No filme, “Meia noite em Paris”, Woody Allen explora,
magistralmente, um sentimento interessante e comum em muitíssimas pessoas.
É bastante comum ouvir os mais velhos declararem, com
incontida saudade, “No meu tempo a vida era melhor......”
Allen vai além.
Em seu filme, Gil, o personagem principal, acha que a vida e
as pessoas, dos anos 1920, eram mais interessantes, charmosas, fascinantes e bem
mais próximas de seu ideal intelectual.
Acredito que muitos de nós gostariam, assim como Gil, voltar
todas as noites ao passado e conviver com figuras famosas e bem mais
interessantes, charmosas, preparadas etc. etc. etc. do que as quase sempre
medíocres de nossos dias
Exemplo: Creio que todos, que acompanham B&B, achariam muito
mais interessante um papo com Cole Porter, Ary Barroso, Billy Wilder, Vinicius
de Moraes do que poluir os tímpanos ouvindo Pablo Vittar, Annita, Anielle
“Buraco Negro” Franco....
Voltando ao mundo das garrafas devo confessar que quanto mais bebo os vinhos modernos, premiados, endeusados, badalados, pelos “influencers” e críticos, que poluem impiedosamente as redes sociais, mais sinto saudade do Barolo Gramolere do Giovanni Manzone , Pelaverga do Gian Alessandria, Gattinara do Mauro Franchino, Grignolino “il Ruvo” do Castello di Gabiano, Spigau do Fausto de Andreis, Rubesco de Chiara e Teresa Lungarotti,
Franciacorta de Stefano Camilucci, Haderburg de Alois Ochsenreiter, Gamba di Pernice do Valter Bosticardo,
Capitel Croce de
Anselmi, Barbaresco de Ca’ del Baio.....
As multinacionais do vinho (e outras potências financeiras que
resolveram investir no setor), com seus longos e implacáveis tentáculos, estão comprando vinícolas
médias, tradicionais, famosas e tudo mais que encontram pela frente, “impondo”,
assim, seus (des)gostos à massa de eno-parvos que cresce incessantemente e em
ritmo acelerado, alucinante.
A grande distribuição,
preocupada apenas com números sempre maiores, exibe em suas prateleiras vinhos banais, de preços aviltantes, ajudado, assim, a nivelar por baixo a qualidade.
Os mercados emergentes importam qualquer porcaria produzida na
Europa e consideram o Prosecco o rei dos espumantes.
É o império dos eno-retardados.
O que sobra?
Algumas “sobras”, de altíssima qualidade e preço justo, foram lembradas
e reveladas alguns parágrafos acima e haverá outras que, se e quando encontradas,
B&B indicará aos leitores.
B&B, todavia, não recomenda sempre e apenas grandes
vinhos, o blog aponta, com bastante frequências, etiquetas tremendas-bostas e
outras que não valem nem um quinto do que custam.
Se alguém estiver apostando que, pela enésima vez, estou
prestes a esculhambar os vinhos nacionais, está quase redondamente enganado....
Semana passada, nos bares de Santa Margherita, passei por momentos eno-apavorantes: bebi dois espumantes italianos que, se não tivesse visto o garçom desarrolhar a garrafa e me servir, juraria estar sendo torturado com espumantes nacionais, argentinos, mexicanos ou outra porcaria similar.
Já no primeiro gole o impacto negativo foi tão grande que,
assim como Gil, em “Meia Noite em Paris”, voltei no tempo e me vi
no bar “In Piazzetta”, em Asolo, bebericando um, então, agradável Prosecco, com
a grande atriz Eleonora Duse e sua grande paixão, o poeta Gabriele
D’Annunzio......Anos em que até o Prosecco poderia revelar boas qualidades.
Mas voltemos ao bar de Santa Margherita onde eu, teimosamente, tentava beber mais um gole do pavoroso
“L'Archetipo Sussumante”,
O “Sussumante” é um apavorante-espumante, da Puglia, produzido pelo método Charmat, com uvas Susumaniello, que transformou meu devaneio, com Eleonora Duse, em um pesadelo: O segundo gole de “Sussumante”, para meu desespero, me levou até a adega da Salton onde alguns sommelier e enólogos, fantasiados de inquisidores medievais, me obrigavam a beber uma taça de um dos espumantes da vinícola.
O “Sussumante” é o melhor
“remédio” para destruir sonhos e nos fazer retornar à atual mediocridade que impera
e avança, sem cessar, no mundo dos vinhos.
