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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

SINTONIA IRPINIA BIANCO

 


O “Sun Flower”, wine-bar, é um dos meus preferidos de Santa Margherita.

Conheço e frequento o “Sun Flower” há mais de 20 anos e neste espaço de tempo o bar já trocou de proprietário diversas vezes.

O “Sun Flower” nunca apresentou uma importante e refinada carta de vinhos, pois sempre direcionou suas maiores atenções ao café, cappuccino, destilados, coquetéis ou etiquetas de vinhos populares e baratos.



Vinho nunca foi o ponto alto do bar, mas, aos poucos, algumas mudanças foram introduzidas.

 O “Sun Flower”, dos nossos dias, mudou seu perfil fortemente popular e introduziu, em sua carta, etiquetas interessantes e de boa qualidade.

Resultado?

 O “Sun Flower”, hoje, disputa posição de destaque com os melhore wine-bar da cidade.

O que aconteceu?



Os atuais proprietários, Ilaria, Roberto e Andrea, se inscreveram no curso de sommeliers, da FISAR (Federazione Italiana Sommeliers, Albergatori e Ristoratori) e aos poucos, mas irremediavelmente, se “apaixonaram” pelo mundo do vinho.

Andrea, parou no 1º nível do curso, mas Ilária e Roberto já estão cursando o 3º nível e se aproximam do exame final.



Progressivamente e aos poucos, Prosecco, Nero D’Avola, Merlot, Lambrusco etc. cederam espaço ao Franciacorta, Barbaresco, Champagne, Barolo, Etna Bianco, Piedirosso, Verdicchio, Soave, Barbera.......



A qualidade e a razão prevaleceram.

Confesso, sem falsa modéstia, que colaborei, um pouco, com as mudanças e nas escolhas das novas etiquetas.

Quando estou em Santa Margherita frequento regularmente o “Sun Flower” e não raramente sou convidado, pelos proprietários, para provar as garrafas que os representantes oferecem para serem degustadas.

Na degustação, Ilaria, Roberto e eu, analisamos a qualidade, o preço e as chances de o vinho ter sucesso na venda em taças.



Quase sempre há unanimidade no julgamento, mas ocasionalmente e quando ocorre um 1 X 1, eu desempato.

Em uma das últimas degustações, de 2022, Roberto abriu uma garrafa de “Sintonia”.




“Sintonia” é um inusitado nome que o produtor, “Vinosia”, imprime na etiqueta de seu “Irpinia Bianco DOC 2021”

Antes de continuar, algumas palavras sobre a “Irpinia”



Se perguntarem aos nossos críticos, jornalistas, blogueiros, sommerdiers, influencers etc., o que é “Irpinia”, 90% deles, provavelmente, não saberá responder e pensará se tratar de   uma nova e mais agressiva variante do herpes.



Irpinia, bela e quase desconhecida região, da província de Avellino, é terra de tradições milenares e pátria de grandes vinhos.

 O mais conhecido e apreciados entre todos?  “Taurasi”.

Mas não só e do Taurasi (Aglianico) que a Irpinia se orgulha.



Seu território vinícola nos doa, também, os ótimos Fiano di Avellino, Greco di Tufo, Coda di Volpe, Piedirosso etc.

O “Sintonia”, vinificado com uvas 50% Fiano e 50% Greco, revela bela cor amarela com reflexos esverdeados, corpo médio e um surpreendente frescor, que convida a sempre mais uma taça.



O “Sintonia” foi aprovado e imediatamente inserido na carta do “Sun Flower”.

O mais interessante: O “Sintonia”, ótimo vinho da Irpinia, custa 7,50/10 Euros (bem menos do que os escandalosos R$ 175 do patético “Vale da Pedra”, da predadora Guaspari)

Bacco

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

GHEMME III....OS PREDADORES

 


Bacco gosta das minhas pesquisas estatísticas, pediu, então, para eu escrever o “Ghemme III & Os Predadores”

Bacco manda e eu obedeço....



Quem acredita, ou quer fazer acreditar, que o mundo do vinho ainda é róseo, puro, franciscano, habitado por viticultores simplórios, abnegados, preocupados apenas em tocar modestamente a vida, como faziam seus avós...das duas, uma: é um enoloide ou seguidor do Didu-Bilu-Teteia, mais conhecido como “Coroa-Propaganda-Mistral” e nas horas vagas, que são muitas, tira a roupa e posa de paladino dos vinhos naturais com cheiro de cocô.



