Até o final dos anos 1960, nos tradicionais países produtores,
o vinho era apenas mais um alimento obrigatório na hora das refeições e nas mesas
de todos os bares.
O vinho fazia parte da milenar cultura da França, Espanha, Itália, Portugal etc.
Poucas vinícolas o engarrafavam, custava pouco e ninguém se
importava com esta, aquela marca, ou produtor.
Se o vinho era bom, honesto e barato, a compra era repetida
caso contrário a mudança era automática.
Aos poucos foram aparecendo “empresários do vinho” e com eles os cursos para “entendedores” (as ASB da vida...), revistas especializadas, críticos, enólogos, sommeliers, etc., que conseguiram transformar o vinho comum, do dia-dia, servidos em copos de vidro, em um produto de luxo, da moda, um “status symbol”.
Não bastava beber e gostar de beber, era preciso encontrar, no
vinho, mirtilos, amoras, cerejas, frutas vermelhas, groselhas, cítricos etc.,
um sem números de aromas, mineralidade, retrogostos, finais longos e intermináveis,
prazeres quase hedonísticos.
Neste ambiente, de etílico-teatro-pastelão, nasciam os “Bebedores de Etiquetas” e com eles a especulação e a incrível escalada
dos preços das garrafas.
Alguns dos grandes magos responsáveis pela transformação?
Robert Parker e Cia-Ltda.
As vinícolas, de todos os cantos do planeta, bajulavam,
endeusavam, enchiam, de $$$$, os bolsos de jornalistas, críticos, sommeliers,
na esperança de conseguir mais pontos, estrelas, “bicchieri”, etc. que lhes permitissem
alavancar os preços das garrafas.
Como de costume, na insana escalada para o Olimpo das taças
estrelares, quem pagou o pato foram os enoloides, de sempre, sedentos de notoriedade
e cheios de ilusões.
Era imperioso beber e, especialmente, fotografar garrafas famosas,
sempre pontuadas com, pelo menos, parkerianos 90 pontos e estupidamente caras.
A moda, do “vinho-moda”,
demorou décadas para conhecer seu declínio, mas finalmente, lenta e inexorável,
a descida chegou e chegou anunciando ficar por longos e longos anos.
Alguns dados revelam quão danoso foi, para o consumo, o
endeusamento do “vinho moda” dos seguidores de Parker e Cia.
No final dos anos 1960, na Itália, o consumo
per-capita era de 110 litros. Em 2023 cada italiano entornou, apenas, 26,3
litros (-76%).
Na França o resultado foi pior.
Em 1960 o consumo per-capita atingia nada desprezíveis 140 litros. Em 2023 o consumo baixou para 22,5 litros (-84%)
Não quero me alongar analisando a danosa herança deixada pelo “vinho moda”, mas vou diretamente elencar os “culpados”
pela crise do vinho.
Os velhos, aposentados,
trabalhadores, jovens, a população em geral, já não goza de grande liquidez, disponibilidade
e nos dias que correm pensa duas, três, ou até dez vezes, antes de comprar
garrafas acima de 10/12 Euros.
Os bares já não vendem taças de vinho com valores entre 7/10
Euros e muitos clientes já migraram para goles mais baratos como o Prosecco (absoluto em primeiro lugar),
cerveja, spritz e........ Olha aí o bom
e velho Lambrusco voltando, alegre e frisante
Sim senhores, o velho, quase esquecido, ridiculizado, amaldiçoado
etc., Lambrusco está de volta e “…. desta vez
para sempre se Deus quiser” (Molambo)
Continua
Bacco
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