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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A VOLTA DO VERDADEIRO DOLCETTO

 

 

Não deu outra!

A insanidade, de muitos, em querer usar a barrique (ou adicionar chips de madeira na vinificação), exagerar na gradação alcoólica, na concentração, tentar transformar, na marra, o Dolcetto em mais um “parkeriano” de meia tigela, em pouco tempo fez despencar as vendas do vinho piemontês.


Uma pequena pausa para informação: Muitos acreditam, assim como a “Gretina Cretina”, que a “mudança climática” é culpada pela alta gradação dos vinhos, mas o vetusto “concentrador” e a moderna “osmose reversa” são os reais “vilões” da história.


A crise chegou a tal ponto que o “Dolcetto di Dogliani”, para tentar “apagar” a má lembrança, da insana aventura “internacional”, retirou até “Dolcetto” da denominação.

Hoje as etiquetas ostentam apenas “DOGLIANI DOCG” e “DOGLIANI DOCG SUPERIORE”, mas apesar das inúmeras tentativas o Dolcetto não conseguiu retornar aos tempos áureos quando era, com o Barbera, o vinho mais consumido no Piemonte.


A crise foi tão grande que, há alguns anos, muitos produtores, para se livrarem dos estoques, para cada garrafa de Barolo ou Barbaresco vendida doavam uma de Dolcetto.

Eu mesmo deixei de beber Dolcetto e nem lembro quando pedi a última garrafa em um restaurante.

Porém, nem tudo está perdido.....

Semana passada, Enrico Valle, jovem e dinâmico proprietário da “Vineria Macchiavello”, em Santa Margherita, antes de servir a costumeira taça de Champagne “Jean Vesselle” me ofereceu um copo de tinto e “ordenou”: “Prove este Dolcetto”


Aleluia! Aleluia!

A cor, os aromas e o sabor, trouxeram imediatamente à minha memória o Dolcetto d’antan.

Pedi para ver a garrafa e.....

Milagre, milagre, milagre!

Apenas 12,5º

A razão havia voltado às mentes dos produtores.

O Dolcetto “Abrigo” é brilhante na cor, os aromas são caraterísticos, no paladar é limpo, aveludado, com uma interessante e agradável “veia” seca e doa longa permanência ao paladar.

Ao verificar a ficha técnica do Dolcetto Abrigo não pude esconder um franco sorriso:

 VINIFICAZIONE: Vinificazione in vasche di acciaio termo condizionate con macerazione della durata media di circa 5 giorni, a seconda del vigneto e dell’annata

(VINIFICAÇÃO: Vinificação em tanques de aço termo condicionados com maceração média de 5 dias, conforme o vinhedo e safra.)

E continuou....

AFFINAMENTO: Semplice sosta in vasche di acciaio fino alla primavera successiva alla vendemmia. Imbottigliato generalmente in primavera.

(AFINAMENTO: Simples permanência em tanques de aço até à primavera após a vindima. Engarrafado geralmente na primavera)

A razão voltou e o Dolcetto retornou às origens.


A escalada, para atingir o antigo sucesso, não será fácil, tranquila, mas é bom perceber que as picaretagens vinícolas não sobrevivem para sempre.

Parker se aposentou, ainda bem, e o Dolcetto retornou

Viva o Dolcetto


Bacco

5 comentários:

  1. Enquanto tudo isso acontecia, eu me refugiava na Borgonha, que fez o papel da irredutível aldeia do Asterix contra as legiões romanas.

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  2. Idem. A Borgonha nunca deu a mínima para o vendedor de pontos

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  3. E ai Pestvs Emeritvs. Eu acho que a conversa do aquecimento global contribui e muito para o aumento de alcool nos vinhos e nao seria somente picaretagem das vinicolas. E nazoropa a questao fica mais seria porque voce nao pode adicionar agua ao mosto. Aquela uva fervendo a 28 brix vai produzir uma porrada alcoolica mesmo.

    Auguri.

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  4. Concordo, mas sempre há um jeitinho. Releia a matéria de 2015
    https://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/11/transformando-vinho-em-agua.html

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    Respostas
    1. Claro que ha picaretas no mundo do vinho, assim como ha noivinhas do Aristide por todas as partes do planeta, mas eu vejo o vinho de maneira um pouco diferente hoje do que uma epoca atras. Se as leis na regiao permitem adicionar agua para corrigir algum problema climatico ou mesmo na conducao das videiras (mais ou menos folhagem) para fazer um vinho melhor, toca o pau. O problema continua sendo esconder o que faz: Declara que o vinho tem barrica quando tem chip de madeira, esconde blend de uvas, engarrafado na propriedade (na verdade foi na cooperativa ou consorzio), chamar o vinho de natural sem qualquer criterio na definicao e por ai vai.

      Enocorno manso, nunca.

      Como consumidor tenho desanimo dos eufemismos e outras figuras de linguagens usadas para enganar o enocorno, mas hoje aceito correcoes legitimas (quando dentro da lei) para melhorar o produto.

      PS: nao entendi a osmose reversa apos a adicao de agua. Esse vinho sofreu, coitado.

      Auguri, lavoro adesso. Ugh.

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