"Ainda não terminei a colheita da "Favorita". Meu
filho está lhe esperando na adega e a gente se encontra no Bercau".
O telefonema de Gian Alessandria confirmava que visitar
viticultores, em setembro e outubro, não é decisão muito inteligente.
Havia combinado encontrar o Gian em, sua vinícola, para comprar
algumas garrafas de Pelaverga e de Barolo, bater um papo, tomar uma ou duas taças e
depois almoçar.
A "Favorita"
estragou meus planos.
Para quem não sabe, a "Favorita"
é uma das três castas brancas autóctones do território (as outras são a Arneis e Nascetta).
Encontrei o Vittore Alessandria trabalhando na adega.
Apesar de atarefado, à espera da Favorita, me atendeu
cordialmente.
"Quero seis garrafas de Pelaverga e dois magnum de Barolo
Gramolere"
Vittore me olhou com ar intrigado e respondeu: "Não vai querer
uma de Monvigliero? Você sempre preferiu o Monvigliero.....".
Era a minha oportunidade para perguntar ao Vittore qual a
mudança que ele havia introduzido na vinificação do Monvigliero.
Duas explicações......
Primeira:
O Gian toma conta das vinhas, o irmão, Alessandro e o filho,
Vittore, da adega e comercialização.
Gian relutou muito, mas acabou concordando em soltar as rédeas
e deixar para a juventude (Vittore e Alessandro) a continuação do trabalho que
ele havia implantado.
Vittore é igual ao pai. É apenas mais moderno e preparado para
os novos tempos.
Vittore fala perfeitamente inglês, entende espanhol e francês,
viaja, com desenvoltura, pelo mundo para "vender" suas garrafas.
Gian fala piemontês e,
quando estritamente necessário, o italiano, não gosta muito de viajar e prefere
passear por suas vinhas.
Segunda:
O Monvigliero parece ser um dos Barolo preferidos do Robert
Parker que não para de pontuá-lo e cada vez mais alto (e o Vittore não para de aumentar o preço.......)
O Parker lascou 96
pontos para o Monvigliero 2010 e os Alessandria viram seus estoques sumirem com
velocidade meteórica.
Ano passado, Gian abriu uma garrafa de Monvigliero 2010 para
acompanhar nosso papo e algumas fatias de salame.
Achei o Barolo muito "americano", meio adocicado, bem
ao gosto do Parker.
Não comentei o fato com
o Alessandria, mas pensei: "Com o Monvigliero "sabor chocolate"
Vittore começou a abrir as pernas para os americanos......"
Voltando ao assunto....
Aproveitei o gancho e disparei: "Você mudou a vinificação do
Monvigliero?"
Vittore me olhou com surpresa, respondeu negativamente e
perguntou de onde eu havia tirado aquela idéia.
Comentei, então, o que acontecera quando bebi o Monvigliero
2010 com seu pai.
"Alguma coisa está errada..... talvez uma garrafa com
problema..... Não mudamos uma vírgula na vinificação".
Inconformado Vittore insistiu e me ofereceu uma taça de Monvigliero
2012 que abrira para uma degustação na noite anterior.
Grande vinho!
Era o velho e bom
Monvigliero com todas suas importantes características, seus taninos elegantes,
seus perfumes complexos e seu final interminável.
No final da conversa e da degustação, uma das magnum de Gramolere
foi substituída por outra de Monvigliero.
Os Alessandria continuam, ainda bem, trilhando o mesmo e
tradicional caminho e produzindo grandes Barolo, Barbera, Dolcetto, Pelaverga, Nebbiolo......
Na próxima tem mais Piemonte
Bacco
De acordo com o que diz sobre vinho americano. Com poucas excecoes a maioria deles realmente cansa, apesar da potencia, da opulencia... Cada vez mais estou sendo literalmente obrigado a desguta-los e nao estou achando muita graca nisso.
ResponderExcluirVou comprar uma ou duas garrafas do Alessandria e dou retorno em algumas semanas sobre o que achei do vinho[s].
Parker nao degusta todos os vinhos que tem o nome parker nos pontos. E discordo (de novo): Ele adora tudo que he bom, incluindo Rhone, Borgonha, Champagne, Piemonte....nao so americano e bordales, como muito se diz por ai...
Salute e fortuna. Auguri.
Gosta muito do que é bom , eu também sei, mas os bordaleses o adotaram e até hoje a adoração é mutua.
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