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terça-feira, 25 de setembro de 2018

CHIANTI SAN FELICE


Minha adega brasiliense vive dias de insofismável crise.

Três garrafas de brancos, uma de tinto, nenhum espumante, meio litro de whisky e uma meia dúzia de licores.

Uma tristeza....
 

Uma tristeza especialmente para alguns amigos que “adoravam” frequentar (de graça) minhas taças.

Minha adega, há pouco mais de uma década, armazenava perto de 400 garrafas e era motivo de orgulho.
 

Não é mais.

Hoje “italianizei-me” e apenas compro o necessário para o consumo do dia-dia (5/6 garrafas).

Alguns grandes vinhos, não mais de 12 garrafas, viajam em minhas malas quando retorno ao Brasil, o restante compro no comércio local.

O meu novo “sistema” se revelou bastante racional e me ajudou a descobrir etiquetas interessantes que já comentei e indiquei várias vezes.

Chardonnay da Tarapacá e da Cousiño Macul, o Chianti Ruffino, os espanhóis Trascampanas e Yllera, o espumante português Murganheira etc. etc. etc.
 

Semana passada as chuvas voltaram, o calor sufocante deu uma trégua e ao procurar um tinto leve, para acompanhar um prato de carne, constatei que em minha esquálida adega havia somente uma solitária e abandonada garrafa de Barbaresco “Martinenga” da Marchesi di Gresy.

Vinho caro, importante, que deveria ser aberto em um momento especial e na companhia de amigos.

Deixei o Barbaresco sossegado em seu canto e resolvi visitar algumas lojas do Plano Piloto.

Uma tristeza.
 

Prateleiras quase vazias por falta de produtos, etiquetas desconhecidas e baratas, pouca variedade e, o pior de tudo, quantidade mais que restrita.

Comprar seis unidades, do mesmo vinho, nem sempre é possível

Várias enotecas brasiliense fecharão as portas em 2019.

Os anos dourados e os clientes do La Tache, Petrus, Cheval Blanc, Barbaresco Gaja etc. se foram, não votarão tão cedo e as opções, que sobraram, são porcarias (baratas) importadas e porcarias (caras) nacionais.
 

Mas, dei sorte.

Em uma loja da Asa Sul fui recebido por um vendedor atencioso, falante (até demais) que sugeriu um monte de etiquetas descartáveis.

Quando o vendedor respirou e parou de falar, por um segundo, disparei: “Tem Chianti Ruffino”

“Tenho e está em promoção por R$ 55. Se o senhor gosta de Chianti precisa experimentar este”.

O elétrico atendente pegou uma garrafa e continuou: “Chianti San Felice 2011 por R$ 60. Magnífico ”.
 

Para me ver livre, do insuportável assédio, anexei, às reservadas garrafas de Chianti Ruffino, mais duas de San Felice.

Na hora de pagar, mais um ataque do boquirroto e mais uma surpresa.

“Gosta de branco suave? ”

“Gosto de branco, mas não suave. Prefiro seco”, respondi.

“Pena...... Este branco suave da Bolla está na promoção por R$ 40”

Olhei para a garrafa, olhei para o vendedor, contive o riso e....”Soave é o nome da cidade, o vinho é seco e por R$ 35 levo quatro garrafas”.
 

Desconto concedido, apertei a mão do “suave” vendedor e fugi para descansar meus tímpanos.

No dia seguinte, sem muito entusiasmo e esperando uma “entubada”, abri uma garrafa do Chianti recomendado pelo vendedor da enoteca.

Derramei um pouco em uma taça e....... Surpresa!

“Abençoei” o vendedor “suave Bolla” no exato momento em que provei o “Chianti San Felice 2011”

Que belo e tradicional Chianti.
 
 

Já a cor rubi brilhante com reflexos alaranjados me surpreendeu.

No nariz elegantes aromas frutados.

 Na boca mais surpresas.

Estrutura média, taninos presentes, mas muito agradáveis, elegantes, quase aveludados.

Um “pequeno-grande-vinho” perfeito para acompanhar carnes ou apenas como aperitivo.

 O “Chianti San Felice” é produzido, com uva Sangiovese, Colorino e Pugnitello, em Castelnuovo Berardenga.]
 

Somente uma bela aldeia, Castelnuovo Berardenga, poderia doar tão belo e honesto Chianti.

Bacco

7 comentários:

  1. Bacco,
    Gosto muito dos vinhos deste produtor, que aliás, tive a oportunidade de conhecer e é muito simpático. Infelizmente não encontro mais seus vinhos no Brasil. Eram importados pela importadora do Lopes, "o homem do vinho". Lembra? Depois a Via Vini também importou por uns tempos. Mas também não tem mais, infelizmente.
    Que ótima compra você fez. Ainda mais por este preço.

    Salu2

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  2. Pois é, eu nunca bebera uma gota sequer deste vinho . Vivendo e bebendo

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    Respostas
    1. a Mega Adega é minha loja preferida: tem bastante coisas, não se prende a uma importadora, dá pra negociar descontos e o Seu Rossano é um cara bacana. vou procurar esse Chianti.

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  3. Esse desconhecimento acerca do Soave é uma boa estratégia pra identificar os (des)entendidos em lojas e adegas. Lembro que quando me lancei num período de exploração dos vinhos do Vêneto perguntei a um vendedor se ele tinha algum Soave disponível. O homem me olhou como se eu estivesse pedindo um Sangue de Boi.

    :/

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  4. O vendedor deve ter feito o curso da WSET ou ABS

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