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quarta-feira, 19 de junho de 2024

FILÉ AO MOLHO DE CEREJAS

 


Falta menos de uma semana para o início do verão europeu, mas as temperaturas, no norte da Itália, estão muito mais próximas às do outono.

Frio, chuva, vento, granizo....cardápio completo.

A cereja, uma das frutas mais características e símbolo da primavera/verão europeu, é quase uma raridade e custa uma pequena fortuna.



Confesso que, apesar de apreciá-las muitíssimos, tenho evitado pagar até 14 Euros (R$ 81) por um quilo das vermelhinhas.

Em um final de tarde, enquanto saboreava uma taça de Champagne Deutz, no “Master”, meu predileto bar de Santa Margherita, dei uma olhada no cardápio e quase pulei da poltrona: “Filetto alle Cigliege (Filé ao Molho de Cerejas)



Para os que não sabem o “Master” é também um dos melhores restaurantes da cidade e um dos poucos que pratica uma cozinha inventiva e não direcionada exclusivamente aos turistas.

Não pude resistir..... Chamei Alberto, garçom da casa e ordenei um filé ao molho de cerejas.



Diferente, inusitado, surpreendente, sensacional.

Sorrateiramente indaguei quais os ingredientes da receita.

 Alberto, que de bobo nada tem, respondeu de maneira evasiva, escondeu o jogo, mas revelou que eram imprescindíveis, a fruta, cebola, azeite, vinho tinto, creme de leite e licor de cereja.


Tentei reproduzir o prato no dia seguinte e...... Tremenda bosta.

Na segunda tentativa eliminei o licor de cereja e a “tremenda bosta” melhorou, mas não o suficiente para me convencer.

A terceira tentativa e com alguns ingredientes novos, o “Filé ao Molho de Cereja” superou todas as expectativas.

INGREDIENTES (4 pessoas)

4 filés não muito altos

300gm de cerejas bem maduras (se encontrar, escolha as da cor bordô escuro, quase pretas)



1 raminho de alecrim e algumas folhas de sálvia



½ cebola picada

2 copos de vinho tinto



1 xicara de Marsala, Porto ou Madeira



2 colheres de mostarda de Dijon



1 xicara de creme de leite fresco

Azeite, sal

PREPARO

Retire os caroços das cerejas (é a etapa mais chata da receita), em uma frigideira de bordas altas adicione azeite, a cebola picada.



 Frite rapidamente as cebolas, em seguida junte as cerejas e cozinhe por 2 minutos.

Abaixe a chama, adicione o vinho tinto, sálvia, alecrim e leve à fervura.



Quando o molho começar a ferver adicione o Marsala, Porto ou Madeira, mostarda de Dijon, misture bem, abaixe o fogo e deixe evaporar o líquido.

Enquanto o molho borbulha, salgue os filés e frite rapidamente em uma frigideira (máximo 1 minuto cada lado, pois o cozimento será completado quando adicionados ao molho).

Junte os filés e creme de leite ao molho, misture bem e deixe reduzir até obter uma consistência cremosa.

Chegou a hora de servir..... e beber.

Uma bela garrafa de Barbera “La Monella” acompanhará perfeitamente o “Filetto alle Cigliege”.

Recordar é viver...... https://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/04/barbera-la-monella.html

Bocca

PS. Alguns dias depois substitui o filé de vitela por bistecas de porco

O resultado? Ótimo, também.



quinta-feira, 13 de junho de 2024

O GALGO AFEGÃO

 


Na década de 1950 Nelson Rodrigues considerava o povo brasileiro portador do “Complexo-Vira-Latas”.

Na visão de Nelson o brasileiro pecava pela timidez, quase pusilânime, quando se comparava, especialmente, com os europeus Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo........”



Naqueles anos pode até ser que Rodrigues tivesse razão, não sei, o que sei é que hoje o brasileiro, em muitos setores, especialmente na eno-gastronomia, deixou para trás o complexo-vira-lata e se considera um galgo afegão.

O brasileiro tem orgulho por possuir o maior rebanho bovino do mundo, ser o produtor número 1 de açúcar e café, 2º de soja, 3º de milho, 3º de frutas, 4º de feijão, 5º de algodão etc. etc. etc.?