Continua
Bacco
Belo texto. A mercantilização consegue estragar tudo que exige conhecimento, sensibilidade e cultura. Sem querer ser piegas, já se escreveu num determinado manifesto que “tudo que é sólido se desmancha no ar”, em alusão ao domínio brutalizado do capital. Não falarei qual é o manifesto e muito menos o seu autor, do contrário uma guerra civil poderá ter o seu estopim aceso aqui, neste insuspeito blog.
ResponderExcluirNenhuma percepção de Bouchonné? Repugnante como descrito, já no primeiro gole, e que continua, é de se pensar
ResponderExcluirPense em um eno-masoquista....
ResponderExcluirSim! Diante duma situação de horror dessa já no primeiro gole, não é pecado mortal solicitar para que alguém da casa prove para ver se está tudo bem, substituir
ResponderExcluirAcheo que não soube me explicar: O espumante era uma merda. Na próxima matéria haverá mais revelações sobre o Sussumante
ResponderExcluirEntendido.
ResponderExcluirO lado bom desse artigo é que dos 11 vinhos elencados, tenho várias garrafas de 5 deles. Obviamente todos eles indicados por Bacco, sendo os elogios e recomendações mais que merecidos
ResponderExcluirBacco, da uma olhada nessa matéria. Sério. Chegaram ao limite. Não é possível!!!!!!!
ResponderExcluir180 reais pra comer focaccia + 300 reais o vinho brazooka kkkkk
"A Vinícola Ferreira, produtora premiada da Serra da Mantiqueira, acaba de inaugurar a sua primeira loja-conceito de vinhos. Localizada no centro de Campos do Jordão, o espaço de vinhos e focaccias é o primeiro da marca fora das delimitações da vinícola, que fica em Piranguçu, divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Especializada em vinhos finos, o preço médio dos rótulos produzidos pela Vinícola Ferreira é de R$ 300 a garrafa."
https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/gastronomia/campos-do-jordao-ganha-loja-bar-de-vinicola-premiada-com-menu-de-focaccias/
300 reais não, 500. E tome focaccia!
ExcluirEntre as 10 opções disponíveis, estão o Piquant Soléil 2022, medalha de ouro no Decanter World Wine Awards de Londres, e o São Bernardo 2020, medalha de prata na PWC (Paris Wine Cup). Os exemplares custam, respectivamente, R$ 499 e R$ 320.
Brasil, o paraíso dos picaretas
ExcluirBacco, a degustação de focaccias + uma garrafa do syrah da mantiqueira custa R$680. Isso equivale a 115 euros. Dá pra fazer coisa melhor na Europa com esse valor?
ExcluirDegustação de "focaccias"? Este pessoal nem sabe o que é focaccia..... Seria o mesmo que degustar pão de queijo, massa de pizza, torradas.... Focaccia genovese é vendida nas padarias da Liguria por 8/10 Euros o Kg . Picaretas da Mantiquiera
Excluirfügassa
ExcluirVocês deram uma sumida porque foram ao evento em São Paulo, né?
ResponderExcluirhttps://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2024/06/29/vinho-convencional-e-mulher-photoshopada-diz-defensora-da-bebida-natural.htm
E depois foram pra degustação de focaccia em Campos do Jordão.
Excluirhttps://veja.abril.com.br/coluna/al-vino/especialistas-em-vinhos-elegem-seus-destinos-preferidos-de-enoturismo
ResponderExcluirTão aí os melhores destinos pra enoturismo
Essa vinicola de Brasília não é boa?
ExcluirBoa em qual sentido? Qualidade, preço, ou boa para os propietários ganharem dinheiro às custas dos eno-otários?
ExcluirBoa de qualidade, perguntei porque li as palavras da sommelier, que é entendida: "Entre os vinhos o grande destaque é o tinto Monumental, 100% Syrah, que foi destaque na criteriosa Avaliação Nacional de Vinhos de 2023."
ExcluirNenhum vinho é destaque em avaliação criteriosa a toa.
No Brasil, confiável é apenas a cachaça. Cachaceiro é um consumidor experiente, que carrega bom gosto e sabedoria de gerações, como um francês, italiano, espanhol ou português com os seus vinhos. As tentativas de enganar o cachaceiro com marketing, alambiques de estilo e preços altos não deram certo. A pinga é boa porque é boa e ponto. Quem aprecia vinhos no Brasil deve se inspirar no cachaceiro e deixar de ser otário.
ExcluirBasta pagar que qualquer vinho nacional vira "destaque". Até o tremenda-bosta "Pérgola" já foi premiado. Mais uma coisa: De monumental, o vinho brasiliense, só tem o preço (R$ 450) Um bom Syrah francês custa R$ 70/90 .
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