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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

PEQUENO GUIA ENO-GASTRONÓMICO 3

 


Como disse, na matéria em que falei do restaurante Fricska 2.0, comer bem em Budapeste não é difícil: ter uma refeição excepcional, contudo, é mais complicado. 

 Mas há vários lugares em que a comida, embora simples, é saborosa e mostra que a Europa Central tem seus grandes momentos. 

 Duas áreas em que os húngaros se sobressaem são a charcutaria, com excelente produção de embutidos, e a confeitaria, que, nos tempos de Áustria-Hungria, era o contraponto aos doces franceses. 



Começo por recomendar o Belvárosi Disznótoros, visitado pelo falecido chef Anthony Bourdain em seu programa de TV.

Trata-se de um lugar simples, em que a carne tem papel principal – seja nos grelhados, como o delicioso lombo de porco da raça Mangalica, seja nos assados, como pato ou joelho de porco. 

Para acompanhar, saladas de maionese, purê de batatas ou repolho, entre outras opções.

 O pedido é feito no balcão (grelhados, de um lado; assados, de outro) e não há qualquer serviço de mesa, mas a comida é boa, barata e farta.

 Para beber, pegue uma cerveja ou uma taça de fröccs, o spritz que mistura água com gás a um dos vinhos da casa.

 


Belvárosi Disznótoros

Király utca 1/d

Funciona todos os dias, no mínimo entre 12h e 20h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Deák Ferenc

https://belvarosidisznotoros.hu/en/

 Outro endereço interessante é o Ferdinand, restaurante monarquista que serve especialidades de todas as regiões da antiga Áustria-Hungria, como a sztrapacska (espécie de gnocchi com queijo de cabra, de origem eslovaca) e o excelente schnitzel à moda de Viena. 



 Gosto bastante da sopa goulash deles, a melhor que provei em Budapeste, e atenção: a carne ensopada que costumamos chamar de goulash se chama, na verdade, pörkölt – na Hungria, goulash (pronuncia-se güiásh) se refere à sopa feita com os mesmos ingredientes. 

Assim como o Belvárosi Disznótoros, o Ferdinand não prima pela variedade ou qualidade dos vinhos, mas, por outro lado, faz a própria cerveja – que é deliciosa. 

Ferdinand Monarchia

Király utca 76

Funciona todos os dias, entre 12h e 22h, aceita cartões. Recomendável reservar em caso de mais de cinco comensais

Metrô mais próximo: Oktogon

 https://ferdi.hu/

O fast-food húngaro por excelência é o lángos, um pão ázimo frito e servido com as mais diversas coberturas – a mais famosa leva um pouco de molho de alho, sour cream e queijo em tiras.

Há diversos lugares em que se pode provar lángos, e os melhores são os dos mercados de bairro (o que exclui o Mercado Central, uma macumba para turista na qual você não deve gastar um centavo), como o da praça Lehel (metrô Lehel tér). 

Se você não tiver tempo, ou paciência, para visitar um verdadeiro mercado hortifruti húngaro, o jeito é rumar para o bom e badalado Retro Lángos, nas imediações da Basílica de Santo Estêvão, e deliciar-se com as ofertas deles – há até opções sem glúten e veganas, se você se preocupa com essas coisas. 

Retro Lángos

Bajcsy-Zsilinszky út 25

Funciona todos os dias, entre 11h e 22h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Arany János utca

https://retrolangos.hu/en/

 

O grande influxo de empresários e estudantes chineses em Budapeste fez com que, junto com os restaurantes de comida tradicional e da Europa Central, a cidade ganhasse uma série de lugares com comida tailandesa, vietnamita, coreana e de vários outros pontos da Ásia.

Como você pode ter acesso a quase tudo isso no Brasil (ou em várias outras cidades da Europa) e não sou especialista em comida asiática, não farei nenhuma recomendação. 



Mas, já tendo passado uns meses em Tbilisi, capital da Geórgia, confesso que gostei bastante do Hachapuri, restaurante de comida georgiana para onde levei vários dos meus amigos em Budapeste – e todos, sem exceção, adoraram. 

A comida georgiana é para a Rússia o que a comida “mexicana” é para os EUA: a opção mais popular e mais enraizada na cultura do país. 

 Se quiser provar um bom hachapuri (escrito com ou sem a letra K no início), bons hinkali (idem) ou outras delícias do Cáucaso, esse restaurante em Budapeste é uma opção bem interessante. 

Hachapuri

Budapest, Bajcsy-Zsilinszky út 17

Funciona todos os dias, entre 12h e 23h, aceita cartões

Metrô mais próximo: Arany János utca

https://hachapuri.com/

 

Quanto à alta gastronomia, tive também uma boa experiência no Caviar & Bull (Erszébet korut, 43-49), que tem uma unidade em Budapeste e outra em Malta, mas a conta, ao redor dos 150 euros, recomenda prudência.



 Da mesma forma, comi bem no Borkonyha (Sas utca 3, próximo ao metrô Deák Ferenc), mas, por ter-me restrito às entradas, seria leviano fazer uma recomendação efusiva.

 E, infelizmente, saí de Budapeste sem ter visitado o Essência (Sas utca 17), restaurante luso-húngaro que me havia despertado curiosidade. 