Não, o brasileiro, apesar do nosso país ser uma superpotência

 agrícola, não se orgulha disso, continua com complexo-vira-lata,

 prefere se imaginar galgo afegão e acreditar, tchã, tchã, tchã,

 tchã, que o Brasil é uma excelência mundial na produção de

 laticínios, vinhos e mais recentemente, de azeite.

Tudo começou há algumas décadas quando os gaúchos resolveram

 se autodeclararem 2º melhores produtores de espumantes do mundo.



Franceses, italianos, espanhóis, portugueses, alemães etc. tremeram, mas quando finalmente beberam algumas garrafas do 2º melhor espumante do mundo quase morreram de tanto rir.



Preço de Champagne Grand Cru e qualidade ridícula, os convenceram que o “2º melhor espumante do mundo” era apenas uma piada de mau gosto e alto gasto.

Há poucos anos surgiu uma nova “injeção-ufanismo” para revigorar, consolidar o “Complexo-Galgo-Afegão” do consumidor nacional: “Queijo Mineiro o Melhor do Mundo”.



Produtores de laticínios da França, Itália, Holanda, Alemanha etc. mais uma vez tremeram e temeram por seus Beaufort, Cantal, Brie, Roquefort, Bleu d’Auvergne, Gorgonzola, Parmigiano, Taleggio, Caciocavallo, Grana Padano, Castelmagno, Leyden, Nagelkass, Gouda, Serra da Estrela, Tilsiter, Harzer, Limburger.......



A tremedeira cedeu, diminuiu e foi substituída por enormes gargalhadas quando os tradicionais produtores europeus provaram os “premiadíssimos” queijos mineiros.

Já não acreditava, eu, que o Brasil pudesse inventar um novo e soberbo “melhor do mundo”; espumante e queijo já eram mais do que suficientemente ridículos.



Ledo engano...... afinal se as melhores urnas eletrônicas do mundo

 são produzidas na Bahia, o melhor azeite do mundo (ói nóis aqui

 traveis…) poderia deixar para trás a milenar tradição grega,

 espanhola, italiana, portuguesa etc., e fincar raízes em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul......

Sim, caro Nelson Rodrigues, se você voltasse à vida teria orgulho do brasileiro.

 O brasileiro aposentou, de vez, o “complexo-vira-lata” e adotou

 definitivamente o “Complexo-Galgo-Afegão”.



Um pequeno problema: O brasileiro “Galgo-Afegão” adora ser sodomizado pelos predadores de plantão.



Um litro de ótimo azeite espanhol, português, grego, italiano, custa em média, 9/13 Euros (R$ 50/73).

Nossos predadores não dormem no ponto e....... Azeite Lidio Carraro “Picual” 250 ml = R$ 68,15 (litro R$ 272,60)



LIDIO CARRARO AZEITE EXTRA VIRGEM PICUAL 250 ML:

R$ 68,15

Prosperato Premium 500 ml= R$120,00 (litro R$ 240)



Bueno AZ 0.2 - 500 ml= R$ 218,00 (litro R$ 436,00)

Azeite Bueno Az 0.2 500 ml

4x de R$54,50 /

R$218,0


Mantikir Summit Premium 250 ml = R$ 190,00 (litro R$ 760,00).


 à venda em garrafas de 250 ml (R$ 190)

Não quero prolongar meu “Lagar-Sadismo”, só espero que a Johnson & Johnson, não aproveite o aumento das vendas de KY, na comunidade dos “Galgos-Afegãos”, e resolva lançar o “KY-Premium-Extra-Melhor-Do-Mundo” por módicos R$ 250.



Dionísio

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CHÂTEAU MIRAVAL

 


Quem acompanha o mercado de vinhos, especialmente B&B, sabe muito bem que não faltam arrivistas famosos que querem aproveitar o glamour, que o vinho proporciona, para posar de elegante, refinado e por meio de parceria$ descompromissada$, ganhar uma bela grana vendendo garrafas com seus nomes.

Nomes?

De Galvão Bueno a Sting, de Ronaldinho Gaúcho a Luis Miguel e Donald Trump .... A lista é grande.



