A Nebbiolo é uma das uvas mais prestigiosas e importantes e do
planeta.
A Nebbiolo não é uma uva de "vida fácil" como a
Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot etc., a Nebbiolo é uma casta complicada,
difícil, que raramente revela todo seu potencial fora de seu quintal, o Piemonte.
A Pinot Noir, outra
grande uva , assim como a Nebbiolo, detesta "viajar": Ama seu
"habitat", seu terroir.
Não por acaso, então, que estas duas variedades somente se
exprimem com total elegância e grandeza em suas regiões de origem: Piemonte e Borgonha,
mais precisamente, na Côte D'Or e
Langhe.
Há exceções.
Ótimos Nebbiolo, também, nascem no norte piemontês em Gattinara, Fara, Sizzano, Ghemme, Boca, Lessona
e outras aldeias da região.
Os vinhos, das localidades mencionadas, que nossos sommeliers quarto-mundistas
pouco o nada conhecem, são de rara qualidade e muito apreciados por aqueles que
entendem de boas taças.
Um dos mais raros e heroicos Nebbiolo , que eu conheço, é o Carema.
Quem viaja pela E25, indo ou voltando do Monte Bianco, mal
percebe a pequena aldeia, de pouco mais de 700 habitantes, bem na divisa do
Piemonte e Val D'Aosta.
Apenas uma curiosidade chama a atenção dos viajantes: As vinhas e o singular método de cultivo.
Desde tempos remotos, as raras vinhas de Carema, são
cultivadas em terraceamentos nas ríspidas encostas das montanhas e com sistema
latada, ou pérgula como queiram.
Colunas de pedras sobrepostas sustentam as grades de madeira
em que se apoiam as videiras.
É interessante imaginar o incrível trabalho efetuado pelo
homem, ao longo de séculos e séculos, para conseguir extrair uma pequeníssima
quantidade de vinho daquele lenço de terra, frio e inóspito,
É mais que sabido que grande parte da viticultura do "Alto Piemonte" (norte do Piemonte)
sofreu muitíssimo com a industrialização da região.
No início do século passado a vida dos viticultores italianos
nada tinha de róseo.
O baixo preço do vinho, trabalho pesado nas vinhas,
dificuldade na comercialização e outros inconvenientes, levaram milhares de camponeses
a trocar a pobreza e a incerteza das videiras pelo trabalho mais seguro e
melhor remunerado na florescente indústria automobilística de Torino e
arredores.
Para se ter uma idéia do apetite da mão de obra da indústria
automotiva torinesa, é bom lembrar que, em1900, a Fiat, produziu 30 veículos
empregando 150 operários.
Em 1930 os
trabalhadores já eram 22.000 e a produção alcançava as 113 mil unidades.
Mas não era somente a Fiat que precisava de mão de obra: Lancia,
Itala, SPA, Lux, Diatto, Taurinia e outras indústrias automotivas absorviam
mais e mais trabalhadores.
Como se não bastasse, além dos carros fabricados em Torino,
Biella, com sua grande indústria têxtil, sugou os camponeses que sobraram.
Com a migração dos viticultores, para as grandes cidades industriais,
o abandono das vinhas não pôde ser refreado: Dos antigos
42 mil hectares cobertos por vinhas em Lessona, Bramaterra, Ghemme, Gattinara,
Boca, Fara, Sizzano etc., restam, atualmente, pouco mais de 700.
Carema teve mais sorte: O
Carema continua sendo produzido, desde sempre, em seus pouco mais de 16
hectares.
Qual a "sorte" do Carema?
Enquanto a indústria automobilística de Torino e a têxtil de
Biella buscavam mão de obra nas cidades acima mencionadas, Carema se beneficiou coma
proximidade da Olivetti.
A Olivetti,
fundada no início do século passado, estava localizada na vizinha cidade de Ivrea
(15 km).
A proximidade, entre as duas cidades, permitiu que os trabalhadores
de Carema
exercessem sua atividade na indústria e, nas horas de folga, trabalhassem em
suas vinhas.
Um fator foi decisivo para o sucesso da dupla atividade: O
tamanho das propriedades.
Para que se tenha uma idéia mais clara é preciso lembrar que a
maior propriedade vinícola, de Carema, não ultrapassa os 5.000
metros (1/2 hectare).
A Olivetti, em seus tempos áureos, presenteava os visitantes (compradores,
distribuidores, comerciantes, representantes etc.) de todas as partes do mundo
com garrafas de Carema.
A grande fábrica, de
máquinas de escrever, ajudou, assim, na divulgação do Carema, mas a propaganda
de pouco adiantou: Até hoje a produção de Carema oscila entre 60/70 mil
garrafas.
A dificuldade na produção,
o inóspito território, a pulverização das propriedades, nunca animaram grandes
vinícolas em investir no Carema.
Resultado: O Carema é produzido apenas por três vinícolas: Cantina
Produttori di Carema, Orsolani
e Ferrando.
Bacco
PS Aguardem Carema II
Ciao Peste.
ResponderExcluirDa meio um desgosto ver o grupo de estados que virou Italia perdeu o barco completamente na historia do progresso. Durante um tempo tinham astronomia/fisica/artes, mas a revolucao industrial passou batida e foi num periodo curto do petroleo e do automovel que viraram algo importante. Mas fragil. O sul da Italia nem descobriu o fogo ainda.
Por que uma olivetti nao se preparou para informatica? As montadoras ja ja vao perder o bonde dos carros hibridos e eletricos.
E o pais viver somente de turismo, como Espanha, Croacia, Grecia?
Se nao me engano havia uma forte presenca na Italia de alguma coisa chamada catolicismo. Estado papal? Sera que isso tem a ver com o tremendo atraso hoje?
Andiamo. Aspettiamo ma Carema. Auguri.
mais um vinho sobre o qual tenho muita curiosidade. que pena que não vendem por aqui... mas tem jeito de ser daqueles que receberiam uma etiqueta de R$ 800, no mínimo.
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