Antes de morar em Santa Margherita, Alba era minha cidade
preferida na Itália.
Durante longos anos percorri a região circunstante e não há
aldeia vinícola, das Langhe, que não conheça.
Barolo, Verduno, Novello, Monforte D'Alba, Serralunga D'Alba, Cherasco,
Castiglione Falletto, La Morra, Roddi, Grinzane Cavour, Treiso, Barbaresco, Diano,
etc.
etc.etc..
Conheço e frequentei inúmeros restaurantes, bares, produtores
de vinho (bons e picaretas), em todas as aldeias da região.
O aprendizado foi longo, caro, mas valeu cada Euro gasto com a
grande eno-gastronomia das Langhe
No começo, da "exploração", uma mania, típica dos
neófitos, me "perseguia": "O vinho, quanto
mais velho, melhor"
Não recordo quantas "entubadas" levei, mas, sem
dúvida, foram muitas.
Com o passar dos anos, finalmente, aprendi que o vinho nasce,
envelhece e morre exatamente como, por exemplo, os humanos.
Demorei e entrei pela tubulação inúmeras vezes, mas compreendi
que, apesar do grande fascínio, garrafas com 30-40-50, ou mais anos, são mais
peças de museus, para colecionadores e que nas taças, quase sempre, decepcionam.
As minhas últimas "entubadas" foram exatamente em Alba,
mais exatamente, na
"Enoteca Grandi Vini" dos meus amigos Enrico e Pier
Lorenzo.
Já escrevi algumas matérias sobre a "Grandi
Vini" e as notícias serviram para torná-la bastante popular no Brasil,
especialmente, em Brasília, São Paulo e Rio.
Garrafas de grande prestígio, boa variedade de etiquetas,
preços razoáveis, transformaram a "Grandi Vini" em um
endereço quase obrigatório dos turistas brasileiros em Alba.
Mas vamos aos fatos...
Certo dia, no início dos anos 2000, passeando pela "Via
Maestra" resolvi visitar Enrico e Pier Lorenzo.
Abraços, algumas piadas, muitas risadas e...: "Você conhece a nossa nova adega
de vinhos antigos?".
Quando Pier Lorenzo mencionou "vinhos antigos", meus
olhos brilharam.
Descemos, com alguma dificuldade, uma pequena e estreita
escada caracol e, quando Pier Lorenzo acendeu a luz... Havia encontrado os
vinhos da arca de Noé.
No subsolo da loja, muros de época romana guardavam garrafas
de importantes: Gaja, Conterno, Borgogno, Marchesi di
Barolo, Fontanafredda, Barale, Giacosa, Cappellano, Cavallotto, Damilano,
Cordero di Montezemolo, Oddero, Marcarini, Pio Cesare, Ratti etc.
Garrafas dos anos 1940-1950-1960, 1970, 1980..... Uma seleção de
sonho (que depois virou pesadelo).
Naquela mesma noite agendara um jantar em Verduno, no "Dai Bercau", com os proprietários
do restaurante e meus grandes amigos, Gianni e Massimo.
Olhado para aquelas garrafas empoeiradas não resisti e, planejando
surpreender meus amigos, comprei, para a ocasião, uma garrafa de Barolo Prunotto
e uma de Barbaresco Pio Cesare.
Honestamente não recordo a safra exata, mas creio fossem dos
anos 1960.
Todo prosa, cheio de moral e sorridente, na hora do jantar, abri
a primeira garrafa..... Morta .
Um pouco
sem jeito, sorriso amarelo, peguei a segunda e.... Outra defunta
Com um
sorriso maroto, Massimo foi até a adega, pegou e abriu uma garrafa de Barolo, do
Gian Alessandria e, finalmente, bebemos.
No dia seguinte voltei para a "Grandi
Vini" e relatei o ocorrido.
Pier Lorenzo, sem pensar muito, falou "As garrafas apesar de bem armazenadas, como você
viu, são para colecionadores ou turista que acreditam que o vinho seja eterno.
Garrafas com 40- 50 anos são loteria. Escolha duas de safras mais recentes e
não me encha mais o saco".
Sorrisos, abraços e..... Nunca mais comprei etiquetas com mais
de 20/25 anos.
Como conseguir garrafas antigas?
Enrico e Pier Lorenzo dominam, com rara eficiência, o mercado
de antigas garrafas e são especialistas em "limpar" velhas adegas.
Uma pequena informação.
Os italianos, tradicionalistas, como poucos, não jogam fora
nada.
Guardam montanhas de velharias sem utilidade pelo simples
prazer de acumular recordações.
Livros, jornais, brinquedos, sapatos, malas, roupas, terços,
estampas e..... vinhos.
Quando os velhos morrem a primeira providência dos herdeiros: se
desfazer daqueles montes de bagulhos.
Para se livrarem de
tudo contratam, pasmem, empresas especializadas em "sbarazzo"
(limpeza de depósitos) .