Tão grande que a Wikipédia até tem um artigo compilando mais de cem celebridades que possuem vinícolas e vinhedos:

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_celebrities_who_own_wineries_and_vineyards

Vários nomes da lista pegaram de surpresa a redação de B&B. Wayne Gretzky (ídolo canadense do hóquei no gelo)? Nanci Pelosi? Jimmy Vasser?

Se o negócio fosse ruim, não haveria tanta gente famosa no circuito ...

Essa introdução foi para dizer que, previsivelmente, a maioria desses vinhos é dispensável ou, para ecoar as palavras de Dionísio, uma tremenda bosta.



 Por isso mesmo, nunca tive grande curiosidade em conhecer os vinhos da maior parte dos famosos se aventuraram pelas vinhas, à exceção de Francis Ford Coppola e Novak Djokovic, que parecem estar realizando projetos mais sérios e consistentes.

Na semana passada, voltando de Istambul para Budapeste, esperava meu voo em frente a uma loja do enorme duty free otomano.

Sem muito o que fazer resolvi entrar para ver os vinhos disponíveis.



Eis que......”Château Miraval” por 26 Euros (pouco acima dos 22 Euros cobrados na França e pouco abaixo do preço húngaro)?

 Atenção despertada, preço razoável..... Resolvi comprar um exemplar

E não é que o resultado não é nada mau?

Produzido na IGP Côtes de Provence, o “Château Miraval” 2022 é vinificado com Cinsault, Grenache, Rolle (nome da Vermentino na Provença) e Syrah.



Na taça, o vinho se apresenta com pálida cor rosada, na direção contrária à dos pét-nats que costumam exacerbar o rosa-choque para impressionar o consumidor.

 Na boca são facilmente perceptíveis o morango, a groselha e no final aparecem, suavemente a pitanga e a lichia.

 Boa acidez e 13% de álcool bem integrados, revelam um bom vinho, mas menos intenso e complexo do que meus eternos preferidos, também provençais, “Bandol”.

A essa altura, você já deve saber que, em 2011, a vinícola “Domaine Château Miraval” foi comprada pelo, então, casal Brad Pitt e Angelina Jolie.



 Dez anos depois, a bocuda vendeu suas ações do Château ao grupo “Tenute del Mondo”, de propriedade do grupo Stolichnaya, mas Pitt segue dono de metade da vinícola, que, sediada na Provença, se especializa nos vinhos rosés.

A vinculação do ex-casal, número um de Hollywood, a uma vinícola, sempre sugere uma graúda macumba para turista, mas, a julgar por esse “Château Miraval”, a iniciativa merece respeito.

Como a alta demanda e o aumento dos custos puxaram os preços dos vinhos para alturas vertiginosas, pagar em torno de 25 euros por um Côtes de Provence pode parecer, a princípio, algo exagerado, mas uma rápida consulta mostra que bons Bandol rosés, como o “Château de Pibarnon”, já têm preços nessa faixa – para não falar do ótimo “Château Simone”, produzido na minúscula denominação Palette e que já se aproxima dos 40 euros.



No Brasil, a predadora Mistral pede o triplo do que os turcos me cobraram e somente entrega uma garrafa de “Château Miraval” por nada irrisórios R$ 470 (quando da redação desta matéria, em junho de 2024).

“Mistral-Merde”!

 Voilà…. Quando estiver na Europa e quiser um bom rosé, para o verão, inclua o Miraval entre suas aquisições.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

100 GARRAFAS DE ROMANÉE-CONTI

 


Alguns apressadinhos e críticos contumazes, ao lerem a 1ª parte da matéria, acreditaram que B&B tivesse aderido, finalmente, ao moderno estilo praticado pelo “Wine-Influencer-Instagram”

Sinto decepcioná-los, mas continuamos firmes, em nossa quixotesca jornada, em sempre descer a lenha nos picaretas do vinho.

Feita a declaração, vamos ao assunto.

Portofino, desde os anos 1950, é meta de sofisticado turismo e sempre um dos endereços preferidos de milionários, artistas, intelectuais, esportistas, etc.



O casal, de pombinhos indianos, não é o primeiro nem será o último a escolher a região (Santa Margherita Ligure disputa com Portofino este rentável mercado...)  para casar e....aparecer.

Brega, kitsch, muita ostentação.......?

Pode ser, mas por isso, ou apesar disso, 9 milhões de turistas visitam, todos os anos, as duas cidades e enchem de $$$$ os cofres dos comerciantes locais.



