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sábado, 20 de novembro de 2021

DOLCETTO: ASCENSÃO E QUEDA

 


Acredita que abraçar uma “moda” pode atrapalhar a venda de um produto?

Não?

Tentarei relatar o que aconteceu com o Dolcetto, um dos mais populares vinhos italianos, quando os produtores resolveram abraçar a “Moda Parker” e tentar transformá-lo em um vinho “importante”.


Não me entendam mal... O Dolcetto é um vinho importante, ótimo para acompanhar a saborosa gastronomia piemontesa, maravilhoso para alegrar as conversas dos barulhentos jogadores de cartas nos bares nas frias e enevoadas noites de inverno, fiel companheiro da Barbera, com a qual divide as preferências dos “Bogianen” (1) e que desde sempre é um dos tintos preferidos no norte da Itália.


O Dolcetto é encontrado no Piemonte, nas províncias de Alessandria, Asti, Cuneo, e na Ligúria onde é mais conhecido como Ormeasco.

O Dolcetto é um vinho prazeroso, frutado, fácil de beber e que pode frequentar tranquilamente as taças do dia-dia sem trair expectativas ou provocar desilusões.


Não se pode, todavia, exigir muito do Dolcetto.

O Dolcetto é um vinho de consumo imediato que não visa e nem pretende ter a estrutura, a fineza e a classe de um Nebbiolo, pois não possui a acidez necessária para tanto.

Nada disso significa, porém, que o Dolcetto não envelheça com dignidade (já bebi alguns em excelente estado com 10/20 anos), não faltam taninos para isso, mas o envelhecimento não é sua principal característica.

A pequena introdução visa preparar o leitor para as barbaridades que, em nome da “moda”, foram cometidas contra o Dolcetto e que fizeram despencar vertiginosamente as vendas deste ótimo vinho piemontês e lígure.


Quando o Barolo ainda esperava ser reconhecido e apreciado como um dos melhores vinhos da Itália e do planeta, eram o Barbera e Dolcetto que pagavam as contas dos viticultores pois, no após guerra, os dois tintos eram consumidos em proporções gigantescas.

O GRANDE ERRO.

Quando Parker começou a ser considerado o “paladar padrão”, muitíssimos produtores, de todos os cantos do mundo, correram para abraçar a nova corrente criada pelo americano.

Muitíssimos, sim, mas a Borgonha, como de costume, não deu a mínima bola e continuou produzindo seus Pinot Noir e Chardonnay com 12º - 13º.

Na Itália, todavia, houve uma corrida desenfreada e insana na busca do “paraíso vinícola parkeriano”.


E tome madeira, concentração, álcool, potência, cores impenetráveis ....

A era da insensatez vinícola havia começado.

Continua

Bacco

(1)         “Bogianen” em dialeto piemontês significa, literalmente “Não se mova”. Os piemonteses são prudentes e pouco afeitos a mudar as coisas precipitadamente. Há outras versões, mas no meu texto e a que se encaixa melhor

2 comentários:

  1. Esse artigo me levou a ler mais sobre o piemontes; como se nao bastasse essa lingua (dialetos para alguns), ela ainda tem varios (agora sim) dialetos espalhados por todo piemonte. Interessante.

    Reference ao Parker: Veio, foi e ninguem sente falta. O gosto dele mudou, ele partiu para vinhos de verdade do meio para o fim da carreira, mas a imagem de embaixador do vinho geleia de madeira pegou e colou.

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  2. Na mosca!. O piemontês é uma língua assim como o lombardo, lígure, véneto, napoletano, sardo etc. ,Parker enriqueceu vendendo pontos e empobreceu paladares vendendo modas

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