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quarta-feira, 5 de junho de 2024

100 GARRAFAS DE ROMANÉE-CONTI

 


Alguns apressadinhos e críticos contumazes, ao lerem a 1ª parte da matéria, acreditaram que B&B tivesse aderido, finalmente, ao moderno estilo praticado pelo “Wine-Influencer-Instagram”

Sinto decepcioná-los, mas continuamos firmes, em nossa quixotesca jornada, em sempre descer a lenha nos picaretas do vinho.

Feita a declaração, vamos ao assunto.

Portofino, desde os anos 1950, é meta de sofisticado turismo e sempre um dos endereços preferidos de milionários, artistas, intelectuais, esportistas, etc.



O casal, de pombinhos indianos, não é o primeiro nem será o último a escolher a região (Santa Margherita Ligure disputa com Portofino este rentável mercado...)  para casar e....aparecer.

Brega, kitsch, muita ostentação.......?

Pode ser, mas por isso, ou apesar disso, 9 milhões de turistas visitam, todos os anos, as duas cidades e enchem de $$$$ os cofres dos comerciantes locais.



Quase todos os dias, em minha matutina caminhada, percorro os 5 km que me separam minha casa de Portofino.



Depois de contemplar a estonteante beleza, que a tortuosa estrada oferece, alcanço a famosa pracinha da aldeia, vou até “Bar Morena”, do meu amigo Ugo, ordeno um cappuccino e uma brioche, em seguida retorno, de ônibus, a Santa Margherita.



Uma rotina que se repete há décadas.

 É fácil perceber, então, que já frequentei muitas vezes todos os bares e restaurantes da cidade, assim, conheço muito bem os cardápios, cartas de vinhos e preços praticado em cada um deles.

Pois bem.... Sabe quantos restaurantes, de Portofino, exibem em suas cartas de vinhos o “Romanée-Conti”?

Nenhum!



Onde quero chegar?

O enófilo brasileiro abonado é apenas um eno-otário-endinheirado!

Lembro que, quando ainda frequentava os restaurantes da capital, na esperança que algum dia a gastronomia brasiliense revelasse

 algo interessante, incomum, extraordinário, me surpreendia com a

 pobreza das cozinhas e a riqueza das adegas locais.

Os 4 “Dom Francisco”, “Piantella”, ”Piantas”, “Maestri”, “Zuu”, “Partenopea”, “Universal” “Alice”, “Gaf”, “Capim Santo”, “Gero” e muitos outros, quase-restaurantes, cujos nomes já não recordo, ostentavam, em suas cartas, o icônico e estrelar Romanée-Conti.



Nunca acreditei, nem por um segundo, que aquelas garrafas fossem originais, verdadeiras.

A produção anual, de Romanée-Conti é de apenas 4.000/6.000 garrafas e quase ridículo, então, pensar que os restaurantes brasileiros, especialmente os da capital, sejam os privilegiados e queridinhos da “DRC”.

New York, Londres, Paris, Roma, Milano, Barcelona, Los Angeles, Frankfurt, Madrid, Amsterdam, Pequim, Moscou etc. são centros tradicionalmente mais importantes e consomem muito mais vinho do que Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, São Luiz, Teresina, João Pessoa, Cuiabá, e certamente, recebem uma cota maior de garrafas de Romanée-Conti.



Estranho, então, acreditar, no século XXI, no milagre da multiplicação das garrafas...

Querendo, de uma vez por todas, acabar com as dúvidas e mistérios da proliferação, do Romanée-Conti, fui pesquisar e...... Bingo.

Encontrei a entrevista que Massimo Sagna, distribuidor exclusivo para a Itália do “Domaine de la Romanée Conti”, concedeu ao site “Wine News”.



Traduzo uma parte da entrevista (a parte que mais nos interessa).

O site pergunta, a Massimo Sagna, qual o relacionamento comercial e as diretrizes que DRC determina.

“É simples. Temos uma cota estabelecida pelo produtor, um determinado número de garrafas de seus Crus que , obviamente, nós vendemos pelo preço que o DRC  estabelece ........... O Domaine pede para privilegiarmos os restaurantes. Acontece que os vinhos da DRC são os mais fáceis e ao mesmo tempo os mais difíceis de vender. De Romanée-Conti, por exemplo, recebemos uma cota de 100 garrafas por ano e temos encomendas de 1.000.   90% dos clientes, então, ficam a ver navios.......”

