Os jornalistas, nos últimos dias do ano e todos os anos,
procuram desesperadamente assuntos interessantes para atrair a atenção dos leitores,
mas o período de festas sempre é avaro em oferecer manchetes de impacto; parece
que o mundo faz uma pausa e entra no “modo-bondade-natalina”.
Faltam notícias impactantes.
Há apenas fotos com cascatas
de luzes, de gente sorridente e apressada entrando e saindo de lojas, de milhares
de “Papais Noéis” com o saco cheio (o nosso também...) de inexistentes presentes
e de pessoas com meigos olhares que tentam, inútil e falsamente, transmitir paz
espiritual e natalina bondade; falsos sentimentos que se esgarçam pontualmente
no dia 3 de janeiro.
O que resta?
Notícias da pandemia, chuva na Bahia, calamidade que desperta
a costumeira e bondosa solidariedade televisiva, esperanças de um novo ano
melhor e ....encher linguiça, exatamente como estou fazendo.
No enfadonho marasmo, de final de ano, uma matéria no jornal
italiano, “Il Giornale”, chamou minha atenção: Quanto custa um jantar, em 31 de dezembro, nos
restaurantes estrelados da Itália?
Para a grande ocasião os renomados chefes da Bota abandonaram, por algumas horas, as câmeras televisivas e estão de volta às panelas.
“Volta
às Panelas” é um eufemismo que encontrei para substituir os
palavrões que gostaria de escrever sobre o que realmente penso dos “chefes-stars-tevê”
que, ao retornarem esporadicamente para suas cozinhas, já nem recordam como
preparar uma boa omelete.
Mas o mundo é cheio de idiotas abonados que não se importam,
por exemplo, em viajar até Bolonha e sorridentes detonarem
130 Euros (R$ 832 sem vinho) para comer no bistrô “Fourghetti”, de Bruno Barbieri,
um dos “juízes do “Master Chef” italiano.
Não sei como e quando Barbieri encontra tempo e se ainda
recorda o endereço de seu “bistrô”, pois, além do “Master Chef”, ele pilota
mais dois programas televisivos.
Carlo Cracco, colega de Barbieri, no “Master Chef”, também percorre a Itália, de norte a sul, com seu programa de
televisão “Dinner Club”, comanda as panelas (será?) do restaurante “Pitosforo”, em
Portofino e ainda encontra tempo (será) para “cozinhar” no “Bistrô” e no
“Ristorante Cracco”, ambos na “Galeria Vittorio Emanuelle” no centro de Milão.
O jantar, de fim de
ano, no “Bistrô” do Cracco, custa módicos 170 Euros (R$ 1.088 sem vinho).
Caso o cartão, do abonado-abobado, seja da rara e exclusiva série “insensível
à dor”, o gourmet poderá jantar, no restaurante “Cracco” e torrar módicos 450 Euros (R$ 2.880 sem
vinho) ou 650 Euros (R$ 4.160) com vinhos escolhidos pelos
sommeliers da casa.
Fugindo das grandes cidades, à procura de paz e preços mais
humanos, os proprietários de “cartões-sem-traumas” podem visitar a belíssima
aldeia piemontesa, Orta San Giulio, e se hospedar no hotel “Villa Crespi”.
No exclusivo “Villa Crespi”, traumatizante monumento estilo “mourisco-kitsch”, o abonado-abobado deverá desembolsar 1.348,50 Euros (R$ 8.630,40) por três noites de sonho ou pesadelo (depende da companhia...).
Caso o sortudo e recheado turista, no dia 31 de dezembro 2021,
queira cear no restaurante 2* Michelin, do televisivo e rotundo chef, Antonino Cannavacciuolo, será aliviado em
razoáveis 350 Euros (R$ 2.240 sem vinho)
por pessoa.
Ia esquecendo: no preço da diária do hotel estão incluídos:
café da manhã no quarto e uma massagem de 30 minutos.
Não há informação em qual parte do corpo é realizada a massagem
de meia hora, mas pelos preços cobrados não é difícil imaginar o local mais
traumatizado.
Para as carteiras afortunadas-recheadas-abastadas, mas que detestam “chefes-stars-tevê”, há, em Modena, uma opção interessante: O 3* Michelin “Osteria Francescana” de Massimo Bottura.
Bottura, que detesta televisão, mas adora cartões-alienados,
somente entrega suas especialidades culinária por
1.000 Euros (R$ 6.400) vinhos, ainda bem, inclusos.
Se você acha que o cachê do Bottura é um pouco exagerado não deverá caminhar pela rua Alberto Cadiolo, em Roma.
Transitando, pela mencionada rua romana, quando encontrar o nº
101, você poderá sentir um incontrolável desejo de entrar no “Rome Cavalieri
Waldorf Astoria”, pegar o elevador até o último andar e desembocar no “Pergola” o 3* Michelin do chef
Heinz Beck.
Nosso teutônico cozinheiro não brinca em serviço e somente entrega seu menu, de final de ano, por hiperbólicos 1.300 Euros (R$ 8.320) vinho incluso.
Escrevi a matéria nos primeiros dias de 2022 para não
despertar desejos incontroláveis nos cartões, sem limites e sem pudor, que flutuam diariamente, alegres e impunes, pela praça dos três poderes de Brasília.
Feliz 2022, mas sem brindar com os vinhos nacionais exportados para o Paraguai e Haiti ...... é caganeira na certa
Dionísio.
Sobre chefs pretensiosos e suas estrelas!
ResponderExcluirhttps://everywhereist.com/2021/12/bros-restaurant-lecce-we-eat-at-the-worst-michelin-starred-restaurant-ever/
https://www.nytimes.com/2021/12/23/world/europe/bros-restaurant-review.html
Não sei se é para rir ou chorar
ResponderExcluirJá dizia o gerúndio, "rindo, chorando mais faturando!"
ExcluirEstou juntando dinheiro para ir a Itália, se o mundo voltar ao normal algum dia, sem essa palhaçada de máscara e passaporte sanitário, irei, aí sim, pedirei dicas de restaurantes a você, porém meu cartão não é desses, eu jamais pagaria o valor da viagem em um restaurante, mesmo que tivesse dez estrelas.
ResponderExcluirNo blog há inúmera dicas de restaurantes para cartões normais,mas em 2051, quando a pandemia acabar,e se ainda estivermos vivos daremos mais algumas dicas
ResponderExcluirVerdade viu, essa "pandemia" irá se extender por anos e anos, ou até que nossos incautos jornalistas se interessem por algum outro assunto,
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