A quarta matéria sobre “Vinhos Naturais = Vin de Merde”, dedicada aos
“vinhos biodinâmicos”, deveria encerrar a série.
A complexidade do assunto, porém, me obrigou a esticar um
pouco mais os capítulos.
Todos falam de “vinhos biológicos, biodinâmicos, naturais, triple A....” mas
será que nossos sommeliers, críticos, especialistas, formadores de opinião e
palpiteiros, conhecem realmente o assunto?
Confesso que, para poder escrever com um mínimo de propriedade, fui
abrigado a pesquisar por duas semanas, conversar com sommeliers, viticultores
(4), visitar vinícolas biodinâmicas e biológicas.
No final de semana,
após um último papo com o viticultor Claudio Marriotto, obtive informações, de
várias correntes, que me permitiram abordar, com razoável segurança, a
viticultura biodinâmica.
Escrever sobre os biológicos e naturais foi moleza, mas quando
cheguei nos biodinâmicos, para não repetir uma cantilena sem nexo, como já
disse, tive que me aprofundar, ler artigos favoráveis, contrários e,
finalmente, me aproximar da ciência.
Foi exatamente lendo artigos de Francesco Marino e Dario Bressanini, o primeiro técnico agrário o
segundo cientista, que consegui ordenar todas as minhas ideias e criar coragem
para escrever a matéria.
Dario Bressanini, cientista moderno, preparado e sem papas na
língua, dá explicações cientificas e ridiculariza sem piedade o pai da biodinâmica.
Francesco Marino, como bom agrônomo, detona as “técnicas” de
Steiner.
Antes de entrar no assunto é preciso voltar no tempo, mais
exatamente no início do século passado, para conhecer o pai da criança: Rudolf Steiner.
Steiner, filosofo, esotérico e ocultista austríaco, nasceu em
1861 e morreu em 1925.
Em 1924, aos 63 anos, Steiner foi convidado e convencido por
seus adeptos, a ministrar um curso sobre agronomia.
Rudolf Steiner, não era agrônomo, nunca havia cultivado nem
uma horta sequer, mas, mesmo assim, encarou o desafio e ministrou um curso de 8
conferências abordando o assunto.
Steiner resolveu aplicar na agricultura os mesmos ensinamentos
espirituais que haviam caracterizado suas aulas de arquitetura, arte, religião,
medicina, pedagogia.
Simplificando: Na visão de
Steiner, o agricultor biodinâmico precisa possuir o conhecimento global do
planeta e seu relacionamento com o cosmo para, assim, poder colher a energia
das influências astrais e utilizá-las nos campos.
Steiner não entendia nada de ciências.
Nas suas 8 palestras, não inovou expondo técnicas agronômicas
para melhorar a fertilidade da terra e a preservação do ambiente, mas se
limitou a lançar ideias de um mundo sobrenatural onde seria possível produzir
alimentos enriquecidos com “poderes espirituais” e que deveriam ajudar o homem
a atingir um estágio de completa iluminação.
Já dá para perceber a maluquice do Rudolf, mas o melhor ainda
está por vir....
Apesar da agricultura convencional, baseada em conhecimentos
científicos, da química, da genética e da agronomia, tenha contribuído para
melhorar e prolongar a expectativa de vida dos homens, os seguidores da
“biodinâmica” impuseram um bipolarismo quase radical entre o artificial/natural, químico/biológico:
O que não é natural, biológico ou biodinâmico deve ser evitado, descartado,
demonizado,
Os produtos “naturais” ou “biodinâmicos” atraem consumidores
que quase religiosamente acreditam poder encontrar, neles, o “paraíso perdido”
da qualidade.
Não é bem assim: há uma imensa e organizada picaretagem que se
aproveita de modismos e tendências, como as mencionadas, para, como sempre,
faturar alto com a idiotice humana.
Voltemos para os “ensinamentos” de Rudolf Steiner.
O guru da biodinâmica me deu a nítida impressão que realizou
suas 8 conferências sob o efeito de alguma droga alucinógena.
Exagero?
Algumas pérolas “steinerianas”
Em sua sexta lição, Steiner, ensina como se livrar de ratos
que infestam as lavouras.
“..... Capture um rato do campo, bem jovem. Quando Vênus entrar
no signo do Escorpião retire a pele do roedor e queime-a. Recolha com muito
cuidado as cinzas, o resto da combustão e espalhe o todo na lavoura. Pode
parecer pouca quantidade, mas, mesmo em doses homeopáticas, o remédio afastará
os ratos”
Se o problema for infestação de insetos como é possível
combatê-los?
