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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

TERROIR 3





 

Deixando as charmosas, formosas e badaladas Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet é quase emocionante percorrer os poucos quilômetros que separam as duas cidades da pequena Saint Aubin.

O percurso é curto, a estrada movimentada, a paisagem comum, mas é obrigatório parar algumas vezes para admirar o trabalhos dos vignerons.
 

Nas vinhas que circundam Gamay, distrito de Saint Aubin, é fácil perceber a importância do homem no “terroir”: Todos os dias, faça frio, calor, sol ou chuva, há muitos proprietários cuidando pessoalmente de suas vinhas.
 

Trabalho duro e quase ininterrupto nos parreirais, heranças culturais preservadas, profunda identificação com o território.

 Os viticultores Côte D’Or dão a impressão de sentir paixão e quase ciúme de suas terras.

Orgulho então........

Quando um viticultor consegue comprar um pedacinho de Grand ou Premier Cru, por mínimo que seja (estou falando de 300-400-500 metros quadrados, não mais), é festa na família.

Não importa se os poucos metros adquiridos estão em outra aldeia distante, se o aumento da produção será de apenas algumas centenas de litros, se o trabalho aumentará desproporcionalmente…O que importa é que a Domaine, que os filhos e netos certamente herdarão, aumentou, por exemplo, em 500 metros quadrados de vinhas no “Criots-Bâtard-Montrachet”.

É a gloria!

Saindo da vinícola dos Bachelet, escondida e difícil de encontrar, resolvi passear por Saint Aubin.

Em Saint Aubin, como em todas as outras aldeias da região, tudo e todos transpiram vinho.

Em Saint-Aubin não há outra atividade digna de nota além da vinícola, mas apesar de transpirar vinho não se encontra um único “Bar a Vin” para se beber uma taça.
 

Meia dúzia de ruas silentes e desertas, dezenas de vinícolas expondo, quase timidamente e sobre velhas barriques   suas garrafas (vazias), janelas e portas cerradas: Saint-Aubin faz velório parecer baile de carnaval.

Olhares curiosos e desconfiados (a placa do meu carro era italiana…).

Sorrisos?

 Nenhum e ninguém faz força para agradar ou agarrar o turista-comprador.

É a Borgonha......

Havia conseguido adquirir algumas garrafas, de Blachot-Dessus e Bienvenues-Bâtard-Montrachet, dos Bachelet e caras feias já não me assustavam:  Me sentia comprador e queria mais.

Ainda bem que meu dia “gastador” se revelou e apareceu na quase monástica Saint-Aubin....

Já estava procurando um local para manobrar o carro e retornar a Puligny quando, durante a manobra, quase derrubei uma barrique com sua exposição de garrafas desbotadas e vazias.

Tremula, mas ainda ereta, uma borguinhona sedutora, com a etiqueta indicando ter abrigado, no passado, um “Criots-Bâtard-Montrachet” 2006, desafiou minha claudicante carteira.

Parei o carro, consultei meus ralos Euro e entrei.

“Notei que vocês produzem Criots-Bâtard-Montrachet. Há algumas garrafas à venda?”

A mulher que me atendeu, na sala de degustação da Domaine, sorriu e, balançando a cabeça afirmativamente, respondeu: “Temos algumas de 2010”.

“Safras mais velhas, alguma coisa?”

O marido, que havia nos alcançado, respondeu: “Posso dispor de duas garrafas de 2009”.

Sorrisos, algumas piadas, uma rápida degustação de um ótimo Saint-Aubin da vinícola, despedida fria e profissional.

Três 2010 e dois 2009 de Criots-Bâtard-Montrachet da Domaine Château de Saint-Aubin foram fazer companhia aos vinhos do Bachelet que já estavam no carro.

Denis e Alexandra são proprietários de 7 hectares e suas vinhas se estendem por Saint- Aubin, Meursault, Puligny, Chassagne, Santenay.

A produção anual, da vinícola, oscila em torno de 40.000 garrafas, mas apenas 280/300 saem de seus 500 m² localizados no Criots-Bâtard-Montrachet.

Sim, a Borgonha é assim: 500 m²e apenas 500 m², são o orgulho do viticultor Denis e sua mulher Alexandra.

Vender?

Nem pensar!

Comprar mais?

Difícil, quase impossível.

Há vignerons que possuem apenas dois filares (não mais de 200 parreiras) de Montrachet e não vendem nem ao Papa.

Isso se chama: T E R R O I R!

Terroir, não é “terreno”, terroir não é clima, subsolo, altitude, exposição solar, características geológicas etc.

Terroir, sem os Bachelet, Jambom, Denis, Bzikot, Morey, Raphet, Colin e milhares de outros vignerons que respeitam, amam e entendem, como minguem, suas vinhas, não existiria.

Terroir é o homem, também e principalmente.

Sem o homem não há terroir nem vinho, mas o homem não deve nem pode ser um predador e negociante imediatista sem escrúpulos (qualquer semelhança com os empresários   gaúchos é mera coincidência…)

Assim, como na visão e filosofia de Pierre Antoine Jambom e milhares de outros vignerons, há algo além de dinheiro nas vinha; há 800 anos de história que não pode ser comprada por meia dúzia de chineses, brasileiros, americanos ou russos abonados.

Na próxima semana: Invasão chinesa, brasileira, russa e degustação dos vinhos mencionados.

8 comentários:

  1. Muito bom! Aguardo o Terroir 4.
    Salu2,
    Jean

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  2. faço minhas as palavras do Jean. mas mate-nos de inveja, Bacco: quanto saiu cada garrafa de Criots-Bâtard-Montrachet de Domaine Château de Saint-Aubin? já abriu alguma?

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  3. Eduardo , suas perguntas serão respondidas na próxima matéria

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  4. Boa reportagem. Indicada para os que se odeiam e querem lembrar o tanto que nao tem acesso as boas coisas da vida por precos corretos. Vinho tambem faz parte das boas coisas.

    PS: Predadores gauchos somente? E a turma de SC, nao entra tambem?
    PSII: Cuidado com inveja dos predadores. Muitos devem ate a nona incarnacao e estao insolventes, ainda que nao tiraram o gel do cabelo nem a pose nos eventos que contam com a presenca dos amigos de voces.

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  5. Por qual razão os produtores vendem tão poucas garrafas a um comprador/turista?

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  6. Acho que vc não leu direito.
    Os viticultores mencionados produzem pouquíssima garrafas que são reservadas , há anos, por fieis clientes. Para conseguir três garrafas de Bienvenues-Bâtard-MOntarchet do Bachelet tive que reservar com seis meses de antecedência.. a Borgonha é assim.

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  7. Belo artigo. Um dia ainda vou a Borgonha.

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  8. Continuem com estes textos otimos, tambem aguardo o proximo!! Abraços, C. Maul

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