A imagem do viticultor, do século XXI, podando, capinando, pulverizando, vindimando e suando, no meio das vinhas, é tão falsa quanto aquela clássica foto em que nossos políticos, em período eleitoral, bebem cafezinho e comem pastel no boteco da esquina.



Hoje os viticultores falam vários idiomas, andam de carrão, moram em ótimas casas e nossos políticos bebem Champagne, comem picanha e escrevem com Mont Blanc....



Ado, está coberto de razão ao escrever: “…para encontrar vinhos do alto Piemonte por preços convidativos está se tornando sempre mais difícil…. ”

Os vinhos do Alto Piemonte, apesar da reconhecida e incontestável qualidade, demoraram décadas para serem “descobertos” pelos produtores-predadores, assim foi possível comprar grandes Gattinara, Ghemme, Fara, Sizzano, Lessona, Carema etc. pelo preço dos quase vinhos da Miolo (10/15 Euros).



Os predadores-produtores estavam muito mais empenhados e interessados em comprar terras baratas e que ninguém queria, na Maremma toscana (Bolgheri e arredores).

A Maremma “secou”, ninguém mais bebe, a não ser turistas abonados e eno-tontos, os parkerianos “Supertuscans”.



Chegou a hora dos predadores procurarem novas paisagens.

 Os preços das terras do Barolo, Barbaresco, Brunello, Valdobbiadene (Prosecco), Valpolicella (Amarone) etc. já estão para lá de proibitivos, eis, então, que os predadores “descobrem” as encostas do Etna e o Alto Piemonte.

Quando Gaja, Antinori, Banfi, Giovanni Rosso, De Marchi, Farinetti (leia-se Borgogno, Fontanafredda, Vigne di Zamò, etc), Renzo Rosso (leia-se Diesel), Frescobaldi, De Marchi etc., chegam é melhor fugir ou comprar 10kg de KY.



Uma das últimas vítima dos predadores foi o Timorasso.

O Timorasso, com a chegada dos predadores, alcançou preços de causar inveja a muitos vinhos da Côte-D’Or.


Derthona 'Costa del Vento' Vigneti Massa 2020



€ 49,50

O Timorasso já era...chegou a vez e hora do Etna e Alto Piemonte

As vinhas do Alto Piemonte pareciam imunes à praga dos produtores-predadores, que as “esqueceram”, ainda bem, por muitos anos.

Mas a alegria, dos enófilos, está com seus dias contados.... Os longos narizes dos “produtores-griffe” já farejaram e perceberam que as vinhas do Alto Piemonte podem ser o novo Eldorado vinícola italiano.



O primeiro nariz farejador foi o do suíço Chistoph Kunzli que no distante 1997 compra, dos herdeiros de Antonio Cerri e a preço de banana, a vinícola “Le Pianena cidade de Boca.

O segundo nariz aguçado foi o dos De Marchi que, depois de encherem os bolsos e bolsas com seu “Cepparello” venderam as vinhas toscanas e reativam a vinícola da família em Lessona.



O mais importante e último nariz, a cheirar e desembarcar no Alto Piemonte, foi o dos Giacomo Conterno (leia-se: Monfortino) que comprou, em 2018, “Nervi” a mais antiga vinícola (1906) da cidade.

Onde quero chegar com esta longa encheção de linguiça?

Quem puder comprar garrafas de Ghemme, Gattinara, Boca, Carema etc. compre agora, pois quando e se, Gaja ou outros predadores chegarem ...adeus.

Leia com atenção o que está acontecendo

Enquanto a “Travaglini” vende seu ótimo Gattinara por 20/25 Euros, a “Conterno-Nervi” não entrega o dele por menos de 55/65 Euros.



Travaglini, que não é idiota, percebeu que há infinitos enoloides adoradores de etiquetas caras e que se ele não aumentar seus preços pode sinalizar ao mercado, especialmente ao importador, que ele produz vinhos de 2ª ou 3ª categoria.

