Alguns apressadinhos e críticos contumazes, ao lerem a 1ª
parte da matéria, acreditaram que B&B tivesse aderido, finalmente, ao moderno
estilo praticado pelo “Wine-Influencer-Instagram”
Sinto decepcioná-los, mas continuamos firmes, em nossa
quixotesca jornada, em sempre descer a lenha nos picaretas do vinho.
Feita a declaração, vamos ao assunto.
Portofino,
desde os anos 1950, é meta de sofisticado turismo e sempre um dos endereços
preferidos de milionários, artistas, intelectuais, esportistas, etc.
O
casal, de pombinhos indianos, não é o primeiro nem será o último a escolher a
região (Santa Margherita Ligure disputa com Portofino este rentável
mercado...) para casar e....aparecer.
Brega,
kitsch, muita ostentação.......?
Pode
ser, mas por isso, ou apesar disso, 9 milhões de turistas visitam, todos os
anos, as duas cidades e enchem de $$$$ os cofres dos comerciantes locais.
Quase
todos os dias, em minha matutina caminhada, percorro os 5 km que me separam
minha casa de Portofino.
Depois de contemplar a estonteante beleza, que a tortuosa estrada oferece, alcanço a famosa pracinha da aldeia, vou até “Bar Morena”, do meu amigo Ugo, ordeno um cappuccino e uma brioche, em seguida retorno, de ônibus, a Santa Margherita.
Uma rotina que se repete há décadas.
É fácil perceber, então, que já frequentei muitas
vezes todos os bares e restaurantes da cidade, assim, conheço muito bem os cardápios,
cartas de vinhos e preços praticado em cada um deles.
Pois
bem.... Sabe quantos restaurantes, de Portofino, exibem em suas cartas de vinhos
o “Romanée-Conti”?
Nenhum!
Onde
quero chegar?
O enófilo
brasileiro abonado é apenas um eno-otário-endinheirado!
Lembro que, quando ainda frequentava os restaurantes da capital, na esperança que algum dia a gastronomia brasiliense revelasse
algo interessante, incomum, extraordinário, me surpreendia com a
pobreza das cozinhas e a riqueza das
adegas locais.
Os 4
“Dom Francisco”, “Piantella”, ”Piantas”, “Maestri”,
“Zuu”, “Partenopea”, “Universal” “Alice”, “Gaf”, “Capim Santo”, “Gero” e muitos outros,
quase-restaurantes, cujos nomes já não recordo, ostentavam, em suas cartas, o icônico
e estrelar Romanée-Conti.
Nunca
acreditei, nem por um segundo, que aquelas garrafas fossem originais, verdadeiras.
A
produção anual, de Romanée-Conti é de apenas 4.000/6.000 garrafas e quase
ridículo, então, pensar que os restaurantes brasileiros, especialmente os da
capital, sejam os privilegiados e queridinhos da “DRC”.
New
York, Londres, Paris, Roma, Milano, Barcelona, Los Angeles, Frankfurt, Madrid,
Amsterdam, Pequim, Moscou etc. são centros tradicionalmente mais importantes e
consomem muito mais vinho do que Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, São Luiz,
Teresina, João Pessoa, Cuiabá, e certamente, recebem uma cota maior de garrafas
de Romanée-Conti.
Estranho,
então, acreditar, no século XXI, no milagre da multiplicação das garrafas...
Querendo,
de uma vez por todas, acabar com as dúvidas e mistérios da proliferação, do
Romanée-Conti, fui pesquisar e...... Bingo.
Encontrei
a entrevista que Massimo Sagna, distribuidor exclusivo para a Itália do
“Domaine de la Romanée Conti”, concedeu ao site “Wine News”.
Traduzo
uma parte da entrevista (a parte que mais nos interessa).
O
site pergunta, a Massimo Sagna, qual o relacionamento comercial e as diretrizes
que DRC determina.
“É simples. Temos
uma cota estabelecida pelo produtor, um determinado número de garrafas de seus
Crus que , obviamente, nós vendemos pelo preço que o DRC estabelece ........... O Domaine pede para
privilegiarmos os restaurantes. Acontece que os vinhos da DRC são os mais
fáceis e ao mesmo tempo os mais difíceis de vender. De Romanée-Conti, por
exemplo, recebemos uma cota de 100 garrafas por ano e temos encomendas de
1.000. 90% dos clientes, então, ficam a
ver navios.......”
