A região vinícola
do Alto Piemonte é um território que confina com a Pianura Padana (Planície Padana)
, ao sul e ao norte com os Alpes.
No final do século XIX havia, naquela região, cerca de 40.000
hectares de vinhedos.
Os ataques da filoxera e por causa da terrível geada de 1904, muitos
agricultores abandonaram as vinhas, optando por uma vida, menos difícil e mais
segura, na florescente indústria têxtil local e nas fábricas de Torino e
Milano.
Resultado: A região, hoje, conta com menos de 1.000 hectares
de vinhedos e, apesar da fama, de alguns de seus vinhos, especialmente a do “Gattinara”, a retomada parece difícil,
impossível.
A desunião dos viticultores, nenhum investimento na divulgação
do território, pouco apelo turístico e total falta de estrutura para atrair e
conquistar os enófilos (em Boca não há sequer um bar decente para poder degustar o
ótimo vinho local), contribuíram para perpetuar o esquecimento.
Mas, algo está mudando....
A revista Forbes, há alguns anos, classificou o Alto Piemonte
como uma das 12 áreas, de produção vinícola, mais subvalorizadas do mundo e,
coincidência, ou não, a vinícola Conterno, sim, aquela mesma do “Monfortino” da
matéria anterior, comprou, em 2018, 27 hectares e toda a estrutura
de vinificação e administrativa da centenária Nervi.
É bom lembrar 2 coisas: 1) A Nervi, tradicional produtora de Gattinara, foi
adquirida por 6 milhões de Euros. 2)
Conterno comprou, da Gigi Rosso, 3,6 hectares do Cru Arione por 7 milhões de
Euros.
Não é necessário ser um grande matemático para perceber que
Conterno adquiriu toda uma empresa vinícola (adegas, maquinas, tanques, toneis,
27 hectares de vinhedos etc.) pelo preço de 3,6 hectares em Serralunga D’Alba.
Amigos do vinho, preparem um cartão “XXLL”: Em 2 ou 3 anos
os preços dos vinhos, do Norte do Piemonte, triplicarão.
Mas qual a razão do súbito interesse pelas vinhas esquecidas
do “Alto Piemonte”?
Várias razões......
1ª) O preço insano e proibitivo dos vinhedos tradicionais e
badalados das “Langhe” e o valor ridículo, se comparado às vinhas do albese, das DOC e DOCG do Alto Piemonte. Em Boca , Fara e Ghemme o valor médio é de 23 mil Euros. Em Lessona 30 mil Euros. Em Gattinara 33 mil Euros.
2ª) As mudanças nas preferências dos consumidores e na
orientação dos críticos
Os vinhos mastigáveis, de grande estrutura, muita extração,
proveniente da afinação (mal executada) em barrique, impenetráveis, muito
alcoólicos etc., há alguns anos estão perdendo terreno para vinhos mais leves,
com boa acidez, minerais e com pouca extração.
Os vinhos do alto Piemonte são exatamente o oposto daqueles vinhos,
ditos “internacionais” e se encaixam perfeitamente na nova tendência e no atual
gosto dos consumidores.
Todo tem como base o Nebbiolo, localmente conhecido como “Spanna”, envelhecem muito bem, custam menos e são mais
fáceis de beber.
Eu não tenho medo de afirmar que na minha adega há mais Lessona, Gattinara, Ghemme, Bramaterra e Boca do que
Barolo e Barbaresco.
Ótimos vinhos, os do “Alto Piemonte”, que podem ser
encontrados (por enquanto e ainda bem) por 10 - 20 Euros e que não temem
comparações.
A minha atual viagem, pelo Alto Piemonte, foi decidida quando
percebi o interesse dos “predadores” italianos em estender os tentáculo$ sobre
as vinhas da região.
Quando os De Marchi,
Zegna, Conterno etc., saem às compras, é hora de fortalecer o
estoque de KY.
Segue na próxima matéria
PS.
PS.
Dionísio
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