A Itália, uma das maiores consumidoras de vinho do planeta (consumo = 30 litros per-capita), recebe 100 garrafas de Romanée-Conti/ano e nas adegas brasilienses do “Universal”, “Piantella”, “Maestri” e outros túmulos das panelas brasilienses, sem contar as de lobistas e políticos, “transbordavam” (e continuam transbordando) hectolitros do mais badalado vinho do mundo?

Quantos Pinot Noir da Hautes-Côtes de Nuits (de 20-30 Euros) com etiqueta de Romanée-Conti, foram comprados por 30/40/80 mil R$ ou mais, pelos endinheirados e eno-otários brasileiros?



Segredo bem guardado e que só os risonhos falsificadores conhecem....

Uma pergunta: O Romanée-Conti 1997 presenteado por Duda

 Mendonça ao Lula era fajuto, também?

Bocca

 

 

 

 

28 comentários:

  1. Respondendo à sua pergunta, não só espero que o RC doado seja falso, mas que contenha um Pinot Noir brasileiro produzido no Pantanal.

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  2. No Pantanal? O melhor "teroir" do mundo subaquático?

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    1. Sim. Maturado debaixo d’água por 11 meses e 7 dias em tambor de latão de terceiro uso.

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  3. Matéria certeira. Infelizmente a picaretagem não se limita aos vinhos. Certa feita trouxe um amigo Mexicano ao RJ (a trabalho) e saímos para jantar . Ele era especialista em tequila tendo inclusive já trabalhado na produção de algumas marcas fortes por lá. Ele pediu uma dose de Don Júlio, que é uma tequila de alta qualidade, foi uma vergonha, ele cuspiu o treco no meio de um restaurante caro afirmando, sem medo de errar, que aquilo não era Don Júlio, mas uma falsificação de quinta categoria. Um vexame. O garçom tentou desconversar pedindo desculpas e dizendo que havia pego a garrafa errada. O moral da história é que o freguês Brasileiro estava tomando um José Cuervo prata ou algo do tipo pagando por Don Júlio. O que o restaurante não contava era que um especialista em Tequilas Mexicano fosse pedir uma.

    Taga.

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  4. Tenho a impressão que pagar tudo isso por um vinho seria como pagar para comer uma global dos bons tempos. Expectativa 500, realidade mehhhhhhhhh.

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  5. Olha aí Bacco. O Estadão tentando justificar vinho nacional laranja a R$400... afinal, essa uva foi quase extinta na Itália e brilha no Brasil... será?

    https://www.estadao.com.br/paladar/radar/uva-italiana-que-quase-desapareceu-esta-de-volta-a-serra-gaucha/

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    1. Gosto de vinho laranja, mas quase todos têm o mesmo gosto. O único espetacular que tomei na vida foi do gravner. Nunca mais achei uma garrafa.

      JJ Botelho

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    2. Olha, tirando a questão do preço e este negócio de vinho “laranja”, que nem o Gravner gosta de chamar assim, o vinho é bom! É branco fora da caixa, muito rico, tanto nos aromas, quanto em boca.

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  6. É uma uva tão procurada que ninguem, ou quase, vinifica na Itália. Mais uma eno picaretagem para babacas fãs dos vinhos nacionais

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  7. Ótima matéria como sempre, mas o vinho “RC” serve apenas como um exemplo mítico, nem é o grande protagonista na indústria de falsificação de vinhos. RC quase não é tomado, apenas ostentado na sua integridade em fotos e comercializado em leilões. Reduzido número de pessoas que toma normalmente é porquê ganhou..e isso movimenta é pouco dinheiro no final das contas. Pouquíssimas publicações dele aberto, pode dar Google ou procurar nas redes sociais.
    A falsificação de vinhos que realmente atinge os bolsos do enolóide e movimenta dinheiro louco é a dos vinhos entre 800, 1000, 1500 euros, ou até mais, tipo Bordeaux Gran Cru, Supertoscanos “consagrados”, “ vinhões”americanos, enfim, vinhos que o cara compra, abre e toma. As redes sociais estão entupidas de fotos de Bordeaux Grand Cru da década de 80 ( nem precisa explicar) abertos em refeições pra todo lado. Sinceramente, a produção desses ícones de Bordeaux da década de 80 não sustenta o volume estrondoso de publicações de hoje

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    1. Concordo. Coloquei o RC no pedestal , sob olofote, apenas como exemplo. Há enormidade quantidade de etiquetas de 500/2.000/5.000 $, como você bem lembrou , que fazem a festa dos falsificadores que morrem de rir dos eno-abonados-babacas

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    2. Sim. O falsificador lucra mesmo é com vinho que se abre

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    3. Sobre a observação acima, acrescento que, com exceção de 1982, as safras do Médoc da década de 80 não foram boas o suficiente para gerar quarentões confiáveis.