A Itália,
uma das maiores consumidoras de vinho do planeta (consumo = 30 litros per-capita),
recebe 100 garrafas de Romanée-Conti/ano e nas adegas brasilienses do “Universal”,
“Piantella”, “Maestri” e outros túmulos das panelas brasilienses, sem contar as
de lobistas e políticos, “transbordavam” (e continuam transbordando)
hectolitros do mais badalado vinho do mundo?
Quantos
Pinot Noir da Hautes-Côtes de Nuits (de 20-30 Euros) com etiqueta de
Romanée-Conti, foram comprados por 30/40/80 mil R$ ou mais, pelos endinheirados
e eno-otários brasileiros?
Segredo bem guardado e que só os risonhos falsificadores
conhecem....
Uma pergunta: O Romanée-Conti 1997 presenteado por Duda
Mendonça ao Lula era fajuto, também?
Bocca
Respondendo à sua pergunta, não só espero que o RC doado seja falso, mas que contenha um Pinot Noir brasileiro produzido no Pantanal.
ResponderExcluirNo Pantanal? O melhor "teroir" do mundo subaquático?
ResponderExcluirSim. Maturado debaixo d’água por 11 meses e 7 dias em tambor de latão de terceiro uso.
ExcluirMatéria certeira. Infelizmente a picaretagem não se limita aos vinhos. Certa feita trouxe um amigo Mexicano ao RJ (a trabalho) e saímos para jantar . Ele era especialista em tequila tendo inclusive já trabalhado na produção de algumas marcas fortes por lá. Ele pediu uma dose de Don Júlio, que é uma tequila de alta qualidade, foi uma vergonha, ele cuspiu o treco no meio de um restaurante caro afirmando, sem medo de errar, que aquilo não era Don Júlio, mas uma falsificação de quinta categoria. Um vexame. O garçom tentou desconversar pedindo desculpas e dizendo que havia pego a garrafa errada. O moral da história é que o freguês Brasileiro estava tomando um José Cuervo prata ou algo do tipo pagando por Don Júlio. O que o restaurante não contava era que um especialista em Tequilas Mexicano fosse pedir uma.
ResponderExcluirTaga.
Tenho a impressão que pagar tudo isso por um vinho seria como pagar para comer uma global dos bons tempos. Expectativa 500, realidade mehhhhhhhhh.
ResponderExcluirOlha aí Bacco. O Estadão tentando justificar vinho nacional laranja a R$400... afinal, essa uva foi quase extinta na Itália e brilha no Brasil... será?
ResponderExcluirhttps://www.estadao.com.br/paladar/radar/uva-italiana-que-quase-desapareceu-esta-de-volta-a-serra-gaucha/
Gosto de vinho laranja, mas quase todos têm o mesmo gosto. O único espetacular que tomei na vida foi do gravner. Nunca mais achei uma garrafa.
ExcluirJJ Botelho
Olha, tirando a questão do preço e este negócio de vinho “laranja”, que nem o Gravner gosta de chamar assim, o vinho é bom! É branco fora da caixa, muito rico, tanto nos aromas, quanto em boca.
ExcluirÉ uma uva tão procurada que ninguem, ou quase, vinifica na Itália. Mais uma eno picaretagem para babacas fãs dos vinhos nacionais
ResponderExcluirÓtima matéria como sempre, mas o vinho “RC” serve apenas como um exemplo mítico, nem é o grande protagonista na indústria de falsificação de vinhos. RC quase não é tomado, apenas ostentado na sua integridade em fotos e comercializado em leilões. Reduzido número de pessoas que toma normalmente é porquê ganhou..e isso movimenta é pouco dinheiro no final das contas. Pouquíssimas publicações dele aberto, pode dar Google ou procurar nas redes sociais.
ResponderExcluirA falsificação de vinhos que realmente atinge os bolsos do enolóide e movimenta dinheiro louco é a dos vinhos entre 800, 1000, 1500 euros, ou até mais, tipo Bordeaux Gran Cru, Supertoscanos “consagrados”, “ vinhões”americanos, enfim, vinhos que o cara compra, abre e toma. As redes sociais estão entupidas de fotos de Bordeaux Grand Cru da década de 80 ( nem precisa explicar) abertos em refeições pra todo lado. Sinceramente, a produção desses ícones de Bordeaux da década de 80 não sustenta o volume estrondoso de publicações de hoje
Concordo. Coloquei o RC no pedestal , sob olofote, apenas como exemplo. Há enormidade quantidade de etiquetas de 500/2.000/5.000 $, como você bem lembrou , que fazem a festa dos falsificadores que morrem de rir dos eno-abonados-babacas
ExcluirSim. O falsificador lucra mesmo é com vinho que se abre
ExcluirSobre a observação acima, acrescento que, com exceção de 1982, as safras do Médoc da década de 80 não foram boas o suficiente para gerar quarentões confiáveis.
