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quarta-feira, 22 de maio de 2019

ALTO PIEMONTE.....ADEUS




Sigo, com preocupação, a contínua e inexorável elevação dos
 preços nos vinhos de todas as regiões do mundo.

Bordeaux e Borgonha lideram a escalada.

Em minhas primeiras, viagens pela Côte D’Or, era fácil encontrar bons produtores que vendiam seus 1er crus por 25-30 Euros e Grand Crus por 50-80 Euros.

Nas regiões menos badaladas, Pouilly-Fuissè, Macon, Saint-Veran etc. abastecia minha adega com ótimos vinhos que custavam 7-12 Euros.

Bons tempos em que até o câmbio era favorável.....

Hoje a dança mudou: 1er Cru não sai por menos de 80-100 Euros, Grand Cru 180-200.... Melhor esquecer.

A escalada dos preços se espalhou, como uma praga, por todos os vinhedos do planeta e especialmente nos mais renomados e badalados do velho continente.

Não pretendo escrever um tratado sobre o assunto e focarei minha atenção, apenas e por enquanto, no Piemonte vinícola.

O Piemonte demorou para perceber que seus vinhos e sua gastronomia (leia-se: tartufo) nada deviam aos mais badalados e consagrados primos toscanos, e que poderiam disputar, tranquilamente, os primeiros lugares do pódio.

O Piemonte demorou para acordar, mas quando abriu os olhos....... Saia da frente.

Até anos 1970 a fama, dos vinhos das Langhe, mal ultrapassava os confins da região e perdiam, de goleada, até para os Chianti.

Sempre nos anos 1970, na BIBE de Genova (manifestação vinícola), o Barolo de Giacomo Conterno era vendido por 800 Liras e, caso o comprador exigisse, poderia ser entregue, gratuitamente, em sua residência.

Para que se tenha uma ideia e sem rebuscar fórmulas complicadas, posso revelar alguns dados: O salário médio, dos italianos, naquele ano (1970), era de 120.000 liras.

 120.000 liras eram mais que suficientes, então, para comprar 150 garrafas de Barolo do Conterno.

No mesmo ano, 1970, uma taça café expresso custava, no bar da esquina, 70 Liras.


Sem ser um gênio matemático e fácil calcular que Francesco, o nosso amigo fictício italiano, após deixar de beber 12 xícaras de café, poderia passar num supermercado e levar para casa uma garrafa de Barolo Conterno.

Em 2019, o nosso Francesco, se quiser beber, o mesmo Barolo de Giacomo Conterno, deve desembolsar, pelo menos, 350 Euros.

 O salário médio em 2019 (o mínimo não existe na Itália) é de 800 Euros e o café custa, no bar da esquina, 1 Euro.

Se ainda não deu para entender vou ajudar: Com o salário atual, o nosso amigo Francesco, leva para casa, não 150 garrafas de Barolo, mas apenas 2,5.

 Se quisesse preservar seu salário, mas continuar bebendo Barolo Conterno, Francesco deveria renunciar, por um ano, à sua xicara diária de café expresso.

Minha sensibilidade e um sentimento de piedade não permitiram que eu apresentasse os mesmos cálculos abordando o “Monfortino” do Conterno.


Regione: Italia, Piemonte
Uvaggio: 100% Nebbiolo
Denominazione: Barolo DOCG
Annata: 2010
1.500,00 €                             


Como todos os bebedores de etiquetas sabem, o “Monfortino”, custa míseros 1.500 Euros e, se o Francesco quisesse beber uma garrafa do “precioso néctar” (enófilo tupiniquim adora esta melosa idiotice...) deveria virar faquir e não comer durante dois meses ......

A escalada dos preços dos produtos de Conterno extrapola qualquer regra do bom senso, mas todos os produtores, de Barolo e Barbaresco, aumentaram exageradamente os preços.

Tá bom, tá bem, eu sei.... Se há mais procura do que oferta os preços sobem, mas, sempre há um “mas”.

O “mas”, no caso do Barolo, é o preço alcançado pelas vinhas do renomado vinho.

 Nos dias que correm, não se consegue comprar 1 hectare de vinhedo de “Nebbiolo da Barolo” por menos de um milhão de Euros e os crus, de maior prestígio, podem facilmente alcançar o impressionante valor de 2-3 milhões de Euros.

Resultado: Os produtores das Langhe estão buscando novos territórios onde os preços ainda não enlouqueceram.

 Um dos territórios, recentemente “redescobertos”, é o “Alto Piemonte”.

Gattinara, Fara, Ghemme, Boca, Lessona, Sizzano, Carema etc. são “a bola da vez” e quando os “poderosos” vão às compras quem leva ferro é sempre o enófilo.

Continuará nas próximas duas matérias

Dionísio

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