Steiner nos ajuda mais uma vez.....
“…pegue um dos
insetos que infestam o campo, queime-o quando o Sol cruzar com o signo de Touro
(o mundo dos insetos está coligado às forças que se desenvolvem quando o Sol
atravessa Aquário, Peixes, Câncer, Gêmeos, Capricórnio) e espalhe as cinzas no
território”.
Há uma enorme quantidade dessas “pérolas “e até melhores, nos
ensinamentos de Steiner.
O conjunto da obra me faz duvidar da sanidade mental dos que
nele acreditam.
O mais interessante, creiam, é o capítulo que trata dos
preparados para a agricultura biodinâmica.
A biodinâmica considera a propriedade agrícola como um
organismo imerso em um esquema de influências cósmicas.
O produtor somente recebe o certificado “biodinamica®” se e quando utilizar
substâncias (preparados) que devem ser espalhados na terra, no adubo e nas plantas.
Segundo Steiner, os preparados , que podem ser produzidos na propriedade
ou adquiridos, estimulam a terra e aumentam a saude das plantas.
O mais famoso dos preparados biodinamicos é, sem sombra de dúvidas, o 500
: “CHIFRESTRUME”.
Acompanhe a preparação do “CHIFRESTRUME”
.....Pegam-se chifres de vacas, preferivelmente que já tenham
parido, e são enchidos com estrume.
Os chifres são enterrados e deixados fermentar no final do ano
(na Europa, no inverno) e desenterrados no período Pascoal.
Após o desenterro são efetuadas
duas operações de fundamental importância: A mistura e dinamização!
O CHIFRESTRUME é colocado em um
recipiente onde é adicionada água morna, de mina, poço ou de chuva.
A operação de mistura e
dinamização dura aproximadamente uma hora e consiste em agitar continuamente o
preparado (veja o vídeo).
Alguém perguntará: “Mas porque
chifre de vaca?”
Steiner explica: “...a vaca tem
chifre que servem para enviar para dentro de si forças alternativas,
etéreo-astrais, que forçando para o interior, penetram diretamente no órgão
digestivo. É justamente através da radiação provenientes de chifres e patas que
um grande trabalho se desenvolve no órgão digestivo da vaca….”
Quer mais?
O preparado 502 é mais uma joia
rara de Rudolf Steiner.
....Pegar dois
punhados de flores de aquiléia-mil-folhas introduzi-las em uma bexiga de cervo,
prensar bastante e costurar. Pendurar por todo o verão em um local bem luminoso.
No outono se enterra a bexiga para depois desenterrá-la na primavera e
adicioná-la a um monte de estrume que, nas palavras de Steiner, pode ser do
tamanho de uma casa... ” A potência radiante é tão forte que nem será preciso misturar o
preparado que influenciará inteiramente o estrume”.
O leitor atento deverá certamente
ter percebido o porquê da bexiga de cervo: A bexiga do cervo se comunica, através dos chifres, como
se fossem antenas, às forças cósmicas.
Diferentemente dos chifres da vaca, que trabalham internamente, os
chifres do cervo trabalham externamente.
Steiner não fornece uma única prova
que seus preparados sejam eficazes e sequer verificou, no campo, esta eficácia.
Steiner desfila apenas explicações
esotéricas de valor mais que dúbio.
Continua, mas por enquanto.... cuidado
com os chifres, chifres são valiosos.
Impressionante. Não pensei que fosse tão escabroso o negócio. A gente fica indeciso entre o riso e o choro. Será que a turma que faz propaganda por aí sabe dessas coisas?
ResponderExcluirPara se revoltar espere a próxima matéria: explosiva!!!!!
ResponderExcluirVish, quanta besteira, isso está igual a macumba em encruzilhada......como é possível alguém ir atrás....
ResponderExcluirEmerson, por que ninguem usa vinho caro em macumba? Sempre vinho de R$ 2.90 e farofa vagabunda.
ExcluirB&D : Otima materia. Grato pelo esforço e horas postas nisso. Como escreveu alguem ai ficamos entre o riso e o choro. Incrivel como ha pessoas que nessa epoca em que estamos no mundo ocidental ainda tem religiao, ainda acreditam em asneiras como biodinamia.
Auguri, bastardi.
Qual a mandiga que ele ensina pra ganhar dinheiro rápido?
ResponderExcluirGarrafeira online WIVINI
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