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    4. Sim, não tinha visto seu aditivo, postei outro textão lá embaixo

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  8. Escuta, Bocca assinou essa matéria ou foi engano?

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    1. É uma matéria falsificada que nos custou $ 2.500

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    2. Kkkk explica melhor!

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    3. Bocca vai pregar o sarrafo em vocês, direitos autorais!

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    4. Caramba, tem que respeitar a memória do Bocca.

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    5. De forma alguma, fiz comentário de forma amistosa, interativa com os administradores do Blog. Acompanhei Bocca na época e sempre admirei, apenas notei a assinatura falsificada e questionei, tudo dentro do contexto da matéria.

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  9. Tem um perfil no Instragram que vende garrafas raras. De vez em quando aparece um DRC lá, inclusive o próprio Romanee Conti.

    Tem uma magnum 2009 por R$ 559.000:

    https://www.instagram.com/p/CylcD2bL9Wa/

    E um 1998 por R$ 129.990:

    https://www.instagram.com/p/C7UVTczuY1W/

    Mas noto o que consta como vendido mesmo são os diversos bordeaux, tipo Chateau Margaux, safras 80 e 90 que pupulam por lá.

    A procura por essas garrafas está grande. No meio da advocacia, por exemplo, especialmente em Brasília, virou costume usá-las para demontrar prestígio. Vá saber quantas são verdadeiras.

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    1. A década de 90 entrou apenas na fila (?!) da famosa e história da década de OURO (80) dos vinhos “Bordeaux Premier Grand Cru Classé “, assim como outras (décadas) sucessivamente entrarão..é só questão de tempo.
      Já tento explicar.
      Pq? Porquê no final da década de 70 entrou em campo RP e começou a ditar regras, “meia-verdade” e …disseminar fatos incontestáveis do mundo do vinho que o salvaram por longo tempo...elegeu a década de 80 por lá, no Bordeaux dos vinhos “Premier Grand Cru Classé” como icônica, interminável, bah…(!) que grande, verdadeira e perspicaz descoberta..
      (na época, quase não tinha dessa de Influencer do vinho, quase.. (!) RP inaugurou a categoria). Bobeira, para a grande maioria desse Blog, mas pode ser novidade para algum amigo.
      Que fique claro para quem nunca tomou:
      Bordeaux Premier Grand Cru Classé é vinho excelente quase todo ano desde quando existe. Se não fizerem o primeiro vinho no ano referido, vinificam o segundo e é excelente quase igual.
      Tinham que avisar o enolóide-abastado que postar Bordeaux Premier Grand Cru Classé da década de 80 pode gerar desconfiança do eleitorado..tá liberado postar os jovens também.

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    2. Vixe, baixou o pai do tagarecha agora. E com mania de France...

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    3. Sim, mas eu falei que seria redundância para a maioria dos amigos

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  10. Escrevi esse textão no intuito de refletir que falsificadores se empenham em imprimir rótulos antigos, de 80 e alguma coisa, 90 também atualmente. Se eu estivesse numa situação de escolher entre um desses, década de 80, 90 e um outro 2019, não hesitaria. Muitos 82 já devem estar beirando o sabor esquisito, mas na postagem do eno-abastado seria “ licoroso”, além de maravilhoso, claro

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  11. Quanta babaquice, estou aqui, Gentleman das receitinhas, momento difícil de harmonizar vinho com picles e vocês perdendo tempo em vinho falsificado! Por favor! Vou pedir ajuda para o Babaca dos Supermercados

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  12. O evento vinhos de portugal que custa uma nota e o enotario é convidado a se retirar depois de 2h esgotou. Realmente me impressiona a quantidade de gente que sai de casa e paga o preço de 2 boas garrafas para tomar vinhos 99% meia boca e ser escoltado pra fora. Agora entendo porque as vinicolas nacionais "fazem a festa" em cima desses enotarios.

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    1. Meia boca é a sua conta bancária, pelo jeito. Hahaha

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