Sobre as confeitarias: se você ou sua cara-metade são celebridades do Instagram, já devem ter visto mil postagens sobre o New York Café (Budapest, Erzsébet korut. 9-11, perto do metrô Blaha Lujza tér), café do início do século passado que é, de fato, belíssimo. 



 Se quiser fazer a postagem número 1001, pode entrar, mas saiba que vão pagar caro (cerca de 30 euros por pessoa) por uma comida mediana e que, lá dentro, só a decoração e a arquitetura impressionam. 

Fui apenas uma vez, com minha mãe, e concordamos que a confeitaria, o café da manhã e as bebidas deixam muito a desejar – mesma impressão que tive do também famoso Café Gerbeaud, na praça Vörösmarty. 

Ah, sim... há uma outra coisa que me surpreendeu no New York Café: os turistas que lá se empilham (e formam fila na entrada) são muito, mas muito malvestidos. 

Dê uma banana aos dois e tome seu café da manhã nas padarias Läget (Bajcsy-Zsilinszky út 49, perto da estação Nyugati Pályaudvar) ou Lui (fechada aos domingos; Aulich u. 7, perto do metrô Kossuth Lájos tér) e, na hora de escolher uma boa sobremesa, vá a uma unidade da confeitaria Szamos, como a da praça Vörösmarty. 

Lá, um mundo de tortas, bolos e sorvetes te aguarda, com preços bem mais em conta. 

LEMBRANÇAS GASTRONÔMICAS 

Além disso, duas lembranças gastronômicas costumam, merecidamente, ser levadas como souvenirs: páprica (em pó ou em pasta) e foie gras, mais dois orgulhos da culinária húngara.

 Boa parte do foie gras que abastece os restaurantes europeus vem da Hungria, cuja produção antecede o período comunista, e onde os preços são, vá lá, realistas.  

Se você não tiver mala despachada, deixe para comprar no duty free: a diferença de preço não é tão grande e, por mais que foie gras não seja líquido, a segurança do aeroporto de Budapeste, caso detecte um bloco na sua bagagem de mão, confiscar-te-á a iguaria sem a menor cerimônia. 



Sobre a páprica, pode comprar nos supermercados, sem risco. Prefira a da região de Kalocsa (a palavra “kalocsai”, nos pacotes de páprica, indica a DOC onde essa saborosa páprica é produzida). 

Se quiser páprica doce, procure a palavra édes na embalagem; se quiser a picante, procure as com a palavra csípős – no início do ano, levei uma de cada para Dionísio, que ainda tem muitas recordações da picante.  

WINE BARS E LOJAS (CULINARIS, DROPSHOP) 

Com a boa produção de vinhos no país, é natural que Budapeste tenha uma profusão de boas enotecas.

 A primeira que merece destaque é a Divino (Szent István ter, 3, em frente à Basílica de Santo Estêvão, e em outros dois endereços na cidade), cujo repertório conta com umas cinquenta opções de vinhos húngaros em taça, para todos os gostos e bolsos.

 Pode ser turístico, mas a localização central e o sortimento tornam o lugar recomendável. 



Também merece destaque o elegante wine bar Marlou (Lázar utca 16, atrás do prédio da Ópera), com alguns pratos ligeiros bem interessantes; não esqueço do creme de cogumelos que lá provei uma vez. 

E que, em oposição ao New York Café, seus frequentadores se vestem muito bem... será a proximidade com a Ópera e a glamourosa avenida Andrássy, a mais bela via de Budapeste? 



Outra enoteca bastante interessante é a Dropshop (Balassi Bálint utca, 27, próxima à parada do bonde 4/6 na Jászai Mari tér e não muito longe do Parlamento), que tem cerca de trinta opções em sua carta e nela inclui vinhos estrangeiros – até mesmo champagne de pequenos produtores, ainda que a preços não muito convidativos. 

De premier cru da Borgonha a tintos austríacos, passando por pérolas locais, também vale a visita. 

Prepare a carteira e não se assuste com o pouco movimento... nas minhas incursões, nunca vi o lugar com mais de três mesas ocupadas ao mesmo tempo. 

E, importante: o Dropshop não abre aos domingos. 

Mas o meu bar de vinhos preferido em Budapeste, e o que mais recebeu minhas visitas, é o Bortodoor (Zichy Jenő, 32, próximo ao metrô Oktogon), direcionado para os expatriados que vivem na cidade. 

Comandado pela dupla Smike (americano) e Suze (britânica), o lugar tem uma vibe bacana e vive lotado – sendo assim, chegue cedo ou, melhor, reserve uma mesa. 

As opções de vinho em taça são em torno de vinte, mesclando o melhor da produção húngara a umas garrafas estrangeiras, e, à parte um ou outro Primitivo ou Malbec, uma seleção bastante inteligente.

 Um bom dia para ir ao Bortodoor é o domingo, quando a casa tem a promoção “Drink the Losses”, em que os vinhos abertos nos dias anteriores são colocados com desconto até que suas garrafas sejam finalmente secas. 

Com isso, encerro (por ora) as transmissões húngaras, ao menos por ora.

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