Durante alguns anos morei em Chiavari.
Chiavari não é exatamente a localidade mais bonita e atraente
da “Riviera del Levante”, especialmente
e se levarmos em conta apenas o aspecto turístico, mas é de longe a mais
racional para se viver.
Tudo, em Chiavari, é mais barato: alugueis, estacionamentos, hortifrutigranjeiros,
roupas, restaurantes, bares, supermercados .......
Chiavari tem vida própria (não depende unicamente do turismo),
comércio pujante, grandes supermercados, inúmeros bares e restaurantes, hospitais,
cinemas, teatro; uma cidade média, para os padrões italianos, mas com todas
comodidades dos grandes centros urbanos e sem os conhecidos defeitos.
Trânsito calmo, violência próxima de zero, pouco mais de 27
mil habitantes, educados e civilizados; uma cidade do tamanho do homem.
Por razões, que não é necessário elencar, tive que me mudar
para a vizinha Santa Margherita Ligure.
Santa Margherita é esplendida, é única.
Santa
Margherita e a vizinha Portofino (4,5 km), são as localidades turísticas mais sofisticadas
da Riviera Lígure e pertencem ao seleto clube dos mais exclusivos endereços da Itália.
Natureza belíssima, enriquecida por uma arquitetura secular e
intocada, traçado urbano ainda medieval e intrigante, igrejas riquíssimas,
lojas de grifes refinadas (outro dia, em
uma vitrine, havia um blazer, sendo oferecido na promoção, com 50 % de desconto,
por míseros 1.750 Euro), bares de sonho, incontáveis restaurantes ..... Charme
total e absoluto.
Frequento Santa Margherita e Portofino há 40 anos e nessas
quatro décadas nada mudou (comprove olhando as fotos atuais e as da década de
50).
As cidades não cresceram, aliás, os habitantes diminuíram.
Em Santa Margherita viviam, em 1950, cerca de 11.000 pessoas e
hoje são apenas 10.000.
Em Portofino o êxodo foi maior: de 1.000, em 1950, para os 460
atuais.
Todas as casas e prédios apresentam, desde sempre, as mesmas cores (é
proibido mudar a pintura) , as janelas devem ser verdes , os jardins
continuam floridos, os taxis estacionados no ponto de sempre, as duas bancas de revistas continuam no mesmo local, a Villa
Durazzo e seus jardins permanecem acima de tudo e todos, o castelo de defesa há
séculos vigia o mar contra a invasão sarracena , o pequeno porto de
pescadores é ainda o mais importante da
região, os capuchinhos , em seu convento, ainda vinificam o próprio vinho e a
abadia “Della Cervara” ,desde 1360, continua sendo meta obrigatória do turista inteligente.
O tempo parou e não vai mudar nos próximos..... sei lá quantos
anos.
A estrada, que leva a Portofino, tortuosa e estreita,
dificulta o trânsito e não há nenhum remoto sinal que vá ser ampliada.
Aliás, ir a Portofino
de carro é claro sinal de demência.
Estacionamento pequeno e caríssimo, dificuldade para se manobrar
até para fazer retorno, impossibilidade de trafegar pelas três únicas ruas; o carro,
em Portofino, é um inútil empecilho.
Apenas uma transformação: na minúscula aldeia não é mais
possível comprar uma alface, um caderno, um frango, uma agulha ....
Todas a lojas foram compradas pelas grandes grifes.
Onde antes se vendiam rabanetes,
papel higiênico, sabão, lápis etc., a Ferragamo, Dior, Prada, Vuitton, Zegna,
Dolce & Gabbana e companhia bela, vendem seus caríssimos artigos que fazem
a alegria dos russos, chineses, brasileiros e, vagarosamente voltando,
americanos.
As duas cidades, em sua antiga e tranquila beleza, parecem
esperar, ainda, a volta dos frequentadores que, nos anos 1950, as elegeram
rainhas do glamour.
Quem passou ou morou por lá?
Petrarca, Nietzsche, Marconi, Pound, Liz Taylor,
Richard Burton, Rex Harrison, Ali Khan, Rita Hayworth, Frank Sinatra, Ray Charles,
Laurence Olivier, Bogart, Bacall ….
A esperança é a última que morre, mas nos dias de “Duro de Matar 3.816” e “Velozes
e Furiosos 2.712” a volta de “A Princesa
e o Plebeu” ou “La Dolce Vita”,
mais que difícil, é irreal.
Santa Margherita e Portofino parecem intocados postais à
espera do antigo glamour que o turismo moderno varreu para outros lugares.
Miami, Las Vegas e Dubai, por exemplo.
Mas onde há mar, há salvação.
Todas as semanas imensos navios despejam milhares de turistas
que, faça sol, chuva ou neve, invadem lojas, igrejas, restaurante, bares,
sorveterias.
Turistas com dinheiro contadinho, com horário apertado e
sempre apressados, visitam em poucas horas Rapallo, Santa Margherita e
Portofino, comem pizza, bebem Coca Cola e empanturrados, cansados, cheios de
gases, não veem a hora de retornar para suas cabines e correr para o banheiro.
É o turismo “gaseificado” ....
B&B vai mostrar o “caminho das pedras” de Santa Margherita
e Portofino, caminho não percorrido pelos turistas “Pit Stop”
Aquele filme muito bem feito com o brilhante Michael Cane e Steve Martin foi onde? Eu me lembro que Martin (Fred Benson no filme) tenta dar um golpe numa mulher que pega o trem ate Portofino.
ResponderExcluirO filme foi rodado na Riviera francesa
ExcluirA melhor forma de chegar a portofino é de trem?
ResponderExcluirO ter não chega a Portofino, para em Santa Margherita. As melhores maneiras: barco , andando ou de ônibus que vai e volta a cada meia hora.
ExcluirAguardando ansioso pela segunda parte com as dicas. Se puder um dia escrever sobre Turim e seus cafés e restaurantes seria muito bom.
ResponderExcluirSensacional Bacco! No aguardo da segunda parte.
ResponderExcluir