam castas francesas na produção de
vinhos.
Não é fácil “fugir” das uvas gaulesas mais populares e
difundidas do planeta: Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah, Cabernet Franc, Sauvignon, Chardonnay
etc.
São as castas mais “badaladas” e que fazem a festa nos
vinhedos do Chile, Argentina, EUA, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, México
e..... até do Brasil.
Os viticultores, das novas fronteiras vinícolas, brigam para
ver quem produz os melhores vinhos esmagando castas preferencialmente francesas,
mas sabem, muito bem, que competir em qualidade com a matriz europeia é
difícil, impossível.
Há alguns vinhos razoáveis, bons, até, mas quando comparamos,
por exemplo, um Pinot Noir, de qualquer canto do planeta, com uma garrafa de Gevrey-Chambertin,
Chambolle-Musigny,
Clos de
Veugeot, ou até de um Volnay ou Pommard, as diferenças são
gritantes, gigantescas.
A única “salvação”, para vinhos do Novo Mundo, é o preço: deve
ser bem mais barato, mais acessível, do que os originais franceses caso
contrário mofam nas prateleiras.
Ser mais barato é fácil, pois as grandes etiquetas francesas
não brincam em serviço e costumam estuprar os cartões dos incautos e afobados enófilos.
Como disse, no início da matéria, entendo a opção, dos
viticultores das novas fronteiras vinícolas, em vinificar utilizando quase exclusivamente
castas francesa, mas não nutro o mesmo entusiasmo quando encontro Merlot,
Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Syrah etc. em garrafas espanholas, italianas,
portuguesas.
É uma tolice sem
tamanho e sem razão.
Portugal, apesar de sua pequena extensão territorial, possui
um impressionante patrimônio vinícola que abriga quase 350 castas autóctones.
Na Espanha há um
programa, que agrega 25 centros de pesquisas, que estuda 1736 castas e
confrontando perfis genéticos de cada uma delas.
É bem provável, que após o termino das pesquisas, as castas autóctones,
de uva de mesa e viníferas da Espanha, não sejam “apenas” 235, mas 536.
E a Itália?
Bem, a Itália, com suas 545 variedades autóctones é a piada da
vez.
Apesar do imenso patrimônio e a incrível variedade de uvas nativas, sabem qual a 7ªcasta mais presente nos vinhedos da Bota?
A Merlot!
Sabem qual a 8ª?
A Chardonnay!
A Cabernet Sauvignon ocupa um interessante 13º e a Syrah um
modesto 20º lugar.
Um aspecto importante: Na Itália há
mais vinhas de Merlot e Chardonnay do que, pasmem, Barbera, Primitivo, Nebbiolo,
Corvina, Lambrusco, Garganega, Aglianico, Cortese (Gavi incluso), Moscato etc.
Os viticultores italianos sabem que jamais conseguirão produzir vinhos com a elegância de um Puligny-Montrachet, a complexidade de um Meursault, a grande classe de um Corton-Charlemagne ou a opulência de um Chassagne-Montrachet.
Alguns tentam, mas os resultados são sempre ridículos,
patéticos, esquecíveis e quando conseguem, se aproximar da qualidade dos
primos da Côte D’Or os preços das garrafas são, para mim, motivo de piada.
Alguns “piadistas” dos Chardonnay Italianos?
Gaja & Rey (Gaja) = 350 Euros
Piemonte Chardonnay “Riserva della Famiglia” (Coppo) = 115 Euros
Chardonnay Ca’ del Bosco = 70 Euros.
Dos três, o mais ousado, como de costume, é Gaja.
Gaja é um dos predadores mais espertos da Bota.
Gaja não enrubesce ao pedir, por seu Chardonnay piemontês, 300%
a mais do que, por exemplo, a “Domaine Cauvard” pede por seu ótimo Corton-Charlemagne
Corton-Charlemagne 2018
AOC Corton-Charlemagne 75 cl
13.5% vol
Voir les autres
vins de l'appellation Aloxe-Corton
Direct propriété
93,20 €
Quantité93,20 €
A vinícola Coppo, outra manjada predadora piemontesa, não se
envergonha de mandar para as prateleiras das enotecas seu Chardonnay “Riserva
della Famiglia” quase seis vezes mais caro do que o muito, mas muito, superior Chablis 1er Cru Vaillons da
Domaine du Chardonnay.
Domaine du
Chardonnay19,60 €
Aguardem!
Na próxima matéria
pretendo comparar os Chardonnay italianos (e do resto do planeta) com os
franceses.
Não decidi, ainda, se será um post cômico ou trágico......quem
ler, dirá.
Dionísio
Dionísio,
ResponderExcluirnão deixa de ser triste ver a Merlot (uma uva que não me atrai, a menos que esteja num corte bordalês) tão difundida na Itália, onde, tirando o magnífico Capo di Stato, não lembro de ter tomado um bom vinho feito com essa uva - mas nem procurei também, pela minha preferência por uvas autóctones.
mas a surpresa, pra mim, é a Catarratto em terceiro lugar, já que nunca imaginei que ela (e, vá lá, nem a Trebbiano) fossem tão plantadas assim. pra onde vai essa produção toda? algum vermute famoso, como no caso da Cortese?
Se famoso , ou não , nao sei, mas entra na produçaõ do vermouth e do Marsala
ResponderExcluirMatéria oportuna. Nos encontros com amigos apreciadores das castas francesas, alguns ostentam caros Bolgheri, raramente superiores aos Petit Chateau de Bordeaux. Nas comparações com o borgonheses, a distância é ainda maior. Não tenho acompanhado, mas parece haver uma reversão na expansão das castas francesas ou “internacionais” na Itália. Confere, ou é falsa percepção?
ResponderExcluirNão há reversão. Há uma freada na expansão das castas francesas. Os motivos? Na Próxima matéria . Abraço
ResponderExcluirApenas uma observação: o Gaja cobra "somente" 200% a mais, e não 300%.
ResponderExcluirAcho que a matemática não é nosso forte.... Eu peco pelo excesso, você pela "modéstia". 93 + 200% = 279. 93 + 300% = 372. O certo seria 276%.
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