Ato contínuo, Travaglini, aumenta os preços e é seguido por todos os outros produtores.



A corrida ao Alto Piemonte já começou e quem puder estocar, compre, pois ainda é possível

 Enquanto isso veja o porquê da “fuga” para as vinhas do Alto Piemonte

Preço/hectare de alguma DOCG:


Barolo – 800mil / 2,5 milhões de Euros



Brunello – 400mil / 900mil Euros

Prosecco-Valdobbiadene 300mil / 450mil Euros.

Agora compare os preços do Etna e Alto Piemonte:

Encosta do Etna - 35mil /90mil Euros



,Gattinara Ghemme, Boca, Sizzano etc. – 40mil / 80mil Euros.


Dionísio....o róseo

   

sábado, 7 de janeiro de 2023

GHEMME II

 


Conclui, a primeira parte desta matéria, afirmando que, depois de ter encontrado e comprado, em um supermercado, um bom Champagne 1er Cru “Michel de Belvas”, por 24 Euros, outra garrafa despertou minha atenção: Ghemme “Santo Stefano” 2018.



Antes de continuar quero escrever um pouco sobre a aldeia Ghemme que empresta seu nome ao vinho.

Ghemme passaria totalmente ignorada e despercebida, assim como muitas outras aldeias do norte do Piemonte, não fossem duas importantes diferenças: Seu grande vinho e o “RICETTO”.



Vamos começar pelo “RICETTO”.

Os “ricetti”, que surgem na idade média entre os séculos XI e XIII, eram fortificações onde, em caso de assalto ou assédio, a comunidade se refugiava, não sem antes armazenar mantimentos, colheitas, animais (aves, ovinos, bovinos, caprinos) etc.



Os “ricetti” eram verdadeiros armazéns-fortalezas difíceis de conquistar.

Os “ricetti”, quase extensão das próprias aldeias, tinham autonomia e podiam abrigar toda a população, mas não por um período demasiadamente longo.

Há, espalhados pelo Piemonte, cerca de 200 “ricetti”, alguns praticamente em ruinas e outros em bom estado de conservação.



Os dois mais interessantes, que conheço, são o de Candelo, aldeia próxima a cidade de Biella, pátria do vinho Lessona e o de Ghemme.

O turista que escolher, como ponto de chegada à Itália, o aeroporto de Malpensa, deveria, dedicar um ou dois dias para visitar o Lago Maggiore e as cidades que o circundam (Arona, Sesto Calende, Stresa e Isola Bella, Pallanza, Intra, Cannobio), o Lago D’Orta a incrível Orta San Giulio, seu Sacro Monte e Isola del Silenzio.



Os enófilos deveriam, também, aproveitar a oportunidade para visitar Gattinara, Boca, Lessona, sem esquecer Ghemme, Candelo e seus belos e quase intactos “ricetti”.



Tenho certeza que os “ricetti”, de Candelo e Ghemme, deixarão boquiabertos os admiradores da arquitetura e história da idade média.

Dica turísticas dadas, recomendadas e …. Vamos, finalmente, ao nosso Ghemme “Santo Stefano 2018”.

O vinho “Ghemme” ganha a DOCG em 1997 e o disciplinar prevê a vinificação com um mínimo de 85% de uva Nebbiolo e até 15% de Vespolina e Uva Rara.

O disciplinar obriga, ainda, um afinamento de no mínimo 34 meses, 18 dos quais em toneis de carvalho.

A versão “Riserva” exige um afinamento mínimo de 46 meses, sendo que 24 em toneis de madeira.

O território vinícola do Ghemme se estende por cerca de 100 hectares todos localizados nos limites do município homônimo.



Pouco mais de uma dúzia de produtores disputam o mercado e é bom salientar que o “Ghemme Santo Stefano”, da vinícola “Lorenzo Zanetta”, não é a “estrela” da denominação e por esta razão e ainda bem, pode ser encontrado por preços humanos.



A garrafa, comprada no supermercado, custou 12 Euros.

