Acredito que a mais importante atração de Campo Ligure seja o “Museu da Filigrana”.
A filigrana é uma antiguíssima técnica de ourivesaria,
difundida no mundo todo, mas com características próprias de cada escola.
Na Itália, a filigrana, já estava presente entre os etruscos e
também na Roma imperial onde se produziram as primeiras joias obtidas
exclusivamente em filigrana.
Uma visita é obrigatória e se as joias enfeitiçarem os olhos,
e coçarem os bolsos, recomendo um endereço: “Filigranart”.
Impossível visitar todas as igrejas da Itália (há quase 65.000),
mas há as que merecem uma parada.
Das 6 igrejas, de Campo Ligure, uma merece particular atenção:
“Oratorio N.S Assunta”.
Bem aos pês da escadaria que leva ao castelo, o “Oratorio N.S. Assunta” não atrai a
atenção do turista que, ao ver sua “pobre” fachada, não pode imaginar que a
pequena igreja guarda algumas obras de arte de rara beleza e
valor.
Já ao entrar no “Oratorio” um enorme e belíssimo crucifixo, prateado e
dourado, chama a tenção.
Estes preciosos crucifixos, na Itália, abrem as procissões
mais importantes.
O interessante é que estas cruzes, durante todo o percurso da manifestação,
são carregadas por vigorosos fieis que a cada 50-100 metros (mais seria
impossível, pois o peso dos crucifixos supera os 100/130 kg) as repassam a um
colega descansado
À direita, um belo conjunto de escultura em madeira representa
a lapidação de Santo Estevão.
A mais impressionante obra de arte está um pouco mais adiante:
Uma incrível escultura, em madeira, que representa o Cristo crucificado.
O interior da igreja é de deixar boquiaberto até o mais
exigente turista.
Após do elevar o espírito é chegada a hora satisfazer o corpo, sentidos, paladar, estomago......
Depois de um calmo e relaxante passeio pela aldeia, percorrendo suas calmas ruelas medievais, desembocamos na praça principal bem na hora do aperitivo do meio dia.
Na esquina da praça, um endereço imperdível: “Bar Moderno”.
Incrível!
Em uma aldeia de 3.000 habitantes, perdida no meio dos
Apeninos lígures, o bar bonito, elegante, acolhedor e com uma carta de vinhos
de fazer cair o queixo, é a melhor escolha.
O “Bar Moderno” é o exemplo clássico da importância
que se dá ao vinho na cultura italiana.
No “Bar Moderno” dezenas de etiquetas de tintos, brancos, rosés, espumantes,
podem ser degustadas em taças
Difícil é decidir entre Barolo, Barbaresco, Brunello, Barbera,
Gavi, Franciacorta, Alta Langa, Amarone, etc. etc.
Giorgia, proprietária e competente sommelier, com simpatia e profissionalismo
chega para ajudar e..... “Dia frio, nublado, triste...Para alegrar recomendo um
belo Barbera D’Asti da vinícola Scarpa”.
Sugestão perfeita e acatada com entusiasmo.
Uma taça da ótima Barbera, do tradicional produtor de Nizza
Monferrato e um pratinho de tira-gostos (salame, presunto, queijo grissini) me
aliviaram em 3,5 Euros.
A qualidade da Barbera Scarpa, o ambiente e o preço me “obrigaram” a repetir a dose.
Enquanto bebericava a segunda taça de Barbera e me divertia
com as conversas dos clientes, peguei o celular e resolvi fazer algumas contas:
Com seu salário mínimo (1.500 Euros), um trabalhador de Campo Ligure poderia
beber, se conseguisse, 428 taças de Barbera Scarpa por mês.
O José Souza, bravo trabalhados e morador de Ceilândia (DF),
com seus R$ 1.212, poderia beber, no máximo 81 taças da deplorável Barbera Perini.
Qual o cálculo?
Uma garrafa da quase-Barbera Perini custa R$ 70.
Cada garrafa equivale a seis taças.
Cada taça custa, para o dono do bar R$ 11,60
Para obter algum lucro o comerciante precisa vender, no mínimo,
uma taça, da deplorável Barbera Perini por
R$ 18.
Resultado: Se o paladar do José Souza for de epóxi ou engolidor de fogo, ele
conseguirá beber 67 taças por mês.
Utilizando os mesmos
cálculos, aplicados ao quase-Barbera-Perini, o José Souza, com seu salário
poderá entornar apenas e ainda bem, 25 taças “ Pireneus Bandeiras Barbera”.
Escrevi “apenas e ainda bem” por duas razoes:
1ª- o “Pireneus Bandeiras Barbera” é um insulto à
casta piemontesa.
2ª – Barbera goiana com
16º é um insulto à inteligência de qualquer enófilo com mais de 4 neurônios.
Analisando os cálculos acima dá para perceber quando o Brasil
será um importante mercado vinícola?
Hora de almoço pedi informação e Giorgia indicou um
restaurante na mesma rua: “Vigos 2.0”.
Local simples, comida boa e preço mais que honesto.
Flan de espinafre com fondue, peito de peru recheado ao forno
com ervilhas, ½ garrafa de Barbera “I Tre Vescovi”
(Três Bispos) = Euro 20.
Campo Ligure, bela e cativante aldeia.... Não perca.
Na próxima matéria escreverei sobre a Barbera “I Tre Vescovi” de Vinchio e Vaglio Serra.
Bacco
.
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