ExcluirSim, não tinha visto seu aditivo, postei outro textão lá embaixo
ExcluirEscuta, Bocca assinou essa matéria ou foi engano?
ResponderExcluirÉ uma matéria falsificada que nos custou $ 2.500
ExcluirKkkk explica melhor!
ExcluirBocca vai pregar o sarrafo em vocês, direitos autorais!
ExcluirCaramba, tem que respeitar a memória do Bocca.
ExcluirDe forma alguma, fiz comentário de forma amistosa, interativa com os administradores do Blog. Acompanhei Bocca na época e sempre admirei, apenas notei a assinatura falsificada e questionei, tudo dentro do contexto da matéria.
ExcluirTem um perfil no Instragram que vende garrafas raras. De vez em quando aparece um DRC lá, inclusive o próprio Romanee Conti.
ResponderExcluirTem uma magnum 2009 por R$ 559.000:
https://www.instagram.com/p/CylcD2bL9Wa/
E um 1998 por R$ 129.990:
https://www.instagram.com/p/C7UVTczuY1W/
Mas noto o que consta como vendido mesmo são os diversos bordeaux, tipo Chateau Margaux, safras 80 e 90 que pupulam por lá.
A procura por essas garrafas está grande. No meio da advocacia, por exemplo, especialmente em Brasília, virou costume usá-las para demontrar prestígio. Vá saber quantas são verdadeiras.
A década de 90 entrou apenas na fila (?!) da famosa e história da década de OURO (80) dos vinhos “Bordeaux Premier Grand Cru Classé “, assim como outras (décadas) sucessivamente entrarão..é só questão de tempo.
ExcluirJá tento explicar.
Pq? Porquê no final da década de 70 entrou em campo RP e começou a ditar regras, “meia-verdade” e …disseminar fatos incontestáveis do mundo do vinho que o salvaram por longo tempo...elegeu a década de 80 por lá, no Bordeaux dos vinhos “Premier Grand Cru Classé” como icônica, interminável, bah…(!) que grande, verdadeira e perspicaz descoberta..
(na época, quase não tinha dessa de Influencer do vinho, quase.. (!) RP inaugurou a categoria). Bobeira, para a grande maioria desse Blog, mas pode ser novidade para algum amigo.
Que fique claro para quem nunca tomou:
Bordeaux Premier Grand Cru Classé é vinho excelente quase todo ano desde quando existe. Se não fizerem o primeiro vinho no ano referido, vinificam o segundo e é excelente quase igual.
Tinham que avisar o enolóide-abastado que postar Bordeaux Premier Grand Cru Classé da década de 80 pode gerar desconfiança do eleitorado..tá liberado postar os jovens também.
Vixe, baixou o pai do tagarecha agora. E com mania de France...
ExcluirSim, mas eu falei que seria redundância para a maioria dos amigos
ExcluirEscrevi esse textão no intuito de refletir que falsificadores se empenham em imprimir rótulos antigos, de 80 e alguma coisa, 90 também atualmente. Se eu estivesse numa situação de escolher entre um desses, década de 80, 90 e um outro 2019, não hesitaria. Muitos 82 já devem estar beirando o sabor esquisito, mas na postagem do eno-abastado seria “ licoroso”, além de maravilhoso, claro
ResponderExcluirQuanta babaquice, estou aqui, Gentleman das receitinhas, momento difícil de harmonizar vinho com picles e vocês perdendo tempo em vinho falsificado! Por favor! Vou pedir ajuda para o Babaca dos Supermercados
ResponderExcluirO evento vinhos de portugal que custa uma nota e o enotario é convidado a se retirar depois de 2h esgotou. Realmente me impressiona a quantidade de gente que sai de casa e paga o preço de 2 boas garrafas para tomar vinhos 99% meia boca e ser escoltado pra fora. Agora entendo porque as vinicolas nacionais "fazem a festa" em cima desses enotarios.
ResponderExcluirMeia boca é a sua conta bancária, pelo jeito. Hahaha
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