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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

DOLCETTO 3

 


Nunca escondi minha convicção de que crítico$, revista$, influenciadore$ e similare$, pouco, ou nada, contribuíram para indicar etiquetas com isenção e melhorar os conhecimentos dos enófilos.

Na realidade mais crua eles sempre visaram garantir os próprios interesses (grana) e dos grandes, renomados e estrelares produtores que, de uma forma ou outra, sempre os financiaram.


O maior “destruidor” de paladares, dos últimos 30 anos, foi, sem dúvida, Robert Parker.

Parker foi o direto responsável pela horrenda moda dos vinhos “internacionais”, moda, que durante quase três décadas, torturou narizes e paladares de milhões seguidores em todos os cantos do mundo.


Já sei, já sei... serei sepultado por um tsunami de impropérios escritos, ou apenas pensados, mas é minha convicção: Eu não consigo endeusar, venerar e crer em alguém ao ponto de me sentir “obrigado” a seguir suas indicações, seus “pontos” e confiar cegamente em seus julgamentos.

Resumindo.... Tenho meu olfato, meu paladar, minhas experiências, minhas preferências, meus conceitos de qualidade e eles me bastam

 Parker e “filhotes” podem ir à.....


Mas o que tem a ver Parker com o Dolcetto?

Muito!

É preciso voltar no tempo, mais precisamente nos anos 1980 quando Giacomo Bologna (Braida) farejou que o “estilo Parker” teria sucesso.

Depois de uma viagem pela Borgonha, Bologna retorna a Rocchetta Tanaro, introduz a barrique na vinificação e lança o famoso Barbera “Bricco dell’Uccellone”.


Ajudado pela caneta magica de Luigi Veronelli, em pouco tempo o “Bricco dell’Uccellone” cria fama e alcança preço estrelares (até hoje, uma garrafa, custa 50 Euros).

O sucesso do Bricco dell’ Uccellone não passa despercebido e não são poucos os “barberistas” que tentam encontrar e seguir a mesma estrada.

Coppo, Voerzio, Rivetti, Prunotto, Bava e muitos outros partem para o ataque e o mercado é invadidos por Barbera com excesso de álcool, madeira e $$$$, para ninguém botar defeito.

Ao perceber que as garrafas de Barbera, dos vivaldinos acima mencionados, eram vendidas mais caras do que as de Barolo e Barbaresco, todos correram para seguir a onda e vinificar à moda Parker

Em pouco tempo um mar de tremendas bostas invadiu as prateleiras das enotecas e supermercados.

Tremendas bostas, mas que vendiam.....

A loucura parecia ter tomado conta de todos e todos queriam vinificar produtos que mais pareciam geleias super-alcoólicas em garrafas de madeiras.

Os produtores de Dolcetto, percebendo o “sucesso” das Barbera vitaminadas, resolveram que também deveriam seguir os mesmos caminhos e ..... tome doses cavalares de álcool, madeiras, concentração, cores impenetráveis etc. etc. etc.


Para que se tenha uma ideia, no final dos anos 1990, quando ainda acreditava que a Slow Food fosse coisa séria, viajei até Alba para participar de um dos primeiros “Cheese”.

O “Cheese” era um evento que pretendia apresentar queijos de diversas nações produtoras e, também, um festival eno-gastronômico onde era possível reservar jantares, pagos e bem pagos, em diversos restaurantes da região.

Cada restaurante apresentava seu cardápio e apenas um vinho para acompanha-lo.

Eu optei por um jantar, no finado restaurante “Belvedere” em La Morra, onde o Dolcetto era “estrela” do noite.

Mesa para oito pessoas de diversas nações: 4 japonese, 3 canadenses e eu.

Os vinhos, todos Dolcetto e de vários produtores, enfeitavam as mesas dos sempre mais alegres convivas.

Com os canadenses conseguia me comunicar através de meu macarrônico inglês, mas com os japoneses…Bem, deles aprendi que saúde, cin cin, cheers etc., em japonês, se pronuncia “kampai”.


A alegria e as vozes atingiram altíssimo decibéis em pouco tempo.

Desconfiado com o volume excessivo das vozes, verifiquei a etiqueta do Dolcetto di Dogliani, da vinícola Marziano Abbona, que estávamos bebendo.

Quase caí da cadeira....15º de álcool!

Assustado, incrédulo olhei as etiquetas das outras garrafas que havíamos esvaziado.

Nenhuma delas apresentava gradação menor do que 14,5º.

Percebi, naquele instante, que os “pakerianos” haviam iniciado o funeral do Dolcetto.



Não deu outra...

Continua na próxima matéria. Mesa

Bacco

Um comentário:

  1. Boas notícias...Pode faltar vinho em 2022, alerta entidade do setor
    Para organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), há um “risco iminente” de escassez da bebida no mundo todo


    https://revistaforum.com.br/global/pode-faltar-vinho-2022-alerta-entidade/amp/

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