Quase todos os dias, em minha matutina caminhada, percorro os 5 km que me separam minha casa de Portofino.



Depois de contemplar a estonteante beleza, que a tortuosa estrada oferece, alcanço a famosa pracinha da aldeia, vou até “Bar Morena”, do meu amigo Ugo, ordeno um cappuccino e uma brioche, em seguida retorno, de ônibus, a Santa Margherita.



Uma rotina que se repete há décadas.

 É fácil perceber, então, que já frequentei muitas vezes todos os bares e restaurantes da cidade, assim, conheço muito bem os cardápios, cartas de vinhos e preços praticado em cada um deles.

Pois bem.... Sabe quantos restaurantes, de Portofino, exibem em suas cartas de vinhos o “Romanée-Conti”?

Nenhum!



Onde quero chegar?

O enófilo brasileiro abonado é apenas um eno-otário-endinheirado!

Lembro que, quando ainda frequentava os restaurantes da capital, na esperança que algum dia a gastronomia brasiliense revelasse

 algo interessante, incomum, extraordinário, me surpreendia com a

 pobreza das cozinhas e a riqueza das adegas locais.

Os 4 “Dom Francisco”, “Piantella”, ”Piantas”, “Maestri”, “Zuu”, “Partenopea”, “Universal” “Alice”, “Gaf”, “Capim Santo”, “Gero” e muitos outros, quase-restaurantes, cujos nomes já não recordo, ostentavam, em suas cartas, o icônico e estrelar Romanée-Conti.



Nunca acreditei, nem por um segundo, que aquelas garrafas fossem originais, verdadeiras.

A produção anual, de Romanée-Conti é de apenas 4.000/6.000 garrafas e quase ridículo, então, pensar que os restaurantes brasileiros, especialmente os da capital, sejam os privilegiados e queridinhos da “DRC”.

New York, Londres, Paris, Roma, Milano, Barcelona, Los Angeles, Frankfurt, Madrid, Amsterdam, Pequim, Moscou etc. são centros tradicionalmente mais importantes e consomem muito mais vinho do que Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, São Luiz, Teresina, João Pessoa, Cuiabá, e certamente, recebem uma cota maior de garrafas de Romanée-Conti.



Estranho, então, acreditar, no século XXI, no milagre da multiplicação das garrafas...

Querendo, de uma vez por todas, acabar com as dúvidas e mistérios da proliferação, do Romanée-Conti, fui pesquisar e...... Bingo.

Encontrei a entrevista que Massimo Sagna, distribuidor exclusivo para a Itália do “Domaine de la Romanée Conti”, concedeu ao site “Wine News”.



Traduzo uma parte da entrevista (a parte que mais nos interessa).

O site pergunta, a Massimo Sagna, qual o relacionamento comercial e as diretrizes que DRC determina.

“É simples. Temos uma cota estabelecida pelo produtor, um determinado número de garrafas de seus Crus que , obviamente, nós vendemos pelo preço que o DRC  estabelece ........... O Domaine pede para privilegiarmos os restaurantes. Acontece que os vinhos da DRC são os mais fáceis e ao mesmo tempo os mais difíceis de vender. De Romanée-Conti, por exemplo, recebemos uma cota de 100 garrafas por ano e temos encomendas de 1.000.   90% dos clientes, então, ficam a ver navios.......”

A Itália, uma das maiores consumidoras de vinho do planeta (consumo = 30 litros per-capita), recebe 100 garrafas de Romanée-Conti/ano e nas adegas brasilienses do “Universal”, “Piantella”, “Maestri” e outros túmulos das panelas brasilienses, sem contar as de lobistas e políticos, “transbordavam” (e continuam transbordando) hectolitros do mais badalado vinho do mundo?

Quantos Pinot Noir da Hautes-Côtes de Nuits (de 20-30 Euros) com etiqueta de Romanée-Conti, foram comprados por 30/40/80 mil R$ ou mais, pelos endinheirados e eno-otários brasileiros?



Segredo bem guardado e que só os risonhos falsificadores conhecem....

Uma pergunta: O Romanée-Conti 1997 presenteado por Duda

 Mendonça ao Lula era fajuto, também?

Bocca