A maior parte das bugigangas vai para o lixo e a algumas
velharias acabam nas inúmeras feiras de antiguidades que uma vez por mês ocupam
as ruas de muitas cidades italianas.
Quando há notícia de algum "sbarazzo" os proprietários
da "Grandi Vini" e de centenas de outras enotecas especializadas , se
antecipam , correm e arrematam, muitas vezes por preço irrisório, todas as
garrafas.
Aqui, também, muita porcaria, mas às vezes, naquelas velhas
adegas, há a verdadeiras peças de museu.
Os compradores?
Colecionadores e os que acreditam, como eu acreditei, no "quanto mais velho, melhor".
Para entender melhor o mercado de velhas etiquetas anexo
dois links.
O primeiro, da "Grandi Vini", traz de tudo um pouco (clique no link e depois em VINI-LISTA COMPLETA)
O segundo é, também, interessante.
https://www.grandibottiglie.com/it/62-vini-d-annata-anni-50
No link da "Grandi Vini" há safras novas, velhas,
velhíssimas.
Seguindo a ordem alfabética
é possível encontrar o Barolo de Marcello Scarzello de 1970 por $ 62,11 ou 52,23
Euros.
Scarzello é o mesmo produtor da garrafa degustada por Diego
Arrebola.
Quando Arrebola vier à Itália e me
der o prazer de sua visita, não será tão difícil encontrar garrafas empoeiradas
nas prateleiras da "Grandi
Vini" ou em outras dezenas de enotecas especializadas.
Difícil será encontrar algumas
ainda bebíveis.
Bacco.
PS. É muita coincidência
encontrar o Barolo Marcello Scarzello na "Grandi Vini".
A coincidência me faz pensar que
o amigo do Arrebola comprou as garrafas justamente na loja de Enrico e Pier
Lorenzo.
Se assim for, minhas dúvidas,
quanto à qualidade e integridade do vinho, aumentam.
As velhas garrafas viajaram e chacoalharam,
por mais de 9.000 quilômetros, passando calor e frio, depois mais frio e mais
calor e..... ainda apresentavam aromas terciários?
Será?
Muito interessantes as postagens desta “série”.
ResponderExcluirLembro de guardar uma frase de uma outra postagem aqui do blog que me fez refletir e que dizia que “os vinhos velhos se parecem”.
E, de fato, quando ainda vivos, só sobram os tais aromas terciários. Fica tudo igual.
Muitas vezes ainda se cobram valores extorsivos por vinhos de idade avançada. Justifica-se um aumento, em parte, pelo tempo que o capital ficou imobilizado e pelo oferecimento adequado das condições de guarda (adega séria).
Mas, eu penso que o vinho velho só te oferece essa condição (velho). Maduro, quando vivo.
Não tenho mais como bebê-lo jovem ou no ponto ideal, os quais já passaram.
Também já caí nessa e impressiona às vezes ver uma garrafa antiga.
Porém, como o objetivo para mim é beber o líquido, tiro uma foto e sigo para o que ainda julgo ter vida.
Grande Abraço!
Alexandre, no caso dos vinhos do Arrebola , se vc der uma olhada nos preços verá que são mais baratos do que os novos , os normais. Os velhos e caros são somente aqueles de etiquetas de grife (que fazem a alegria dos amadores de pontos) Gaja, Conterno, Giacosa etc. . Realmente todos os vinhos velhos se parecem. Meu avô ,quando bebia uma Barbera mais velha, costumava dizer: " Baroleggia" ou seja...parece Barolo.Abraço
ResponderExcluirOnde esta o botao de like desse serie? Boa para kct.
ResponderExcluirE outra, pode ser confirmation bias, mas a parentada toda italiana vivia a guardar tudo quanto era eca. Revistas da segunda guerra, discos do wanderlei cardoso, calota de ford bigode, vara de pescar quebrada, e muita garrafa de vinho velha. Parece que estou vendo aquele filme de novo... So quando batiam as botas que nos livravamos de tudo.
Auguri, peste.
Botão like? Enlouqueceu? Nem sei onde está meu botão e vc que que saiba do like? kkkkkkkk
ResponderExcluirOlá senhores, leio regularmente o blog, li quase tudo, e aprendi pra caramba com as opiniões e polêmicas expressas aqui; Tô caindo numa furada do mercado-vinho-brasil-formação profissional-etc e estou precisando da opinião de vcs. O texto aqui Está vago pois não quero detalhar mto e podem até fazer piadinha. Quero apenas mandar um e-mail e pedir sinceramente a ajuda de vcs. leiam e se julgarem inútil, só digam que é inútil. simples assim. ass. pessoa Neófita irritada c mimimi no BR... (deve ter um endereço de email do blog não?)
ResponderExcluirrecebemos, limos e se quiser pode mandar a texto pelo e-mail que está na parte superior direita da página
Excluiro email que está na parte superior direita da página só aparece pra você, Bacco, que é o editor do site...
ExcluirVocê pode escrever suas dúvidas, diretamente, em "comentários", pedir para não publicar e nós preservaremos sua privacidade sem nenhum problema
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