Há anos estou diminuído visivelmente minhas viagens à
Borgonha.
Os grandes atrativos da região são seus grandes vinhos, mas nos
últimos 20 anos vi os preços das garrafas percorrerem o caminho das estrelas
enquanto o Real continua sua lenta, mas inexorável, queda rumo ao Maranhão
Entrar no carro, percorrer mais de 700 km, na ida e outros
tantos na volta, para comprar garrafas que custavam 50/80 Euros e que hoje
ninguém entrega por menos de 200/300, soa insanidade total.
A Borgonha, nos últimos anos, se transformou na região vinícola
mais badalada e cara da França.
Há incontáveis anos a área coberta por parreiras, na Borgonha,
continua praticamente do mesmo tamanho, não sofreu um significativo aumento dos
hectares cultivados e a produção, de garrafas produzidas, não é suficiente para
suprir o constante aumento da procura.
Resultado?
Os preços dos 1er e Grands Crus alcançaram estrelares 300-400-500
Euros.
CHEVALIER-MONTRACHET 2020
Como não bastasse o
fator “oferta X procura” é notório que, após Champagne e Bordeaux, os
grandes grupos do “luxo” começaram a se interessar, para valer, pela Borgonha.
François-Henri- Pinault, proprietário,
entre outras coisinhas, das marcas Gucci, Balenciaga, Bottega Veneta, Saint Laurent, Château
Latour, Château Grillet etc., comprou, na calada da noite, a Domaine d’ Eugenie em Vosne-Romanée.
Seu eterno rival, Bernard Arnault, dono do grupo LVHM (Luis Vuitton,
Dom Perignon, Moet & Chandon, Krug, Ruinart, Veuve Clicquot, Château D’Yquem
etc. etc. etc.) em 2014 comprou
os 8 hectares do “Clos des Lambrays”, um dos quatro Grands Crus de Morey-Saint-Denis, pela
bagatela de 200 milhões de Euros (25 milhões por hectare).
Pinault, não se deu por vencido e em 2017, arrematou, quase
pelo mesmos 200 milhões, os 7,06 hectares do Grand Cru vizinho, o “Clos de Tart”.
É bom lembrar que o “Clos de Tart” tem uma história vinícola
de “apenas” 900 anos.
Os significativos investimentos dos grandes grupos, a mesma
quantidade de garrafas produzidas e a crescente procura, foram responsáveis
pelo aumento dos preços, que triplicaram e em alguns casos até quadruplicaram
de valor.
Exemplo:
uma garrafa de Grand Cru que, há 15 anos, custava 150/200 Euros, hoje é quase
impossível leva-la para casa por menos de 400-500 ou 800 Euros.
Sorte nossa que a Borgonha não é somente Côte d’Or....
https://www.youtube.com/watch?v=OddALnXIhkE
Em minhas próximas viagens “francesas” deixarei Beaune,
Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet, Vougeot, Morey-Saint-Denis, Gevrey-Chambertin,
Corton, e Cia, para os novos-ricos-abonados e focarei minhas atenções nos
vinhos de Mercurey, Fuissè, Vergisson, Pierreclos, Vinzelles, Chablis etc. denominações
menos badalas, vinhos de ótima qualidade, onde é possível, ainda (até quando?),
encontrar garrafas com ótima relação qualidade-preço.
PENSANDO BEM......
Os franceses são grandes e tradicionais viticultores, mas
pecam pela ingenuidade, não entendem nada de especulação e desconhecem quão milagroso
pode ser o cenário vinícola do Brasil.
Continua
Bacco
Fui pra Bordeaux há 18 anos, naquela época os vinhos da América do Sul eram intragáveis, a supremacia Europeia era evidente, mas já se via o início da busca por opções fora do velho mundo. Os Australianos (Shiraz) e Sul Africanos (Pinotage) começavam a dar sinais de que podiam encontrar seu nicho (nessa época o Brasileiro maluco cultuava o tosco Jacobs Creek kkkk). De lá pra cá os vinhos Brasileiros evoluíram pouco, mas melhoraram, os Argentinos se especializaram em vinhos frutados e encorpados levando o Malbec pra altitude e tocando barril a dentro, e os Chilenos abriram um leque interessante com Cabernet e Carmenere (para alguns Carmenever). Os vinhos Europeus não pioraram, mas o gap diminuiu. Hoje, um bom chileno se encontra a 100 janjas, valor que dificilmente encontrarei um bom francês aqui. Os Franceses que chegam a 100 janjas ou menos não seriam servidos nem na classe econômica da Air France. Faz sentido que a França se concentre nos super vinhos e tente lucrar ao máximo, mas para exportar ao homem comum eles não estão mais competitivos no quesito preço.
ResponderExcluirTagaretcha, é você???
ExcluirMais vantajoso comprar os vinho da "Borgonha brasileira" kkkkkkkk:
ResponderExcluirhttps://youtu.be/zumztXYsyF0?si=42Q91ksFlYXYgBSE
Tudo que é uma versão de outra coisa mais famosa é sempre uma porcaria.
ExcluirA Harvard do Canadá.
A Paris do Leste.
A Borgonha Brasileira.
Aliás, esse sommelier do vídeo virou sommelier oficial do grupo pão de açúcar e tem a tarefa hercúlea de recomendar vinhos com uma relação custo benefício de chorar.
Harvard do Canada foi maldade, mas boa.
ExcluirSe até pra quem está na Europa é difícil, aqui então é impossível. A facada final nos apreciadores de vinho daqui foi esse câmbio.
ResponderExcluirMinha adega ainda tem alguns borgonhas, quase duas dúzias de garrafas, safras 2009 e 2015, excelentes. Côte D’Or na maioria e alguns da Côte Chalonnaise. O título do texto caiu feito uma luva. Triste. A reposição é descartada, e as garrafas vão ficando por lá, símbolos do passado como as fotos de uma juventude sem barrigas e presbiopias e com sorrisos de mulheres bonitas Deve haver algum tratamento psicológico libertador para entornar sem remorso.
ResponderExcluirbeber um Grand Cru e cantar ... "Que reste-t-il de ces beaux jours?
ResponderExcluirSim, mas chorar cantando e engasgar com o Grand Cru. Le coup de grâce !
ExcluirCôte Chalonnaise é o que nos resta, por enquanto. 😩😩😩
ResponderExcluirAcrescentaria o Mâconnais, Alsácia, Côte du Rhone.....
ResponderExcluirDezenas de ótimas regiões aa disposição com preços decentes.
ExcluirSim, mas estamos nos referindo à Borgonha.
ExcluirEu adicionaria Macon-Villages na lista. Comprei 4 garrafas do Jadot por £10 cada em supermercado local. acho um belo custo/beneficio
Excluira Borgonha tá mesmo impraticável. difícil de achar um branco da região, mesmo os abaixo da classificação Villages, por menos de 20 euros - e já há uns lunáticos pedindo 35/40 euros nos brancos base. felizmente, ainda se acham alguns premier cru da Côte Chalonnaise nessa faixa... e boa sorte para quem quiser qualquer garrafa com "Montrachet" no nome.
ResponderExcluirZé
A abordagem dessa matéria só me traz sentimento saudosista, nem Chalonnaise consigo mais
ResponderExcluirPossuo 3 grrfs Clos Apalta 2005, Top One da WS 2008. Alguém se interessa?
ResponderExcluirNão briguem cmg por ser um vinho chileno, mas foi a francesa Lapostolle q produziu.