Nunca escondi minha convicção de que crítico$, revista$,
influenciadore$ e similare$, pouco, ou nada, contribuíram para indicar etiquetas
com isenção e melhorar os conhecimentos dos enófilos.
Na realidade mais crua eles sempre visaram garantir os
próprios interesses (grana) e dos grandes, renomados e estrelares produtores
que, de uma forma ou outra, sempre os financiaram.
O maior “destruidor” de paladares, dos últimos 30 anos, foi,
sem dúvida, Robert Parker.
Parker foi o direto responsável pela horrenda moda
dos vinhos “internacionais”, moda, que durante quase três décadas, torturou
narizes e paladares de milhões seguidores em todos os cantos do mundo.
Já sei, já sei... serei sepultado por um tsunami de impropérios escritos, ou apenas pensados, mas é minha convicção: Eu não consigo endeusar, venerar e crer em alguém ao ponto de me sentir “obrigado” a seguir suas indicações, seus “pontos” e confiar cegamente em seus julgamentos.
Resumindo.... Tenho meu olfato, meu paladar, minhas
experiências, minhas preferências, meus conceitos de qualidade e eles me bastam
Parker e “filhotes” podem ir à.....
Mas o que tem a ver Parker com o Dolcetto?
Muito!
É preciso voltar no tempo, mais precisamente nos anos 1980
quando Giacomo Bologna (Braida)
farejou que o “estilo Parker” teria sucesso.
Depois de uma viagem pela Borgonha, Bologna retorna a
Rocchetta Tanaro, introduz a barrique na vinificação e lança o famoso Barbera “Bricco dell’Uccellone”.
Ajudado pela caneta magica de Luigi Veronelli, em pouco tempo
o “Bricco dell’Uccellone” cria fama e alcança
preço estrelares (até hoje, uma garrafa, custa 50 Euros).
O sucesso do Bricco dell’ Uccellone
não passa despercebido e não são poucos os “barberistas” que tentam encontrar e
seguir a mesma estrada.
Coppo, Voerzio,
Rivetti, Prunotto, Bava e muitos outros partem
para o ataque e o mercado é invadidos por Barbera com excesso de álcool,
madeira e $$$$, para ninguém botar defeito.
Ao perceber que as garrafas de Barbera, dos vivaldinos acima mencionados,
eram vendidas mais caras do que as de Barolo e Barbaresco, todos correram para
seguir a onda e vinificar à moda Parker
Em pouco tempo um mar de tremendas bostas invadiu as
prateleiras das enotecas e supermercados.
Tremendas bostas, mas que vendiam.....
A loucura parecia ter tomado conta de todos e todos queriam
vinificar produtos que mais pareciam geleias super-alcoólicas em garrafas de
madeiras.
Os produtores de Dolcetto,
percebendo o “sucesso” das Barbera vitaminadas, resolveram que também deveriam
seguir os mesmos caminhos e ..... tome doses cavalares de álcool, madeiras, concentração,
cores impenetráveis etc. etc. etc.
Para que se tenha uma ideia, no final dos anos 1990, quando
ainda acreditava que a Slow Food fosse coisa séria, viajei
até Alba para participar de um dos primeiros “Cheese”.
O “Cheese” era um
evento que pretendia apresentar queijos de diversas nações produtoras e,
também, um festival eno-gastronômico onde era possível reservar jantares, pagos
e bem pagos, em diversos restaurantes da região.
Cada restaurante apresentava seu cardápio e apenas um vinho
para acompanha-lo.
Eu optei por um jantar, no finado
restaurante “Belvedere” em La Morra, onde o Dolcetto era “estrela” do noite.
Mesa para oito pessoas de diversas nações: 4 japonese, 3
canadenses e eu.
Os vinhos, todos Dolcetto e de vários produtores, enfeitavam
as mesas dos sempre mais alegres convivas.
Com os canadenses conseguia me comunicar através de meu
macarrônico inglês, mas com os japoneses…Bem, deles aprendi que saúde, cin cin,
cheers etc., em japonês, se pronuncia “kampai”.
A alegria e as vozes atingiram altíssimo decibéis em pouco
tempo.
Desconfiado com o volume excessivo das vozes, verifiquei a
etiqueta do Dolcetto di Dogliani, da vinícola Marziano Abbona, que estávamos
bebendo.
Quase caí da cadeira....15º de álcool!
Assustado, incrédulo olhei as etiquetas das outras garrafas
que havíamos esvaziado.
Nenhuma delas apresentava gradação menor
do que 14,5º.
Percebi, naquele instante, que os “pakerianos” haviam iniciado o funeral do Dolcetto.
Não deu outra...
Continua na próxima matéria. Mesa
Bacco
Boas notícias...Pode faltar vinho em 2022, alerta entidade do setor
ResponderExcluirPara organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), há um “risco iminente” de escassez da bebida no mundo todo
https://revistaforum.com.br/global/pode-faltar-vinho-2022-alerta-entidade/amp/