Na próxima matéria responderei ao comentário do Ado: Bacco, antes que você continue a matéria, 12 euros foi um achado, pois os vinhos do Alto Piemonte também estão ficando caros e muitos, até desconhecidos, estão mais caros que Barolo e Barbaresco, mas óbvio que ainda se encontra ótimos vinhos na faixa de 20 a 30 euros. Na minha última viagem ao Piemonte em um restaurante em Stresa bebemos um Ghemme (Il Motto) 2010 da vinícola La Torretta que estava sensacional, tanto que no dia seguinte fomos até a vinícola e compramos uma caixa do 2012 que estava à venda. Fica a dica para você visitar

Bacco.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

GHEMME

 

Feliz o tempo em que era possível comprar os grandes tintos piemonteses, Barbaresco e Barolo, por 20/30 Euros e os soberbos brancos da Borgonha por valores quase humanos.

Hoje, por menos de 40/50 Euros, encontrar um bom tinto, das “Langhe”, é quase um milagre e um milagre sempre mais improvável....



A produção total, duas DOCG piemontesas, se aproxima dos 17 milhões de garrafas sendo que 20% vai para a exportação (é bom lembrar que a Miolo, com seus 16 milhões de garrafas de quase vinho, produz quase a mesma quantidade dos 280 produtores de Barolo e Barbaresco).

Muita procura + baixa produção = preços em constante elevação.



B&B sempre procurou indicar bons vinhos sem que os bolsos dos enófilos fossem estuprados.

A “fuga” sistemática das etiquetas badaladas e premiadas, o desprezo pelos pontuadíssimos vinhos “parkerianos” e a busca incessante de produtos e produtores de garrafas de boa qualidade, a preços contidos, sempre foi nossa principal motivação.

Recentemente “revelamos” a Barbera “I Tre Vescovi”, mas em datas anteriores “descobrimos”, para nossos seguidores, o “Pelaverga”, Gamba di Pernice”, Freisa, “Grignolino”, “Susumaniello”, “Timorasso”, “Ruchè”, “Pigato” “Rosso di Cantavenna”, “Alta Langa”, “Verdicchio di Matelica”, “Lugana”, “Blanc de Morgex”, “Carema”, “Avanà”, “Piedirosso”, “Lacryma Crhisti” “Rossese Bianco” e muitos outros.



Quando os Barolo e Barbaresco começaram a pesar no bolso, para onde sugerimos correr para encontrar ótimos Nebbiolo?

Resposta: “Alto Piemonte”…. Leia-se Carema, Fara, Sizzano, Boca, Gattinara, Lessona e..... Ghemme.



Uma pequena pausa para esclarecimentos.

Não considero válido, nem correto, comentar, indicar e escrever sobre vinhos sem conhecer a região onde foram produzidos.

 Copiar artigos, ou indicar vinhos de importadoras, é fácil econômico (não precisa gastar para viajar), mas é indício de grossa picaretagem que, infelizmente, abunda e domina a crítica vinícola no Brasil



Os que ainda conseguem seguir B&B, devem ter percebido que raramente comento vinhos que não sejam italianos ou franceses da Borgonha e Champagne.

Raramente, ou quase nunca, me aventuro pelas vinhas de Portugal, Espanha, Austrália, África do Sul, Hungria, Estados Unidos, Chile, Argentina etc., mas quando o assunto é, por exemplo, “Ghemme” ....é comigo, mesmo!



Já não lembro quantas vezes visitei as cidades vinícolas (todas) do “Alto Piemonte”, não recordo quantas taças bebi de Carema, Gattinara, Lessona, Bramaterra, Boca, Fara, Sizzano, Ghemme, Erbaluce di Caluso, mas posso garantir que poucas, não foram e nem poucos foram os produtores que visitei.

Voltemos ao Ghemme.....



Vagando por entre as gôndolas, de um hipermercado em Chiavari, à procura de algumas garrafas de espumantes, para alegrar as festas de fim de ano, encontrei o Champagne 1er Cru “Michel de Belvas” por 24 Euros.

O preço convidativo despertou meu interesse e comprei 8 garrafas.

Ótimo Champagne, 100% Chardonnay, 37% mais barato do que o nacional “130 Blanc de Blanc” da Valduga, é piada pronta e consolida o bordão “...vida do enófilo brasileiro é uma merda”.



Champagne no carrinho, feliz com a compra …. De repente, na gôndola dos tintos, “Ghemme Santo Stefano 2018” Euro 12.



Continua

Bacco